domingo, 15 de agosto de 2010

A curto prazo



Análise de jogo - Flamengo 1 x 0 Ceará (18h30, sábado, Maracanã)

Uma sofrida vitória por 1 a 0 sobre o então terceiro colocado do Campeonato Brasileiro, que tinha a melhor defesa da competição. Grandes méritos cercaram os três pontos que o Flamengo conseguiu no Maracanã nesta noite de sábado, em especial pelo contexto de um time que não vencia há quatro jogos e não balançava a rede há três rodadas. Entretanto, mesmo com o resultado a curto prazo, os rubro-negros ainda penam para encontrar motivos que mereçam um sorriso largo ao falarem de seu clube de coração, em meio a tantas ressalvas feitas à atuação de seus jogadores.

A começar pela vitória magra diante de um oponente tão limitado. Embora estivesse entre os três primeiros, o Ceará passa por uma turbulência no período pós-Copa do Mundo. Após a saída de Paulo César Gusmão durante a Copa - ele largou o alvinegro cearense para treinar o Vasco - Estevam Soares aceitou o convite de comandar a equipe. Mas, passado um período com quatro empates e duas derrotas, ele foi demitido, e o Vozão contratou Mário Sérgio, técnico de qualidade contestável (por seus esquemas que priorizam a força e deixam a qualidade técnica em segundo plano) e sem tradição de títulos. Nas quatro linhas, a situação para os cearenses também ficou mais delicada. Com um elenco limitado, o time não encontrou substitutos para o volante Careca, suspenso, e a dupla de ataque Misael e Erick Flores - o primeiro contundido e o segundo, por ser atleta emprestado pelo Flamengo, não pode atuar num confronto com o clube dono de seu passe. Em suma, o pior ataque da competição veio ainda mais combalido para a partida no Rio de Janeiro.

Só que o ataque também era combalido do lado rubro-negro. Não bastasse Val Baiano ainda estar visivelmente acima do peso, o clube ainda estreava Leandro Amaral, atacante que ficou cerca de um ano sem atuar devido, a uma contusão delicada que o afastou dos campos ainda quando jogava no Fluminense. O Flamengo também reestreava o meia Renato Abreu, repatriado depois de três anos atuando no futebol árabe, e se ressentia da falta de mobilidade de seu meio-de-campo também por causa da má atuação de Petkovic. Tanto que, mesmo com as limitações do adversário, era o Ceará que pressionava no início da partida.

Mas o Vovô se resumia a uma correria sem qualquer objetividade, e nem mesmo a avenida que Michael deixava no lado esquerdo (o jogador substituiu Juan, vetado horas antes da partida por causa de problemas intestinais) para Oziel lançar à área foi capaz de dar melhores oportunidades à dupla de ataque Tony e Washington. O Ceará chegava ao gol de Marcelo Lomba através de cobranças de falta, como a de Michel.

A surpreendente pressão do time cearense aos poucos foi se esvaindo na contradição do time que ao mesmo tempo é capaz de ter a melhor defesa e o pior ataque na competição. O time recuou, e o Flamengo começou a tentar suas investidas, em jogadas iniciadas pelo lateral-direita Léo Moura e pelo meia Williams. No entanto, a dificuldade de passar pelos defensores adversários só dava oportunidades em lances de bola parada, como numa cobrança de escanteio de Petkovic, no qual Diego evitou um gol olímpico.

O gol, que parecia não querer sair de nenhum dos lados, surgiu apenas a um minuto do fim do primeiro tempo, e de maneira duvidosa. Williams deu uma arrancada, passou por um zagueiro e Anderson roubou a bola. O árbitro Wagner Reway interpretou a intervenção empurrão do jogador cearense, e marcou pênalti. Três jogos e 44 minutos depois, os flamenguistas voltaram a ver a bola na rede com um gol rubro-negro, numa cobrança na qual Petkovic deslocou Diego. 1 a 0 Flamengo.

A volta para o segundo tempo deixou as qualidades e os defeitos das equipes comprovadas pela forma como os dois se comportavam no ataque. Com maior volume de jogo, o Ceará cercava a área rubro-negra, mas se ressentia de um talento mais incisivo no ataque. Ao Flamengo, restavam lances de bola parada, como o belo cartão de visitas de Renato Abreu (apelidado por alguns torcedores como "Renato Bomba"), que deu um chutaço defendido por Diego com muita dificuldade. Aos trancos e barrancos, o Vovô ia aparecendo com perigo, e em lances de Camilo e Washington que passavam perto do gol de Marcelo Lomba.

Àquela altura, o Flamengo ia perdendo ainda mais sua mobilidade. E Rogério Lourenço decidiu substituir Leandro Amaral, naturalmente cansado pela falta de ritmo de jogo, para tentar dar mais velocidade com Vinícius Pacheco. Originalmente com mais características de meia do que de atacante, o jogador acabou deixando o rubro-negro mais defensivo, e o Ceará ganhou mais força de ataque, principalmente depois que o interino Sérgio Araújo trocou sua lateral-direita, substituindo Oziel por Diogo.

A equipe nordestina aos poucos foi ganhando um poder ofensivo maior, depois que Geraldo e Wellington Amorim substituíram João Marcos e Tony, respectivamente. Sem referência de ataque e com seus meias de criação Renato Abreu e Petkovic sem forças, o Flamengo deu maiores espaços e se viu acuado em pleno Maracanã. Só que o cerco dos jogadores do Ceará seguia sem sucesso.

Em vez de fazer alterações para tentar liquidar a partida - e quebrar um incômodo tabu do Flamengo no Brasileirão de 2010, de ter marcado mais de um gol num jogo apenas na vitória por 3 a 1 sobre o Grêmio Prudente na terceira rodada - o técnico Rogério Lourenço mexeu na equipe apenas aos 38 minutos. E para colocar um zagueiro em campo. Após uma partida fraquíssima, Michael foi trocado por David. Minutos depois, mais uma troca defensiva, ao tirar de campo Val Baiano e colocar o lateral Rafael Galhardo.

Quando o árbitro encerrou o jogo, a frieza dos três pontos na classificação foi motivo de alívio para um Flamengo que queria resultado a curto prazo e buscava uma vitória motivadora, ao menos um alento para dar à equipe em formação um pouco de esperança para o restante do Campeonato Brasileiro. Só que os cerca de 20 mil torcedores presentes no Maracanã ainda sorriem amarelo, à espera de uma equipe de futebol mais convincente, digna de uma bom trabalho a longo prazo. De preferência, sem novas ressalvas.

*****

FLAMENGO 1 x 0 CEARÁ

Estádio: Maracanã (Rio de Janeiro).

Renda: R$ 559.875,00 / Público: 20.696 pagantes

Árbitro: Wagner Reway-MT.

Auxiliares: Emerson Augusto de Carvalho-SP (Fifa) e Carlos Berkenbrock-SC (Fifa).

Gol: Petkovic (de pênalti) aos 44 minutos do primeiro tempo.

Cartões amarelos:
Willians, Renato Abreu e Petkovic (Flamengo); Michel e Anderson (Ceará).

FLAMENGO - Marcelo Lomba, Léo Moura, Wellinton, Ronaldo Angelim e Michael (David); Correa, Willians, Renato Abreu e Petkovic; Leandro Amaral (Vinicius Pacheco) e Val Baiano (Rafael Galhardo). Técnico: Rogério Lourenço.

CEARÁ - Diego, Oziel (Diogo), Anderson, Fabrício e Ernandes; Heleno, Michel, João Marcos (Geraldo) e Camilo; Tony (Wellington Amorim) e Washington. Técnico: Sérgio Araújo.

*****

O tempo e o placar... estende seu post publicado no início do domingo e, após o fim da rodada, traz o que houve de pior e de melhor nos jogos deste fim de semana.

O CHUTAÇO

O FUTEBOL CARIOCA conseguiu quatro triunfos com seus quatro representantes na Série A. No sábado, o BOTAFOGO chegou à sua terceira vitória consecutiva no Campeonato Brasileiro, na partida traiçoeira diante do Atlético Goianiense, e FLAMENGO, mesmo com todas as ressalvas do jogo com o Ceará, voltou a vencer depois de algumas rodadas em branco. No domingo, o VASCO mostrou uma equipe compacta, segura em todos os seus setores, e mereceu a vitória sobre o Grêmio Prudente (sua primeira como visitante no Brasileirão) e o FLUMINENSE continua com sua soberania em campo e nas arquibancadas - cerca de 60 mil tricolores estiveram no Maracanã para assistir à vitória sobre o Internacional. Fluminense líder, Botafogo em quarto, Flamengo e Vasco em sétimo, separados por saldo de gols. O Rio de Janeiro tem um horizonte muito distante do que a crítica esportiva previa.

A FURADA

É natural que um jogador se sinta frustrado quando, na vice-liderança, vê o primeiro colocado se distanciar no número de pontos. Mas é estranho que, ao final do jogo que o Corínthians perdeu para o Avaí por 3 a 2, o volante ELIAS diga que o árbitro Péricles Bassols tenha favorecido os catarinenses somente para beneficiar o Fluminense. Bassols já cometeu atitudes duvidosas no gramado, pode-se questionar a qualidade dele soprando o apito. Só que dizer que foram premeditadas as ações dele no Ressacada é, no mínimo, uma declaração infeliz.

******

RESULTADOS - DÉCIMA-QUARTA RODADA

Sábado

18h30
Atlético Goianiense 0 x 2 Botafogo (Serra Dourada)
Palmeiras 2 x 0 Atlético Paranaense (Pacaembu)
Atlético Mineiro 3 x 1 Guarani (Ipatingão)
Flamengo 1 x 0 Ceará (Maracanã)

Domingo

16h

Avaí 3 x 2 Corínthians (Ressacada)
São Paulo 2 x 2 Cruzeiro (Morumbi)
Prudente 1 x 2 Vasco (Prudentão)
Fluminense 3 x 0 Internacional (Maracanã)

18h30

Vitória 4 x 2 Santos (Barradão)
Grêmio 2 x 0 Goiás (Olímpico)

Um comentário:

Leonardo Valejo disse...

"O que importa são os 3 pontos." Nesta rodada é verdade, mas nas próximas o Flamengo não conquistará eles jogando assim.As únicas jogadas perigosas foram o lance de Willians que criou o pênalti e a cobrança de falta de Renato.

Grande Abraço
Leonardo Valejo