quarta-feira, 27 de maio de 2009

Baderneiros organizados



Quando aconteceu a criação de O tempo e o placar..., este que vos escreve tinha a intenção de colocar em debate coisas que acontecem nas quatro linhas do futebol brasileiro. É com pesar que hoje as linhas do blogue vão discutir sobre um espetáculo lamentável gerado por pessoas que cada vez mais inflamam a rivalidade e o temor no esporte bretão.

Ontem, a torcida do Fluminense entrou no treino do time das Laranjeiras (com o conhecimento de seguranças do clube) para fazer um protesto pelos maus resultados das últimas rodadas. Só que as cobranças não ficaram restritas a gritos e faixas da arquibancada. Alguns torcedores invadiram o gramado e foram agredir atletas do tricolor carioca. Um dos alvos acabou sendo o meia Diguinho. Contratado no início do ano pela ótima temporada no Botafogo em 2008, o jogador não repetiu boas atuações do ano anterior, e conviveu, inclusive, com uma suspeita de tuberculose.

Sua má fase culminou em um soco recebido de um torcedor de uma facção tricolor e houve a necessidade do jogador correr para não sofrer novas agressões. As atitudes dos baderneiros que passaram a tarde nas Laranjeiras levantam um debate: até quando a torcida pode ter benefícios no clube?

Sim, os torcedores ajudam uma equipe, pagando ingressos dos jogos, se tornando sócios e indo ao estádio para apoiar o time. A torcida tem o direito de protestar quando a equipe vai mal ou quando os jogadores e o técnico não correspondem às expectativas. Mas isto não dá o direito de o torcedor se achar o "pai" do clube e achar que os atletas vão melhorar seu rendimento na "base da porrada".

Outra atitude questionável vem da parte dos dirigentes, que permitem que um grupo de torcedores vá aos treinamentos para conversar com os jogadores. Oficialmente, o atleta tem de dar satisfações somente a seu patrão, o clube. A torcida é somente espectadora. Mas no Brasil esta troca de papéis já acontece há muito tempo. Como as pessoas já sabem do fanatismo que beira a baderna em algumas torcidas organizadas, por que aumentar a possibilidade de incidentes como o de ontem no Fluminense?

Ontem, aconteceu no tricolor carioca. Mas isto já ocorreu em clubes como Flamengo e Corínthians e, no ano passado, alguns torcedores do Vasco foram até a casa do meia Morais para insultar e ameçar o jogador se não melhorasse suas atuações com a camisa cruzmaltina. E, como bem apontou o jornalista Lédio Carmona em seu blogue, não acontece nada, não há revolta, ninguém se indigna, e quem acaba exposto é o jogador de futebol. Porque, por mais que alguns deles tenham um nível inferior, não se justifica um grupo chegar às três da tarde de uma terça-feira com o propósito de bater em atletas que treinam para aprimorar suas condições de jogo.

A existência desta "baderna organizada", muitas vezes escondida pela alcunha de torcida, afasta ainda mais o futebol do conceito de ser um espetáculo público. Não, não chegaria a ter um esvaziamento dos espectadores nos estádios. Mas ações como a de ontem nas Laranjeiras cada vez mais inflam o fanatismo em uma diversão esportiva. Não é à toa que o futebol brasileiro hoje é tomado por treinadores que mandam bater, jogadores botinudos e pela retranca que renuncia à vitória somente pelo desejo de não perder.

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BOLA PRO MATO

Ah, sim. Hoje tem promessa de bom futebol. Duelo brasileiro entre Cruzeiro e São Paulo na Taça Libertadores da América e a primeira rodada das semifinais da Copa do Brasil. E que venha bom espetáculo na torcida e nas quatro linhas.

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