terça-feira, 31 de agosto de 2010

A cartilha dos ídolos



Uma das definições para a palavra ÍDOLO no dicionário diz "pessoa a quem se tributa respeito ou afeto excessivos". No futebol, todos os clubes têm em suas listas jogadores que ficaram na história por títulos, gols e espírito de luta. Entretanto, devido à falta de qualidade das equipes atuais, alguns jogadores de qualidade questionável vêm sendo dignos de idolatria fulminante.



O caso mais recente é o do zagueiro Dedé, do Vasco. O jogador chegou a São Januário para compor elenco o Brasileiro da Série B, em 2009, depois de ter certo destaque na disputa do Campeonato Estadual do mesmo ano, pelo Volta Redonda. No ano passado, ele atuou em poucas partidas pelo time vascaíno, e no início deste ano ficou marcado negativamente, pois num treino entrou numa dividida forte que tirou de combate o meia Carlos Alberto.

Na troca de treinadores, Dedé acabou promovido a titular da zaga vascaína e, com o tempo, passou a ter seu nome gritado pela torcida durante as partidas. Após a chegada do técnico Paulo César Gusmão, o zagueiro virou sinônimo de raça e de segurança - coisa que há muitos anos não era comum no setor defensivo da equipe - e tem se destacado neste período após a Copa do Mundo, pois vem ajudando o Vasco a manter uma invencibilidade (ainda que com uma sequência de empates) na volta do Campeonato Brasileiro.



Outro jogador que chama atenção pela idolatria da torcida vem do Fluminense. No líder do Campeonato Brasileiro, o atacante Washington se tornou o grande ídolo em meio à constelação que se formou na equipe de 2010. Mesmo que tenha contribuído para a derrota mais sofrida do tricolor das Laranjeiras (perdendo um pênalti na decisão da Taça Libertadores da América, contra a LDU).

Da onde sai o carisma dos ídolos de hoje? Da raça? Do respeito à camisa que está vestindo? Em uma época na qual equipes se formam e se desfazem com constância, é cada vez mais raro um atleta ter sua imagem atrelada a apenas um clube. Até jogadores que declaram ter um time de coração às vezes mudam de ares para um grande rival. Hoje ídolo do Flamengo, Petkovic já vestiu as camisas de Vasco e Fluminense. Emerson, atacante de destaque no Fluminense, se declarou flamenguista em sua passagem pela Gávea no ano anterior.



E a idolatria dos dias de hoje? É capaz de fazer vista grossa para insucessos? Sim, Adriano foi campeão brasileiro com o Flamengo em 2009. Mas isto é capaz de apagar os problemas extracampo gerados por ele e que afundaram o rubro-negro numa crise em 2010, que culminou na perda do Campeonato Estadual e da Taça Libertadores da América, além de iniciar um dominó no qual não sobrou muita coisa do time vencedor do ano anterior?



Edmundo é outro exemplo disto. Cultuado no Vasco pela grande atuação campanha que levou o clube ao terceiro título brasileiro, em 1997, seu nome era sempre gritado em momentos de dificuldade das equipes vascaínas no gramado, e ele chegava como salvador. No entanto, dos pés de Edmundo, vieram pênaltis decisivos desperdiçados na decisão do Mundial de Clubes de 2000 (contra o Corínthians), na semifinal da Taça Guanabara de 2008 (contra o Flamengo) e na Copa do Brasil de 2008 (contra o Sport Recife). Além de expulsões, confusões e períodos de ausência de títulos.

O atual torcedor de futebol não precisa se acostumar somente ao constante entra-e-sai de jogadores e ao fato de um jogador que era rival atuar no seu clube de coração de uma hora para outra. A cartilha do futebol brasileiro agora deu à palavra "ídolo" um significado bem mais abrangente do que ser decisivo dentro de campo.

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