sábado, 28 de agosto de 2010

Chamas do amadorismo



O Flamengo brincou com fogo ao entregar para Rogério Lourenço o comando do time principal. E, no final (decretado ontem, com a demissão dele), todos se queimaram. Zico, Rogério, jogadores e, principalmente, a instituição do rubro-negro carioca, que mais uma vez viu seu futebol levado por uma sequência de erros, dentro e fora do campo.

Passada a crise do primeiro semestre (que teve como ápice a demissão do técnico Andrade), o Flamengo promoveu Rogério Lourenço a treinador do time principal, alheio ao fato de ele não ter experiência como técnico de jogadores profissionais. Rogério tivera destaque treinando as divisões de base do rubro-negro e, no ano passado, levara a Seleção Brasileira Sub-20 à final do Mundial (perdido nos pênaltis para Gana).

Logo em seu primeiro trabalho como profissional, o técnico ficou encarregado de levar o time, mesmo abalado por uma crise, à conquista da Taça Libertadores da América. Mas a eliminação na competição sul-americana (ocorrida graças a uma derrota para o limitado time do Universidad de Chile em pleno Maracanã) queimou a esperança de o Flamengo voltar ao topo do mundo.

A dupla de ataque Adriano e Vágner Love saiu. Outros jogadores da base campeã brasileira de 2009 também foram embora. Zico chegou para ser diretor de futebol do Flamengo. Para a parte ofensiva, foram contratados os questionados Val Baiano, Cristian Borja e Leandro Amaral. Os resultados no Campeonato Brasileiro, que vinham de forma razoável durante a parada da Copa do Mundo, se tornaram cada vez mais escassos no pós-Copa. Em especial, com relação ao ataque. À exceção da vitória por 3 a 1 sobre o Grêmio Prudente, na terceira rodada, os flamenguistas só balançaram a rede no máximo uma vez a cada 90 minutos.

Com um remendo de time, Rogério Lourenço encontrou dificuldades para relacionar até mesmo 18 jogadores por partida. Provavelmente, isto tenha comprometido também o esquema de jogo da equipe, que invariavelmente ficou dependente de bons momentos de Petkovic - jogador que se tornou insubstituível, mesmo que seus 38 anos não permitam mais um futebol de qualidade durante 90 minutos. Outros atletas, como Kléberson e o repatriado Renato Abreu, se arrastam em campo, mas apesar distos seguem como titulares e demoram para ser substituídos. E quando o treinador altera a equipe, erra em boa parte de suas alterações.



Desde as primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, a torcida se acostumou a queimar o nome de Rogério Lourenço com os gritos de "fora, Rogério". E Zico, a todo custo, persistiu na ideia de mantê-lo no comando do Flamengo. Uma persistência que comprometeu até mesmo seu nome, diante do medo de errar que ele demonstrou ter em relação ao técnico.

Finalmente, acabou vencido pela pressão das arquibancadas, e tirou Rogério Lourenço do cargo. E agora? Zico ainda vai continuar com sua credibilidade inabalada mesmo depois de vir a público e dizer que os torcedores ajudaram a demitir o treinador? Ou seria uma forma de jogar a decisão para a torcida?

De qualquer forma, a queda de Rogério Lourenço apenas confirma que clubes de grande expressão não podem entregar o cargo de técnico a um nome inexperiente. As queimaduras parecem irreversíveis na carreira do ex-treinador. Mas, pelo menos, a diretoria do Flamengo tem chance de se salvar, tanto pelas contratações de expressão dos atacantes Diogo e Deivid quanto pela possibilidade de encontrar um nome mais convincente para treinar a equipe. Claro, com urgência, antes que o incêndio do amadorismo se alastre ainda mais na Gávea.

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