quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Bolívar, o libertador colorado
Análise de quarta: Chivas Guadalajara (MEX) 1 x 2 Internacional (Estádio Omlife, 21h50 de Brasília)
No início do século XIX, o venezuelano Simón Bolívar ficou marcado na história por ser um dos grandes líderes de movimentos de independência da América do Sul e da América Central. O militar participou das independências de Venezuela, Peru, Bolívia, Colômbia e Panamá, e está associado ao mesmo honroso grupo de José de San Martin, Bernard O'Higgins, José Gervásio Artigas, Antônio José de Sucre, José Joaquin de Olmedo, José Miguel Carrera e Manuel Belgrano. Por deixarem a América independente de suas metrópoles, todos são reconhecidos como "Libertadores da América". Dois séculos depois, este se tornou o título da competição de futebol mais importante da América do Sul. E na edição de número 50 da Taça Libertadores da América, o sobrenome Bolívar voltou a surgir no cenário sul-americano.
No entanto, em vez de Caracas, a capital da Venezuela, a terra natal do novo Bolívar é Santa Cruz do Sul, no interior do Rio Grande do Sul. Enquanto Simón Bolívar era militar, Fabian Guedes (de apelido Bolívar) é o zagueiro do Internacional, time brasileiro que está na decisão do torneio sul-americano.O revolucionário liderou a luta pelas independências, e o jogador de futebol é o capitão do colorado, que luta pelo seu segundo título na Libertadores. Ambos usaram a cabeça por seus ideais. O venezuelano, ao ter as ideias que contribuíram para a libertação do continente americano. O brasileiro, pela cabeçada que desviou para a rede o segundo e decisivo gol na vitória de virada sobre o Chivas Guadalajara por 2 a 1, no México, território inimigo e cercado de percalços.
O primeiro que o Internacional enfrentou foi o tipo de gramado do Estádio Omnilife. Com a grama sintética, a bola corria com ainda mais velocidade, e jogadores que não tinham o costume de atuar neste tipo de campo poderiam sofrer ainda mais dificuldades para tocar a bola. Os colorados superaram. Tanto que dominaram a primeira etapa.
Grande volume de jogo e uma troca de passes intensa, comprovando que nem mesmo artimanhas escusas (típicas de jogos na Libertadores) como optar por um estádio com gramado não muito convencional para partidas de futebol conseguem superar o bom futebol. O Inter pressionava no ataque, apostando tanto no poder ofensivo do meia D' Alessandro quanto nos seus homens de frente, Taison e Alecsandro. Mas também apareciam com perigo seus bons laterais - Nei, na direita e, em especial, Kléber no lado esquerdo.
De Kléber veio o primeiro sobressalto dos torcedores gaúchos. Aos cinco minutos, ele recebeu passe de Taison e chutou da esquerda. A bola passou pelo goleiro Michel mas parou na trave direita. Aos 29, foi a vez do travessão impedir que o Internacional abrisse o placar, em boa cobrança de falta de Alecsandro.
A partida se desenhava de maneira atípica para um jogo de Libertadores que ocorria fora do Brasil. Mandante do jogo, o Chivas Guadalajara se via obrigado a ficar fechado na defesa, e o fazia com certa eficácia. Embora o Inter tivesse bastante posse de bola, os arremates ao gol foram escassos. O panorama ainda ficou mais complicado neste setor aos 33 minutos. Alecsandro, o atacante mais presente na área (Taison tem a característica de buscar mais as jogadas), saiu de campo contundido. Celso Roth colocou Everton no jogo.
A ausência de Alecsandro, aliada à aposta arriscada de depender do faro de gol de um reforço recém-contratado por ter feito um bom Campeonato Gaúcho pelo modesto Caxias eram empecilhos dignos de apreensão. Mas ainda faltava a ação negativa do segundo grande percalço da noite. O árbitro argentino Hector Baldassi é conhecido no futebol sul-americano por sua conduta um tanto quanto polêmica. Ele não tem o hábito de dar muitas faltas, deixa o jogo correr e, em alguns momentos, não tem pulso firme para tomar decisões sensatas. Como ocorreu durante o primeiro tempo. A bola estava na esquerda, com Kléber, mas Bautista deu uma cotovelada em D' Alessandro no meio do campo. Baldassi apenas advertiu verbalmente o jogador mexicano.
O mesmo jogador que começaria a mudar a história da decisão da Taça Libertadores da América. Os guerreiros colorados, que até então tinham feito uma partida impecável no sistema defensivo, permitiram que Fabián avançasse na direita, nas costas de Kléber. O meia mexicano cruzou, a zaga da equipe gaúcha ficou indecisa e, ao alcance dos olhos do capitão Bolívar, Bautista cabeceou de fora da área. Renan, mal posicionado, foi encoberto pela cabeçada. 1 a 0 Chivas Guadalajara, aos 46 minutos. E o time de Celso Roth ia para o intervalo com mais este percalço: a certeza de ter jogado melhor mas, num deslize, sair de campo com a desvantagem no placar.
O início do segundo tempo trouxe o mesmo panorama dos 45 minutos iniciais. O Internacional com mais posse de bola, mas sem capacidade de fazê-la chegar próximo à área. Tranquilo graças ao gol "achado" no finzinho da primeira etapa, o Chivas Guadalajara seguia na defesa, à espera dos contra-ataques para aniquilar a partida. Mesma tática bem-sucedida em boa parte de seu trajeto até a final da Libertadores. À exceção da semifinal contra o Universidad de Chile (na qual a equipe venceu o segundo jogo após um empate no primeiro confronto), o time mexicano eliminou, na ordem, o argentino Vélez Sarsifield e o peruano Alianza de Lima no saldo de gols, após ter feito uma vantagem de 3 a 0 no primeiro duelo contra cada equipe. A vontade de se fechar chegou ao técnico Jose Luis Real, que sacou o atacante Arellano para promover a entrada do volante Araujo na metade do segundo tempo.
Naquela altura, o Internacional padecia com seu poder de fogo inofensivo, a ponto dos chutes não saírem dos pés de seus atacantes. As oportunidades vieram com o lateral Nei, o volante Guiñazu e numa belíssima tentativa do meia D' Alessandro, em chute que passou rente à trave de Michel. Impaciente, Celso Roth tirou Everton, que se revelara incapaz de substituir Alecsandro à altura, e pôs em campo Rafael Sóbis. Um atacante habilidoso, e que, mesmo sem ritmo de jogo, sabe atrair a marcação adversária e aparece mais constantemente na área.
A presença dele fez a diferença dois minutos depois de entrar em campo. Com Taison e Rafael Sóbis na área, a zaga mexicana se descuidou pela primeira vez num cruzamento colorado. E o então apagado Giuliano (que começou a partida como titular porque Tinga foi expulso no jogo com o São Paulo) apareceu livre para desviar de cabeça a bola perfeitamente centrada por Kléber. 1 a 1, aos 28 minutos.
O empate soava como um bom resultado, pela vantagem de precisar de apenas uma vitória simples no confronto decisivo do Beira-Rio. E, em especial, pela carência de poder ofensivo que o Inter apresentava no México. Mas, na trajetória da Libertadores da América, estava escrito que um Bolívar voltaria a se destacar. Desta vez, na competição que leva para o futebol a homenagem ao militar Simón Bolívar.
Nei avançou na direita e sofreu falta. Na cobrança, D' Alessandro cruzou, Índio cabeceou na esquerda, e a bola chegou para Bolívar, no meio da área, desviar para o fundo da rede de Michel. 2 a 1 Internacional, aos 31 minutos. O capitão Bolívar libertava o esquadrão colorado do dissabor de não sair vitorioso de uma partida na qual sobrava em campo.
Os colorados ainda passaram os últimos minutos resguardando sua área, e Celso Roth chegou a deixar seu time mais defensivo, ao trocar Taison pelo volante Wilson Mathias. Só que nem as entradas de Escarlate e Dávila, respectivamente nos lugares de Fabián e Baéz, fez com que o Chivas Guadalajara voltasse a encontrar o caminho do gol. Não bastasse o esquema defensivo que propôs para sua equipe a partir da metade do segundo tempo, Jose Luis Real ainda escalou o perigoso Bautista, que era quarto homem do meio-de-campo no início do jogo, entre os zagueiros. E a dupla de zaga Índio e Bolívar demonstrou bastante segurança durante os 90 minutos.
Passados os percalços do México, o Internacional reencontra o Chivas Guadalajara na próxima quarta-feira, desta vez em território brasileiro, para a finalíssima da Taça Libertadores da América. O time tem a vantagem do empate - por ser a decisão da competição, o critério de "gol marcado fora de casa" das fases anteriores é descartado. O Chivas só é campeão direto se vencer por dois gols de diferença. Em caso de vitória por um gol da equipe mexicana, o jogo irá para a prorrogação e, persistindo o empate, o campeão aparecerá depois da disputa de pênaltis.
Entretanto, certamente no voo do retorno ao Rio Grande do Sul, o Internacional não deixou que a euforia da vitória do primeiro jogo embarcasse - em especial porque, na semifinal, o Chivas Guadalajara se classificou com uma vitória por 2 a 0 sobre a sensação do torneio, a Universidad de Chile, com uma vitória em Santiago, compensando um empate em 1 a 1 no México. O time de Celso Roth sabe que um resultado positivo virá somente se a equipe gaúcha atuar com a mesma seriedade apresentada em território mexicano.
Cabe ao Inter manter a Taça Libertadores na América do Sul. E será ainda mais simbólico para os latino-americanos ver um troféu ser erguido das mãos de um Bolívar. Do Bolívar, capitão do Internacional.
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