quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Predestinação colorada



INTERNACIONAL, CAMPEÃO DA TAÇA LIBERTADORES DA AMÉRICA DE 2010

"Segue sua sina de vitórias". Nunca um verso do hino do Internacional foi tão condizente com o time colorado quanto na noite do segundo título da Taça Libertadores da América. As coincidências da primeira conquista, em 2006, com o trajeto de 2010 foram ofuscadas pela predestinação dos personagens da finalíssima no Beira-Rio.

Se houve algum momento de coincidência, ele ficou restrito ao primeiro tempo da partida, mas por guardar semelhanças com o primeiro jogo da decisão, em Guadalajara. Após alguns minutos de nervosismo de seus jogadores, o Internacional começou a conseguir boas jogadas de ataque. Vieram boas oportunidades, saídas principalmente dos pés de Kléber e de Tinga para a corrida de Taison e Rafael Sóbis. O Chivas Guadalajara chegou à intermediária adversária com mais frequência do que na primeira partida. Entretanto, ainda tinha poucas oportunidades para quem almejava ganhar um título internacional no campo adversário.

Mesmo assim, a história quis se repetir. Pressão insistente colorada, muito volume de jogo, tentativas próximas à área, e o gol veio do lado mexicano. A predestinação veio de maneira negativa para Tinga. O jogador, que vinha se destacando no meio-de-campo, errou o tempo da bola e proporcionou um contra-ataque. Desprevenida, a zaga colorada permitiu um cruzamento na esquerda, e Fabián, após uma dividida, chutou com força. Como acontecera no México, Renan somente olhou a bola balançar sua rede. 1 a 0 Chivas Guadalajara, aos 42 minutos.

A segunda etapa prometia ter o mesmo panorama do que foi a primeira partida - Inter persistindo no ataque, em busca do resultado. No entanto, desta vez o cenário ganharia requintes mais intensos. A derrota parcial levava o jogo para a prorrogação, e a possibilidade de uma disputa de pênaltis para a América do Sul conhecer seu novo campeão. A torcida, com mais de 53 mil pagantes, estaria ao lado da equipe mesmo na situação limite que até o momento se desenhava?

A predestinação colorada esperou 16 minutos do retorno do intervalo para entrar em campo novamente. Autor dos gols que encaminharam a conquista da Libertadores de 2006 (sobre o São Paulo), Rafael Sóbis retornara ao Internacional quatro anos e duas recuperações de cirurgia depois. Para consolidar a recuperação também de seu oportunismo. Quando o lateral Kléber cruzou da esquerda, a bola passou por Tinga, mas na dividida com o zagueiro, Sóbis conseguiu empatar a partida em 1 a 1.

O Internacional seguiu no ataque, e teve as boas oportunidades com Taison e Rafael Sóbis defendidas pelo goleiro Michel. Logo em seguida, um momento de preocupação passou pelo Beira-Rio: Rafael Sóbis caiu no chão e ficou com as mãos nas costas, se contorcendo. Por linhas tortas, a predestinação colorada entrava em campo, de duas maneiras.

Com o técnico Celso Roth, que substituiu Sóbis por Leandro Damião, e com o atacante que entrara na partida. Após uma dividida no meio-de-campo, Damião avançou pela direita, aproveitou a ausência de defensores do Chivas e, da entrada da área. chutou. A bola ainda desviou na mão de Michel antes de parar no fundo da rede. Internacional 2 a 1, aos 30.

O treinador Jose Luis Real ainda tentou mudar o panorama de sua equipe, colocando em campo Escarlate e Vázquez nos lugares de Ponce e Baéz, respectivamente. Só que Arellano logo em seguida perdeu a cabeça, ao fazer uma falta desleal em D'Alessandro. O árbitro Oscar Ruiz o expulsou direto.

E Celso Roth ainda estava num momento predestinado. Taison, contundido, deu lugar a Giuliano, reserva em momento iluminado, que entrou nas partidas para decidir as classificações contra o Estudiantes e o São Paulo. E do camisa 11 fez uma jogada individual, driblando jogadores do Chivas Guadalajara e chutou a bola no fundo da rede de Michel. Foi o sexto gol do jogador na Libertadores. Inter 3 a 1, aos 44.

Três minutos depois, os mexicanos diminuíram, após uma cobrança de falta parar na trave colorada e, na sobra, Araújo colocar a bola na rede de Renan. Mas o placar de 3 a 2 já era suficiente para dar a Taça Libertadores da América pela segunda vez à equipe. O Internacional quebra um tabu recente dos times brasileiros em decisões de Libertadores - desde o Palmeiras, que venceu o colombiano Deportivo Cali na final em 1999, um time brasileiro não superava um adversário de outro país numa decisão da competição sul-americana. O Palmeiras em 2000, o São Caetano em 2002, o Santos em 2003, o Grêmio em 2007, o Fluminense em 2008 e o Cruzeiro em 2009 tiveram insucessos nas finais.

Mas, além de levar o Brasil novamente ao topo da América do Sul meses depois do insucesso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, o Internacional consolida o excelente trabalho que vem sendo feito no time do Beira-Rio durante a primeira década do século XX. Trata-se de uma equipe de alto nível técnico e que não está sujeita a alterações bruscas proporcionadas pelo "mercado da bola". Além das duas edições da Libertadores, o colorado conquistou nos anos 2000 a Recopa Sul-Americana em 2007 e a Copa Sul-Americana de 2008. E ainda tem a possibilidade de repetir 2006 por completo, ganhando também o Mundial de Clubes da FIFA, a ser realizado em dezembro nos Emirados Árabes. Mais um bom desafio à "sina de vitórias" do colorado gaúcho.

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