terça-feira, 29 de junho de 2010

A importância deste 3 a 0



Dunga conseguiu. A Seleção Brasileira desta edição da Copa do Mundo tem, de fato, muito mais garra e comprometimento do que o Brasil da Copa da Alemanha, em 2006. Esta certeza ficou ainda mais evidente depois das oitavas-de-final. Os placares foram semelhantes. Mas a disposição em campo, quanta diferença.

O Brasil treinado por Carlos Alberto Parreira trazia uma equipe bem mais badalada que a de hoje, com remanescentes do time vencedor de 2002 como Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo e estrelas em ascensão, casos de Adriano, Robinho e Fred. O "quadrado mágico" formado pelos meias Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ronaldo e Adriano era a maior promessa do futebol mundial naquele momento.

Mesmo com a equipe demorando a engrenar na fase classificatória - somente na terceira partida veio a convincente vitória por 4 a 1 sobre o Japão, após más apresentações nos triunfos sobre Croácia (1 a 0) e Austrália (2 a 0) - o futebol brasileiro ainda era favoritíssimo. E foi assim que entrou em campo nas oitavas contra Gana.



No FIFA WM-Stadion Dortmund, os brasileiros enfrentaram uma estreante em Copas e que era a grata surpresa africana. Entretanto, desde o início os ganeses sentiram o peso de uma eliminatória em Copa do Mundo e não ofereceram qualquer resistência. O gol de Ronaldo aos cinco minutos anunciava uma goleada. Mas o restante do primeiro tempo mostrou uma equipe burocrática, que só chegou ao segundo gol nos acréscimos, através de Adriano. A segunda etapa se revelou um espetáculo modorrento, e Zé Roberto construiu o 3 a 0 apenas aos 39 minutos. Na partida seguinte, a Seleção Brasileira foi eliminada, em nova atuação modorrenta, na derrota por 1 a 0 para a França.

O 3 a 0 diante do Chile em 2010 mostrou uma equipe bem organizada - por mais que seu futebol tenha como forte o contra-ataque - na qual não se vê qualquer ponta de estrelismo. Até porque, seu jogador mais famoso (Kaká) age com a mesma humildade a cada jogo. A imagem dele, no banco de reservas aplaudindo efusivamente Michel Bastos quando o chute dele foi para fora, comprovou a união que a equipe traz na África do Sul.

De fato, a atual Seleção Brasileira não teve nenhum duelo contra seleções ofensivas que têm muito talento no ataque. Mas a postura que o técnico Dunga implantou no Brasil deu muito mais credibilidade à ideia de que os jogadores brasileiros vão buscar a taça na raça duranta a edição da África do Sul.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Lucidez verde e amarela



Análise de jogo: Brasil 3 x 0 Chile (Ellis Park, 15h30 de Brasília)

Após três partidas com suas atuações cercadas de ressalvas por todos os lados, a Seleção Brasileira guardou para as oitavas-de-final uma apresentação impecável na Copa do Mundo de 2010. No gramado do Estádio Ellis Park, o Brasil aliou sua serenidade a um futebol com mais velocidade tanto no toque de bola quanto na criação de jogadas, e envolveu o Chile ao ponto de fazer uma partida difícil terminar com o elástico placar de 3 a 0.

O jogo começou de maneira previsível. Como sempre, o Chile foi escalado por Marcelo Bielsa de maneira ofensiva, apostando nas jogadas em que o meia Beausejour se aproximava do trio de ataque formado por Suazo, Sánchez e Mark Gonzalez. Entretanto, o fôlego chileno se esvaiu rapidamente, provavelmente pelas frustrações diante da zaga adversária. Ao contrário das hesitações nas partidas anteriores, o setor defensivo brasileiro não dava margem para falhas - inclusive nos pés de Michel Bastos, que na fase classificatória invariavelmente era um destaque negativo - capitaneada por mais uma grande atuação de Lúcio.

Os insucessos do ataque deixavam o Chile ainda mais exposto, graças ao novo panorama do meio-de-campo brasileiro. Com a entrada de Ramires no lugar de Felipe Melo, o Brasil ganhou em habilidade, e a saída de bola ficou bem mais rápida. A Seleção Brasileira também apresentou uma qualidade a mais: os chutes de fora da área. Cada vez que clareava uma oportunidade, vinham chutes ao gol de Bravo, como os de Ramires e - pasmem! - de Gilberto Silva.

Mas o gol não saía, e os erros de passes mostravam que o Brasil estava, aos poucos, se deixando dominar pelo nervosismo (ainda mais quando Lúcio foi derrubado dentro da área e o juiz Howard Webb mandou o jogo seguir). Nesta hora, Maicon ficou encarregado de novamente encaminhar as coisas para a Seleção Brasileira. Da primeira vez, numa tentativa de cruzamento da linha de fundo que terminou num escanteio. Outrora motivo de irritação da torcida brasileira - em outros jogos, Elano e Daniel Alves tinham o hábito de fazer cobrança rasteira - o escanteio encontrou o caminho do gol. Do pé direito de Maicon, saiu um cruzamento para a área chilena. Juan subiu mais que os defensores e, de cabeça, conseguiu colocar a bola no fundo da rede de Bravo. 1 a 0 Brasil, aos 34 minutos.

A busca pelo empate acabou deixando o Chile com o mesmo perfil de seu treinador - o argentino Bielsa tem o apelido de "El Loco". Na loucura para voltar a ter chances de passar às quartas-de-final, a equipe atacou em massa, mas seu desatino foi fatal. Robinho puxou contra-ataque e desceu livre pela esquerda. Da intermediária, passou para Kaká no meio, que aproveitou erro da marcação chilena e encontrou Luís Fabiano na área. O camisa 9 foi em direção ao gol, driblou Bravo e chutou no fundo da rede. 37 minutos, e o Brasil terminaria o primeiro tempo com a vantagem de 2 a 0.

Para a segunda etapa, Marcelo Bielsa tentou deixar o Chile ainda mais ofensivo. O treinador trocou o apático Mark González por Valdivia (jogador que, além de habilidoso, sabe catimbar nas partidas) e, em mais uma de suas típicas loucuras táticas, substituiu o zagueiro Contreras pelo meia Rodrigo Tello.

Entretanto, a história do primeiro tempo se repetiu, e a ofensividade foi embora logo nos primeiros minutos. O Chile foi novamente traído por sua afobação e, aos 14 minutos, Ramires recuperou bola no meio-de-campo e foi em direção à área. Após driblar dois marcadores, o jogador passou para Robinho, que chutou à esquerda de Bravo. Brasil 3 a 0.

Ramires parecia confirmar de vez sua vaga de titular, se não fosse a falta violenta que fez no meio-de-campo. O árbitro Howard Webb deu cartão amarelo, o segundo do jogador na Copa do Mundo, e ele está suspenso no próximo jogo. O desfalque de Ramires parece ter sido uma lição para Dunga. Com a classificação bem encaminhada, dois jogadores que estavam "pendurados" foram substituídos - Luís Fabiano saiu para a entrada de Nilmar e, para evitar que Kaká novamente fosse expulso na Copa por um segundo cartão amarelo durante uma partida, o treinador colocou Kléberson no jogo. No finzinho, Robinho foi trocado por Gilberto. Com a entrada dos dois últimos jogadores, a maldade da torcida brasileira foi desmentida e, sim, Kléberson e Gilberto não foram a passeio para a África do Sul.

Embora o Chile tenha atuado em boa parte do segundo tempo com quatro atacantes - além de Sánchez, Suazo e Valdivia, Millar também entrou em campo, no lugar do lateral Isla - a chance da equipe se resumiu a um chute de Suazo defendido por Júlio César, aos 29 minutos. Os chilenos saem da Copa levando a certeza de que a ofensividade não pode ser confundida com desorganização no ataque.

O Brasil segue na Copa, e na sexta-feira, dia 2 de julho, enfrenta a Holanda (que eliminou a Eslováquia hoje, com uma vitória por 2 a 1) na Cidade do Cabo. A Seleção Brasileira sai de Johannesburgo com a certeza de que sua lucidez foi um fator importantíssimo para se defender do Chile armado por "El Loco" Bielsa. Mas os brasileiros têm consciência de que só isto não basta para conseguir um triunfo sobre o ótimo time holandês.

domingo, 27 de junho de 2010

Falsa valentia



Com os ânimos mais calmos após os ataques contra jornalistas, o técnico Dunga apresenta um defeito que contradiz com a "coerência" que ele tanto gosta de declarar. O treinador, que se define como um homem valente e disposto a dar a cara a tapa, não age da mesma forma na escalação de sua Seleção Brasileira.

Três rodadas depois do torneio, a questionada lista de 23 convocados para a Copa do Mundo de 2010 parece que vem sendo colocada em dúvida pelo próprio Dunga. A fase classificatória terminou e, sim, agora há tempo de alterar os titulares visando o período de "mata-mata".



A primeira estranheza vem na lateral-esquerda. Para o setor, Dunga convocou Michel Bastos, do Lyon, e Gilberto, do Cruzeiro, independente de ambos atualmente atuarem no meio-de-campo das equipes que defendem. Diante de Coreia do Norte, da Costa do Marfim e de Portugal, Bastos mostrou-se uma nulidade, tanto matando oportunidades no ataque quanto por deixar espaços nos momentos em que o Brasil é atacado. Não falta mais nada para ele ser sacado do time.

O inconveniente é que Gilberto tem 35 anos, e, embora tenha bastante experiência, não tem o mesmo fôlego para jogar na posição como teve em seus tempos de Flamengo, Cruzeiro, Vasco e Seleção Brasileira, por exemplo. Ao convocá-lo, Dunga sabia que a idade poderia jogar contra. Mas, como a convocação se confirmou, não era hora de bancá-la? Ou a opção vai ser mesmo improvisar Daniel Alves, como aconteceu na Copa das Confederações de 2009 quando André Santos e Kléber não corresponderam?



O técnico também bancou o meia Kléberson na Seleção Brasileira, indiferente ao fato de ele amargar a reserva no Flamengo. Ele é reserva imediato de Felipe Melo, jogador que vem primando por sua falta de estabilidade emocional e por sua chuteira estar restrita à canela dos jogadores.

Na partida contra o Portugal, o camisa 5 saiu de campo com dores no tornozelo (pretexto convincente para tirá-lo antes do fim do primeiro tempo por causa do cartão amarelo). Em seu lugar, entrou Josué, jogador tão inoperante na realização de jogadas quanto Gilberto Silva. Kléberson, volante mais habilidoso, continuou no banco de reservas, deixando ainda mais forte que sua convocação foi movida pelo sentimento de culpa, em compensação ao fato de a queda de rendimento do jogador ter acontecido principalmente porque se contundiu pela Seleção Brasileira num amistoso contra a Estônia.

Talvez seja a hora de Dunga se dar ao direito de ser "covarde" em algumas situações. Afinal, o Brasil enfrenta amanhã o Chile em Johannesburgo e precisa encontrar motivos para ter mais coragem de vencer as partidas da Copa do Mundo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mesma língua



Análise de jogo: Portugal 0 x 0 Brasil (Durban, 11h de Brasília)

Apesar da verdadeira Torre de Babel, na qual brasileiros e portugueses demonstraram se desentender com o bom futebol, ao final da partida os dois países falaram a mesma língua quanto ao resultado. O esperado duelo entre as seleções mais fortes do Grupo G não saiu de um empate em 0 a 0, placar que foi sinônimo de classificação para Brasil e Portugal rumo às oitavas-de-final.

A escalação do técnico Dunga trouxe uma surpresa a mais para a torcida brasileira. Além das entradas de Daniel Alves e Júlio Baptista (respectivamente nos lugares do contundido Elano e do supenso Kaká), Robinho foi poupado para a entrada de Nilmar. Do lado português, o treinador Carlos Queiroz trouxe uma escalação surpreendentemente defensiva, com as entradas dos meias Pepe, Danny e Duda, barrando os meio-campistas Pedro Mendes e Simão Sabrosa, além do atacante Hugo Almeida. Estava explícito que Portugal iria se retrair e deixar as jogadas de ataque somente a cargo de Cristiano Ronaldo.

E Portugal conseguiu se defender bem. Com nove jogadores na defesa (mais o goleiro Eduardo), a equipe se concentrou na retranca, e foi beneficiada pela precariedade do meio-de-campo brasileiro. Encarregado de ser o substituto do habilidoso Kaká, Júlio Baptista engessou as oportunidades de ataque do Brasil. Sua tendência era sempre tentar algum lance pelo meio. Mas, sem talento suficiente para driblar, suas tentativas eram inúteis, e Nilmar e Luís Fabiano continuavam sem chances perto da área.

Aos poucos, a Seleção Brasileira ia ficando com sua defesa exposta, mas por motivos diferentes. Enquanto na direita o problema era a subida constante de Maicon no apoio, a esquerda era uma nulidade, devido a mais uma fraca atuação de Michel Bastos. Mas o esquema da seleção portuguesa não levava muito perigo, pois Raul Meirelles e Duda ficavam distantes de Cristiano Ronaldo.

A ausência de futebol doeu ainda mais aos olhos dos espectadores de Durban no finzinho da primeira etapa. O jogo se resumiu a faltas duras de ambos os lados, em especial através das travas das chuteiras de Felipe Melo. O árbitro Benito Archundia fez vista grossa quando o pé do brasileiro acertou o braço de Pepe. O português respondeu mais tarde com um pisão e mostrou ao adversário com os dedos que a briga deles estava em "1 a 1". O pretexto da dor no tornozelo foi providencial para Dunga substituir o camisa 5 por seu reserva imediato, Josué, aos 43 minutos do primeiro tempo.

O lampejo de bom futebol veio de Nilmar que, após um passe de Luís Fabiano, chutou livre na área. Eduardo defendeu e a bola bateu no travessão antes de sair. A rigor, foi a única conclusão na qual o goleiro português teve algum trabalho nos primeiros 45 minutos. Houve uma cabeçada de Luís Fabiano que raspou a trave ainda no último minuto. Pouco. Do jogo que pedia muitos gols, sobrava para a torcida a frustração de um primeiro tempo com muitos cartões amarelos - além de Felipe Melo, o brasileiro Juan e os portugueses Duda, Tiago, Pepe e Fábio Coentrão foram advertidos na etapa inicial.

A impressão do início de seu segundo tempo era que Portugal manteria o esquema de jogar no erro do ataque brasileiro. Só que os erros eram tantos que a partir dos 10 minutos o técnico Carlos Queiroz começou a fazer substituições ofensivas em sua equipe. Duda saiu para a entrada do "avançado" Simão Sabrosa, e Cristiano Ronaldo não ficou mais solitário entre os zagueiros do Brasil. Mas, mesmo assim, o atacante conseguiu se destacar apenas numa belíssima jogada individual, na qual passou por quatro jogadores no lado esquerdo e parou no desarme de Lúcio. No rebote, Júlio César dividiu com Raul Meirelles e a bola foi para escanteio. Por pouco, o camisa 1 brasileiro não acabou fora de campo, porque na dividida o pé do jogador português acertou suas costas (local onde ele usa uma proteção à coluna).

Se a lateral-esquerda era motivo de impaciência com o mau desempenho de Michel Bastos, as coisas complicaram na lateral-direita, em consequência do risco que é improvisar jogadores. No primeiro tempo Maicon subia muito para o ataque, mas na etapa final sua atuação ficou restrita à defesa. Daniel Alves assumiu a função de lateral-direita que atacava, fazendo com que a Seleção Brasileira perdesse um jogador no apoio e deixasse ainda mais perdido na criação o meia Júlio Baptista. O Brasil se resumia a chutões para o gol sem qualquer direção.

Após alguns lampejos que assustaram a zaga brasileira, aos poucos Portugal foi restringindo-se à marcação - em especial com as entradas dos limitados Pedro Mendes e Miguel Veloso em lugar, respectivamente, de Pepe e Raul Meirelles. E o esquema defensivo dos lusitanos era tão forte que muitas vezes os ataques da Seleção Brasileira começavam em jogadas do zagueiro Lúcio.

Quando Dunga decidiu mexer no time brasileiro faltavam 10 minutos para o final. E mexeu errado. No lugar do decepcionante Júlio Baptista, entrou Ramires. É bem verdade que se trata de um jogador mais veloz. Mas ele é um volante, e um volante a mais não faria diferença em uma equipe que pretendia ganhar o jogo. Aos 40, Luís Fabiano foi substituído por Grafite. Àquela altura, o reserva só teve tempo para dizer que entrou em campo num jogo de Copa do Mundo.

O Brasil guardou para os acréscimos sua última boa chance em Durban. Ramires chutou e a bola desviou em Bruno Alves, mas Eduardo se recuperou a tempo de espalmar para escanteio. Na partida em que categoria e futebol não falaram a mesma língua, o Grupo G terminou com a classificação de duas seleções que falam a Língua Portuguesa. O Brasil, primeiro colocado com sete pontos, vai a Johannesburgo na segunda-feira, enfrentar o Chile. Portugal, com cinco pontos que garantiram a segunda vaga, jogará terça-feira na Cidade do Cabo contra a poderosa seleção da Espanha. A passagem de brasileiros e portugueses para as oitavas-de-final aumentou a possibilidade de no dia 11 de julho o mundo ouvir o grito de "é campeão" na Copa do Mundo de 2010.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O fantasma de uma goleada



Não, não se trata da goleada portuguesa por 7 a 0 diante da Coreia do Norte. A verdadeira goleada que pode assombrar o confronto entre Brasil e Portugal vem do Estádio Bezerrão, em Gama, no Distrito Federal. A vitória da Seleção Brasileira sobre os portugueses por 6 a 2 no amistoso de 2008 ainda ecoa na cabeça de ambas as seleções às vésperas do duelo.

Sete titulares do time brasileiro estão hoje no time titular de Dunga - Júlio César, Maicon, Gilberto Silva, Elano, Kaká, Robinho e Luís Fabiano - e o reserva imediato que vai substituir Elano nesta partida (Daniel Alves) também atuou no jogo de Brasília, na posição de lateral-direita. Naquele embate entre Kaká e Cristiano Ronaldo, Luís Fabiano se tornou o protagonista, ao marcar três gols. Maicon, Elano e Adriano fizeram os gols brasileiros. Danny e Simão marcaram para os lusitanos. O fato de Maicon e Luís Fabiano estarem em campo completam os bons motivos para a torcida canarinho ficar confiante num bom resultado do jogo de Durban.

Entretanto, de 2008 para cá o técnico Carlos Queiroz alterou as peças que vestem a camisa de Portugal. Somente o zagueiro Bruno Alves, o meia Tiago, o meia-atacante Simão Sabrosa e o atacante Cristiano Ronaldo foram escalados como titulares do jogo contra os norte-coreanos. A dúvida em relação aos portugueses fica ainda mais forte pelos dois resultados oscilantes que a seleção teve na Copa do Mundo - antes dos 7 a 0, um empate sem gols com a Costa do Marfim.

Por mais que tenha sido numa partida amistosa realizada praticamente no fim da temporada, a goleada brasileira servirá como motivação para os portugueses. Um espírito de revanche pode contribuir muito para a busca por uma vitória - em especial se for para provocar o adversário dizendo que "perdeu quando podia perder". Principalmente porque a lembrança de uma Copa do Mundo é bem saborosa para Portugal (a vitória por 3 a 1 em 1966, num show de Eusébio sobre um Brasil que tinha Pelé e Jairzinho).

O fantasma dos 6 a 2 de Brasília certamente vai pairar na África do Sul. Cabe à Seleção Brasileira comprovar o comprometimento gritado aos quatro ventos por Dunga, e tentar garantir o primeiro lugar no Grupo G, diante de um rival que tem muitas armas. Uma apresentação vexatória a poucos dias do primeiro jogo do "mata-mata" seria de assombrar qualquer torcedor brasileiro.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Novo poder da criação



Hoje foi confirmado que, além de Kaká (suspenso pela expulsão), o meia Elano não entrará em campo contra Portugal, por causa da pancada que levou do jogador da Costa do Marfim no domingo. Com mais uma vaga aberta no meio-de-campo, a obsessão de comentaristas por uma Seleção Brasileira mais ofensiva - inclusive a deste que vos escreve - pode aparecer na última partida da fase classificatória. O técnico Dunga treinou o time com Daniel Alves e Júlio Baptista no lugar dos dois titulares iniciais da equipe.

O camisa 13 do Brasil prossegue em sua peregrinação por uma vaga, e promete repetir a trajetória de outros laterais que atuaram com a camisa amarela - casos do atual auxiliar-técnico Jorginho, que saiu da lateral-esquerda para atuar na direita, e Mazinho, que além das duas laterais em muitas partidas, atuou no meio-de-campo durante a Copa do Mundo de 1994. Daniel Alves acatou a recomendação de Dunga, que diz para seus comandados fazerem tudo pelo selecionado do país. Algo que passou bem longe do time de Carlos Alberto Parreira na Copa de 2006.

Baptista tem o desafio de desmentir o estigma de jogador trombador em 90 minutos. Substituir o camisa 10 da Seleção Brasileira pode elevar um atleta a homem de confiança e presença certa até em convocações pós-Copa, ou afundar sua carreira com a camisa amarela. E, assim como Daniel Alves, o meia-atacante da Roma sabe que não pode almejar a vaga num ataque que tem Luís Fabiano e Robinho como titulares e Nilmar como reserva imediato.

Os portugueses serão a prova de fogo para o novo poder da criação do Brasil. E a única maneira destes reservas tentarem ser mais do que opções imediatas será atuar com a serenidade e a objetividade de um veterano com a camisa da Seleção Brasileira.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Quem é que vai no lugar dele?





A expulsão de Kaká se tornou um desafio para a Seleção Brasileira nesta Copa do Mundo. Não que um resultado negativo vá trazer grandes estragos, afinal, os brasileiros estão classificados para as oitavas-de-final. O jogo contra Portugal é um teste para o meio-de-campo do Brasil.

Os comandados de Dunga têm o importante desafio de conseguir sua autoafirmação. A imprensa foi unânime ao dizer que Kaká foi o único meia com criatividade e habilidade entre nomes como Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué e Júlio Baptista. Desde a convocação, o meio-de-campo é o setor mais questionado, por sua característica mais defensiva, que prioriza a força e a marcação.

A rigor, o jogador que mais tem qualidades ofensivas na reserva do meio-de-campo do Brasil é Júlio Baptista. Muitas vezes, ele chegou a jogar perto do ataque, e fez gols importantes nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Entretanto, Dunga tem na manga outras alternativas para recorrer.

Uma delas é o curinga Daniel Alves. Com Maicon se firmando na lateral-direita, sua chance de ser titular aparece apenas se Michel Bastos não agradar na lateral-esquerda ou numa oportunidade no meio-de-campo. Mas, como Daniel não atuou bem contra Coreia do Norte e Costa do Marfim, é provável que esta chance seja descartada.

Teoricamente, a opção mais ofensiva seria a entrada de Nilmar no ataque, recuando Robinho. Mas é uma alternativa bem mais arriscada. Um jogador que atua mais perto da área pode não render tanto como quarto homem do meio-de-campo. Sua tendência a ir para frente pode deixar o setor exposto, e depender da qualidade do passe dos demais jogadores poderia complicar a criação do setor. Sem contar que o camisa 11 da Seleção Brasileira ainda não teve boas atuações na Copa do Mundo.

A qualidade do meio-de-campo do Brasil contra Portugal só será confirmada durante os 90 minutos - independente do substituto de Kaká. A torcida brasileira não sabe quem é que vai no lugar dele, do "camisa 10 da Seleção" de 2010. Sabe apenas que não deseja um "rosto feio" para Seleção Brasileira no último jogo da fase classificatória.

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Dê o PLAY e ouça Camisa 10, música escrita e interpretada por Luiz Américo para a Copa de 1974. Às vésperas da competição, Pelé anunciou que não jogaria mais a Copa. A situação inspirou o compositor, num tema que parece ser bem atual.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Más palavras




As polêmicas envolvendo o técnico Dunga não foram encerradas no dia da convocação da Seleção Brasileira. Na entrevista coletiva após a vitória por 3 a 1 sobre a Costa do Marfim, o treinador xingou o jornalista Alex Escobar, da TV Globo, enquanto declarava que alguns órgãos de imprensa teriam criticado a insistência em escalar o atacante Luís Fabiano.

A atitude intempestiva de Dunga reduziu uma partida em que o Brasil se classificou para as oitavas-de-final a um pretexto para o técnico soltar rajadas de respostas atravessadas contra jornalistas (em especial os brasileiros). Desde a coletiva pós-convocação, ele e o auxiliar-técnico Jorginho passaram a vociferar em tom de doutrina a ideia de que críticas à Seleção Brasileira que está na Copa de 2010 são feitas por quem não quer a conquista na África do Sul.

E o que é pior: os palavrões direcionados a Alex Escobar foram típicos de pessoas que não aceitam conversa e só se garantem quando chegam às vias de fato. Dunga quis posar de valente mas só revelou desequilíbrio e insegurança.

Algumas pessoas ficaram a favor de Dunga, dizendo que foi uma defesa natural para um treinador que carrega a pressão de comandar uma Seleção Brasileira. Esta ideia indica então que a inexperiência dele fez a diferença negativamente? Quem assume o cargo de técnico do Brasil sabe que vai sofrer pressões de todos os lados. Trata-se da torcida de um país inteiro. Se não há como se acostumar, por que não dirigiu um time, independente de qualquer tradição que ele tivesse?

Dunga respondeu aos críticos da sua "Era Dunga" no banco de reservas com títulos, casos da Copa América e da Copa das Confederações. Por que não restringir a resposta a seus críticos com as atuações da Seleção Brasileira? Foi assim que técnicos como Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari responderam em 1994 e em 2002, respectivamente.

Alguns levantaram a questão de que a TV Globo "criou caso" à toa. Ora, o natural de qualquer empresa é que um empregado dela tenha direito a defesa quando atacado em seu período de trabalho. Alex Escobar teria sido imprudente caso tivesse respondido com palavrões aos palavrões que foram desferidos contra ele. Nem em seu blogue pessoal o jornalista quis criar polêmica.

A polêmica era suficiente pelo ódio com o qual tratam a TV Globo. Até o ex-goleiro Ronaldo (hoje comentarista da Rede TV!), através do seu Twitter @Ronaldo601, resolveu dar seu pitaco. Ele afirmou que a Vênus Platinada estaria brava porque "mandou 500 profissionais para cobrir a Copa e Dunga não dá nenhuma regalia".

Nenhuma emissora está isenta de cometer erros, mas daí a justificar ofensas como retaliação às críticas que sofre de determinado jornalista ou de determinado órgão de imprensa é demais. De fato, Dunga é muito criticado (às vezes injustamente). Mas em nenhum momento apareceu uma linha se referindo ao técnico da Seleção Brasileira com qualquer palavrão.

A imprensa não pode servir como "chapa branca" da Seleção Brasileira. Jornalistas estão aí para questionar e debater pontos de vista do treinador e dos jogadores que fazem parte do time do Brasil. Técnicos do Brasil estão acostumados a questões ou mitos levantados contra eles a cada Copa do Mundo. E alguns deles não precisaram de palavrões para voltarem ao país com conquistas.

domingo, 20 de junho de 2010

Apesar dos pesares



Análise de jogo: Brasil 3 x 1 Costa do Marfim (Soccer City, Johanesburgo, 15h30 de Brasília)

Em seu segundo jogo na Copa do Mundo, a Seleção Brasileira conseguiu ter uma atuação bem melhor do que na estreia, diante da Coreia do Norte. Mesmo assim, pode-se dizer que o Brasil saiu do campo do Soccer City com uma vitória que veio "apesar dos pesares". Pouco poder ofensivo, violência dos jogadores da Costa do Marfim e má arbitragem passaram por Johanesburgo e quase tiraram os três pontos dos brasileiros.

À exceção de um chute de Robinho de fora da área (no qual ele foi "fominha" em vez de passar para Luís Fabiano, que descia livre pela esquerda), o Brasil dos primeiros minutos parecia mera repetição do jogo de estreia. Os jogadores demonstravam apatia, lentidão na saída para o ataque e alguns, como os cabeças-de-área Gilberto Silva e Felipe Melo, retardavam as jogadas ao tocar para trás. A falta de criatividade era tanta que em alguns momentos o zagueiro Lúcio se arriscava como ponta-direita.

Só que o roteiro prometia um final diferente da partida contra a Coreia do Norte. Em vez de ficar somente na defesa, aos poucos a Costa do Marfim foi se aproximando da área adversária, apostando no trio ofensivo Dindane, Drogba e Kalou. Mas os marfinenses esbarravam nos próprios erros de pontaria, e suas finalizações não chegavam perto do gol de Júlio César. O gol veio, mas em verde e amarelo. Em jogada iniciada por Robinho, o meia Kaká e o atacante Luís Fabiano fizeram uma tabela, e o camisa 9 chutou com violência, sem chance para Boubacar Barry. Brasil 1 a 0, aos 24.

A vantagem do placar pareceu não animar tanto o time de Dunga. A Seleção Brasileira continuou fechada na defesa, aceitando a marcação da Costa do Marfim. Erros primários passavam nos pés dos jogadores e obrigavam o Brasil a continuar na defesa. Mas o setor defensivo se portou bem, porque o medo do empate veio somente numa bomba de Yaya Touré salva por Júlio César. De qualquer forma, o apito anunciando o fim do primeiro tempo chegou com alívio para a torcida brasileira.

Com apenas seis minutos do segundo tempo, Luís Fabiano escreveu o segundo gol brasileiro por linhas tortas. Na dividida com um marfinense, a bola resvalou na mão do atacante. Em seguida, ele deu dois chapéus (um deles passou por cima de dois adversários), ajeitou com o braço e chutou à esquerda de Boubacar Barry. A situação inusitada que aconteceu depois do gol confirmado traria consequências para a Seleção Brasileira no restante da partida: o árbitro Stephane Lanoy perguntou ao atacante se ele tinha tocado com a mão durante o lance, e Luís Fabiano disse "não".

Aos 17 minutos, Kaká pela segunda vez mostrou que está se recuperando. O camisa 10 desceu na esquerda e cruzou rasteiro para o meio da área. Elano desviou para o fundo da rede, fazendo 3 a 0. A vitória parecia tranquila, mas duas condutas começaram a desestabilizar a Seleção Brasileira. A atitude dos jogadores da Costa do Marfim, que distribuíram pontapés a torto e a direito. A impressão era de que, como o jogo estava perdido, os africanos queriam pelo menos prejudicar os brasileiros de alguma forma. Foram sucessivas botinadas até a primeira "baixa" no Brasil. A entrada de Tioté tirou Elano da partida aos 30 minutos, e por pouco Keita não tirou Michel Bastos de campo com um chute violento.

O francês Stephane Lanoy, que mostrou estar disperso no segundo gol de Luís Fabiano, comprovou sua incapacidade de apitar uma partida de Copa do Mundo diante da agressividade dos marfinenses. Eles abusavam das faltas e das provocações, e não saía nenhuma punição. Somente Yaya Touré levou um cartão amarelo - mas porque o brasileiro Kaká foi punido da mesma forma no lance.

Assim como aconteceu na partida de estreia, a zaga brasileira teve um lapso em sua marcação no fim do jogo. Gervinho cruzou para a área, e os jogadores brasileiros pararam pedindo impedimento de Drogba. O atacante cabeceou sem chance para Júlio César, aos 33 minutos. Com a vantagem de 3 a 1, o Brasil tentou segurar as ações. Mas Kaká não soube manter sua serenidade. Ele deu um empurrão em Keita e levou seu segundo cartão amarelo. O jogador acabou sendo expulso aos 39 minutos.

Foram alguns minutos de pressão desnecessária, mas apesar dela, o Brasil venceu a Costa do Marfim por 3 a 1. Não dá dúvidas de que a Seleção Brasileira atuou de maneira mais convincente neste domingo no Soccer City. Mas todos devem ter consciência de que ainda falta ajustar algumas coisas para que a caminhada seja com menos sustos.

A zaga bateu cabeça em alguns momentos. Michel Bastos ainda não se firmou na lateral-esquerda. Omeio-de-campo não pode demorar tanto para conseguir suas primeiras jogadas. E, principalmente, o técnico Dunga precisa ter pulso firme para fazer suas alterações quando os jogadores demonstrarem que não estão em condições (físicas ou psicológicas) para continuar na partida - o cartão vermelho de Kaká podia ter sido evitado.

Com seis pontos ganhos, a Seleção Brasileira está classificada para as oitavas-de-final. O jogo contra Portugal, dia 25, será apenas para confirmar se termina em primeiro ou segundo lugar no Grupo G. Mas é hora do Brasil pensar em corrigir todos os "pesares" que passaram pelo jogo contra a Costa do Marfim. Afinal, nenhum brasileiro quer sair da África do Sul com o pesar de uma eliminação.

sábado, 19 de junho de 2010

Contra a mesmice



Com Gilberto Silva recuperado da contusão, a Seleção Brasileira vai a campo contra a Costa do Marfim com o mesmo time da estreia. Será que há esperança de uma atuação amanhã melhor do que no dia da partida com a Coreia do Norte?

Felipe Melo e Gilberto Silva poderiam não se resumir a apenas marcar. De vez em quando, um passe para a frente pode render uma boa jogada. A invisibilidade de Elano não aconteceria se ele atuasse mais perto de Kaká, em vez de insistir em ficar somente compondo o meio-de-campo junto com os dois volantes. Ainda mais porque os marfinenses tendem a jogar recuado e a valorizar sua força física contra a Seleção Brasileira.

Os dribles de Robinho não podem ficar isolados no ataque, enquanto o restante dos jogadores fica parado, à espera do que vai acontecer. Isto só contribuiu para que eles aceitem a marcação da zaga adversária. Se Kaká e Luís Fabiano não estão em sua melhor forma, as opções ofensivas devem aparecer de outros jogadores. Não apenas esperar que Daniel Alves e Ramires entrem bem nas partidas.

Os 90 minutos de amanhã serão cruciais para o Brasil. Não por lutar pelos três pontos. Mas para a Seleção Brasileira sair de campo vitoriosa no confronto com a mesmice à qual o time de Dunga parece estar entregue.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

À beira do desperdício



A dois dias da partida contra a Costa do Marfim, o Brasil tem a chance de perder seu primeiro titular por causa de contusão. Gilberto Silva torceu o tornozelo durante o treino, e seu substituto imediato deve ser mesmo Josué, jogador que consegue receber tantas críticas quanto Felipe Melo quando atua pela Seleção Brasileira.

Mais uma vez, Dunga jogará pela janela a chance de fazer um meio-de-campo pelo menos com um pouco mais de velocidade e certa habilidade, ao colocar Ramires. Ter um jogador com qualidade para criação de jogadas pode fazer a diferença, em especial no caso de Kaká continuar sendo atrapalhado por sua falta de ritmo de jogo.

O técnico brasileiro cogita a possibilidade de, no caso de má atuação do camisa 10, Robinho ser recuado para Nilmar jogar ao lado de Luís Fabiano. Finalmente, parece que ele entendeu que a convocação de muitos volantes tem seus ônus. Um país com tantos jogadores habilidosos não merecia estar sujeito a improvisações.

No jogo com a Costa do Marfim, quando o Brasil precisa vencer por uma boa diferença para conseguir o primeiro lugar do Grupo G, Dunga promete fazer a mera troca de um volante por outro (Gilberto Silva por Josué). E diante de um adversário que anunciou explicitamente que também vai jogar recuado, novamente os brasileiros atuarão de maneira defensiva. As funções defensivas parecem ser as únicas nas quais ele não admite mudanças com improvisos.

A iminente entrada de Josué coloca o Brasil à beira de mais um desperdício. De um desperdício de talento. A torcida espera que o medo de se precipitar numa partida não leve a Seleção Brasileira a ficar num abismo ainda maior entre sua defesa e seu poder de atacar.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O passado só condena



Um meia habilidoso e dono da camisa 10, entre dois volantes e um jogador disciplinado taticamente. Numa Copa do Mundo, justo quem tem habilidade não corresponde, faz partidas bem abaixo do esperado e é a decepção da seleção. Não, esta história não se passa em 2010. Mas a trajetória de Raí em 1994 se assemelha com a situação envolvendo Kaká no atual momento do Brasil.

A diferença é que o motivo da queda de rendimento de Kaká é o período que ficou afastado dos campos, em virtude de uma pubalgia (Raí estava em má fase tecnicamente no período da Copa). Apesar de ter jogado algumas partidas pelo Real Madrid e participar dos treinos da Seleção Brasileira, é visível sua falta de ritmo de jogo. E a Copa do Mundo não é o momento ideal para ter uma recuperação.

A situação fica ainda pior numa comparação do meio-de-campo de 1994 com o de 2010. No ano do tetra, Mauro Silva e Dunga eram bons cães de guarda, e Zinho tinha certa categoria. A entrada de Mazinho deixou o setor muito defensivo, mas eficaz nos passes para os fora-de-série Romário e Bebeto. No time de hoje, Felipe Melo é botinudo e Gilberto Silva geralmente toca a bola para os lados. Elano alterna bons e maus momentos, mas costuma sumir em algumas partidas. Considerado substituto imediato de Kaká, Júlio Baptista se caracteriza por sua força, mostrando que há um abismo entre ele e o camisa 10 da Seleção Brasileira. Robinho e Luís Fabiano são atacantes acima da média, mas nada comparado à dupla de 1994.

Portanto, antes de a torcida brasileira começar a pedir a barração de Kaká, é melhor torcer para que ele recupere seu bom futebol a partir do jogo com a Costa do Marfim. O risco de o desfecho vitorioso de 1994 se repetir com o atual camisa 10 no banco de reservas é mínimo. Daquela Copa, a seleção de Dunga herdou apenas os defeitos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

POST ESPECIAL - Estigma interminável



Sim, O tempo e o placar ainda é um blogue destinado a falar do futebol brasileiro. Mas, excepcionalmente, hoje a análise de jogo é de uma partida que não envolve a Seleção Brasileira diretamente.

No entanto, este que vos escreve acredita que o que aconteceu no jogo entre Espanha e Suíça é uma lição que deve ser sempre repetida no Brasil. Que favoritismo não ganha jogo, a torcida já sabe desde a Copa de 1950. Muitos escretes canarinhos também ficaram pelo caminho em outras edições nas quais eram apontados como favoritos absolutos - 1982, 1986 e 2006 são algumas delas.

Nesta Copa, o Brasil não faz jus a seu favoritismo. Mas, caso venham bons resultados, o título de favorito pode vir. Por isto, é bom todos ficarem atentos sobre o jogo de Dublin. Inclusive a seleção de Dunga.


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Análise de jogo: Espanha 0 x 1 Suíça (Moises Mabhida, 11h, horário de Brasília)

A Copa do Mundo encerra sua rodada inaugural com a confirmação de que ela tem sua própria lógica. E a falta de lógica do futebol, que é capaz de fazer da desacreditada Suíça vencedora do confronto com uma Espanha favoritíssima ao título, ganha contornos ainda mais dramáticos. A "sensação" da Copa foi derrubada em sua partida de estreia, e o timaço espanhol corre o risco de ser mais uma "Fúria" sem poder de decisão no momento de maior responsabilidade.

A Espanha entrou em campo em Durban para fazer um jogo que se resumiria a uma palavra: ataque. Do outro lado, vinha a seleção tradicionalmente conhecida pelo esquema do "ferrolho" (no qual os jogadores desempenham meramente funções defensivas), e que na Copa do Mundo de 2006 ficou marcada por um dado curioso: foi eliminada nas quartas-de-final, sem levar nenhum gol no tempo normal. E na primeira etapa, a Suíça restringiu seu campo de ação ao setor defensivo.

O meio-de-campo espanhol tocava a bola aliando dribles à precisão de passes, obrigando o time suíço a se defender como podia. Os primeiros minutos pareciam um cartão de visitas do talento de Busquets, Xabi Alonso, Xavi e Iniesta. Mas os dois Davids - David Silva e David Villa - permaneciam isolados no ataque, e as chances não chegavam ao gol de Benaglio. A falta de oportunidades do ataque foi tanta que somente aos 23 minutos veio a primeira defesa do goleiro suíço. E em chute do zagueiro Piqué.

Os espanhóis permaneciam incansáveis no ataque, mas os chutes a gol vinham sempre de fora da área - o mais próximo em chute de David Villa, que, na hora da conclusão, optou em tentar por cobertura, mas a bola foi muito alta. O time de Vicente del Bosque passava os primeiros 45 minutos de sua Copa do Mundo em branco. Mas com a certeza de que não empalideceu em nenhum momento no Estádio Moises Mabhida. E teria a segunda chance de comprovar sua Fúria logo depois do intervalo.

Mas em fúria ficaram seus torcedores aos seis minutos do segundo tempo. Por um instante, os papéis se inverteram no palco sul-africano. Diante de tantas lições de habilidade na primeira etapa, a Suíça encontrou um lampejo de bom toque de bola na partida. Benaglio cobrou tiro de meta, a bola desviou num jogador do meio-de-campo e chegou à arrancada de Derdiyok. Gelson Fernandes entrou na área e, aproveitando que Piqué e Puyol não prestaram atenção nos ensinamentos da zaga adversária, chutou prensado na saída do gol de Casillas.

A pressão espanhola se tornou ainda maior, em especial porque os marcadores da Suíça davam sinais de cansaço. Com um banco de reservas que seria titular absoluto em qualquer outra seleção da Copa, Vicente Del Bosque desfilou seus atacantes no gramado. Primeiro, com Fernando Torres no lugar do volante Busquets. E, em seguida, com a troca de David Silva por Navas.

A bola chegou ao gol de Benaglio inúmeras vezes, e ele abafava o grito dos torcedores da Espanha a cada defesa. Até que Xabi Alonso acertou um belíssimo chute de fora da área. Mas a melhor chance da equipe acabou com o barulho do travessão. E o barulho, de fato, ficava restrito às vuvuzelas.

Aos poucos, o desgaste deixava a defesa espanhola parecendo um queijo suíço. Nos espaços cedidos pelos espanhóis, Derdiyok conseguiu chegar ao caminho do gol de Casillas. Mas desta vez, o chute (que também saiu prensado pelos marcadores) bateu na trave. Foi a única travessura da Suíça após estar em vantagem no placar. Bastou ficar em seu campo, aproveitando a tensão dos adversários, para conseguir os três pontos.

Numa partida que prometia ser histórica em futebol fascinante e em quantidade de gols, a segunda parte foi descartada. E, por ironia, o gol veio de uma seleção conhecida por seu esmero em se defender (e que chegou a cerca de oito horas e meia sem que um goleiro buscasse a bola de dentro de seu gol em uma Copa do Mundo).

À Espanha, resta juntar os cacos da frustração da derrota por 1 a 0 (e da perda de Iniesta, que saiu contundido no final do jogo e foi substituído por Pedro) e tentar nas duas partidas restantes justificar o epíteto de Fúria. Embora uma vitória sobre a fraca seleção de Honduras não ser a mesma coisa. Mais do que derrubar seus adversários. Mais do que comprovar o bom futebol que a elevou a grande favorita do torneio. A Espanha entrará em campo a partir de agora para enfrentar o estigma de "seleção que amarela na decisão" que ostenta em sua camisa desde sua primeira participação numa Copa do Mundo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Burocracia sem misericórdia



Análise de jogo: Brasil 2 x 1 Coreia do Norte (Ellis Park, Johanesburgo, 15h30 de Brasília)

Da expectativa do jogo contra a Coreia do Norte, teoricamente o adversário mais fraco de seu grupo, restou apenas o muxoxo "resultado bom para uma estreia". A ansiedade de um primeiro jogo de Copa do Mundo (em especial por trazer seis jogadores que estreavam na competição), o cansaço do fim de temporada na Europa e até a adaptação à Jabulani, polêmica "bola da Copa da África", serão as justificativas mais óbvias para poupar a Seleção Brasileira nas resenhas esportivas de qualquer esquina. Mas não há como deixar de lado a ideia de que Brasil de 2010 dá sinais preocupantes para sua torcida.

A Coreia do Norte deixou clara sua intenção na noite: não tomar gols, fato que pouparia a Seleção Brasileira do incômodo trabalho de ter de estudar o adversário para, aí sim, tentar vencer seu bloqueio. No entanto, o que parecia fácil se tornou difícil graças ao maior ponto fraco do Brasil de Dunga. Somente Kaká recebia marcação forte, e sempre era cercado por três ou quatro norte-coreanos quando pegava a bola. E isto foi o bastante para deixar o primeiro tempo sem nenhum gol marcado.

O Brasil visto nos primeiros 45 minutos foi somente um grupo de jogadores bem distribuídos taticamente. Toda vez que um estava com a bola, os outros permaneciam em seus lugares, quietos, atentos. Nenhuma perspectiva de inspiração, nenhum improviso surgido no momento do lance. Uma seleção sem magia. Ou melhor, com a magia restrita aos pés de Robinho, que pareciam fora de lugar num time tão previsível.

Sem poder de ataque - pois, além da inoperância de Kaká, Robinho não conseguia boas jogadas e Luís Fabiano aparecia somente ao cometer faltas nos zagueiros adversários - coube à "melhor defesa do mundo" ser o ataque aos 10 minutos. Perto da linha de fundo, o lateral Maicon completou passe de Elano com um chute sem ângulo que entrou no fundo da rede, surpreendendo o goleiro Myonge Guk. 1 a 0 Brasil.

Os minutos seguintes deram a impressão de que o mau primeiro tempo tinha sido apenas pela tensão de estreia da Copa do Mundo. O Brasil parecia mais solto, e pressionava a Coreia do Norte a todo tempo. Depois de duas chances desperdiçadas com Luís Fabiano, a Seleção Brasileira conseguiu fazer seu segundo gol. Da intermediária, Robinho lançou Elano, que, de primeira, marcou 2 a 0 para o Brasil aos 26.

Com o jogo praticamente definido, Dunga se deu ao luxo de testar um esquema ofensivo. Logo depois de fazer seu gol, Elano saiu para a entrada de Daniel Alves. A 15 minutos do fim, Kaká foi substituído por Nilmar. A Seleção Brasileira consolidou seu maior volume de jogo, e teve boas chances nos pés do atacante.

A possibilidade de mudar de vez o padrão da equipe veio na troca do botinudo Felipe Melo pelo volante habilidoso Ramires. Mas a habilidade dele não estava num dia inspirado, e o jogador só foi notado por ser o único na partida a receber um cartão amarelo do árbitro húngaro Viktor Kassai.

O tiro de misericórdia à expectativa de uma Seleção Brasileira mais próxima do Brasil de outrora aconteceu a dois minutos do fim. Yum Nam aproveitou falha no lado direito brasileiro e chutou na saída de Júlio César, dando números finais à partida.

Um erro da defesa, mas que Dunga certamente vai depositar na conta do esquema ofensivo que tentou. Afinal, a tática defensiva parece a única saída para garantir três pontos do Brasil. A consequência da vitória por 2 a 1 sobre a Coreia do Norte é a de que os sinais de burocracia vão ficar mais alarmantes aos olhos da torcida na trajetória da Copa do Mundo de 2010.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Adversários paradoxais



Os primeiros dias de Copa do Mundo serviram como sinal de alerta para o jogo de amanhã da Seleção Brasileira. À exceção da Alemanha (que goleou por 4 a 0 a Austrália), todas as seleções consideradas favoritas passaram por problemas em suas estreias na África do Sul. A Argentina teve uma vitória apertada, enquanto França, Inglaterra e Itália empataram seus respectivos jogos. Amanhã, chega o dia do Brasil passar pelo primeiro desafio rumo ao hexa, diante da Coreia do Norte.

Além da seleção asiática, os 11 brasileiros que estarão amanhã em campo vão enfrentar outros adversários - adversários psicológicos. Nos dias de hoje, em que convencionaram a ideia de "não haver mais time bobo no futebol brasileiro", o risco de partir para o ataque desde o primeiro minuto é visto como temeridade, em especial se o nervosismo impedir que os gols venham. Ficar recuado contra um adversário teoricamente mais fraco cheira a covardia, e vai deixar a torcida ainda mais desconfiada do que quando a Seleção Brasileira foi convocada.

Diante de uma seleção que certamente virá fechada, chegar na área adversária através do toque de bola pode expor os jogadores a contusões. Mas reduzir as tentativas de ataque da Seleção Brasileira a cruzamentos para a área ou confiar exclusivamente nas cobranças de falta de Elano parece pouco na mentalidade de um time que pretende ser campeão.

Sentimentos embaralhados como estes justificam as decepcionantes estreias de seleções consideradas favoritas. Tratam-se de 90 minutos carregando uma tradição nas costas, o que faz com que jogos ditos como fáceis se tornem difíceis. A história recente do Brasil nas Copas traz exemplos - nas estreias anteriores, 2 a 1 sobre a Escócia em 1998, 2 a 1 sobre a Turquia em 2002 e 1 a 0 sobre a Croácia em 2006.

No entanto, jamais será justificável que a Seleção Brasileira entre em campo sem nenhuma vontade, ou com a acomodação de um time que acha que vai resolver a partida quando quiser. Afinal, do outro lado haverá uma equipe extremamente motivada. A frase de seu ônibus - "1966 de novo! Vitória para a Coreia do Norte" (em referência à Copa na qual a seleção conseguiu sua melhor colocação, um oitavo lugar) - traz a única clareza em meio ao mistério do país. Os norte-coreanos vão entrar em campo dispostos a fazer e refazer uma história, e surpreender um adversário de destaque seria um ótimo indício para a campanha ser bem-sucedida na África do Sul.

O paradoxo entre sangue frio e necessidade de fazer uma estreia convincente dão um sabor a mais à partida contra a Coreia do Norte. Falta à Seleção Brasileira adoçar a terça-feira do país do futebol.

domingo, 13 de junho de 2010

Estratégia da desordem



Os primeiros dias de Copa do Mundo na África do Sul deram ao Brasil uma certeza: sim, o Brasil tem tudo para sediar a próxima edição do torneio, em 2014. Uma pena é que, para isto, os jornalistas tenham de nivelar por baixo a desorganização atual sul-africana, com problemas semelhantes aos enfrentados pelos brasileiros numa ida a um estádio.

Tanto Juca Kfouri quanto José Geraldo Couto, colunistas de esporte da Folha de S. Paulo, apontaram estas coincidências entre a atual rotina da África do Sul na Copa e o Brasil futebolístico. Trânsito caótico, desorganização no setor da imprensa, filas intermináveis para entrar no estádio. Coisas corriqueiras no país do futebol.

Um alento para a falta de estrutura atual dos estádios brasileiros, que precisam resolver questões como aumento de lugares, problemas em seus arredores, atrasos no início das obras ou superfaturamento antes mesmo dos trabalhos começarem. A vontade da FIFA esbarrou em burocracias brasileiras estapafúrdias - como o adiamento do fechamento para obras do estádio do Maracanã somente porque o Flamengo participaria da Taça Libertadores da América em 2010. E o mais estranho é que o futuro palco da final da Copa de 2014 havia passado por obras visando o Pan-Americano de 2007. Em apenas três anos o estádio ficou obsoleto? A sensação é de que só lembram de trazer melhorias a ele numa possibilidade de uma competição internacional.

Estádios nordestinos, como o Castelão e a Arena Capibaribe, e no Sul, o Beira-Rio, campo do Internacional, esbarraram em esperas de licitações, que podem atrasar um pouco mais o dia da entrega final. O Morumbi segue em negociação com a FIFA, e vê a vontade de sediar o jogo de estreia de 2014 cada vez mais distante. Entretanto, Juca Kfouri comprova que os estádios de Johanesburgo não diferem muito do campo do São Paulo. E, sem dúvida, a capital paulista não pode ser excluída de uma festa brasileira. O estado hoje é o que mais tem times nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro.

Os primeiros dias da Copa do Mundo empolgaram o Brasil. Não pela ansiedade em fazer uma festa mais alegre do que foi mostrado na África do Sul. Mas pelo alívio de saber que há possibilidade da bagunça de 2010 ser perdoada também quatro anos depois. A estratégia da desordem pode ser adotada na Copa do Mundo de 2014 sem o menor problema. Como disse bem o jornalista José Ilan, do GloboEsporte.com, "definitivamente, a FIFA não sabe com quem se meteu".

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No Twitter, O tempo e o placar... traz alguns pitacos sobre Copa do Mundo e sobre coisas que vêm acontecendo na intratemporada do futebol brasileiro. Sigam @otempoeoplacar e fiquem à vontade para comentar.

sábado, 12 de junho de 2010

Coração verde e amarelo



O Dia dos Namorados cair em plena Copa do Mundo não é mera coincidência. A Copa é o maior presente que o futebol pode dar aos seus amantes fiéis, que a cada quatro anos concentram seus olhares para a disputa do torneio de seleções mais importante do mundo. E na frente da TV, nos bares, nas arquibancadas, o amor do torcedor oscila diante do que é apresentado nos gramados.

Um amor no qual não há perdão quando o jogador hesita diante do gol. Uma lua-de-mel que fica amarga quando o goleiro engole um frango capaz de impedir a vitória de uma equipe. E a sensação de prazer que vem somente com o som do gol.

O Brasil se consagrou como o país do futebol por sua relação de amor e ódio com a Seleção Brasileira. E, como prova de amor, colocou em letra e música todas as suas expectativas na camisa canarinho.

Uma delas veio em homenagem ao tricampeonato em 1970. A taça do mundo é nossa, de Maugeri, Müller, Sobrinho e Dagô, coroou a conquista no México, e apresentou ao mundo aquela que é considerada uma das melhores seleções de todos os tempos.



Com o passar das Copas, a tendência foi criar músicas temáticas para cada uma das edições do torneio. Algo que, infelizmente, fez com que canções interessantes e bem boladas caíssem no esquecimento por causa da ausência de títulos no campo. Foi o caso de Corrente 78, música feita para a Copa daquele ano, na Argentina. O nome dela era uma alusão ao primeiro verso do tango A media luz, que dizia "corriente tres, cuatro, ocho". O Brasil terminou em terceiro lugar, e foi definido pelo técnico Cláudio Coutinho como "campeão moral", pois saiu da Copa invicto.



Na Copa de 1982, realizada na Espanha, o lateral-esquerda Júnior se aventurou no cenário musical para a Seleção Brasileira dar samba. Ele compôs e interpretou Voa, canarinho, tema do time que até hoje é considerado um dos mais bonitos que o futebol-arte apresentou à Copa do Mundo. Mas a arte brasileira foi derrotada pela força da Itália, e voltou ao Brasil com o quinto lugar.



Quatro anos depois, a canção escolhida como tema brasileiro para a Copa do Mundo teve algo em comum com a de 1978. Para a Copa de 1986, realizada no México, o país cantava Mexicoração (novamente, o título fazia alusão ao país-sede). Ainda com alguns jogadores da Copa de 1982, o Brasil perdeu nos pênaltis para a França, e ficou com o quinto lugar.



Na Copa do Mundo de 1990, a música-tema pedia Papa essa, Brasil, e em sua letra dizia "quem tem bola vai a Roma". No entanto, a Seleção Brasileira de Sebastião Lazaroni teve um pífio desempenho e, após quatro jogos burocráticos na Itália, foi eliminada pela Argentina e não passou de um nono lugar.



Somente em 1994 o Brasil voltou a vencer a Copa do Mundo. E a música do tetra Coração verde e amarelo (de Tavito e Aldir Blanc) foi tão marcante que, graças à conquista nos Estados Unidos, segue até os dias de hoje como tema de futebol dos jogos da TV Globo. Sempre bem-humorado, o letrista Aldir Blanc disse que, assim como o Cafu, ele também participou de três finais consecutivas, mas com sua música dentro de campo.



Afinal, no Brasil as conquistas é que fazem consolidar o amor entre a Seleção Brasileira e seus torcedores. O coração verde e amarelo acelera durante a Copa do Mundo e, em coro, segue a música do compositor Miguel Gustavo para dizer PRA FRENTE BRASIL.



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UM FELIZ DIA DOS NAMORADOS!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A esperança na disritmia



Questionado se a influência do bom ambiente entre os jogadores de sua seleção pode ajudar nos resultados de dentro de campo durante a Copa do Mundo, o argentino Verón respondeu que "se alegria ganhasse jogo, o Brasil seria campeão sempre". Em seguida, o jogador provocou os brasileiros, dizendo que os argentinos não dançam samba. As alfinetadas dos "hermanos" são previsíveis, mas a Seleção Brasileira que está na África do Sul parece bem distante do samba de outrora.

As apresentações do Brasil na Era Dunga são mais voltadas para um arremedo de orquestra. Todos os seus comandados se empenham em fazer o que o treinador manda, conduzidos pelo toque de bola e pelo esquema criado durante os treinos. Até os momentos de improviso ou os solos têm seus compassos definidos, e são exclusivos para Robinho e Luís Fabiano (ou, quando muito, nos pés de Kaká e Ramires).

A sensação que o time de Dunga dá a cada partida é que seu campo está congestionado de carregadores de piano. E, enquanto o setor defensivo fica "pianinho", na hora do ataque a tendência é de que venham vários sons estridentes e desafinados atrás da harmonia do gol.

O Brasil da Copa do Mundo de 2010 se resumirá a dançar conforme a música. A seguir os arranjos pasteurizados criados pelo futebol europeu, nivelando ainda mais por baixo um torneio que promete poucos gols. Mais uma vez, a Seleção Brasileira ficará entregue à espera da disritmia do bom futebol, para não desafinar na competição.

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O tempo e o placar... informa: nestes 30 dias de Copa do Mundo, o blogue se dedicará exclusivamente a textos da Seleção Brasileira. Notícias dos clubes aparecerão em alguns dias, mas na seção Bola pro mato.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pouca brasilidade



A abertura da Copa do Mundo de 2010 pela primeira vez aconteceu na noite de véspera do pontapé inicial da nova edição. Uma decisão que comprovou que a competição é, acima de tudo, uma grande festa cercada de cores e de luzes. Mas, em meio a tantos momentos iluminados, iluminou-se muito pouco o Brasil no palco do Orlando Stadium.

Foi muito bonito ver o clima de diversidade num país que outrora foi símbolo do preconceito racial. Coisas superadas da maneira como o líder Nelson Mandela afirmou: "Perdoar é muito mais fácil do que esquecer. Perdoar pode ser um ato político para se obter um objetivo. Esquecer não. É uma decisão subjetiva e pessoal e quem foi vítima não pode esquecer o que passou".



A bela ode à miscigenação e as palavras emocionantes do arcebispo Desmond Tutu começaram a deixar de lado o futebol. As presenças de jogadores no palco foram muito restritas (ou relegadas a vídeos), e o Brasil, maior vencedor da Copa do Mundo, teve presença tímida. Uma presença gravada e curta de Pelé, Sócrates no palco ao lado de outros jogadores e um integrante do grupo Black Eyed Peas ostentando a bandeira brasileira acabaram sendo os representantes da "pátria em chuteiras".

No evento da Copa do Mundo, os sul-africanos perderam a chance de resgatar algum jogador brasileiro que fez a torcida gritar "é campeão". Por mais que Sócrates tenha sido um ícone do futebol do país, ele não venceu a competição (sim, se ele não ganhou uma Copa, pior para a Copa). Por que não chamar um Jairzinho, um Bellini (o primeiro brasileiro a erguer a Taça Jules Rimet), um Gérson?



Até o vídeo de gols dos campeões anteriores foi jogado de maneira acelerada, descaracterizando a finalidade do show. Enquanto isto, Amadou, Marian, John Legend , Alicia Keys e a exuberante Shakira desfilavam seus respectivos repertórios. Este que vos escreve aprova atrações musicais, desde que haja mais espaço ao futebol, e mais justiça ao Brasil.

A Seleção Brasileira agora tem um motivo a mais para fazer boas apresentações na Copa do Mundo. Diante de tão pouca brasilidade na abertura da competição, é bom o time de Dunga ter forças para recuperá-la dentro de campo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Maracanazzo às avessas



No dia 16 de julho de 1950, o Brasil conheceu a mãe de todas as derrotas com a Seleção Brasileira de Futebol. Ao final de 90 minutos, viu uma sucessão de clichês cair sobre as costas de um país. "A bola pune", "ninguém ganha jogo de véspera", "futebol se ganha em campo" e outros derivados passaram pela final da Copa do Mundo daquele ano.

Todos os brasileiros (apaixonados por futebol ou não) conhecem esta história escrita há 60 anos. A Seleção Brasileira chegou à partida decisiva da Copa do Mundo e bastava um empate contra a seleção do Uruguai para sagrar-se o campeão de 1950.

Friaça abriu o placar para o Brasil, Schiaffino empatou a partida para os uruguaios e, aos 34 minutos do segundo tempo, Gigghia invadiu a área brasileira, passou por Bigode e chutou no fundo da rede de Barbosa. Décadas mais tarde, o autor do gol da vitória do Uruguai por 2 a 1 diria que só três coisas calaram o Maracanã: a voz de Frank Sinatra, a oração do Papa João Paulo II e o gol dele. Em meio a um silêncio de 200 mil pessoas, a seleção uruguaia ganhava sua segunda (e até o momento mais recente) Copa do Mundo.



60 anos e muitas partidas depois da tragédia do estádio, o jornalista Teixeira Heizer volta a passar pela primeira e única Copa do Mundo que o Brasil sediou. No entanto, em Maracanazzo - Tragédias e epopeias de um estádio com alma (Editora Mauad X, 264 páginas), o Maracanã não se resume a ser pano de fundo da mais triste derrota do Brasil numa Copa do Mundo.

O Maracanã é o personagem biografado por Teixeira Heizer. Desde o início da obra, feita a toque de caixa na zona norte do Rio de Janeiro, passando pela inauguração do estádio e por toda a campanha da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950. E, após todo seu relato, Teixeira é generoso e abre páginas de seu livro para que outros jornalistas contem suas histórias com o Estádio Mário Filho. Em Maracanazzo, nomes como Luiz Mendes, Maurício Azêdo, Sérgio Cabral e Ferreira Gullar (além da participação do poeta uruguaio Eduardo Galeano). trazem excelentes textos tanto em qualidade quanto pelo tom confessional das páginas que seguem.

Mas, sem dúvida, o maior mérito de Maracanazzo - Tragédias e epopeias de um estádio com alma é ser um livro às avessas do que propõe sua trajetória. Em geral, as pessoas leem obras literárias e ficam ansiosas por saber o desfecho. No livro de Teixeira Heizer, todos sabem o final da história da Copa do Mundo de 1950. Só que o mais interessante é saber todas as coisas que levaram ao Maracanazzo. Até mesmo para, 60 anos depois, o Brasil não repetir os passos em falso que aconteceram na IV Copa do Mundo de Futebol.

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Nas #CURIOSICOPAS, o Twitter de O tempo e o placar... (@otempoeoplacar) apresentou curiosidades da Copa do Mundo de 1950 aos seus seguidores. Seguem algumas delas:

*Com os países europeus devastados pela Segunda Guerra, somente um país aceitou sediar a Copa do Mundo em 1950: o Brasil.

*A Copa de 1950 foi a primeira a ter fase de grupos. Na fase inicial, eram 4 grupos com 4 seleções em cada um.

*Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife foram as cidades-sede da Copa do Mundo de 1950.

*O ex-presidente da Federação Francesa de Futebol Jules Rimet foi homenageado a partir de 1950 com o nome da taça da Copa do Mundo.

*Em 1950, finalmente os ingleses aceitaram disputar uma Copa do Mundo. O torneio era subestimado pelos criadores do futebol.

*A Inglaterra protagonizou a primeira zebra da história das Copas. Em 1950, a seleção perdeu por 1x0 para os EUA em Belo Horizonte.

*Os EUA em 1950 tinham vários jogadores naturalizados. Bélgica, Haiti, Portugal e Itália eram alguns dos locais onde eles nasceram.

*Mesmo devastada pela Segunda Guerra Mundial, a Itália foi representada na Copa de 1950. Mas a seleção foi eliminada na primeira fase.

*A primeira partida oficial no Maracanã foi a estreia do Brasil na Copa de 1950. A Seleção venceu o México por 4x0.

*A Seleção Brasileira marcou 22 gols na Copa de 1950. É o recorde de gols do Brasil em uma Copa do Mundo.

*A Seleção Brasileira de 1950 tinha oito jogadores do Vasco da Gama, clube que na época era chamado de Expresso da Vitória.

*A tática de colocar todos os jogadores em funções defensivas é obra do suíço Karl Raphman. Sua seleção empatou em 2x2 com o Brasil.

*Ademir de Menezes, o Queixada, foi o segundo artilheiro brasileiro em Copas. Em 1950, foram nove gols marcados.

*Brasil (1950) e Suécia (1958) foram as únicas seleções que perderam decisões de Copa do Mundo quando eram o país-sede.

*O Uruguai foi campeão das duas primeiras edições que participou. Em 1934 e em 1938 os uruguaios se recusaram a ir à Europa.

*A festa era preparada para o Brasil em 1950, a ponto de Jules Rimet quase não conseguir entregar a taça ao uruguaio Obdulio Varella.

*Acusado de falhar no gol do Uruguai que fez o Brasil perder a Copa de 1950, Barbosa faleceu em 2000, esquecido e na miséria.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Válvulas de escape



No último jogo antes da estreia na Copa do Mundo, a Seleção Brasileira finalmente mostrou alguma coisa de diferencial em relação à burocracia do time de Dunga. Não que a vitória por 5 a 1 sobre a modesta Tanzânia tenha revelado um surpreendente poder de fogo do Brasil. Mas, pelo menos, a equipe promete ter algumas válvulas de escape para a competição.

Foi um primeiro tempo hesitante, no qual os dois gols de Robinho roubaram a cena que, até o momento, era do goleiro Gomes (o salvador diante de tantas lambanças criadas pelo lado esquerdo do Brasil). Kaká ficou sobrecarregado na criação de jogadas e passou os 45 minutos iniciais oscilando entre buscar ritmo de jogo e evitar uma nova contusão.

Dentre as substituições do intervalo, uma mudança de Dunga foi providencial para o Brasil. A saída de Felipe Melo (que alternava sua atuação entre dar passes para trás ou expor as travas de suas chuteiras) para a entrada de Ramires foi providencial.

O meio-de-campo brasileiro ganhou mobilidade e contribuiu para a Seleção Brasileira se aproximar bem mais do ataque. Tanto que Ramires marcou dois gols nos 45 minutos que teve em campo. Mais do que nunca, é inadmissível deixar um volante habilidoso como o jogador do Benfica no banco de reservas, como substituto de mais um botinudo que recebeu no colo a camisa amarela.

No decorrer da segunda etapa, a torcida também sentiu segurança com uma solução que vem do banco. Lateral-direita de ofício, Daniel Alves mais uma vez entrou bem no meio-de-campo, dando a mobilidade que Elano não conseguiu durante o período que teve em campo. E do improviso, Dunga criou uma alternativa para amenizar momentos de apreensão do Brasil.

A crítica especializada certamente vai convencionar que se tratam de "jogadores de segundo tempo", e Dunga vai usá-los como "talismãs" durante os jogos na Copa do Mundo. Mas, do jeito que o Brasil atuou no amistoso com a Tanzânia, é bem provável que eles se tornem figuras fáceis nas partidas da competição. Pelo menos da falta de criatividade, a Seleção Brasileira ainda tem chance de escapar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Gritos dissonantes



Análise de jogo: Santos 4 x 0 Vasco (16h, Vila Belmiro)

O gramado da Vila Belmiro apresentou no domingo a primeira partida explícita entre dois extremos do Campeonato Brasileiro. Em meio ao equilíbrio da competição, Santos e Vasco revelaram uma distância gritante de talento entre duas equipes. O time santista, gritando a certeza de ser um grupo forte, de qualidade para brigar pelo título. O time vascaíno, gritando a insegurança de não ter saídas para mudar sua situação no Brasileirão. O placar? Santos 4 a 0, com dois gols de André, um de Maranhão e um de Madson.

O primeiro tempo insinuou um falso equilíbrio entre as equipes. Do lado santista, a ausência da dupla Neymar e Robinho parecia alterar o jogo dos meninos da Vila. Paulo Henrique Ganso não conseguia iniciar jogadas, e nos poucos acertos a dupla formada por Madson e André não aparecia. Com esquema fechado, o Vasco partia pouco para o ataque, e o esquema de Celso Roth trazia uma formação curiosa: improvisado na lateral-direita, Thiago Martinelli se restringia à marcação. Cabia ao jovem Allan a responsabilidade de subir por aquele lado, o que deixou capenga o meio-de-campo.

Isolado na criação, Jéferson não se apresentava para tabelas com Philippe Coutinho. Na partida, "a joia de São Januário" foi alçada tanto a responsável direta pela criatividade quanto por colocar a bola na rede. Numa mesma semana, a diretoria vascaína dispensou Dodô, Élton se machucou na derrota para o Guarani quinta-feira e, no dia do jogo com o Santos, Rafael Coelho teve problemas estomacais. Sobrou para o jovem Nílson, um grandalhão de 17 anos, complementar o elenco titular do Vasco na partida.

Após meia hora de passes errados de ambos os lados, os acertos santistas começaram a acontecer. Na sua primeira grande oportunidade da tarde, André surgiu entre os zagueiros e chutou à direita de Fernando Prass. A bola foi na trave e voltou para as mãos do goleiro vascaíno. Os santistas passaram a dominar o meio-de-campo diante de um Vasco que começava a se perder na Vila Belmiro.

A passividade foi tanta que chegou até ao goleiro Fernando Prass (na maioria das vezes, poupado dos erros de seus outros 10 companheiros de cada jogo). Num primeiro momento, ele apenas olhou a bola cruzando rasteira por sua área, do passe de André que encontrou Léo. O lateral tocou para Wesley, e Dedé salvou em cima da linha. O camisa 1 do Vasco segurou a bola e se preparou para repor com os pés. Mas esqueceu que Léo estava voltando ao campo, e permitiu que ele o surpreendesse. Numa tentativa de se recuperar, Prass acabou cometendo pênalti. André cobrou e converteu. 1 a 0 Santos, aos 34 minutos. E o time vascaíno começava a dar sinais de entrega.

Apenas um esboço do que viria nos 45 minutos finais. Depois da bronca de Dorival Júnior, que reclamou do mau primeiro tempo, o Santos voltou com mais disposição depois do intervalo. Nem mesmo a contusão de Rodriguinho numa dividida aérea com Dedé foi capaz de fazer a pressão santista diminuir. Afinal, mal seu substituto, Maranhão, entrou em campo, ele já fez o segundo gol, num chute no ângulo.

Três minutos depois, Celso Roth fez duas alterações na equipe vascaína. A dupla de criação Jéferson e Philippe Coutinho saiu, para a entrada dos meias ofensivos Fumagalli e Magno, respectivamente. O panorama da frente do Vasco não mudou muito. Enquanto isto, o time carioca levava seu terceiro gol. Em jogada iniciada por Madson (jogador que vestia a camisa do adversário em 2008 no ano em que ele caiu para a Segunda Divisão), André entrou livre para colocar a bola no fundo da rede.

Aos 19 minutos, o meio-de-campo do Vasco apareceu com força. Mas com força bruta. Em seu primeiro lance no jogo, Fumagalli deu uma tesoura em Wesley e foi expulso. Sem ter o que fazer com sua equipe, Celso Roth honrou seu espírito defensivo e se preocupou em fazer o time evitar uma derrota maior, ao trocar o atacante Nílson pelo volante Léo Gago. Não adiantou muito. Aos 28 minutos, Zezinho cruzou da linha de fundo e Fernando Prass somente assistiu ao chute de Madson balançar sua rede.

Os 15 minutos finais deixaram visíveis os extremos de futebol das equipes. O Santos mantinha seu bom toque de bola e a categoria de seu elenco em busca de ataque, enquanto o Vasco recorria aos chutões. Mais do que o 4 a 0 que apareceu no placar, a colocação depois das sete rodadas no período de antes da Copa do Mundo comprova o abismo entre os dois times.

Os santistas chegam ao quarto lugar no Campeonato Brasileiro, mesmo escalando o time reserva em alguns jogos (em virtude da prioridade à Copa do Brasil, ba qual o Santos faz a final com o Vitória em dois jogos a partir do fim de julho). O Vasco se mantém no penúltimo lugar, e supera em pontos apenas o Atlético Goianiense - time que também subiu para a Série A no ano passado, mas que não participava da elite desde a Copa União de 1987. Para os vascaínos, pior do que o massacre durante os 90 minutos é saber que não há mais palavras para gritar nas arquibancadas pedindo alguma mudança.

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O tempo e o placar... traz o que houve de melhor e de pior na sétima rodada do Campeonato Brasileiro.

O CHUTAÇO

Quatro vitórias consecutivas, duas delas fora de casa sobre adversários muito difíceis de vencer nos domínios deles. A vitória por 3 a 0 sobre o Avaí no Ressacada comprova que o FLUMINENSE ganhou um espírito de luta e um esquema tático bem eficiente nas mãos de Muricy Ramalho. Um alento para a torcida que depois de muito tempo pode se orgulhar pelas boas atuações no Campeonato Brasileiro.

A FURADA

Apesar de estar no meio da classificação, o futebol do CRUZEIRO termina o primeiro ato do Campeonato Brasileiro com um futebol hesitante, que frustra a torcida celeste neste primeiro semestre. Não bastasse a eliminação da Taça Libertadores da América, a equipe teve resultados pouco expressivos (até mesmo nas vitórias do Campeonato Brasileiro) e encerra a época pré-Copa com uma derrota por 2 a 1 para o lanterna da competição. Serão 45 dias de muito trabalho na Toca da Raposa.

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RESULTADOS - SÉTIMA RODADA

Sábado

Vitória 1 x 0 Atlético Paranaense (Barradão)
Avaí 0 x 3 Fluminense (Ressacada)
Flamengo 1 x 2 Goiás (Maracanã)

Domingo

Atlético Mineiro 0 x 1 Ceará (Mineirão)
Santos 4 x 0 Vasco (Vila Belmiro)
São Paulo 3 x 1 Grêmio (Morumbi)
Botafogo 2 x 2 Corínthians (Engenhão)
Guarani 1 x 0 Prudente (Brinco de Ouro da Princesa)
Atlético Goianiense 2 x 1 Cruzeiro (Serra Dourada)
Internacional 1 x 1 Palmeiras (Beira-Rio)

domingo, 6 de junho de 2010

Panos quentes?



Drogba, Owen, Pirlo... A lista de jogadores que desfalcarão suas respectivas seleções na Copa do Mundo de 2010 por contusão traz nomes consideráveis (e que, infelizmente, fariam muito bem para a competição). Talvez por receio de que ele engrosse a lista, a Seleção Brasileira decidiu poupar o goleiro Júlio César do amistoso de amanhã, contra a Tanzânia.

Na partida contra o Zimbábue, o camisa 1 sofreu uma pancada no tórax e saiu de campo com 25 minutos de jogo. O departamento médico brasileiro logo se preocupou em dizer que a saída dele foi algo preventivo, uma pancada que precisaria apenas de cuidados rápidos, e logo o jogador estaria recuperado.

Surge hoje a notícia de que Júlio César não vai jogar o último amistoso preparatório antes da estreia dia 15, contra a Coreia do Norte. Em seu lugar, entra o camisa 12, Gomes, que antes dos 65 minutos da semana passada não vinha sendo convocado há tempos por Dunga. Por mais que o atual goleiro do Totteham tenha suas qualidades, não inspira tanta confiança quanto o titular do Brasil (que é considerado o melhor goleiro do mundo por muitos).

Mas o alerta em relação ao goleiro da Internazionale de Milão é ainda maior por causa de seu histórico em relação ao motivo de não jogar contra a Tanzânia. Às vésperas de sair do Flamengo para jogar no time italiano, os médicos rubro-negros esconderam uma hérnia de disco. Somente quando chegou à Inter que o problema veio à tona.

E, agora, após quatro anos de preparação como o camisa 1 de confiança do técnico Dunga, ressurge a ausência de Júlio César por dores lombares. E com o agravante: a prevenção durante o jogo do Zimbábue se estendeu para os 90 minutos contra a Tanzânia.

No jogo final antes do início da Copa do Mundo de 2010, Dunga não deixaria de escalar sua equipe titular se quer testá-la em 90 minutos. Mesmo com o trauma de 1994, quando assistiu a uma contusão do zagueiro titular do time de Carlos Alberto Parreira (Ricardo Gomes perdeu aquela Copa por causa de uma contusão no jogo contra Honduras, e em seu lugar entrou Aldair), ele não pode mais fazer escalações virtuais ou dar desconto nas atuações por causa da ausência de jogadores.

A torcida verde e amarela espera que as palavras do departamento médico do Brasil sejam sinceras. A aposta em Gomes pode até ser interessante, mas perder o melhor goleiro do mundo certamente seria um baque para todo o país. Para uma seleção que entra como favorita na Copa do Mundo, não dá para usar panos quentes. O Brasil permanecerá até dia 15 à espera de Júlio César debaixo das traves brasileiras contra a Coreia do Norte.

sábado, 5 de junho de 2010

Pecados capitais



A soberba é o pecado capital que se refere ao orgulho excessivo e à arrogância no vício da conduta dos homens. E neste meio de ano, duas torcidas que em seus gritos cometeram este "pecado" agora pagam as consequências da pretensão vinda de fora de campo. Aclamado como Imperador, Adriano saiu do Flamengo após a frustrada tentativa de consolidar o "Império do Amor". Definido como "o poder" pela torcida do Vasco, Dodô rompeu seu contrato e saiu do clube com seu poderio de artilharia questionado.

Após o título brasileiro de 2009, o Flamengo chegou a 2010 com grandes esperanças. A base campeã foi praticamente toda mantida, e para o ataque veio o reforço de Vágner Love. A parceria com o "Artilheiro do Amor" certamente consolidaria o epíteto de Imperador que Adriano ostentava.

No entanto, aos poucos a soberba flamenguista se viu traída por lampejos de luxúria (bebidas, festas e um noivado conturbado) que afetaram o desempenho do jogador no gramado. Com um semestre frustrante, no qual mal ajudou o time que perdeu o Campeonato Estadual e foi eliminado na Taça Libertadores da América, Adriano tomou o rumo da Itália, em uma nova contradição de sua carreira. Cerca de um ano antes, o jogador saiu de lá, insatisfeito com o tratamento da imprensa esportiva, reclamando saudades da Vila Cruzeiro e do Flamengo. Agora, ele diz que quer voltar ao futebol italiano para melhorar sua imagem de lá. E a imagem dele no Brasil, tem data marcada para ser melhorada? A volta ao rubro-negro era perfeita no final de 2009. No primeiro momento de má fase no clube, o amor foi deixado de lado ou a presença no território brasileiro foi inútil diante da não-convocação para a Copa do Mundo?

Presença também foi algo que o atacante do principal adversário do time de Adriano também não teve neste semestre. Um início promissor, marcando três gols por partida (os primeiros, num clássico diante do Botafogo, na vitória por 6 a 0 no Engenhão) e a consolidação do grito "Dodô é o poder". Mas, aos poucos, o poder de Dodô foi se desfazendo, numa decadência que veio jogo a jogo e trouxe capítulos lamentáveis.

Na perda do título da Taça Guanabara para o Botafogo, o jogador foi promovido a grande culpado pela derrota. Título injusto, diante de toda uma apatia vascaína. O time não tinha sido capaz de merecer a vitória durante boa parte do jogo e, ao levar o primeiro gol, o Vasco desencadeou uma série de episódios de desestabilidade emocional, que culminaram no segundo e derradeiro gol alvinegro. Na partida seguinte, a torcida (que no ano anterior era exaltada por acolher o time até mesmo nos momentos mais difíceis) lançou gritos de protesto e definiu Dodô como "pipoqueiro".

Em vez de fazer o sangue esquentar, Dodô mostrou ausência de "poder". Não só poder de fogo para fazer gols, mas também o poder de reação diante de tanta adversidade. Em vez do sangue esquentar para calar seus detratores, o atacante foi deixando seu futebol empalidecer pela falta de vibração, pela falta de garra. O sangue frio que alguns anos atrás favorecia tornou-se adversário, e ele não esboçou nenhuma reação intempestiva nem mesmo depois de errar dois pênaltis contra o Flamengo. A torcida do Vasco acusou, e Dodô simplesmente aceitou os rótulos negativos que recebeu. Aceitou até ser reserva de jogadores de qualidade inferior, como Élton e Rafael Coelho.

Da soberba da torcida vascaína do início do ano, restou a imagem da preguiça do artilheiro em buscar jogadas, visível em seu desempenho até nos treinos de São Januário. Na rescisão do contrato, fica uma certeza. A de que a inatividade por dois anos por causa de doping contribuiu muito para seu fracasso com a camisa do Vasco. Mas Dodô não fez a menor força para recomeçar nesta árdua tarefa de reestrear aos 36 anos.

Para Dodô e Adriano sobra a ira das torcidas de Vasco e Flamengo - em especial para o primeiro, que deixou minguados bons momentos com a camisa do clube e nunca foi identificado antes com ele (Adriano é cria do clube da Gávea, e tem idade para prometer mais um retorno). As duas histórias trazem algo em comum: o grande pecado de não corresponderem com gols o apoio e a espera que vinha das arquibancadas. Por erros próprios, que nenhum deles teve forças para corrigir.