domingo, 8 de agosto de 2010
Guerreiros cruzmaltinos
Análise de jogo: Vasco 1 x 0 Vitória da Bahia (18h30, São Januário)
Ao final da decisão da Copa do Brasil, a torcida do Vitória da Bahia entoou o coro "time de guerreiro", como forma de reconhecer o a luta de seu time do coração no jogo contra o Santos, no Barradão. Quatro dias depois do vice-campeonato, o rubro-negro baiano foi ao Rio de Janeiro, para uma batalha contra o Vasco no Campeonato Brasileiro. Mas saiu de campo derrotado por um time que guerreou e superou até uma inferioridade numérica para conquistar três pontos. Na noite de São Januário, guerreiros foram os jogadores cruzmaltinos.
Apoiado pelos 16 mil torcedores presentes no estádio, o Vasco ganhou autoconfiança também dentro do gramado. O trio Felipe, Carlos Alberto e Zé Roberto mostrou estar mais entrosado, o que deixou o toque de bola ainda mais eficaz. Aos sete minutos, uma troca de passes rápida foi interrompida com falta em Felipe, frontal à área. Carlos Alberto cobrou, a bola tocou no travessão e por pouco não ultrapassou a linha.
Entretanto, aos poucos o time vascaíno começou a se perder em alguns inconvenientes de ter seus principais jogadores sem ritmo de jogo. Felipe carregava demais a bola e às vezes não conseguia acertar os passes. Mais uma vez muito marcado, Carlos Alberto não tinha mobilidade para se desvencilhar dos zagueiros adversários. A situação ficou ainda mais complicada para o meia porque, no esquema de Paulo César Gusmão, ele era o encarregado de ser o homem mais próximo da área rival. Só que sua característica natural é a de criar jogadas de habilidade, e o Vasco se ressentia cada vez mais de um matador.
Zé Roberto era o que se apresentava melhor, demonstrando fôlego e fazendo boas tabelas com o lateral-esquerda Max (jogador da categoria de base que estreava entre os profissionais). E o camisa 10 deu um ponto final feliz a uma grande jogada de habilidade do time cruzmaltino. Carlos Alberto tocou para Felipe, que rolou até Rafael Carioca, que entregou para Max na esquerda, que entrou na área e lançou Zé Roberto, que desviou para o fundo da rede do goleiro Lee. De pé em pé, 1 a 0 Vasco, aos 22 minutos.
Os vascaínos dominavam a partida, favorecidos pela ausência de peças de reposição do Vitória. Sem o experiente Ramón no meio-de-campo e sem o poder incisivo de Júnior no ataque, o time de Ricardo Silva depositava suas esperanças no talento de Elkesson. Entretanto, o camisa 8 não conseguia acertar nenhuma jogada, e a equipe baiana novamente tentava transformar a palavra "guerreiro" em sinônimo de "cruzar a bola para a área insistentemente". As tentativas vinham em especial do lado esquerdo, com o lateral Egídio, e também na ansiedade dos atletas baianos por conseguirem uma falta próxima à área vascaína.
Assim, o Vitória demonstrou uma tática de guerra não muito convencional. A cada momento em que caíam - muitas vezes perto da área adversária - os jogadores iam para cima do árbitro ou de seus auxiliares, e pareciam ganhar as faltas no grito, em especial com os atacantes Schwenck e Soares. Entretanto, as tentativas eram mal-sucedidas, e a que chegou mais perto de Fernando Prass no primeiro tempo foi um chute de Schwenck que saiu à esquerda. Insatisfeito com a catimba dos baianos, Carlos Alberto se irritou com a arbitragem e recebeu cartão amarelo. O camisa 19 cometeu uma insensatez, ao bater palmas de maneira irônica, e o juiz Wallace Nascimento Valente puxou o vermelho. Os vascaínos voltariam para a segunda etapa com 10 jogadores.
Aproveitando a superioridade numérica, o técnico Ricardo Silva lançou um Vitória mais ofensivo e, principalmente, com seu setor ofensivo mais descansado, para acuar o Vasco em São Januário nos últimos 45 minutos. Elkesson e Bida saíram para as entradas de Renato e Henrique, respectivamente. Num aspecto, deu certo: os baianos aproveitaram o desnível do meio-de-campo vascaíno e tocaram a bola de um lado para o outro, deixando a tentativa do empate cada vez mais intensa. Mas, a inoperância de seus homens de frente continuava, e o "time de guerreiro" transformava a tentativa de algum lance de qualidade em meros momentos atabalhoados na frente.
Nos primeiros minutos, o Vasco revelou-se perigoso nos contra-ataques (num deles, um chute de Rômulo obrigou Lee a fazer boa defesa). No entanto, a falta de um jogador de habilidade no meio deixou Felipe sobrecarregado, pois tinha de buscar a bola independentemente de ela ser rechaçada para a direita ou para a esquerda. Cansado, o camisa 6 foi substituído pelo atacante Éder Luís aos 18 minutos. Logo em seguida, Paulo César Gusmão trocou Zé Roberto por Fumagalli. Uma substituição infeliz e até mesmo arriscada, pois o camisa 25 não tem muito vigor físico e seu futebol tende a cadenciar a partida. Se PC queria que seu time tivesse velocidade para segurar a bola próximo à área do Vitória, seria melhor ter colocado Jonathan, menino habilidoso e bem mais veloz.
O Vitória tinha suas melhores oportunidades em tentativas de bola parada, a maioria delas através dos pés de Egídio. A última cartada do técnico Ricardo Silva foi a substituição de Soares por Renan Oliveira. O reserva deu passe para Ricardo Conceição, que foi derrubado por Dedé próximo à grande área. Renato cobrou, e a bola passou por cima do travessão. E só. O "time de guerreiro" rubro-negro seguiu insistindo, mas não conseguia uma oportunidade frontal ao gol. A única defesa difícil de Fernando Prass na etapa final foi ao cortar um cruzamento de Jonas.
Mais do que os três pontos que levaram a equipe ao décimo lugar (empatada em número de pontos com o Flamengo), os guerreiros cruzmaltinos reencontraram uma raça que parecia perdida no início do ano, sob o comando de treinadores sem pulso firme que passaram por São Januário, como Vágner Mancini e Gaúcho. É visível que nas mãos de Paulo César Gusmão jogadores como Dedé, Nílton e Rafael Carioca superaram suas inconstâncias e deram ao Vasco um poder bem maior de guerrear.
Em vez de assimilar que "guerreiro" é aquele que tenta a qualquer preço (e até com recursos desleais) vencer uma batalha, o atual Vasco aos poucos parece assimilar a vontade de superação por meio do futebol. Num Campeonato Brasileiro tão extenso, com uma equipe que ainda tem suas limitações, vitórias como esta podem render uma melhora na autoestima do clube de São Januário.
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O tempo e o placar... elege o que houve de melhor e de pior na rodada do Campeonato Brasileiro.
O CHUTAÇO
A cada rodada, FLUMINENSE E CORÍNTHIANS comprovam a ampla superioridade em relação ao restante dos 20 clubes do Brasileirão. Ambas as equipes saíram vencedoras de seus respectivos confrontos, e parecem deixar seus adversários brigando apenas pelas vagas que sobram para a Taça Libertadores da América. Será que o Campeonato Brasileiro vai se assemelhar a outras competições europeias e restringir a possibilidade de gritar "é campeão" a apenas dois clubes?
A FURADA
360 minutos sem balançar as redes do adversário, e com um ataque visivelmente acima do peso, formado por Cristian Borja e Val Baiano. O FLAMENGO se perde na falta de planejamento de gestões anteriores, e a alegria do título brasileiro de 2009 parece longínqua, mesmo não tendo passado nem um ano. No Pacaembu, contra o Corínthians, alguns rubro-negros chegaram a entoar "ão, ão, ão, Segunda Divisão...". A cada partida, a torcida do mais querido do Brasil vai ter de se virar para a arquibancada onde o eterno ídolo Zico está para conseguir algum alento de nostalgia?
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RESULTADOS - DÉCIMA-TERCEIRA RODADA
Sábado
18h30
Botafogo 3 x 0 Atlético Mineiro (Engenhão)
Guarani 4 x 1 Avaí (Brinco de Ouro da Princesa)
Domingo
16h
Grêmio 1 x 2 Fluminense (Olímpico)
Corínthians 1 x 0 Flamengo (Pacaembu)
Goiás 1 x 1 Palmeiras (Serra Dourada)
Ceará 0 x 0 Atlético Goianiense (Castelão)
18h30
Vasco 1 x 0 Vitória da Bahia (São Januário)
Cruzeiro 0 x 0 Grêmio Prudente (Arena do Jacaré)
Atlético Paranaense 1 x 1 São Paulo (Arena da Baixada)
A partida Santos x Internacional, marcada para este domingo, foi adiada pela Confederação Brasileira de Futebol, em virtude da viagem do time colorado para o México, onde começará na quarta-feira a decisão da Taça Libertadores da América.
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