quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Meninos do Brasil
Análise de jogo: Estados Unidos 0 x 2 Brasil (21h de Brasília, New Meadowlands, Nova Jersey, Estados Unidos)
Aos que defendiam a ideia de que jogadores jovens, por mais que estivessem voando em seus clubes, tremeriam com a camisa da Seleção Brasileira, o primeiro jogo da Era Mano Menezes provou o contrário. Um time leve, com troca de passes rápidas e envolventes, cruzamentos precisos e uma tentativa constante de se lançar ao ataque. Coisas que pareciam distantes da realidade do futebol brasileiro alguns anos atrás.
Mas que insistiram em continuar nos primeiros momentos da partida contra os Estados Unidos - ironicamente, através dos pés de Daniel Alves, um dos poucos remanescentes do grupo de convocados para a Copa do Mundo de 2010. Agora escalado em sua posição de origem (a lateral-direita), o jogador errou por duas vezes na saída de bola e permitiu contra-ataques do adversário. O risco ficava ainda maior porque, ao contrário da renovação da Seleção Brasileira, Bob Bradley convocou 15 dos 23 presentes no torneio da África do Sul. O entrosamento entre eles poderia fazer a diferença.
Passados os primeiros sustos da saída de bola e o momento em que Donovan chegou cara a cara com Victor mas, na hora decisiva, André Santos chutou para escanteio, aos poucos o Brasil foi se encontrando. E da maneira mais óbvia que o Brasil sabe se conhecer no gramado: através do toque de bola. A presença brasileira no ataque era constante, e se transformou em boas conclusões de André Santos e Neymar.
Os 77 mil torcedores presentes no Estádio New Meadowlands, em Nova Jersey, viam que os jogadores da Seleção Brasileira se posicionavam conforme o jogo se desenhava. Muitas vezes, os rascunhos vinham dos pés de Paulo Henrique Ganso (merecidamente camisa 10 do time de Mano Menezes) para um trio de ataque no qual Alexandre Pato atacava pelo meio e Robinho e Neymar seguiam pelas pontas.
E da ponta-esquerda veio o primeiro gol brasileiro. Com nova ironia em relação ao ex-técnico Dunga. André Santos, que foi mal na lateral-esquerda brasileira durante a Copa das Confederações de 2009, aproveitou um belo passe de Robinho cruzando a bola da linha de fundo (local no qual ele não ia geralmente nas convocações anteriores) para o meio da área. Neymar subiu entre os zagueiros e desviou de cabeça, sem defesa para Howard. 1 a 0 Brasil, aos 27 minutos.
Mesmo com o gol, o Brasil prosseguiu no domínio das ações, e chegou a balançar a rede três minutos depois, quando Daniel Alves cruzou e Alexandre Pato marcou. Mas o gol foi anulado, porque Pato fez falta no goleiro. A Seleção Brasileira mostrava um entrosamento atípico para uma seleção com jogadores das mais variadas equipes que se encontraram em tão pouco tempo. A zaga formada por Thiago Silva e David Luiz demonstrava muita segurança, tanta que os Estados Unidos só conseguiam chegar com perigo através de cobranças de bola parada.
O time brasileiro perdeu duas oportunidades com Robinho (ambas defendidas por Howard) antes de chegar ao seu segundo gol. Do meio-de-campo, Paulo Henrique Ganso jogou para Ramires. O camisa 8 lançou, a zaga americana ficou parada, e Alexandre Pato correu até a área. O atacante driblou Howard e chutou para o fundo da rede. Desta vez, ele pôde comemorar. 2 a 0 Brasil, aos 45.
Logo aos 40 segundos da segunda etapa, o Brasil passou perto de marcar pela terceira vez, em chute de Alexandre Pato que balançou por fora da rede. Minutos depois, Robinho aproveitou um rebote de jogada na área e chutou uma bola na trave. Apesar da vantagem, os brasileiros insistiam no ataque, mesmo com o risco de dar margem a contra-ataques adversários.
Envolvidos na partida, os americanos continuaram a ter suas tentativas restritas à bola parada. Foi assim que conseguiram um gol, quando Donovan cobrou falta e Bradley desviou para a rede. No entanto, o zagueiro estava em impedimento, e o gol foi anulado. No restante da partida, o goleiro Victor foi citado apenas no fim, quando defendeu com os pés um chute de Gomez.
Mano Menezes aos poucos abriu espaço para os demais jogadores de sua seleção. Primeiro André, que entrou no lugar de Alexandre Pato. Depois, Hernanes em lugar de Ramires. Em seguida, Neymar (contrariando muitos prognósticos que previam que seu deslumbre falaria mais alto, um dos melhores em campo, apresentando mobilidade e presença de jogo superiores até a algumas atuações de destaque que teve no Santos) saiu para a entrada de Ederson. Mas sua estreia destoou de todos, não pela falta de qualidade, mas por ser o momento triste da Seleção Brasileira na noite. Logo na primeira tentativa de cruzar para a área, ele sofreu uma distensão muscular, e seu sonho durou um minuto. Em seu lugar, entrou Carlos Eduardo.
O Brasil seguiu afinado, jogando com calma em busca de tentativas ofensivas. O ritmocontinuava ditado por Paulo Henrique Ganso, que durante o período em que esteve em campo apresentou maturidade semelhante à que tinha sido mostrada com a camisa do Santos neste ano. Digno de um camisa 10.
O gol não ter vindo soou mais como um capricho do futebol. Oportunidades vieram com André e Carlos Eduardo, que resultaram em boas defesas de Guzan (goleiro que substituiu Howard no segundo tempo), e num chutaço de Paulo Henrique Ganso que parou na trave. Sem contar com o completo domínio do Brasil, mesmo depois que fez outras duas substituições - Diego Tardelli em lugar de Robinho e Jucilei substituindo Paulo Henrique Ganso. Um selecionado no qual titulares e reservas têm talentos quase equivalentes dá margem para esta situação.
Ao final da partida, a estreia de Mano Menezes mostrou uma Seleção Brasileira na qual todos os setores tiveram comprometimento com o bom futebol e coerência de uma equipe que prioriza a categoria e a busca pelo gol. Um goleiro com segurança. Dois laterais que sobem e fazem jogadas também até a linha de fundo adversária (fato incomum no atual cenário). Uma dupla de zaga confiável, capaz de rechaçar com tranquilidade o poder ofensivo adversário. Um meio-de-campo no qual os volantes são tão habilidosos quanto os meias de criação. Tudo para um ataque irresistível e promissor.
Dos "meninos do Brasil", veio todo o ensinamento de como a Seleção Brasileira consegue jogar um futebol que prioriza o talento. Mais do que um resgate às tradições brasileiras dentro de campo, a Era Mano Menezes promete olhar para um futuro de bons tratos à bola. E que a força bruta seja, a partir de agora, apenas uma velharia na história futebolística do Brasil.
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