segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Amor, ódio e 0 a 0




Análise de jogo: Flamengo 0 x 0 Vasco (Maracanã, 18h30)

A semana que antecedeu a partida entre Flamengo e Vasco ficou marcada por situações inusitadas. Era o primeiro confronto entre os eternos ídolos Zico e Roberto Dinamite como dirigentes - respectivamente, o diretor de futebol rubro-negro e o presidente cruzmaltino. Os vascaínos entraram com o estigma de favoritos, apesar de estarem próximos da zona de rebaixamento, enquanto os flamenguistas estavam a poucos pontos do G-4. O duelo mais esperado do setor ofensivo era o da dupla de estreantes Zé Roberto e Felipe, do Vasco, diante da incógnita dupla de ataque do Flamengo, formada por Cristian Borja e Val Baiano. Tudo isto para 60 mil espectadores, numa atípica maioria vascaína sobre o vermelho e preto daquela que é considerada a maior torcida do país. Só que o Maracanã reservava outra doce história imprevisível para a partida.

Na primeira etapa, o jogo até deu alguns toques previsíveis pelo que as duas equipes vêm apresentando no Campeonato Brasileiro. Poucos tratos à bola, muitos chutões e uma ausência de tentativas incisivas rumo à área adversária. Com Kléberson e Petkovic inoperantes nas jogadas, o Flamengo recorria ao fôlego de Williams para armar algum bom ataque. O Vasco demorou para ajeitar seu meio-de-campo, em especial porque Felipe e Zé Roberto não apresentavam ritmo de jogo nem entrosamento suficientes para fugir da marcação flamenguista.

Aos poucos, os 45 minutos iniciais começaram a desenhar o estilo de jogo que Vasco e Flamengo levaram ao Maracanã. Do lado vascaíno, o toque de bola começou a aparecer, em especial nas jogadas habilidosas de Felipe e na aposta a um Zé Roberto que se revelou incansável na busca pelo gol. À exceção de uma cabeçada de Nunes, foram estes dois jogadores que deram as melhores chances ao time de São Januário - todas tentativas de fora da área, que ajudaram a evidenciar a segurança e a colocação de Marcelo Lomba no gol rubro-negro. Com a equipe ainda em processo de montagem e seu meio-de-campo fazendo má apresentação, o time da Gávea também recorreu a seus laterais, Léo Moura e Juan, na tentativa de puxar contra-ataques. Só que os flamenguistas não conseguiam ir além da vontade, pecando por erros primários diante da área vascaína. Suas chances ficaram resumidas a dois lances razoáveis de Kléberson.

As disparidades esboçadas no primeiro tempo ganharam tintas mais fortes na segunda etapa. O toque de bola do Vasco ficou mais dinâmico, e rendeu duas jogadas dignas de aplauso - uma "caneta" que Felipe deu em Cristian Borja, e uma excelente arrancada de Zé Roberto, que ele perdeu para seus próprios pés. Mas ambas serviram apenas para encher os olhos da torcida. Mesmo com a posterior entrada de Carlos Alberto (no lugar de Nunes), os vascaínos seguiram tendo sua forte presença na intermediária adversária esvaída por falta de objetividade, causada principalmente pela ausência de ritmo de jogo de seu trio ofensivo. A ansiedade por belas jogadas foi tanta que até o esforçado lateral-direita Irrazábal decidiu se aventurar em lances inusitados. Mas, após um erro grosseiro que quase gerou contra-ataque flamenguista, o técnico Paulo César Gusmão decidiu trocá-lo por Fagner. Uma forma de castigar alguns momentos nos quais sua equipe recorria a um preciosismo irritante.

O Flamengo seguia chegando com perigo nos contra-ataques, e contou com a queda de produção dos laterais do Vasco (Irrazábal e Carlinhos) no tempo final. As investidas pelas laterais faziam surgir buracos na defesa vascaína, mas o poder ofensivo flamenguista se revelava bastante esburacado. A troca de Kléberson por Fernando pouco acrescentou ao meio-de-campo, pois o jogador que entrou tem características mais defensivas e continuou a deixar Williams sobrecarregado na criação de jogadas. Petkovic só era notado ao partir para cobrar escanteio, e o único momento mais perigoso no córner foi aos 11 minutos, quando a bola desviou em Jean e sobrou para Val Baiano, que chutou, mas a bola balançou por fora da rede.

Na tentativa de deixar seu time mais leve, Rogério Lourenço colocou em campo o meia-atacante Vinícius Pacheco e o meia Michael. Mas só a primeira alteração teve algum mérito - afinal, Val Baiano mais uma vez comprovou a desconfiança da torcida em relação a seu peso e sua qualidade. Retirar Williams de campo apenas rendeu mais um momento no qual foi chamado de "burro" pelos torcedores. Por mais que ele estivesse cansado por ser elevado a curinga da equipe, talvez fosse mais interessante sacar Corrêa, que jogou boa parte dos 90 minutos sentindo uma contusão no pé. A coisa piorou porque Michael não acrescentou muita coisa à equipe

Paulo César Gusmão também recorrera à velocidade, quando tirou o desgastado Felipe para promover a estreia do atacante Éder Luís. E o jogo, que a cada minuto parecia mais cadenciado, acelerou de maneira impressionante. Para trazer ainda mais um episódio imprevisível para o Maracanã. Com a partida cada vez mais aberta, o gol parecia iminente, o mistério era apenas saber se Flamengo ou Vasco abriria o marcador. Só que o Clássico dos Milhões reservava a consagração para debaixo das traves dos dois lados.

Promovido a titular após a acusação que levou à prisão de Bruno, camisa 1 da equipe, Marcelo Lomba fazia seu primeiro duelo com o Vasco na função de goleiro dos profissionais do Flamengo. E ele evitou duas boas oportunidades do adversário - a primeira aos 32, ao sair nos pés de Fagner, e a segunda aos 34, quando evitou chute rasteiro de Éder Luís.

Mas, aos 41 minutos do segundo tempo, começava a redenção da meta vascaína, no grande anticlímax do Maracanã. Vinícius Pacheco recebeu de Juan e chutou. Fernando Prass defendeu parcialmente, e ofereceu a Cristian Borja o clímax de apresentar mais um "Efeito Bujica" ao Maracanã (no Campeonato Brasileiro de 1989, o desacreditado atacante do Flamengo que entrara como titular, em substituição, a Zico se tornou herói por um dia ao, no primeiro confronto de Bebeto contra seu ex-clube, marcar os dois gols que deram a vitória rubro-negra por 2 a 0 sobre o Vasco). O colombiano Borja, diante do gol vazio, deixou o zagueiro Fernando no chão e chutou a chance de sua consagração. Mas ela parou numa defesa de reflexo de Fernando Prass. No rebote, Juan cabeceou, e novamente Prass salvou, jogando a bola para a linha de fundo.

Aos 48 minutos do segundo tempo, Fernando Prass sacramentou sua atuação, ao fazer uma boa defesa em cobrança de falta venenosa de Petkovic. O silêncio da torcida rubro-negra ao ver que a bola de Pet não balançou a rede se contrastou com o alívio de um goleiro que em boa parte do ano de 2010 passou por momentos de desconfiança, pois não ia bem em saídas de gol e não demonstrava seguranças em cobranças de pênalti.

Nas nuances paradoxais deste Flamengo e Vasco, não soa estranho dizer que o jogo foi tão emocionante que mereceu até a ausência de gols. Seria muito triste que uma das equipes estivesse em vantagem em algum momento no Maracanã. Por um equilíbrio tortuoso que só acontece no futebol, flamenguistas e vascaínos mediram forças, e viveram amor e ódio em 90 minutos que podem não ter sido de grande qualidade futebolística, mas deixarão muitas lembranças pelos próximos três anos de ausência do clássico no estádio, devido às obras para a Copa do Mundo de 2014.


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O tempo e o placar... elege o que houve de melhor e de pior na rodada do Brasileirão.

O CHUTAÇO

Execrado no São Paulo, o atacante WASHINGTON chegou ao Fluminense e em apenas uma partida mostrou que seu antigo clube tricolor errou ao não dar oportunidade para o seu futebol. Dois gols marcados, um belo passe para Emerson fazer o gol dele e toda uma expectativa para o tricolor das Laranjeiras, novamente líder do Campeonato Brasileiro.

A FURADA

A falta de pontaria do GRÊMIO PRUDENTE não fica restrita a um jogador. A equipe teve duas chances quase consecutivas de conseguir um heroico empate diante do Santos (que, mesmo com um time misto, supera em qualidade muitas equipes do futebol brasileiro), mas Paulo César e Robson colocaram mais três pontos a perder.

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