sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ataque à empáfia



Análise de jogo: São Paulo 2 x 1 Internacional (21h50, Morumbi)

A filosofia de que restringir sua vontade de atacar à partida na qual a equipe atua como mandante num torneio "mata-mata" caiu por terra na noite do Morumbi. Após os 90 minutos extremamente defensivos do jogo do Beira-Rio (no qual saiu derrotado "apenas por 1 a 0"), o São Paulo venceu o jogo da capital paulista, mas foi eliminado da Taça Libertadores da América pelo Internacional, um time que simplesmente decidiu jogar seu futebol nos dois duelos.

Tanto que os primeiros minutos trouxeram a contradição típica de um jogo decisivo. Com esquema bastante ofensivo, ao ponto de Fernandão atuar recuado no meio-de-campo para servir o ataque formado por Dagoberto e Ricardo Oliveira, o time são-paulino cercou a área colorada com trocas de passes e cruzamentos, mas nenhum chegava a assustar o goleiro Renan no início da partida. Em vez de manter sua equipe na defesa, Celso Roth tinha apostado na qualidade de passe de D' Alessandro e Tinga para que os gaúchos criassem jogadas de perigo. As primeiras conclusões em direção ao gol vieram dos atacantes colorados - Alecsandro, aos 14, e Taison, aos 21, ambos defendidos por Rogério Ceni.

Enquanto o goleiro são-paulino transmitia toda sua segurança, do gol do Internacional vinha a expectativa para que a mancha da atuação do tricolor paulista em Porto Alegre tivesse sido apenas uma história sem importância na competição. Hernanes cobrou uma falta com um lançamento para a área. Renan tentou encaixar a bola, mas ela quicou em suas mãos e foi para trás, em direção à rede. Em dividida com um jogador adversário, o zagueiro Alex Silva empurrou para o gol. 1 a 0 São Paulo, aos 30. E, com o resultado do primeiro tempo, a decisão iria para as penalidades máximas.

A segunda etapa começou com uma promessa ainda maior de emoção. E, aos seis minutos, começou a fazer diferença o fato de um visitante alternar entre a defesa e o ataque, mesmo não atuando em casa. Numa das tentativas do time gaúcho, o árbitro Carlos Amarilla marcou falta sobre Taison. D' Alessandro cobrou, a bola desviou na zaga são-paulina e sobrou para Alecsandro, que chutou fora do alcance de Rogério Ceni. 1 a 1, aos seis minutos.

A falha de Renan, àquela altura, parecia perdoada. Só que o São Paulo não perdoou um erro grosseiro da defesa do Internacional. Jean cruzou, o goleiro colorado rebateu a bola com um soco e, na intermediária, uma dividida entre Cléber Santana e Alecsandro espirrou nos pés de Ricardo Oliveira. O jogador, livre e sem impedimento dentro da área, chutou na saída de Renan. 2 a 1 São Paulo, dois minutos depois.

Mas nem mesmo o fato de voltar a ficar a um gol da desclassificação tirou o ímpeto de ataque do Internacional. Até mesmo Sandro, que se desdobrava e era a figura de destaque do setor defensivo, arriscou-se na frente. O volante cruzou da direita, na medida para Tinga marcar. Só que Jean salvou em cima da linha a possibilidade de um novo empate.

À medida que o tempo passava, o jogo se desenhava ainda mais típico de uma boa partida, na qual as duas equipes queriam o gol. Movido à ansiedade e aos gritos da maioria dos 57 mil torcedores que estavam no Morumbi, o São Paulo partia, liderado pela habilidade de Hernanes, que dava passes primorosos e arriscava bons chutes. Mas o camisa 10 não conseguia resolver as coisas sozinho, e Ricardo Gomes decidiu alterar sua equipe. Com Fernandão atuando cada vez mais como terceiro atacante, a solução foi deixar o meio-de-campo mais ofensivo. Cléber Santana foi substituído por Marlos, que deu mais velocidade nas jogadas e chegou arriscar de fora da área, para boa defesa de Renan.

A postura agressiva ficou ainda maior depois de dois momentos irresponsáveis do meia Tinga. Primeiro, ao ficar na grande área e impedir que Rogério Ceni colocasse a bola em jogo novamente - o que rendeu um cartão amarelo. E, minutos depois, ao dar um carrinho em Júnior César e levar seu segundo cartão amarelo na noite. O Inter passaria os últimos minutos com um a menos.

Ricardo Gomes colocou sangue novo na frente tricolor, trocando o desgastado Dagoberto por Fernandinho, e o meia Cléber Santana por Marcelinho Paraíba. Celso Roth manteve sua rotina de substituir D' Alessandro por Giuliano, e o Internacional prosseguiu com boas opções de contra-ataque rápido. Somente no fim o técnico optou por fechar seu time na defesa, sacando o atacante Taison para promover a entrada do volante Wilson Mathias.

Os são-paulinos desperdiçaram sucessivas oportunidades, como as de Marlos e Fernandão, até que tiveram sua última chance num cruzamento de Jean. Na sobra, Fernandão conseguiu ganhar um escanteio. Entretanto, a tentativa de malandragem de Rogério Ceni (que partiu em direção à área adversária para ter mais uma chance de gol) prejudicou o São Paulo. O goleiro tentou atrapalhar seu colega Renan a se mexer na hora da cobrança, e, depois dele dar um empurrão, o árbitro Carlos Amarilla marcou falta.

Na empáfia de seu camisa 1, o São Paulo teve seu momento derradeiro na Taça Libertadores da América de 2010. A soberba de um clube que insinuava ter o melhor elenco do país foi diluída pela maneira errônea como encarou a semifinal da competição. A bola costuma punir equipes que se apequenam em torno de sua própria área de maneira severa. E a consequência veio na partida do Morumbi, quando o setor defensivo novamente deixou passar um gol do Internacional.

O time colorado parece viver em estado de graça. Não bastasse o fato da primeira derrota sob o comando de Celso Roth ter o sabor de vitória, o Inter está classificado tanto para a final da competição sul-americana quanto para a disputa do Mundial de Clubes. Como é representante do México, país convidado, seu adversário Chivas Guadalajara não pode competir no torneio de dezembro (os mexicanos já têm seu representante no Mundial, o vencedor da Concacaf, que em 2010 será o Pachuca). Será que o mundo do futebol voltará a ser pintado em vermelho e branco no final do ano?

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