quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Pés atados
Análise de quarta: São Paulo 0 x 0 Vasco (22h, Morumbi)
Pouco mais de 10 mil pessoas tiveram disposição para assistir ao embate entre São Paulo e Vasco no Morumbi. De quente, apenas a noite paulistana, em momento atípico de veranico em pleno inverno. No gramado, sobrou apenas a frieza do mau panorama do confronto duas equipes que estão de pés atados diante de suas limitações. Os são-paulinos, em meio a uma crise na qual a torcida vê, depois de anos disputando títulos, um grupo de jogadores limitados e em má fase. Apesar da motivação da equipe estar em ascensão no Campeonato Brasileiro, os vascaínos a cada partida penam com a falta de um centroavante de ofício, capaz de transformar as jogadas em gol. Os zeros no placar soaram como justos para ambos os lados.
Poder de finalização é o que não falta ao São Paulo, pois tem o oportunista Ricardo Oliveira em seu ataque. Entretanto, os jogadores que restaram para a disputa do Brasileirão ainda não encontraram entrosamento suficiente para formar um time ao menos competitivo. O companheiro de ataque de Ricardo Oliveira, Fernandinho, continua com o mau hábito de prender a bola de maneira excessiva. No meio-de-campo, Casemiro tem certa qualidade na marcação mas, assim como Rodrigo Souto, padece de uma melhor troca de passes. Deslocar Richarlyson para ficar mais próximo do ataque soa como desespero, diante da timidez que ele vem apresentando ao tentar jogadas. A aposta no jovem Marcelinho é válida, ele tem potencial, só que não pode ser "queimado" com a responsabilidade de ser o único a pensar com habilidade do tricolor paulista. Em especial se os laterais Jean e Júnior César não aparecem de maneira incisiva.
O Vasco se desenha de maneira oposta à atual situação do time paulista. Há homens com boa qualidade para a troca de passes e o início de jogadas, como Felipe, Zé Roberto e Éder Luís. No entanto, quando os dois últimos são os atacantes da equipe, revela-se uma carência na finalização. Ambos têm velocidade e um bom poder de buscar jogadas rumo ao ataque. Só que passam longe da área adversária, e não representam tanto perigo para os zagueiros.
Neste contexto, aliado ao fato de o São Paulo ser o mandante da partida, desde o início só o tricolor paulista chegou perto do gol. A primeira chance, aos três minutos, quando Ricardo Oliveira chutou e Fernando Prass, diante do atacante são-paulino, fez ótima defesa. Ainda na primeira etapa, Oliveira teve outras duas oportunidades - uma defendida por Prass e outra rebatida pelo zagueiro Fernando. Uma bola no travessão em cobrança de falta de Jean completou o repertório de chutes a gol dos são-paulinos.
Os vascaínos armaram uma estratégia interessante de contra-ataque, e seu esquema estava previsto para oscilar entre o 3-5-2 quando era atacado e o 4-4-2 quando organizava jogadas ofensivas. Mas duas falhas afetaram o desempenho na frente. A insistência do técnico Paulo César Gusmão em escalar Felipe na lateral-esquerda não só deixou a saída de bola mais lenta como também a ausência de ritmo de jogo comprometeu seus bons passes. Outro problema foi gerado pelo desfalque de Carlos Alberto (cumprindo um jogo de suspensão, depois do STJD condená-lo a duas partidas sem atuar, devido à expulsão contra o Vitória da Bahia). A opção de escalar Allan para a posição rendeu em velocidade, mas o camisa 35 se revelou muito atabalhoado nas jogadas, tropeçando em seus erros e atrapalhando algumas boas oportunidades. Éder Luís e Zé Roberto apenas recebiam bolas lançadas sem qualquer direção - a maioria rechaçada pelos zagueiros. De qualquer forma, a boa atuação defensiva dos zagueiros Dedé e Fernando, do "zagueiro-volante" Nílton e dos volantes Rafael Carioca e Rômulo levaram para o intervalo o alívio de o time não ter tomado gols.
Os dois treinadores voltaram com substituições para o segundo tempo. No Vasco, Paulo César Gusmão tentou melhorar os passes, tirando Allan para colocar Fumagalli. No São Paulo, Sérgio Baresi trocou o volante Casemiro por Carlinhos Paraíba, na tentativa dele ser mais um homem com qualidade de passe no meio-de-campo. Contundido, Ricardo Oliveira deu lugar a Fernandão. O time perderia qualidade na finalização, mas ganharia uma ótima opção para jogadas aéreas.
A tentativa aérea apareceu antes do primeiro minuto. Júnior César cruzou, Fernandão e o zagueiro vascaíno Fernando foram para a bola, e o atacante do São Paulo caiu na área, pedindo pênalti. O árbitro Carlos Eugênio Simon não marcou. O São Paulo seguiu chutando de qualquer lugar da intermediária vascaína, mas nenhuma delas tinha perigo suficiente para acionar Fernando Prass.
Rogério Ceni se limitava a repor a bola em tiros de meta ou a receber recuos da zaga são-paulina, que via uma atuação segura da dupla Xandão e Miranda. Afinal, a única chance frontal ao seu gol foi desperdiçada pela falta de domínio de Fumagalli, que não aproveitou o bom passe de Fagner.
Sérgio Baresi fez sua última alteração, depois de mais uma tentativa de ataque de Fernandinho se perder por sua insistência em prender a bola. O camisa 12 saiu para a entrada de Dagoberto, jogador cuja escalação foi praticamente imposta pelos chefes de torcidas organizadas, que entraram no Centro de Treinamento do clube durante a semana para tirar satisfações com atletas e o treinador. Ele tentou algumas tabelas com Marcelinho e Fernandão, mas não conseguiu acrescentar muito ao time.
Paulo César Gusmão quis dar velocidade à equipe, trocando Zé Roberto por Jonathan. Mas o lateral-direita Fagner continuava preso à marcação (e tinha bons momentos diante do ataque adversário), enquanto Nílton se atrapalhava toda vez que arriscava uma jogada ofensiva e Fumagalli não acertava um passe sequer. Sobrava ficar à espera de disputar uma bola rechaçada. Nos minutos finais, Felipe, cansado, pediu para sair. Em seu lugar, entrou Irrazábal, que compôs de maneira convincente a lateral-esquerda e até arriscou algumas tentativas ofensivas, mas não de maneira suficiente para conseguir mudar o panorama vascaíno.
O empate em 0 a 0 foi visto com certo alívio pelos vascaínos. O Vasco ganhou um ponto fora de casa, diante do tradicional rival São Paulo, após uma partida na qual foi dominado durante os 90 minutos. Mas estes não são argumentos suficientes para deixar de lado os problemas que a equipe ainda apresenta. A má forma de Felipe continua a interferir no bom andamento das jogadas ofensivas, com erros constantes de passes e falta de fôlego tanto para ser ala quanto para ajudar os demais companheiros. Por mais que Zé Roberto e Éder Luís sigam incansáveis, a falta de um jogador com a função de colocar a bola na rede torna inútil toda qualidade que a equipe vascaína agora tem na sua parte ofensiva - que tire do zero ao menos o número de finalizações num jogo. Além disto, a dependência da presença de Carlos Alberto permanece no time do Vasco, mesmo com tantas contratações.
Mas, sem dúvida, o placar de 0 a 0 chegou com a força de uma derrota para o São Paulo. Nem tanto pelo adversário que encontrou em campo, e sim pelas chances perdidas durante a partida (a maior delas com Fernandão, a quatro minutos do fim, defendida com reflexo por Fernando Prass). A iminência de se aproximar da zona de rebaixamento vem de maneira intensa. Com um elenco cada vez mais retaliado - e, o que é pior, pela saída em massa de jogadores que não corresponderam - o tricolor paulista está às vésperas do fim do primeiro turno do Campeonato Brasileiro sem padrão de jogo e até mesmo sem um treinador (Sérgio Baresi foi contratado para ser interino). Ao final da partida, o clube ainda amargou ouvir a torcida dar gritos de "ão, ão, ão, Segunda Divisão". Bem, pelo menos por enquanto, a certeza da Série B ainda está restrita aos gritos da arquibancada.
SÃO PAULO 0 x 0 VASCO
Estádio: Morumbi
Renda e Público: R$ 226.723,59 / 10.802 pagantes
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (FIFA-RS) / Auxiliares: Paulo Ricardo Silva Conceição (RS) e Julio Cesar Rodrigues Santos (RS).
Cartão amarelo: Rômulo e Dedé (Vasco).
SÃO PAULO - Rogério Ceni; Jean, Xandão, Miranda e Junior Cesar; Casemiro (Carlinhos Paraíba), Rodrigo Souto, Richarlyson e Marcelinho; Fernandinho (Dagoberto) e Ricardo Oliveira (Fernandão). Técnico: Sérgio Baresi.
VASCO - Fernando Prass, Dedé, Fernando e Nílton; Fagner, Rafael Carioca, Rômulo, Allan (Fumagalli) e Felipe (Irrazábal); Zé Roberto (Jonathan) e Éder Luís. Técnico: Paulo César Gusmão.
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