quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Via Crucis goiana



A poucas rodadas do final do primeiro turno, os Brasileirões das Séries A e B continuam a mostrar um equilíbrio típico dos pontos corridos, com vários focos de disputa entre os 20 clubes de cada competição. Entretanto, um centro de futebol traz o ponto de desequilíbrio aos olhos do futebol nacional: o estado de Goiás. Goiás e Atlético Goianiense são os dois últimos da Primeira Divisão, enquanto na Segundona, o Vila Nova encerra a lista de classificação.

2010 era um ano de grandes expectativas para o futebol de Goiás, por ter duas equipes do estado na Série A do Campeonato Brasileiro. Entretanto, o momento promissor das equipes goianas logo cedeu espaço a uma discussão sobre o nível técnico dos times do estado, ainda durante a disputa do Campeonato Goiano.



O Goiás já tinha sido motivo de uma frustração imensa para sua torcida no ano anterior. Após um primeiro turno avassalador, o desempenho da equipe caiu vertiginosamente, a ponto de ficar no limite da parte de baixo da tabela. O momento ficou ainda mais crítico pois a queda de rendimento coincidiu com a chegada de Fernandão, que veio como a grande contratação do esmeraldino para a temporada.

Após terminar o Brasileiro de 2009 com um modesto nono lugar, o Goiás teve um mau começo na temporada de 2010, quando chegou a ficar na última colocação do Campeonato Goiano. O mau desempenho fez o clube ser o primeiro dentre os 20 clubes da Primeira Divisão a demitir um treinador - Hélio dos Anjos saiu para a entrada de Jorginho. Com Jorginho, o alviverde se recuperou a ponto de disputar a semifinal. Mas foi eliminado pelo Atlético, depois de um empate em 0 a 0 e uma derrota por 4 a 2.

Sem Fernandão (que saiu para atuar no São Paulo), o esmeraldino se remendou para o Campeonato Brasileiro do jeito que sabe, aproveitando "sobras" de clubes de maior expressão, neste ano Palmeiras e Atlético Mineiro. Também mudou de treinador, trazendo o vitorioso mas controverso Emerson Leão. E o time, que pedia mudanças, acabou mudando para pior. Até mesmo jogadores promissores, como o zagueiro Rafael Tolói, o meia Amaral e o atacante Romerito caíram de produção, a ponto de a vitória não ser mais garantida nem no Serra Dourada.

O alento veio na Copa Sul-Americana, na qual o time passou para a segunda fase eliminando o Grêmio no Olímpico, depois de um empate em 1 a 1 em Goiânia e uma vitória por 2 a 0 em Porto Alegre. No entanto, a equipe gremista vinha de uma sequência de resultados negativos, passava por uma mudança de comando (Renato Gaúcho estreava como técnico, em substituição a Silas), e um gol legítimo do tricolor gaúcho foi mal anulado quando o Goiás vencia por 1 a 0. Peripécias do futebol que em outros momentos podem não fazer diferença nas partidas. Em especial, se nelas vierem novas atuações ruins dos esmeraldinos.



Mesmo sendo considerada uma equipe de nível técnico inferior em relação aos outros clubes que estão na Série A, não há dúvidas de que a torcida do Atlético Goianiense vive uma imensa frustração com a participação do clube nesta aguardada volta. Em especial porque, nos últimos dois anos, o rubro-negro viu um intenso trabalho ser bem sucedido tanto na Série C em 2008 (quando sagrou-se campeão) quanto na Série B em 2009, quando conseguiu a quarta vaga para a elite do Campeonato Brasileiro.

A euforia dos atleticanos ainda teve bons motivos para prosseguir no ano de 2010. O time foi soberano na disputa do Campeonato Goiano, mostrando um futebol bem superior aos tradicionais rivais Goiás e Vila Nova e, na final, venceu as duas partidas contra o Santa Helena - por 4 a 0 e 3 a 1. Além disto, o Dragão de Goiânia chegou às semifinais da Copa do Brasil, parando apenas no Vitória da Bahia.

No entanto, logo no início do Brasileirão os torcedores perceberam que estes "sucessos" do primeiro semestre eram apenas ilusões. O Campeonato Goiano, que sempre teve sua qualidade discutível, pareceu pior neste ano, com tamanha falta de qualidade até dentre os maiores vencedores do torneio - o Goiás, com 22 títulos, e o Vila Nova, com 15 conquistas.

Antes de ser eliminado pelo Vitória, a única equipe de muito destaque que o Atlético enfrentou na Copa do Brasil foi o Palmeiras. Os outros times que os goianos eliminaram foram Assu (do Rio Grande do Norte), Bahia e Santa Cruz. Nenhum da Primeira Divisão.

E na época em que houve a disputa com os palmeirenses nas quartas-de-final, o alviverde vinha de um péssimo Campeonato Paulista, e passava por uma crise com o técnico Antônio Carlos Zago. A classificação goiana para as semifinais veio numa disputa de pênaltis na segunda partida, realizada no Serra Dourada. Das 10 cobranças das duas equipes, apenas três penalidades foram convertidas. O nivelamento por baixo contribuiu para que o Atlético acreditasse que poderia fazer um Campeonato Brasileiro de maneira convincente, deixando tudo nas costas do bom jogador Robston. Mas, com jogadores de qualidade duvidosa em seu elenco, casos de Pituca, Rodrigo Tiuí e Anaílson, não há treinador capaz de dar uma dignidade de Primeira Divisão ao rubro-negro de Goiânia.



A calamidade goiana não ficou restrita à Série A. Só que a situação do Vila Nova na Segunda Divisão nem é tão inesperada para seus torcedores. Fora da elite desde o longínquo ano de 1985, o clube também perdeu a tradição de ser o único goiano a fazer frente à tradição do Goiás no Campeonato Estadual. Sua conquista mais recente na competição veio em 2005.

Com dificuldades, a equipe se classificou para as semifinais do Campeonato Goiano. E a possibilidade do título se esvaiu de maneira surpreendente, após as duas derrotas para o modestíssimo Santa Helena - por 3 a 1 em pleno Serra Dourada e por 4 a 2 no Estádio Pedro Romualdo Cabral, em Santa Helena de Goiás.

O Campeonato Brasileiro da Série B não vinha com boas expectativas. Além do fraco primeiro semestre, o Tigre de Goiânia fez uma participação muito oscilante no torneio do ano anterior (e muito aquém do esperado para uma equipe que em 2008 chegou perto de se credenciar à Primeira Divisão). Mas a inconstância de 2009 vem cedendo espaço a uma equipe que constantemente faz partidas de fraquíssimo nível técnico.

Nem o apelo de ter no elenco o atacante Roni - revelado no próprio Vila Nova e que tem passagem por clubes de destaque como Fluminense, Cruzeiro, Flamengo e Santos - serve de estímulo para torcida e jogadores. Afinal, o outro atleta com certa "bagagem" no futebol brasileiro é o goleiro Max, que atuou pelo Botafogo. De resto, apenas uma coleção de jogadores itinerantes que não conseguiram se firmar nem em equipes de menor qualidade.

Dos 14 jogos, apenas duas vitórias (sobre Icasa e América de Natal, ambos clubes próximos da zona de rebaixamento) e uma sucessão de derrotas, dentre elas as sonoras goleadas por 3 a 0 para o Santo André e por 4 a 0 diante do Bahia, as duas em pleno Serra Dourada. Mesmo que consiga um resultado positivo na próxima sexta contra o ASA, em Goiânia, o Vila Nova ainda estará a pelo menos cinco pontos de sair da degola para a Terceira Divisão.

Outrora promissor celeiro de jogadores de qualidade que migravam para todos os cantos de futebol do Brasil e do mundo, o estado de Goiás agora assiste a uma verdadeira Via Crucis de seus representantes no futebol brasileiro. Os Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão acaba em dezembro, e o e da Segunda Divisão tem fim em novembro. Mas os calvários de Goiás, Atlético e Vila Nova ainda não parecem ter data marcada para um desfecho.

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