sábado, 31 de julho de 2010

Sem pernas



Todos os times de pouca tradição no futebol nacional vibram quando conseguem chegar à Série A do Campeonato Brasileiro. Entretanto, alguns dão a impressão de que não têm fôlego para acompanhar o acesso ao qual foram credenciados. É o caso do atual lanterna do Brasileirão, o Atlético Goianiense, que não parece ter perspectiva de melhora em sua participação na elite do futebol.

O meteoro no qual se tornou a equipe goiana, que em dois anos subiu da Terceira para a Primeira Divisão, a cada rodada dá a impressão de que aconteceu de maneira prematura. O time se preparou para o Campeonato Brasileiro de 2010 com a mesma mentalidade que teve na Segunda Divisão. Manter uma base é bem válido, mas o investimento deveria ser superior a cogitar contratar jogadores limitados como Thiago Feltri, Anaílson e Rodrigo Tiuí.

As limitações são grandes adversárias do Atlético Goianiense a cada partida. Em alguns jogos, os atleticanos até conseguem jogar melhor do que seus rivais, mas tropeçam no fraco poder de fogo de seu ataque. A consequência disto é que jogadores que têm potencial de futebol - o lateral Dida, o meia Róbston e o atacante Juninho - são ofuscados, ao jogar com mediocridades como Márcio Gabriel e Pituca.

A diretoria do rubro-negro de Goiânia também não se esmerou tanto para dar um pouco mais de qualidade à equipe na elite do futebol. O time, que jogava conforme a violência das divisões inferiores, manteve-se violento nas mãos do técnico Geninho, pelas características que ele impõe às equipes que treina. Sete jogos depois, ele foi substituído por Roberto Fernandes no Brasileirão, outro técnico de estilo de jogo tipicamente destrutivo, que durou somente quatro partidas.

Apegado ao bom retrospecto que tinha no Serra Dourada, o Atlético também esqueceu que, ao jogar contra clubes de nível nacional, fatalmente ficaria com menor público nas arquibancadas. E, por mais que alguns jogadores estivessem acostumados a outros percalços, como atuar em campos esburacados e aturar as viagens longas em jogos das Séries B e C, a pressão dos estádios da Série A também faz muita diferença.

O Atlético Goianiense vem mostrando a cada rodada a dificuldade que é conseguir dar passos no futebol maiores do que as pernas de seu elenco. Sem muito dinheiro para investir e sem uma visibilidade tão interessante aos olhos de jogadores de melhor qualidade, o time goiano vai se remediando como pode, como foi com a recente contratação de Carlinhos Bala. Mas ainda falta muita coisa para que a equipe de Goiás tenha fôlego na disputa do Campeonato Brasileiro.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cavando polêmica



Quando um craque atua nas quatro linhas, um erro dele é capaz de ofuscar 90 minutos de uma partida de futebol. Foi o caso do primeiro jogo da final da Copa do Brasil, quando o Santos saiu da Vila Belmiro com uma vitória por 2 a 0 sobre o Vitória da Bahia. O destaque foi para a cobrança de pênalti na qual Neymar tentou dar uma "cavadinha" e acabou entregando de bandeja a bola para o goleiro Lee.

O recurso da "cavadinha" acontece no futebol desde 1976, quando o meia Panenka, da Tchecoslováquia, fez o gol decisivo da disputa de pênaltis na final da Eurocopa, diante da Alemanha Ocidental. Mais tarde, nomes como Djalminha, Zidane e, recentemente, Loco Abreu, tiveram sucesso em penalidades máximas usando esta estratégia de enganar os goleiros adversários.

No entanto, o insucesso de Neymar gerou uma sucessão de polêmicas, tanto por se tratar de um dos "meninos da Vila" quanto por estar na atual lista de convocados da Seleção Brasileira. De fato, quando a "cavadinha" não dá certo se torna um demérito do cobrador, que não teve força e jeito suficientes para vencer o goleiro num pênalti. Só que é extremamente contraditório que o mesmo grupo de pessoas que canta a nostalgia de um bom futebol, com jogadores capazes de criar surpresas agradáveis aos olhos de todos os torcedores, agora peça objetividade na marca de cal.

Neymar sempre teve um jeito abusado de jogar, isto que torna seu futebol ainda mais fascinante. Agora, os 18 anos ainda fazem com que algumas atitudes no gramado sejam imaturas e, até mesmo, irresponsáveis. Se o atacante queria usar a "cavadinha" em plena final de Copa do Brasil, deveria pensar que, àquela altura, o Santos vencia apenas por 1 a 0 (gol do próprio Neymar), e os santistas vinham desperdiçado muitas chances, que poderão fazer falta no saldo de gols para o segundo jogo, a ser realizado no Barradão. Talvez com uma vantagem mais confortável no jogo ou, quem sabe, se fosse numa finalíssima, a poucos minutos do fim da partida contra o Vitória da Bahia, seu erro não teria tamanha dimensão.

Da polêmica da "cavadinha", fica a lição de que Neymar ainda precisa dimensionar o bom senso de seu futebol - às vezes, a sensação é de que ele se deslumbra com seu próprio talento. As pessoas que o crucificam também não podem dar dimensão de erro a um jogador que quis manter a graça no gramado. A omissão ao caráter lúdico da bola nos pés serve apenas para dar uma cavadinha na sepultura do futebol de verdade.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ao ataque, Colorado!




Análise de quarta: Internacional 1 x 0 São Paulo (21h50, Beira-Rio)

O primeiro confronto do duelo brasileiro na semifinal da Taça Libertadores da América ficou marcado por seu tom maniqueísta. Os 90 minutos trouxeram um Internacional com toque de bola rápido e constantes oportunidades de gol medindo forças com um São Paulo que priorizou o setor defensivo e optou pela frieza dos contra-ataques. A vitória foi do time que se comportou como um gigante no gramado, diante de um adversário que mais uma vez se apequenou ao ponto de não esboçar qualquer vontade de vencer.

Cerca de um ano depois de assumir o comando do São Paulo, o técnico Ricardo Gomes continua incapaz de transformar a equipe paulista num time. Sua única estratégia é aproveitar os bons defensores que tem e recorrer a um lampejo de Hernanes e Marlos para que Dagoberto e Fernandão possam chegar diante do gol. No entanto, diante de um meio-de-campo colorado, que tem volantes de qualidade como Guiñazu e Sandro, as oportunidades de sair para o contra-ataque ficaram escassas.

O trio de zaga são-paulino se desdobrava para evitar que o Internacional aparecesse com perigo na área, em jogadas iniciadas por D' Alessandro e Taison. A troca de passes sempre surgia com perigo, num colorado atípico dos esquemas de Celso Roth. O jogo amarrado tradicional do treinador deu espaço a um time leve, no qual também se destacavam as boas subidas dos laterais Nei e Kléber. Entretanto, as oportunidades diante do gol também não foram muitas nos primeiros 45 minutos.

Sem contar com o atacante Walter (que teve seu passe negociado com o Porto, de Portugal), o Inter sentiu a ausência de um centroavante, um matador capaz de aparecer de maneira mais incisiva na área do que a maneira como Alecsandro apareceu no jogo da semifinal. O bom momento do atacante ficou restrito a uma tentativa aos 25 minutos, quando, numa sobra de uma dividida na cobrança de escanteio, ele chutou sem ângulo, para boa defesa de Rogério Ceni. E era muito pouco deixar a responsabilidade apenas aos pés de um Taison que faz o papel de buscar jogadas fora da área. Mesmo com o amplo domínio na primeira etapa, os colorados também não pareciam dignos de abrir o marcador no Beira-Rio.

O segundo tempo prosseguiu com o panorama dos 45 minutos iniciais. O Internacional insistindo nas tentativas a gol, e o São Paulo dando a sensação de que somente Rogério Ceni tinha entrado em campo. Afinal, apenas seu camisa 1 era capaz de impedir que o marcador mudasse. A um minuto, o goleiro evitou que os holofotes caíssem sobre um Andrezinho que passara o primeiro tempo completamente apagado. Também foram as defesas de Ceni que não levaram para o fundo da rede tentativas do lateral-esquerda Kléber, do volante Sandro e do atacante Taison.

Mas o tempo corria, e a obrigação de vencer em seu próprio estádio se aproximava a cada minuto. Aos 19, Celso Roth fez sua primeira mudança, trocando Andrezinho pelo meia Giuliano. Três minutos depois, o menino que fizera o gol da classificação às semifinais da Libertadores (a dois minutos do fim, no jogo em que a derrota por 2 a 1 para o Estudiantes na Argentina, em jogo das quartas-de-final, teve sabor de vitória) foi novamente decisivo no torneio. Na sobra de uma jogada iniciada por Alecsandro, o camisa 11 girou diante dos zagueiros e chutou rasteiro. Rogério Ceni, estático, só acompanhou com os olhos a trajetória da bola, que tocou na trave esquerda antes de parar no fundo da rede. 1 a 0 Internacional.

Com a metade do segundo tempo ainda por resolver, a expectativa são-paulina seria partir para o ataque - o gol marcado no estádio do adversário também é critério de desempate na Taça Libertadores da América. Mas o São Paulo seguiu em sua apatia, apenas assistindo passivamente às novas tentativas coloradas.

Ricardo Gomes usou o que tinha escalado para o banco de reservas, mas não havia tanto a acrescentar. Colocado em campo no lugar de Richarlyson, Cléber Santana mostrou, no lance em que tropeçou sozinho na bola, o motivo pelo qual a diretoria tricolor quer negociá-lo há tanto tempo. Para o lugar de um Dagoberto inoperante, veio o recém-contratado Ricardo Oliveira, jogador que ficou durante meses sem atuar, e ainda sente falta de ritmo de jogo. A tentativa de Gomes reforçar o ataque prosseguiu com a substituição de Marlos por Fernandinho. Com um pouco mais de ofensividade, o São Paulo chegou, e obrigou Renan a fazer sua única defesa. Aos 45 minutos do segundo tempo. Uma ironia, se pensar que os são-paulinos dispensaram Washington, artilheiro da equipe na Taça Libertadores da América, para acertar seu retorno ao Fluminense.

No duelo maniqueísta do Brasil na Libertadores, o final foi feliz para o torcedor que gosta de um futebol que prioriza o ataque. Alguns jornalistas certamente vão louvar a defesa são-paulina, pois, mesmo com o time fazendo uma partida tão aquém do esperado da tradição tricolor, a vantagem colorada ficou em apenas um gol (ainda mais que o destaque de Taison, contundido e substituído por Rafael Sóbis no fim, pode minar o poder ofensivo do Inter). Mas, quem sabe, o placar de 1 a 0 possa ser uma sábia decisão do futebol. Com um resultado tão apertado, o Internacional não terá como ficar meramente retrancado na partida de volta do Morumbi. E a decisão da vaga para a final da Taça Libertadores da América terá mais cheiro de gols.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aviso



O tempo e o placar...
tirará uma semana de férias. As atualizações voltam a acontecer na quinta-feira, dia 29.

Obrigado,

Vinícius Faustini

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Falta de imigrantes



A crítica esportiva dedicou os últimos dias a tecer análises sobre a antecipação da inscrição de jogadores que vêm pela "janela" de meio de ano para disputar o Campeonato Brasileiro. Entretanto, outro fenômeno que era corriqueiro deste período de negociações apareceu timidamente no ano de 2010. Enquanto muitos brasileiros retornaram ao país após um período de exílio, a taxa de imigração caiu sensivelmente.

Até o momento, a média do número de atletas negociados com o exterior em relação aos 20 clubes que disputam o Brasileirão chega perto de um jogador por equipe. E o que chama atenção é que a lista dos que vão para fora não traz tantos jogadores de destaque. Os nomes mais famosos são a antiga dupla de ataque que formava o "Império do Amor" do Flamengo - Adriano e Vágner Love - na qual o primeiro acertou com a Roma, da Itália, e o segundo retorna para o russo CSKA após o fim do empréstimo. Em segundo plano, vêm André, atacante que despontou com a camisa do Santos no primeiro semestre e agora vai para o Dinamo de Kiev, da Ucrânia, o ex-palmeirense Cleiton Xavier, que também vai para o futebol ucraniano, mas para defender o Mentalist Kharkiv, e Philippe Coutinho, considerado joia do Vasco que vai defender as cores da Internazionale de Milão.

Completam a lista jogadores menos badalados, e alguns que amargavam a reserva no futebol brasileiro. A listagem traz nomes como o ex-lateral santista George Lucas, os zagueiros Léo Fortunato e Samuel (respectivamente de Cruzeiro e Atlético Mineiro), o volante Paulinho, que defendeu o Vasco, e o ex-atacante do Atlético Paranaense, Patrick. E o dado mais exótico é que nenhum deles vai para um clube de nível internacional. Os destinos geralmente são o Japão, a Turquia, e até o Azerbaidjão.

O futebol brasileiro teria ficado menos atraente aos olhos dos clubes de fora? Bom, a torcida ao menos espera que esta maré seja favorável para a valorização do Brasileirão, de preferência evitando que ele fique nivelado por baixo, como foi em algumas edições dos pontos corridos.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O fim dos remendos do Brasileirão



Bom senso. Uma excelente iniciativa a da Confederação Brasileira de Futebol (com o aval da FIFA) em antecipar a data da "janela" de inscrição de jogadores do exterior que retornam ao Brasil. Em vez de começar no dia 3 de agosto, os jogadores contratados poderão ser inscritos para a disputa do Campeonato Brasileiro a partir de amanhã, até o dia 19 de agosto.

Com as negociações ainda mais aceleradas por causa do ano da Copa do Mundo, a determinação de que os jogadores só poderiam atuar a partir do mês que vem poderia comprometer negativamente a competição. Além das equipes ficarem remendadas por algum tempo, a tendência perigosa era de que os contratados demorassem a encontrar ritmo de jogo para fazer boas atuações no Campeonato Brasileiro.

A partir do final deste mês, vão desfilar por gramados do Brasil afora nomes de destaque como o agora santista Keirrison, o cruzeirense Montillo, o tricolor carioca Beletti, o vascaíno Felipe, o flamenguista Renato Abreu, o colorado Rafael Sóbis, Daniel Carvalho, reforço do Atlético Mineiro, entre outros. Uma vitória dos clubes, que poderão ter mais opções no elenco para um Campeonato Brasileiro tão equilibrado e tão extenso.

Alguns jornalistas afirmam que esta mudança deu margem para mostrar a desorganização da CBF - em outros anos, a entidade coleciona episódios de mudanças bruscas de regulamento. Entretanto, ao voltar atrás nesta decisão, a Confederação mostrou-se capaz de reconhecer seu erro. É bem verdade que a "janela do meio do ano" sempre aconteceu em agosto. Mas, num ano atípico para o futebol como é o de Copa do Mundo, é evidente que as mudanças começam a acontecer em junho, antes do início da competição mais importante do futebol mundial. Portanto, não há razões para deixar tantos atletas inativos por tanto tempo.

A montagem de novos times do Campeonato Brasileiro começa a acontecer mais cedo em 2010. Certamente, a engrenagem do campeonato ficará bem mais interessante aos olhos dos torcedores de times da Primeira Divisão.

domingo, 18 de julho de 2010

Em algum lugar do futuro




Análise de jogo: Atlético Goianiense 0 x 1 Flamengo (Serra Dourada, 16h)

Não foi uma vitória maiúscula, como nos velhos tempos, mas o triunfo flamenguista sobre o Atlético Goianiense dá à torcida a confiança de que o time está em busca de um bom futuro. Os incidentes de fora de campo (com os atacantes Vágner Love e Adriano, e a recente prisão de seu goleiro titular, Bruno) parecem ter ficado no passado. Mesmo com o time ainda em período de formação nas rodadas que antecedem a "abertura da janela" do Campeonato Brasileiro - na qual jogadores que vieram do futebol estrangeiro poderão finalmente estrear no Brasil - o time carioca já constrói dias melhores na competição.

O recomeço surge nas mãos de seu goleiro. Promovido a titular de maneira tão brusca, Marcelo Lomba demonstrou segurança nas três vezes em que foi exigido no primeiro tempo - em um cruzamento "errado" para a área flamenguista que se transformou num chute do lateral Dida, numa cobrança de falta de Róbston, e em lance no qual Rodrigo Tiuí conseguiu levar a melhor na disputa com Ronaldo Angelim, e chutou de frente para o gol.

Mas a etapa inicial do jogo do Serra Dourada ficou marcada também pela maneira como Flamengo e Atlético Goianiense lidaram com seu passado recente no Brasileirão. Enquanto os flamenguistas continuaram recorrendo ao veterano Petkovic para conseguirem boas jogadas, o rubro-negro de Goiás continuava a usar a mesma "fórmula" da Série B: a violência. O time de Roberto Fernandes abusava dos pontapés e das jogadas desleais, fazendo com que os primeiros 45 minutos tivessem amplo domínio do Flamengo - um rubro-negro que vestiu-se de branco para jogar contra o rubro-negro goiano.

Os cariocas tinham o controle do jogo, e o adversário se resumia a tocar a bola para os lados. Aos poucos, o Flamengo começou a aliar a cadência e o talento de Petkovic à velocidade de Vinícius Pacheco e Diego Maurício. A equipe teve boas chances através de um chute do próprio Pet que passou por cima do gol, de uma cabeçada de Juan (aproveitando cruzamento de Vinícius Pacheco) para fora, além de arrancadas perigosas que Diego Maurício dava em direção à área.

Percebendo a característica negativa do Atlético Goianiense, Diego Maurício começou a escrever um futuro para o Flamengo na partida. O atacante recebeu bola na esquerda, passou por Dida, e logo depois de entrar na área, foi derrubado pelo zagueiro Gilson. Pênalti. Petkovic cobrou bem, colocando a bola no fundo da rede de Márcio. 1 a 0 Flamengo, aos 36.

Como o passado condenava sua equipe, Roberto Fernandes fez duas substituições para o segundo tempo do Atlético Goianiense. O botinudo volante Pituca saiu para a entrada do meia William e Rodrigo Tiuí, contundido, deu lugar a Juninho no ataque. O time goiano começou a pressionar o adversário, apresentando melhor volume de jogo e vendo suas jogadas se desenharem principalmente nos pés de Dida. Entretanto, os atleticanos não conseguiam finalizações claras, em especial pelas limitações dos jogadores do Dragão. A ânsia pelo gol era tanta que Weldon Felipe quase colocou a bola para o fundo da rede de seu próprio time. Num cruzamento de Juan, o zagueiro cortou errado e obrigou Márcio a fazer defesa difícil.

O Flamengo se encolheu perigosamente na defesa, e ainda teve de conviver com um problema crônico desta temporada. Com Petkovic cansado, o time perdeu completamente seu meio-de-campo. O estreante Corrêa, ainda sem ritmo de jogo, já não era muito útil para segurar a pressão atleticana. Williams e Kléberson estavam perdidos em campo - o primeiro, um volante que se destaca pela raça e foi "promovido" a tentar armar jogadas, e o segundo, ainda enfrentando uma fase tão fraca quanto no período que antecedeu sua convocação para a Copa do Mundo.

O técnico Rogério Lourenço decidiu usar um paliativo para compensar a ausência de ofensividade. Aos 20 minutos, Diego Maurício foi substituído, e entrou Cristian Borja. O atacante colombiano ficou encarregado de armar contra-ataques ou de segurar a bola na intermediária atleticana. Só que a equipe de Goiás é que chegou perto da área flamenguista logo em seguida. Pedro Paulo chutou, Marcelo Lomba espalmou para o lado e, na sobra, Elias chutou, mas foi travado por Léo Moura.

Com o time se aproximando do gol, Roberto Fernandes deu sua última cartada. William, que entrara no intervalo, deu lugar ao atacante Anaílson. Em resposta, Rogério Lourenço tirou Kléberson para colocar Rômulo, um volante mais marcador. A saída do camisa 15 acabou deixando o Flamengo mais disperso, e os goianos chegaram com perigo ao gol de Marcelo Lomba. A chance mais perigosa saiu dos pés de Anaílson, que cruzou na área, mas Juninho desviou para fora em sua cabeçada.

O treinador flamenguista quase comprometeu de vez o destino de seu time na partida, graças uma substituição arriscada. Corrêa foi sacado para a entrada do zagueiro Fabrício, enchendo a área de defensores e deixando o meio do Flamengo ainda mais fraco. A agressividade atleticana, num raro momento, ficou restrita ao futebol, e a zaga flamenguista se sobrecarregou para evitar o empate do rubro-negro de Goiânia. A dois minutos do fim, veio a última oportunidade goiana quando, depois de tabela com Anaílson, Juninho chutou, mas a bola desviou em Ronaldo Angelim.

Nem todo ímpeto apresentado no segundo tempo do Serra Dourada foi capaz de trazer um resultado melhor para o Atlético Goianiense, que permanece em último lugar do Brasileirão. Não basta a superação que fez a equipe subir em 2008 da Terceira para a Segunda Divisão e, no ano seguinte, se classificar para a Série A do Campeonato Brasileiro. Os atleticanos têm de priorizar o futebol e abandonar a tendência violenta, que na Primeira Divisão não consegue ser bem-sucedida.

Sem deixar-se levar pelos erros do passado e superando os problemas tem no presente, o Flamengo vislumbra um futuro bem diferente do que foi seu primeiro semestre de 2010. O time entrou pela primeira vez no G-4, grupo de equipes que se classifica para a Taça Libertadores da América de 2011 (está empatado em número de pontos, de vitórias, saldo de gols e gols marcados, mas supera o Cruzeiro por ter menos cartões vermelhos que a equipe de Minas). Só que os jogadores flamenguistas têm de voltar para o Rio de Janeiro conscientes de que ainda precisam mostrar um futebol bem mais envolvente do que foi apresentado no Serra Dourada. Afinal, o atual momento do Brasileirão está cercado de times remendados, que estão à espera dos atletas que chegarão pela "janela" internacional.

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O tempo e o placar... fala do que houve de melhor e de pior na nona rodada do Campeonato Brasileiro.

O CHUTAÇO

O chutaço da semana vem do poder de superação dos dois atuais primeiros colocados no Brasileirão. O CORÍNTHIANS teve um duelo difícil contra o Atlético Mineiro, e não se abateu nem com o pênalti perdido por Chicão no início da partida, e conseguiu derrotar o time atleticano no Pacaembu. Após o tropeço no meio de semana contra o Grêmio Prudente, o FLUMINENSE foi buscar um resultado considerado impossível. O tricolor das Laranjeiras venceu o badalado time do Santos em plena Vila Belmiro, e chegou à vice-liderança do Campeonato Brasileiro.

A FURADA

Furadas parecem estar as mãos do goleiro ABBONDANZIERI, titular do Internacional. O chute de Michel não precisou nem ser tão forte para passar por ele. Menos mal que o colorado venceu o Ceará por 2 a 1 no Beira-Rio. Mas o goleiro argentino poderia cogitar a aposentadoria. Sua carreira não merece terminar de maneira melancólica.

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RESULTADOS - NONA RODADA

Sábado

Vitória da Bahia 3 x 2 São Paulo (Barradão)
Vasco 3 x 1 Atlético Paranaense (São Januário)

Domingo

Atlético Goianiense 0 x 1 Flamengo (Serra Dourada)
Corínthians 1 x 0 Atlético Mineiro (Pacaembu)
Avaí 4 x 2 Palmeiras (Ressacada)
Internacional 2 x 1 Ceará (Beira-Rio)
Botafogo 1 x 1 Guarani (Engenhão)
Grêmio Prudente 2 x 0 Grêmio (Prudentão)
Cruzeiro 1 x 0 Goiás (Arena do Jacaré)
Santos 0 x 1 Fluminense (Vila Belmiro)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Estrada da personalidade



A vitória que escorreu entre os dedos a sete minutos do fim da partida com o Grêmio Prudente, ontem no Maracanã, ainda não deixa tudo perdido na busca pelo título para o Fluminense. Entretanto, é mais um episódio do casamento quase perfeito que o tricolor das Laranjeiras tem com seu patrocinador, a Unimed.

A parceria com o plano de saúde começou no ano em que o Fluminense estava na Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro. A partir do ano de 1999, a Unimed sanou a imagem de um time que se via distante de sua antiga história no futebol nacional. Com seu auxílio financeiro, o tricolor aos poucos foi se reerguendo no cenário esportivo, e passou a apresentar equipes competitivas a cada temporada.

Mas este acabou sendo seu grande inconveniente. Tendo tanto dinheiro à disposição, a Unimed começou a pensar em sucessos imediatos, e, quando eles não aconteciam de, jogadores eram vendidos e chegavam ao Fluminense outros jogadores de nome. O resultado deste círculo vicioso foi para o gramado - inúmeros jogadores, vários treinadores e poucos títulos (o Brasileiro da Série C em 1999, os estaduais de 2002 e de 2005 e a Copa do Brasil de 2007). Sem contar com uma coleção de insucessos - o maior deles foi a perda da Taça Libertadores da América em 2008, para a LDU do Equador, no Maracanã.

O Campeonato Brasileiro de 2010 foi um novo começo para o Fluminense. Com uma base montada há alguns anos, finalmente foi contratado um treinador de grande destaque, com a diretoria tendo pensamento a longo prazo. Aos poucos, Muricy Ramalho transformou uma equipe desacreditada em um time digno de estar no G-4 do Brasileirão.

No entanto, no último degrau para confirmar sua liderança, veio o surpreendente empate com o Grêmio Prudente, que, se não for bem assimilado, pode dar margem para o tricolor retroceder. O tropeço veio cedo, ainda na oitava rodada, e primeira partida depois do final da Copa do Mundo. Há uma longa estrada para percorrer nos gramados até dezembro.

A maneira como o Fluminense vai agir daqui para o restante do Campeonato Brasileiro mostrará qual a verdadeira face do atual time das Laranjeiras. Ou ele pega a via de lamentar o momento de calmaria e segue a placa do retorno à inconstância da queda de braço com a Unimed, ou os jogadores comandados por Muricy Ramalho voltam suas atenções para o futebol, e mostram aos tricolores que a imponência do clube vai muito além de ter o dinheiro de um patrocínio. Para os torcedores, o melhor caminho é buscar uma personalidade.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Presentes alviverdes



Análise de jogo - Palmeiras 2 x 1 Santos (Pacaembu, 21h)

Sim, ainda é cedo para atribuir qualquer bom resultado a favor do Palmeiras a Luiz Felipe Scolari (que foi apresentado como treinador do clube horas antes). Entretanto, o time palmeirense revelou na noite do Pacaembu um padrão de jogo nos moldes do técnico Felipão. No limite entre a frieza defensiva e a ansiedade pelo gol, os palmeirenses conseguiram derrotar um Santos que era somente ímpeto ofensivo.

O fato de apenas 9.400 pessoas pagarem para assistir ao clássico de quinta à noite foi apenas o eco de um jogo cercado de ausências de ambos os lados. O Palmeiras, sem o goleiro Marcos e o volante Pierre, contundidos, e com a ausência de um de seus melhores jogadores - Cleiton Xavier - sacramentada definitivamente no dia anterior (o meia foi negociado com a equipe ucraniana Metalist Kharkiv). Do lado do Santos, vinham as ausências de Robinho, Léo e Marquinhos. Sem contar com Paulo Henrique Ganso que, ainda se recuperando de uma contusão, estava relacionado apenas para o banco de reservas.

Mas o que se ausentou mesmo no primeiro tempo do Pacaembu foi o poder do meio-de-campo santista. Alan Patrick se revelou uma opção equivocada do técnico Dorival Júnior, reduzindo as possibilidades de boa troca de passes do meio-de-campo (também formado por Arouca, Wesley e Madson). Com isto, a dupla de ataque formada por André e Neymar apareceu apenas em lances que destoaram da categoria dos "meninos da Vila". O primeiro, ao ser obstáculo que evitou chute de Madson. O segundo foi notado apenas por uma falta ríspida sobre um adversário, lance que lhe rendeu cartão amarelo. De resto, o Santos ficou cercando a área palmeirense, e teve suas duas únicas oportunidades, com André e Madson, desperdiçadas.

Mesmo sendo bastante atacado, o Palmeiras conseguia evitar a presença santista em sua área, e aos poucos soube aproveitar o ponto fraco do adversário. Nos contra-ataques, a zaga do Santos permanecia com falhas. Aos 12 minutos, num rebote permitido pelo lateral Maranhão, Ewerthon arriscou de fora da área e acertou no ângulo do gol de Rafael. 1 a 0 Palmeiras.

Com o panorama do cerco do Santos e dos contra-ataques perigosos do Palmeiras, os palmeirenses do Pacaembu se frustraram quando Rafael defendeu com os pés uma tentativa de Lincoln na pequena área aos 35. Eles sabiam que o técnico Dorival Júnior poderia usar uma excelente carta para tentar mudar a situação do jogo.

Só que a verdadeira surpresa veio para os santistas na volta do segundo tempo. Em vez de sacar Alan Patrick, depois de seus fracos 45 minutos, Dorival pôs Paulo Henrique Ganso no lugar de Madson. O camisa 10 vinha sendo uma boa válvula de escape em algumas cobranças de falta. A substituição não deu muito certo. Depois de uma chance para cada lado (Ewerthon cara a cara com o goleiro em chute defendido por Rafael aos três, e Maranhão de fora da área em boa defesa de Deola aos seis), a partida ficou bem mais morna.

Luiz Felipe Scolari, que via o jogo de uma sala do Pacaembu, ordenou que o auxiliar Flávio Murtosa substituisse o meia Lincoln pelo volante Tinga. O Palmeiras se defendia ainda mais, e restava ao Santos querer atacar. Dorival Júnior finalmente trocou os nulos Alan Patrick e Neymar pelos atacantes Zé Eduardo e Marcel. Os santistas seriam apenas ataque. Mas se tornaram ataque de nervos aos 21 minutos, quando a defesa foi traiçoeira por duas vezes para o alvinegro praiano. A zaga se expôs ao ponto de permitir tanto campo para o contra-ataque adversário. E, poucos passos depois, o cruzamento de Tinga foi desviado pelo zagueiro Edu Dracena, e a bola acabou no fundo da rede de Rafael. 2 a 0 Palmeiras, com a ironia de o jogador de marcação palmeirense ter realizado a jogada decisiva do alviverde paulista.

O Palmeiras migrou definitivamente para a defesa, aparecia no campo adversário apenas prendendo a bola e gastando o tempo - e ainda poupou seus atacantes, tirando Ewerthon e Kléber para colocar os jovens Patrick e Tadeu. "Desfalcados" de uma boa participação de Paulo Henrique Ganso, os "meninos da Vila" se adequavam a uma tática diferente, substituindo o toque de bola rápido pelas tentativas de transformar chutões e cruzamentos tortos em boas oportunidades de gol. Deu certo apenas a sete minutos do final. Wesley cruzou da direita, o zagueiro palmeirense Léo desviou e Marcel, após dominar a bola com a coxa, deu um belo chute que ainda bateu no travessão antes de entrar na rede de Deola. O placar ficava em 2 a 1.

Entretanto, o poder ofensivo do Santos não acertava a pontaria, ao ponto da sua última boa oportunidade ter sido dada pelo Palmeiras. Aos 43 minutos, Deola saiu mal num cruzamento para a área, e o zagueiro Vítor desviou para o próprio gol de seu time. A bola tocou na trave antes de ir para escanteio.

Para escanteio foi mesmo a oportunidade de os santistas ganharem uma posição melhor no Campeonato Brasileiro. Numa rodada em que as três únicas equipes que estavam à sua frente perderam pontos - os líderes Corínthians e Ceará empataram em 0 a 0 e o terceiro colocado, Fluminense, tropeçou com um empate em 1 a 1 diante do Grêmio Prudente no Maracanã - o cerco pelos três pontos foi mal-sucedido. O alvinegro praiano fica com 12 pontos, quatro a menos que o tricolor das Laranjeiras, e a seis pontos de corintianos e do Vozão do Nordeste.

Após quatro jogos sem vitória, o Palmeiras consegue a reabilitação num clássico, e encontra na figura de Luiz Felipe Scolari a perspectiva de boas novas no Campeonato Brasileiro. Sem preocupações excessivas de defesa e sem atacar de maneira atabalhoada, a equipe palmeirense mostrou que é capaz, sim, de conseguir uma boa presença no Brasileirão.

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Na volta da Copa do Mundo, O tempo e o placar... traz novamente o que houve de melhor e de pior na rodada do Campeonato Brasileiro.

O CHUTAÇO

O AVAÍ surpreendeu todos os especialistas de futebol. Em pleno Morumbi, a equipe (agora dirigida por Antônio Lopes) envolveu o São Paulo e saiu de lá com uma boa vitória por 2 a 1. O Leão de Santa Catarina tem forças para rugir novamente no Brasileirão?

A FURADA

O cenário era promissor. Jogo em casa, contra um Grêmio Prudente que vai mal das pernas na competição. Mesmo assim, o FLUMINENSE deixou escapar a grande oportunidade de consolidar sua ascensão com a liderança do Campeonato Brasileiro. Resta o alento de que o time segue a dois pontos dos líderes Ceará e Corínthians.

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OITAVA RODADA - RESULTADOS

Quarta-feira

Grêmio 1x1 Vitória (Olímpico)
Atlético/PR 0x2 Cruzeiro (Arena da Baixada)
São Paulo 1x2 Avaí (Morumbi)
Flamengo 1x0 Botafogo (Maracanã)
Guarani 0x3 Internacional (Brinco de Ouro da Princesa)
Goiás 0x0 Vasco (Serra Dourada)
Ceará 0x0 Corínthians (Castelão)


Quinta-feira

Palmeiras 2x1 Santos (Pacaembu)
Atlético/MG 3x2 Atlético/GO (Arena do Jacaré)
Fluminense 1x1 Prudente (Maracanã)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Próximo páreo?



Corínthians, Ceará, Fluminense e Santos. Este é o quarteto que estaria credenciado a disputar a edição de 2011 da Taça Libertadores da América, se o Campeonato Brasileiro tivesse terminado com a parada para a Copa do Mundo. Mas, mesmo com esta classificação do primeiro páreo, ainda faltam algumas léguas para o Brasil saber qual o seu melhor time em 2010. Em especial, porque a única semelhança do futebol com os resultados de jóquei é o termo "cavalo paraguaio".

A curiosa expressão supostamente surgiu em 6 de agosto de 1933, no hipismo, quando um cavalo de Pernambuco chamado Mossoró surpreendeu a todos vencendo um dos páreos. Como ele tinha ascendência paraguaia e não era um cavalo que inspirasse tanta confiança nos apostadores, passou-se a debochar de seu feito, dizendo que o "paraguaio" só vencera aquele páreo mas não tinha forças para ganhar nenhuma outra disputa no jóquei. Aos poucos, a expressão "cavalo paraguaio" foi incorporada no futebol, para designar times que começam bem um campeonato, mas aos poucos perdem fôlego e vão caindo nas colocações.

O torneio de 38 rodadas, com um grande equilíbrio entre os 20 clubes, prega muitas peças em torcedores e cronistas esportivos. Muitas equipes que ficam nas primeiras posições no início do campeonato acabam rebaixadas (caso do Náutico no ano passado, que caiu para a Série B em dezembro depois de chegar a ficar na zona da Libertadores), enquanto outras, como o campeão Flamengo e o quarto colocado, Cruzeiro, iniciaram com campanhas irregulares e, no final, tiveram uma ascensão vertiginosa.

Com o mês de treinamentos 'criado" pela realização da Copa do Mundo - e o pouco prejuízo que acontece nos 20 times brasileiros, pois poucos vêm cedendo jogadores para a Seleção Brasileira ou demais seleções - as mudanças de um páreo para outro tornam-se ainda mais inglórias. Uma equipe de campanha fraca pode mudar apenas com mais tempo de treinos, enquanto outra pode começar a acentuar vários defeitos neste período sem jogos.

Com a melhora em todos os centros de futebol, alguns times que eram tratados como "de menor porte" deixaram de ser batidos facilmente, e esquadrões chegaram a cair para a Segunda Divisão do futebol brasileiro. A atual briga na classificação do campeonato mostra o quanto está imprevisível o cenário nacional.

Dentre os times que subiram no ano de 2009, o Vasco (ironicamente, voltando como campeão da Série B, e que tem quatro conquistas na Primeira Divisão do Brasileirão) e o Atlético Goianiense estão nas duas últimas posições e buscam ainda momentos de melhora dentro dos gramados. O Ceará, que não disputava a Série A desde 1993, só não é líder porque perde no quesito do saldo de gols para o Corínthians. O Guarani, fora da Primeira Divisão desde 2004, não está no G-4 apenas por ter saldo de gols inferior ao Santos.

Campeões brasileiros como Atlético Mineiro, Internacional, Grêmio, Cruzeiro e Atlético Paranaense estão abaixo da décima colocação (ao lado das surpresas de 2009, Avaí e Prudente). Nos 10 primeiros lugares, a pontuação é muito próxima, mas os sabores são diferentes. Enquanto Flamengo e São Paulo fazem campanhas abaixo do esperado pelo que foi apresentado no fim do ano anterior, Goiás, Botafogo e Palmeiras têm começo bem acima do esperado aos olhos de sua torcida.

Entretanto, num campeonato longo, times que não têm peças de reposição com bom nível para substituir eventuais jogadores contundidos ou possíveis mudanças de acordo com a "janela" do mercado exterior podem mudar seu fôlego das rodadas seguintes. Assim, o circuito pode trocar de sentido durante a competição.

Cada vez mais incerto, o Campeonato Brasileiro segue fazendo a ficha de apostas perder o equilíbrio. Dos quatro que estão na linha de frente, ficam muitas indagações. O Corínthians vai lidar bem com a responsabilidade de ganhar um título no ano do seu centenário? O Ceará tem estrutura psicológica e financeira para ser um dos líderes do Brasileirão? O Fluminense abriu seus cofres novamente, mas sua edição de 2010 vai naufragar como em todos os anos de Unimed? O Santos vai sobreviver ao furacão de propostas que surgirá para seus meninos?

Se as perguntas vêm da ponta de cima da tabela, imaginem quantas dúvidas vêm em relação aos outros 16 clubes. O páreo é duro, a expressão "cavalo paraguaio" vai aparecer inúmeras vezes até o final do ano. Mas o circuito do Campeonato Brasileiro é o único no qual não aparece nenhuma "barbada".

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Brasileirão virtual



O Campeonato Brasileiro volta ao calendário do futebol a partir da quarta-feira, numa fase bem curiosa, que a cada quatro anos acontece no campeonato de pontos corridos. Entre a parada da Copa do Mundo e a abertura definitiva da "janela" - na qual jogadores que vieram do futebol internacional podem começar a atuar pelos clubes brasileiros - ainda acontecerão cinco rodadas do Brasileirão.

Este período traz um sentimento contraditório para os torcedores. Num primeiro momento, os resultados podem causar alegria ou apreensão às torcidas. Mas, logo em seguida, as pessoas também têm de fazer seus cálculos e começar a sondar hipóteses, de acordo com as novas contratações. Os vitoriosos respiram aliviados por conseguirem uns pontos a mais antes que seus adversários estejam em um nível técnico maior, enquanto os derrotados amenizam os pontos perdidos na certeza de que, com as novas contratações, virá uma boa sequência de jogos.

Quando o torcedor também tem de ir para a prancheta ainda no início da temporada, é porque algo parece errado. Custava à CBF abrir a "janela" mais cedo em época de Copa do Mundo? Por que manter o dia de 2 de agosto para a regularização total dos jogadores que foram repatriados, se o Campeonato Brasileiro retorna três semanas antes desta data?

Não bastasse este reinício mais "leve" do Brasileirão, nas cinco rodadas que seguem ainda vão acontecer clássicos pelo Brasil afora. No Rio de Janeiro, Flamengo x Botafogo, Botafogo x Fluminense e Flamengo x Vasco. Em São Paulo, Palmeiras x Santos, Santos x São Paulo e Palmeiras x Corínthians - além do Gre-Nal no Rio de Grande do Sul. Duelos que prometiam ser bem interessantes, mas que são esvaziados porque nenhum dos times estará com sua força máxima.

Graças ao calendário da Confederação Brasileira de Futebol, o Brasileirão do ano de Copa do Mundo ganhou um entreato entre o início da competição e as mudanças de depois do mercado exterior. Trata-se de um Campeonato Brasileiro virtual, no qual treinadores se viram com o que sobrou após a debandada de muitos jogadores, e atletas entram em campo com sua titularidade em dias contados, pois a prioridade deve ser para quem veio de fora do país. Lamentavelmente, a virtualidade desta época da competição, a cada ano de Copa, fica mais longe da realidade.

domingo, 11 de julho de 2010

POST ESPECIAL - A arte da conquista



O tempo e o placar... abre novamente espaço para uma postagem internacional. Hoje, é a vez de celebrar a Espanha, que ocupa um lugar que a Seleção Brasileira não conseguiu nesta Copa do Mundo de 2010.

Quem sabe o time de Iniesta, Xavi, David Villa não se torna exemplo para o Brasil nos próximos quatro anos?

Obrigado a todos,

Vinícius Faustini


*****

Análise de jogo: Holanda 0 x 1 Espanha (Soccer City, 15h30 de Brasília)

115 minutos separaram uma seleção caracterizada por sua ofensividade e por um toque de bola que prioriza a construção de jogadas do título de uma Copa do Mundo. Mas, a 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, o gol de Iniesta voltou a consagrar o "futebol-arte" no torneio de futebol mais importante do mundo. A Espanha consegue seu primeiro título na história das Copas, resgatando o talento depois de tantos vencedores que primavam pela força.

A força foi a estratégia na qual a Holanda se baseou para escrever seu primeiro capítulo vitorioso numa Copa - após a habilidade da "Laranja Mecânica" ser superada por Alemanha Ocidental e Argentina nas finais de 1974 e de 1978, respectivamente. Mesmo com o técnico Bert van Marwijk escalando três atacantes - Kuyt, Van Persie e Robben - o esquema holandês se preocupava em impedir o toque de bola espanhol a qualquer custo (mesmo que precisasse recorrer a entradas mais ríspidas).

A Espanha começou se lançando ao ataque, e perdeu três oportunidades em apenas 11 minutos. A primeira aos quatro, num cruzamento de Xavi para a área desviado de cabeça por Sergio Ramos, que Stekelenburg espalmou com dificuldade. Aos 10, novamente de Sergio Ramos veio boa chance espanhola. Ele passou por Kuyt e chutou, mas o zagueiro Heitinga impediu o gol. No minuto seguinte, David Villa levou parte da torcida de Johanesburgo a comemorar quando, depois de seu chute, a bola balançou a rede. Mas tinha balançado apenas por fora.

Só que logo os espanhóis começaram a dançar conforme a música ditada pela Holanda, e passaram a cometer também muitas faltas. O panorama do primeiro tempo apresentou mais momentos de pancadaria, com a conivência do árbitro inglês Howard Webb, que, embora parasse bastante o jogo com a marcação de faltas, muitas vezes jogadas ríspidas foram advertidas apenas verbalmente. O ápice do juiz foi punir somente com cartão amarelo o volante De Jong, por colocar as travas de sua chuteira no peito de Xabi Alonso.

A Holanda só foi chegar com perigo ao gol de Casillas num lance inusitado. Ao dar a posse de bola novamente para os espanhóis (seguindo a conduta do "Fair Play" em devolvê-la para o time adversário que estava no ataque antes de precisar parar a jogada para atender um atleta contundido), Heitinga mandou um chutaço que o camisa 1 espanhol jogou para escanteio aos 34. Dois minutos depois, uma furada de Mathijnsen dentro da área impediu o gol holandês, e Casillas fez permanecer o empate sem gols ao defender chute rasteiro de Robben aos 45.

Logo no início do segundo tempo, foi a vez da Espanha deixar de marcar por uma furada de Capdevilla diante do gol. A pressão espanhola continuou constante (em especial depois da entrada de Navas em lugar do apagado Pedro), mas, aos poucos, a Holanda começou a engatar bons contra-ataques. Aos 18 minutos, em sua primeira boa jogada, o camisa 10 Sneidjer fez lançamento rasteiro para Robben. O atacante holandês superou dois zagueiros, mas, diante de Casillas, chutou mal e permitiu que o goleiro adversário defendesse com o pé.

Entretanto, o time holandês se ressentia da melhor atuação de seu trio de ataque. Sneidjer começara a aparecer com perigo entre os zagueiros espanhóis, mas Robben preferia cavar faltas em vez de se manter de pé para buscar jogadas, e Van Persie era uma nulidade na frente. Por isto, mesmo aos trancos e barrancos, a equipe espanhola chegou mais vezes ao gol de Stekelenburg, principalmente nos pés de David Villa.

Bert van Marwijk promoveu a substituição de Kuyt por Elia para melhorar o poderio ofensivo da Holanda. Só que nem esta mudança foi capaz de fazer os holandeses saírem vencedores. Aos 38, novamente cara a cara com Casillas, Robben tentou driblá-lo e acabou desarmado pelo goleiro. O jogador ainda pediu pênalti, mas ganhou apenas um cartão amarelo por reclamação. Holanda e Espanha se preparavam psicologicamente para mais 30 minutos de luta pelo título - tanto que Vicente Del Bosque tirou Xabi Alonso para colocar Fábregas a cinco minutos do fim do tempo regulamentar.

Foi através de Fábregas que veio a primeira grande oportunidade da prorrogação. O meia espanhol recebeu bola de Iniesta e chutou, obrigando Stekelenburg a fazer uma boa defesa. O goleiro Casillas deu uma boa chance para os holandeses em seguida, quando saiu mal do gol e deixou Mathijsen livre. Mas, com o gol vazio, o zagueiro cabeceou a bola para fora. E foi só para a Holanda. Mesmo depois de entrar em campo mais um atacante - Van der Vaart no lugar de De Jong - a equipe não conseguiu mais nenhuma oportunidade clara de marcar, e o treinador ainda foi obrigado a queimar uma alteração porque o veterano Van Bronckhorst, de 36 anos, estava visivelmente cansado. Em seu lugar, entrou Braafheid. Para deixar a situação mais complicada, Heitinga levou seu segundo cartão amarelo na noite, e acabou expulso por falta em Iniesta.

Só que o gol não saía. Em especial, porque a Espanha sentia a ausência de um centroavante nato desde o início da Copa do Mundo. Afinal, o único jogador da posição, Fernando Torres, atuou na competição sem qualquer ritmo de jogo (e na final, após substituir David Villa, sentiu uma fisgada na perna quando tentou dar um pique em direção ao gol). A solução era apostar em boas jogadas de Iniesta. E a categoria dele se sobressaiu na batalha do Soccer City. Após uma boa troca de passes com Navas, Fábregas o lançou na esquerda. Livre na área, Iniesta chutou cruzado, sem defesa para Stekelenburg, aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação. A Holanda ainda tentou alguma jogada, mas os defensores espanhóis comprovaram porque sua seleção tomou apenas dois gols na competição.

Os 115 minutos de espera até o grito de gol espanhol deixaram em êxtase uma multidão de torcedores que ansiou durante 28 anos pelo surgimento de uma seleção com estilo de jogo semelhante ao Brasil de 1982 (considerado último esquadrão símbolo do "futebol-arte"). O título da Espanha é um grande passo para a confirmação de que o futebol bem jogado pode, sim, ser campeão. E a talentosa Fúria de 2010, que conseguiu superar até mesmo o tabu de um campeão de Copa nunca ter perdido seu jogo de estreia, deixa para trás o estigma de não ter poder de decisão suficiente para ganhar uma Copa do Mundo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Coragem para renovar



Passado o período no qual palavras como "comprometimento" e "coerência" foram avassaladoramente substituídos por uma só palavra: "extremismo". A opção da comissão técnica de Dunga em lidar com seu selecionado foi exaustivamente debatido neste e em outros espaços dedicados a futebol. Recolhidos os cacos da eliminação na Copa do Mundo de 2010, uma nova palavra surge no dicionário da Seleção Brasileira: renovação.

Não foi apenas a ausência deste ou daquele jogador na lista de Dunga que tirou do Brasil a chance de ganhar sua sexta conquista. Ao então treinador da seleção faltou perceber que, por mais que sua equipe tenha colecionado bons resultados nas competições anteriores, seus jogadores também envelheceram. Não que o futebol tenha se perdido com o passar dos anos, mas numa Seleção Brasileira não dá para persistir em um jogador que vem em má fase somente por sentimentos como gratidão e confiança. Sem contar que, devido às competições anteriores e aos amistosos, o Brasil passou a revelar um futebol bem previsível.

A semifinalista Alemanha e a finalista Espanha comprovaram em suas atuações que não necessariamente a maturidade e a experiência fazem a diferença numa Copa do Mundo. Os insucessos de França e Itália, seleções cercadas de medalhões, fez cair por terra a teoria de levar quem tinha mais vivência na competição.

É bem verdade que não dá para restringir um teto de idade na Seleção Brasileira principal - para isto, já tem a Seleção Olímpica com seu limite de 23 anos. Mas muitos dos jogadores que estiveram na Copa do Mundo de 2010, infelizmente, não devem ser aproveitados na próxima Copa (são os casos dos zagueiros Lúcio, que terá 36 anos e Juan, que estará com 35 ou do volante Gilberto Silva, com 38 anos).

A falta de ter uma raiz deixada pelo treinador anterior pode ser até benéfica para a nova cara da Seleção Brasileira. O futuro técnico não precisará se ater a determinados jogadores somente por causa do nome ou por uma história que cada atleta teve com a camisa do Brasil.

Sem radicalismos, é hora do Brasil ter coragem de renovar seu futebol. A transição deve acontecer aos poucos, e dando preferência a jogadores com habilidade para a Copa do Mundo de 2014.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Refletir e trabalhar, antes de gritar



Faltam ainda dois jogos para o fim da Copa do Mundo de 2010, mas hoje, na África do Sul, um evento anunciou o início da Jornada para a Copa de 2014. A edição de número 20 do torneio mais importante do futebol acontecerá no Brasil, país com maior número de conquistas na história das Copas. Ano do Brasil se redimir não só da derrota em casa que aconteceu em 1950 (diante do Uruguai, na final do Maracanã), como também de conseguir redenção diante de toda a desconfiança que cercarão os próximos quatro anos.

Em uma postagem anterior, O tempo e o placar... criticou a demora de início das obras dos estádios (e veio o recente veto ao estádio do Morumbi, previsto inicialmente para ser o palco da abertura da Copa do Mundo de 2014). Entretanto, outros problemas cercam a realização de um torneio deste porte.

O presidente Ricardo Teixeira declarou hoje na África do Sul que os três maiores problemas do Brasil são "aeroporto, aeroporto e aeroporto". Não bastasse o caos aéreo que se desenhou em alguns momentos - o maior deles em 2007 - a população estará exposta à desordem dos aeroportos pelos próximos quatro anos?

Os nós no trânsito, que estão no cotidiano das grandes cidades do país (e aconteceu no Pan-Americano de 2007, no Rio de Janeiro) podem ser corrigidos apenas pelas campanhas incessantes em usar transportes coletivos como ônibus e metrô? As filas de ônibus são constantes problemas, por seus atrasos, por suas rotas não escaparem do trânsito e, principalmente, pela constante superlotação dos coletivos. O metrô, saída considerada válida quando foi construído no Rio de Janeiro e em São Paulo, também já sofre com esta consequência de lotação em horários de saída de trabalho das pessoas.

Um plano de segurança, que provavelmente deva incluir o recrutamento de soldados do Exército, é louvável. E deixa em aberto outra questão: é preciso que se realize uma Copa do Mundo, para que as autoridades brasileiras resolvam melhorar algumas situações delicadíssimas do país? De fato, melhorias serão sempre bem vindas. Pena que elas aconteçam apenas em função da organização de um evento esportivo.

Num país que pena por mudanças estruturais, não se pode confundir as coisas. A organização da Copa do Mundo não pode ganhar uma dimensão messiânica, de que todos os problemas serão resolvidos em quatro anos. Em especial, porque o país também deve lembrar que o torneio acontece durante um mês, mas a herança dele vai se perpetuar em todas as cidades-sede da competição. E, no caso do Rio de Janeiro, ainda há de se pensar na realização das Olimpíadas de 2016.

Problemas abordados superficialmente neste espaço, mas que mostram que o Brasil tem de pensar em muito mais do que ser um bom reduto para turistas que gostam de futebol. Não serão quatro anos para decidir se o assunto é a cargo do governo federal, do governo estadual, do governo municipal, do turismo ou da Confederação Brasileira de Futebol. O trabalho deve ser feito em conjunto, e pra tornar 2014 o ano inicial de uma grande empreitada para o progresso. Sem desenvolvimentismo.

A propaganda da próxima Copa do Mundo (que seria apresentada ao mundo todo depois da decisão entre Espanha e Holanda domingo, mas a TV Globo antecipou hoje em seu programa Central da Copa) faz um excelente cartão de visitas do país. Em apenas um grito, todas as atenções se voltam para o Brasil. Mas, antes que o grito seja dado, ainda há muita coisa para ser calculada.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Alternância, companheiro!



Antes desta crônica entrar no assunto, O tempo e o placar... deixa claro que não é favorável a uma intervenção do governo federal no futebol. Assim como João Saldanha, este blogue acredita que presidentes servem para escalar Ministérios. Entretanto, o presidente Lula foi muito feliz ao afirmar que seria relevante para a Confederação Brasileira de Futebol que houvesse uma mudança de comando a cada oito anos.

Há 21 anos, Ricardo Teixeira preside a CBF. Sua gestão apresenta acusações de nepotismo (o maior deles é ele ser genro de João Havelange, ex-presidente da CBF e da FIFA), uso do dinheiro da Confederação Brasileira de Futebol para financiar viagens de autoridades a países nos quais são realizadas competições da Seleção Brasileira, e até mesmo desvio de verba para financiar a própria choperia do atual presidente. Os casos foram pauta de mais de uma CPI - a maior delas, a CPI do Futebol - mas, supostamente, todas acabaram em pizza devido ao apoio de um bom número de deputados designado como "Bancada da Bola".

O litígio com os clubes brasileiros torna ainda mais esquisito Ricardo Teixeira conseguir pela quarta vez consecutiva se eleger presidente da CBF. Mesmo com a mal contada história de, após assinar com a fornecedora esportiva Nike em 1996, a confederação passar a ficar no vermelho ano após ano, a influência de Teixeira continua suficiente para ficar no cargo.

As participações da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 2006 e de 2010 comprovaram que há algo errado no aparato que fica ao redor dos jogadores que vestem a camisa do Brasil. Por que não tentar um novo nome para a presidência da Confederação Brasileira de Futebol?

Numa análise sobre as equipes de futebol espalhadas pelo Brasil afora, também se comprova o amadorismo. É bem verdade que o Clube dos 13 tem boa parcela de culpa, pois apresenta muitos deslizes na função de organizar os principais clubes do país. No entanto, a CBF não contribui muito para que o panorama melhore. Afinal, é mais interessante manter uma certa subordinação.

Em seus oito anos de mandato, Lula pode ter cometido seus erros à frente da presidência do Brasil. Mas ele está certo ao sugerir uma alternância de poder para a Confederação Brasileira de Futebol. Seria um bom começo tirar o poder das mãos de Ricardo Teixeira. O mal que ele fez ao futebol brasileiro já foi mais que suficiente.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Síndrome do "Entre-Copas"



Costuma-se associar a estabilidade de um treinador no cargo de uma equipe ao seu bom trabalho e, em especial, por ele ter credibilidade com torcida, jogadores e diretoria. Entretanto, a exceção continua a ser o comando da Seleção Brasileira. Nenhum profissional que dirige o Brasil a partir do pós-Copa conseguiu ser campeão da edição seguinte da competição.



Dunga chegou à Seleção Brasileira em agosto de 2006, em substituição a Carlos Alberto Parreira. Foram quatro anos buscando implantar uma filosofia priorizando o comprometimento dos jogadores. Entretanto, sua política extrema sacrificou também atletas habilidosos, pelo receio de que o estrelismo deles fosse prejudicial.

Com a consolidação do "futebol de resultados", o jogo feio e defensivo difundido por Dunga se tornou eficiente aos olhos da Confederação Brasileira de Futebol, graças às conquistas da Copa América, em 2007, e da Copa das Confederações, em 2009. Mas numa competição de tiro curto e, em especial, na qual todas as seleções levam o que há de melhor no momento, o técnico preferiu apostar numa turma bem-sucedida nas outras competições, independente de eles passarem por maus momentos em seus respectivos clubes. A inocência custou a eliminação nas quartas-de-final de 2010, para a Holanda.



O treinador anterior a Dunga também ficou no comando do Brasil por quatro anos. Com a saída de Luiz Felipe Scolari após o título de 2002, a CBF designou outro nome associado a Copa do Mundo no Brasil. Comandante de 1994, Carlos Alberto Parreira voltava para, 12 anos depois, ajudar novamente a Seleção Brasileira.

Assim como Dunga, Parreira chegou à Copa credenciado pelas conquistas da Copa América de 2004, e da Copa das Confederações de 2005. E em 2006, aconteceram erros totalmente contrários aos que viriam quatro anos depois. Craques foram sim convocados, mas estavam acima do peso, e o descontrole chegou à organização da concentração da Seleção Brasileira, com invasão de torcedores e erros de segurança. Veio a eliminação nas quartas-de-final, com a derrota para a França e para a soberba do favoritismo no qual o Brasil confiou para sair vencedor na Alemanha.



Carlos Alberto Parreira esteve no lado contrário desta situação alguns anos antes. Depois de ser campeão com a Seleção Brasileira em 1994, o técnico deixou o cargo e foi substituído por Mário Jorge Lobo Zagallo (seu auxiliar na Copa dos Estados Unidos). Foram quatro anos dele no comando do Brasil, consolidados também por conquistas da Copa América e da Copa das Confederações - que foram disputadas no ano de 1997.

Entretanto, na Copa do Mundo de 1998, a Seleção Brasileira chegou à final pela primeira vez com sua campanha trazendo uma derrota (2 a 1 para a Noruega) e, diante da França, houve o fatídico episódio da convulsão com Ronaldinho. A derrota por 3 a 0 para os franceses fez com que o trabalho de quatro anos organizando a seleção culminasse em mais um insucesso - tal qual acontecera com o próprio técnico décadas antes. Após sua conquista de 1970, Zagallo continuou no comando até a Copa do Mundo de 1974, e sua nova equipe terminou com o frustrante quarto lugar, com derrotas na para a Holanda na segunda fase, e para a Polônia, na decisão do terceiro lugar.

Os cinco títulos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo trazem uma coincidência favorável a imediatismos. Os campeões de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 não fizeram projetos a longo prazo para o Brasil. Todos vieram como nomes emergenciais que, no fim das contas, acabaram formando esquadrões vitoriosos.

Entre a derrocada de 1954, sob o comando de Zezé Moreira e a conquista na Suécia em 1958 com Vicente Feola, passaram nomes como Osvaldo Brandão, Teté e Flávio Costa no banco de reservas. O problema de saúde afastou Feola por alguns anos da seleção depois de 1958, e Gentil Cardoso e Foguinho ficaram no comando do Brasil neste período. Vicente Feola ainda tentou retornar, mas a partir de 1960, a Seleção Brasileira foi dirigida por Aymoré Moreira (que foi campeão de 1962). O próprio Zagallo chegou ao comando do Brasil apenas no ano de 1970, com a demissão de João Saldanha.

Após a queda de Sebastião Lazaroni pelo insucesso na Copa de 1990, a CBF ainda foi treinada por um ano por Paulo Roberto Falcão, antes de Carlos Alberto Parreira assumir definitivamente o comando da Seleção Brasileira a partir de 1992. Luiz Felipe Scolari se tornou técnico do Brasil um ano antes da Copa de 2002. Antes dele, a lista de convocados ficou a cargo de Vanderlei Luxemburgo e de Émerson Leão. E, mesmo sem longevidade no cargo, Parreira e Felipão trouxeram as Copas de 1994 e de 2002, respectivamente.

Mais do que se preocupar em prosseguir no cargo, o futuro treinador da Seleção Brasileira não pode se restringir a homens de confiança e de um time feito a longo prazo para a Copa do Mundo. Ainda mais que o histórico de mudanças bruscas no "Entre-Copas" vem sendo bem favorável para as conquistas brasileiras.

domingo, 4 de julho de 2010

Em busca de novas páginas



A Seleção Brasileira termina o domingo sem treinador. Após quatro anos de trabalho que culminaram no insucesso na Copa do Mundo de 2010, Dunga foi demitido (e, com ele, toda a comissão técnica atual). O futebol brasileiro fica à espera não só de um novo nome, mas, especialmente, de uma filosofia que seja condizente com o que é necessário para um selecionado ser campeão.

Por mais que o panorama dos gramados do mundo afora venha sendo o estilo originalmente europeu que prioriza a defesa, a Seleção Brasileira não deve renegar suas raízes de habilidade e de ataque. Até mesmo seleções campeãs que tinham estilo mais defensivo traziam jogadores habilidosos - Romário e Bebeto em 1994 e Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo em 2002.

Além do erro em só se preocupar com questão disciplinar, o período de Dunga como técnico do Brasil comprovou mais uma vez que o cargo não permite apostas. Não se deve confundir processo de renovação de uma Seleção Brasileira com a elevação de um ex-jogador a treinador da seleção que recebe mais holofotes no mundo.

Cinco nomes entraram na pauta inicial para o posto de treinador. O tempo e o placar... se atreve a traçar alguns pitacos sobre os nomes em questão. Afinal, serão quatro anos de expectativa até a Copa do Mundo de 2014.



A falta de experiência que fez diferença negativamente para Dunga poderá atrapalhar também LEONARDO. O ex-jogador de Flamengo, São Paulo e Milan apresentou serenidade e, em especial, tino para ser dirigente do clube de Milão. Entretanto, sua passagem como técnico foi bastante hesitante, e durou apenas uma temporada.

A inconveniência em iniciar treinadores logo com a Seleção Brasileira pode ser traumático, tanto para quem chega ao cargo quanto para a torcida. O erro havia acontecido com Paulo Roberto Falcão, e Ricardo Teixeira tentou do mesmo jeito com Dunga. Não há motivo para insistir com Leonardo.



No extremo oposto, surge a opção de RICARDO GOMES, atual técnico do São Paulo. Sob seu comando, o time está às vésperas da semifinal da Taça Libertadores da América - sem dúvida, um bom cartão de visitas. Entretanto, as experiências anteriores do ex-zagueiro do Fluminense e do Paris Saint-Germain no cargo de técnico são muito frustrantes.

No futebol brasileiro, sua única conquista aconteceu com o Vitória da Bahia (a Copa do Nordeste de 1999). Em compensação, o treinador coleciona fiascos por Sport, Flamengo, Fluminense, Guarani e Juventude. Mas outra experiência preocupante para a torcida vem no comando da Seleção Brasileira. Entre 2002 e 2004, Ricardo Gomes foi o técnico da Seleção Olímpica, e o sonho da medalha de ouro foi embora ainda na disputa do Pré-Olímpico, queimando jogadores como Maicon, Diego, Nilmar e Robinho.

Seu currículo traz passagens de destaque pelo PSG e pelo Bordeaux, com títulos da Copa da França e da Copa da Liga Francesa. O razoável sucesso no futebol francês e uma possível classificação são-paulina à final da Taça Libertadores da América podem credenciá-lo aos olhos da CBF.



MANO MENEZES não tem uma experiência tão ampla em times de grande expressão, mas nas suas passagens por Gremio e, atualmente, Corínthians, conseguiu o mérito de uma ascensão meteórica. Ambas equipes passaram por uma Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro e, além do retorno à Série A, realizaram campanhas importantes. Com o tricolor gaúcho, foi finalista da Taça Libertadores da América de 2007. Com o alvinegro paulista, venceu a Copa do Brasil.

No atual Brasileirão, o time corintiano encerrou a campanha antes da parada para a Copa do Mundo invicto. Entretanto, ainda falta a Mano comprovar que pode lidar com várias estrelas numa mesma equipe. O Corínthians de 2010, cercado de jogadores de destaque como Tcheco, Jorge Henrique e os consagradíssimos Roberto Carlos e Ronaldo, fez um razoável Campeonato Paulista e, no ano do centenário do clube, foi eliminado prematuramente da Taça Libertadores da América.



MURICY RAMALHO, certamente, é um dos nomes preferidos do atual futebol brasileiro. Suas passagens vitoriosas pelo Internacional e, principalmente, pelo São Paulo (onde conseguiu um tricampeonato consecutivo do Campeonato Brasileiro), o consagram como um treinador cheio de competência. O técnico assumiu o comando do Fluminense e, em poucas rodadas, deixou a equipe entre os quatro primeiros colocados do Brasileirão antes da parada da Copa do Mundo.

É incontestável sua capacidade de tirar o melhor de cada jogador da equipe que treina. Entretanto, o inconveniente de seu trabalho a longo prazo foi mostrado em 2009 no São Paulo: sua equipe tende a ficar com um esquema previsível e, com o decorrer dos campeonatos, acaba facilmente neutralizada. Além do risco de campo, vem o problema extracampo, de bater de frente com dirigente de clube - fator que tornou sua passagem pelo Palmeiras decepcionante. E numa Seleção Brasileira há muito ego de cartolagem para administrar.



LUIZ FELIPE SCOLARI é o único nome em questão que já passou por uma Copa do Mundo com a Seleção Brasileira. A bem-sucedida campanha de 2002 o eleva a um técnico idolatrado por sua capacidade em formar uma família compenetrada, em busca de títulos e, principalmente, que soube apresentar seriedade no momento certo (ao contrário da Era Dunga, campeã de Copa América e Copa das Confederações e desclassificada da Copa de 2010).

Felipão comprovou ter personalidade suficiente para escalar os jogadores e confiar neles para decidirem as partidas, independente de questionamentos por parte da crítica esportiva. Entretanto, Scolari correrá o risco de ter sua imagem vitoriosa de 2002 maculada? Fica o mistério.

Mas, sem dúvida, o mistério que não deve continuar na Seleção Brasileira é em relação ao lugar onde vão esconder os verdadeiros craques do Brasil. Independente do novo escolhido para o cargo de treinador (também foram especulados nomes de Vanderlei Luxemburgo, Adilson Batista e Paulo Autuori correndo por fora), é preciso que ele venha com desejo de escrever uma história própria em sua passagem. Alheia a erros do passado, e disposta a convocar os nomes de habilidade que surgem no país. A bolsa de apostas começa agora.

sábado, 3 de julho de 2010

Eterna mea culpa


Ao assumir o cargo de treinador da Seleção Brasileira, Dunga recebeu de Ricardo Teixeira a incumbência de fazer uma seleção sem todo o "oba-oba" que aconteceu na edição de 2006 (quando o estrelismo de alguns jogadores levou à derrocada do Brasil nas quartas-de-final, diante da França). Durante quatro anos de trabalho, o técnico seguiu este padrão. Repetiu a doutrina de "comprometimento" dos jogadores e implantou nas suas convocações a ideia de ter uma "coerência". O Brasil não ganhou a Copa do Mundo de 2010. Foi eliminado nas... quartas-de-final.

A razão do novo insucesso no torneio de futebol mais importante do mundo deixa claro: Copa não é lugar para revanchismo. Nos quatro anos da Era Dunga como treinador, a única intenção era jogar na cara da imprensa esportiva e da torcida que a CBF poderia, sim, cuidar da sua Seleção Brasileira de maneira organizada. Entretanto, a recomendação se tornou uma obsessão para Dunga, e gerou outro grave inconveniente.

Jogadores que despontavam com excelentes atuações (em especial nos campeonatos estaduais Brasil afora) acabaram execrados pelo técnico. Apenas jogadores medianos, que tinham raros lampejos de habilidade e seguiam o esquema por não terem qualquer personalidade futebolística receberam prioridade. O argumento era de que craques acabavam tropeçando em seus egos nos momentos decisivos, e não agregavam nada ao grupo. A exceção a este panorama, do ponto de vista de Dunga, foram o meia Kaká e o atacante Robinho, que aparentemente apresentaram mais humildade que nomes como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Adriano em 2006.

Pois bem, sob desconfiança geral e irrestrita, a Seleção Brasileira partiu rumo à África do Sul. Conseguiu duas vitórias e um empate na fase classificatória, uma classificação tranquila nas oitavas-de-final, até que a partida contra a Holanda apresentou o óbvio: o Brasil de Dunga tem outros erros.

Sem as "estrelas", o poder ofensivo ficou extremamente reduzido, e as opções do banco de reservas rarearam, a ponto de nem Dunga ousar fazer alguma substituição quando a Seleção Brasileira perdia para a Holanda e não encontrava meios de mudar sua apatia. Ônus de uma equipe que foi criada somente com o intuito de ser a oposição do Brasil de quatro anos atrás.

Dunga anunciou que não prosseguirá no cargo. Que o presidente Ricardo Teixeira não recorra a treinadores movidos a extremismos, e se preocupe em escalar jogadores com habilidade e poder de decisão suficientes para vestir a camisa da seleção mais tradicional do mundo. A Seleção Brasileira não pode ficar sujeita a conviver com uma mea culpa diferente a cada quatro anos de Copa do Mundo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Incapacidade de desequilibrar



Análise de jogo: Holanda 2 x 1 Brasil (Porto Elizabeth, 11h de Brasília)

A Copa do Mundo de 2010 acabou para o Brasil aos sete minutos do segundo tempo da partida contra a Holanda. O gol de empate dos holandeses ganhou uma dimensão maior do que aquele momento da partida merecia. Em poucos instantes, a maquiagem de um grupo que representava a tradicional Seleção Brasileira se desfez, para revelar a verdadeira faceta da equipe de Dunga. Uma seleção que só mantém sua tranquilidade quando está na frente do placar e se desestabiliza quando este roteiro se modifica.

O gol anulado de Robinho (após jogada em que Daniel Alves estava impedido) revelou que a partida de Porto Elizabeth poderia ser resolvida nos erros defensivos do time holandês. E foi graças a eles que a Seleção Brasileira conseguiu ser decisiva aos 10 minutos. O volante Felipe Melo, um dos mais criticados da convocação de Dunga, deu passe primoroso em direção a Robinho. O camisa 11 emendou de primeira, longe do alcance de Stekelenburg. Brasil 1 a 0.

Não bastasse a desvantagem no placar, a Holanda sentia as deficiências de sua saída de bola. A demora da passagem entre a defesa e o meio-de-campo deixava seus melhores jogadores marcados facilmente. Nem mesmo Robben conseguia se desvencilhar da marcação de Michel Bastos - outro jogador duramente criticado durante a Copa do Mundo, mas que vinha atuando bem na primeira etapa deste jogo.

Bem armada para jogar no contra-ataque, a Seleção Brasileira encontrou outras oportunidades de chegar ao seu segundo gol ainda nos 45 minutos iniciais. Após cobrança de escanteio, Daniel Alves conseguiu jogar a bola na área. Juan, na marca do pênalti, chutou por cima. Em chute por cobertura, Kaká obrigou Stekelenburg a espalmar para escanteio. No último lance do primeiro tempo, após arrancada Maicon chutou cruzado e a bola balançou a parte de fora da rede.

Jogador que se destacou na primeira etapa, Felipe Melo começou a degringolar sua atuação e rascunhou o retrato que viria do Brasil para o restante da partida. Em jogada na intermediária da defesa brasileira, o camisa 5 deu passe para trás de calcanhar que quase armou a primeira chegada de perigo do adversário, antes do minuto inicial.

Aos sete minutos, o Brasil admitiu o complexo de ser uma seleção bem aquém do esperado para fazer uma Copa do Mundo vencedora. O setor defensivo brasileiro, única unanimidade desta equipe, apontou uma série de equívocos em um lance só. Tudo começou quando permitiu que a cobrança de falta para a Holanda acontecesse rapidamente. Em seguida, Sneidjer desceu pela esquerda, passou por dois defensores e cruzou na área. Júlio César saiu, mas a bola desviou na cabeça de Felipe Melo e parou na rede. Era o empate holandês.

A defesa tinha furado de maneira grosseira, e o goleiro aclamado como melhor do mundo tinha saído atabalhoado num lance que parecia fácil para ele. Ainda faltavam cerca de 40 minutos para tentar ficar em vantagem novamente. A pressão parece ter pesado em todos os jogadores brasileiros. O erro contínuo da Holanda no primeiro tempo começou a acontecer na saída de jogo do time do Brasil, e as coisas ficavam ainda piores porque, a cada tentativa, era explícito que Kaká não estava em sua melhor condição física. A dupla Robinho e Luís Fabiano parecia mera espectadora, e não encontrava capacidade de entrar novamente no jogo.

A incapacidade da Seleção Brasileira em partir para o ataque despertou o futebol dos (poucos) bons atletas holandeses. E, no momento em que Robben começou a levar a melhor no duelo com Michel Bastos, o Brasil definitivamente sentiu o problema de Dunga não ter feito um selecionado que tivesse um elenco melhor. O camisa 6 levara cartão amarelo no primeiro tempo, e parecia na iminência de tomar o segundo. O treinador teve a atitude certa, ao sacá-lo da partida. Entretanto, o seu reserva, Gilberto, além de atuar há muitos anos no meio-de-campo, tem 35 anos.

Após roubada de bola no meio-de-campo, Robben deixou Gilberto para trás e só não conseguiu cruzar rasteiro para a área por causa do desvio de Juan. Na cobrança de escanteio, Kuyt desviou de cabeça para a primeira trave. Em meio a seis brasileiros, o baixinho Sneidjer chegou livre para cabecear a bola no fundo da rede de Júlio César. A Holanda virava para 2 a 1, aos 22 minutos.

A Seleção Brasileira definitivamente entregava-se a uma apatia digna de suas limitações. E o símbolo da Era Dunga como técnico se tornou o meia Felipe Melo. A aclamada força defensiva com raro lampejo de habilidade se esvaiu na raiva por estar atrás do placar. A única saída, no ponto de vista do jogador, era se impor pela violência. Além de parar a jogada com falta, o volante deu um pisão em Robben e foi expulso, aos 28 minutos do segundo tempo.

Restou ao técnico Dunga colocar Nilmar em campo. Só que a substituição apenas serviu para trocar um atacante pelo outro. Luís Fabiano, de fato, não era uma peça útil para o Brasil naquele momento. Entretanto, a velocidade do camisa 21 não teria qualquer função sem a companhia de mais um jogador próximo a ele.

Os últimos minutos apresentaram o desespero de um Brasil que só conseguia chances através de escanteios. Por duas vezes, a bola passou perto do gol de Stekelenburg, sem que nenhum jogador aparecesse para conclusão. A falta de estabilidade emocional foi tanta que era bem provável que, em caso do empate e uma prorrogação de 30 minutos, a Seleção Brasileira não conseguisse remediar o seu descontrole.

O Brasil cai em Porto Elizabeth, vítima da insistência burra de seu treinador em priorizar um grupo que, no máximo, é eficaz em seu desempenho em campo. O time que Dunga levou à África do Sul era louvado por seu equilíbrio. Mas sua incapacidade em desequilibrar uma partida custou a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2010.

A Holanda chega às semifinais, motivada por ter sido a primeira seleção a vencer um jogo de virada no "mata-mata" desta Copa. As cinco vitórias no torneio mostram que o time de Bert van Marwijk sabe de suas limitações, e por isto valoriza tanto o toque de bola, até achar nos pés de seus craques a oportunidade de um bom futebol. Ao contrário da Seleção Brasileira, os holandeses são capazes de transformar em acertos os erros de seu próprio desequilíbrio.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mística brasileira



A crítica esportiva vem sendo quase unânime no coro de que a Seleção Brasileira que está neste momento na África do Sul se assemelha com o time da Copa do Mundo de 1994. E quis a tabela da Copa da África que um adversário passasse pelo trajeto brasileiro na mesma fase do mundial dos Estados Unidos.

Nas quartas-de-final daquela competição, o Brasil entrou em campo para enfrentar a Holanda. No entanto, teria pela frente mais um fantasma tão grande quanto a ausência de títulos já durar 24 anos. O início do "jejum" brasileiro acontecera graças ao "Carrossel Holandês" - time capitaneado pelo craque Johan Cruyff, que fascinou o mundo porque o esquema do técnico Rinus Michels colocava todos os jogadores para atacarem e defenderem com a mesma intensidade.



A Copa de 1974 trazia regulamento diferente da atual. As oito seleções classificadas da primeira fase se dividiam em dois grupos com quatro equipes, com o primeiro de cada grupo indo à final e o segundo brigando pelo consolo de vencer a decisão do terceiro lugar. A Seleção Brasileira tinha se desfigurado em relação ao time campeão de 1970. E o irresistível futebol da Laranja Mecânica derrubou o sonho brasileiro com uma vitória por 2 a 0, gols de Neeskens e do craque Johan Cruyff. Na disputa de terceiro lugar, o Brasil foi derrotado novamente, para a Polônia, por 1 a 0 (gol de Lato).



1994 teve um panorama diferente. Após uma primeira etapa sem gols, a Seleção Brasileira abriu 2 a 0 em 17 minutos do segundo tempo - com a dupla de ataque Romário e Bebeto. Entretanto, dois minutos depois a Holanda diminuiu com o craque Berkgramp e, aos 31, veio o empate holandês, com Winter. Aos 36 minutos do segundo tempo, veio gol de desempate do Brasil. Numa cobrança de falta, Branco acertou uma bomba da intermediária que tocar na trave antes de entrar na rede de De Goej. Estava sacramentado o 3 a 2 e a ida brasileira para as semifinais (feito que não acontecia desde 1978).

16 anos depois, Brasil e Holanda voltarão a se enfrentar, num novo continente, com novos jogadores, e com uma história para reescrever de cada lado. Do lado holandês, a "herança" do talento da Laranja Mecânica de 1974 (que se estendeu à edição de 1978) se une à ansiedade e à responsabilidade de não deixar repetir a frustração do "Carrossel Holandês" ter enguiçado quando mais precisava - em ambas as edições, os esquadrões da Holanda perderam em final de Copa do Mundo.

A Seleção Brasileira tem mais um indício da comparação com a Copa de 1994 para se inspirar neste ano. O time de Dunga pode ser idêntico ao que ganhou o tetracampeonato dos Estados Unidos e não ter a "magia brasileira" (como insinuou o craque holandês Johan Cruyff recentemente). Mas nunca se deve duvidar da mística do Brasil.