quinta-feira, 2 de abril de 2009

Redenção de verdade



Na noite do retorno de Kaká aos gramados, a Seleção Brasileira retornou a achar o caminho das vitórias nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Nesta quarta-feira, no Estádio Beira-Rio, o Brasil saiu de campo com uma vitória por 3 a 0 sobre o Peru, com dois gols de Luís Fabiano e um de Felipe Melo.

Depois da atuação criticada no empate com o Equador, em Quito, o Brasil voltou a gramados nacionais num cenário muito especial para o treinador Dunga. No Beira-Rio, estádio do Internacional (time pelo qual deu os primeiros passos de sua carreira), o ex-jogador agora voltava a Porto Alegre com um desafio ainda maior do que combater os atacantes adversários: fazer com que a estratégia dos seus 11 jogadores acabasse com as intenções de vitória dos 11 atletas peruanos. A festa do Beira-Rio (que, no próximo dia 6, completa 40 anos de sua inauguração) trouxe outras homenagens à cultura gaúcha - a presença de mulheres vestidas de prenda e de homens vestidos com roupas típicas do Rio Grande do Sul, e o Hino Nacional Brasileiro ser tocado ao som das sanfonas de Renato Borghetti, Borghettinho e Luiz Carlos Borges.

Logo no início da partida, Kaká mostrou o quanto sua presença (em boas condições de jogo, naturalmente) é importante para o meio-de-campo do Brasil. Foi dos pés do jogador do Milan que começou a primeira jogada (antes de um minuto de partida), neutralizada pela zaga do Peru. Com um minuto e 18, veio o primeiro chute na Seleção: Daniel Alves arriscou, mas a bola passou bem longe do gol. O Peru respondeu aos três, numa tentativa de Ramírez que foi para fora.

Aos quatro minutos, o primeiro grito de euforia da torcida foi abafado. Kaká encontrou Luís Fabiano livre, próximo da área. O atacante chegou à grande área, driblou o goleiro e tocou para o fundo das redes, mas a arbitragem assinalou impedimento. Três minutos depois, o camisa 9 perdeu a primeira chance clara da partida. Depois de receber bola na direita, ele chegou à pequena área, driblou o zagueiro e, mesmo sem ângulo, arriscou. A bola passou rente à linha do gol. Robinho ainda tentou aproveitar a sobra, mas o zagueiro conseguiu rechaçar a jogada.

Com 12 minutos de jogo, o Brasil sofreu uma baixa dentre seus jogadores. O zagueiro Luisão sentiu uma contusão, e teve de ser substituído. Em seu lugar, entrou Miranda, que faz sua estreia com a camisa amarelinha. Comprovando sua recuperação e, em especial, mostrando que sua qualidade é essencial à Seleção Brasileira, Kaká continuava tentando jogadas próximas da área. Em uma delas, o meia chegou livre na área, pela direita, e foi derrubado por Zambrano. Pênalti claro e bem marcado. Luís Fabiano cobrou rasteiro, à direita, sem chance para Butrón. 1 a 0 Brasil, aos 17.

Embalada pelo gol e pelo apoio da torcida, a Seleção quase ampliou a vantagem dois minutos depois. Em ótima jogada individual, Robinho passou por um zagueiro e arriscou de fora da área, mas a bola passou por cima do travessão. Aos 22, o camisa 11 recebeu na área e caiu pedindo pênalti, mas o árbitro argentino Sérgio Pezzotta mandou o jogo seguir.

A tendência constante da zaga peruana em fazer a "linha de impedimento" (tática de sempre dar um jeito dos atacantes ficarem em posição irregular na hora da conclusão) caiu por terra aos 26. Daniel Alves lançou para a área e encontrou Luís Fabiano, livre. Em impedimento não assinalado pelo bandeirinha, o atacante matou no peito e, com tranquilidade, fez 2 a 0 para a Seleção Brasileira.

Em último lugar na classificação das Eliminatórias da Copa do Mundo, a frágil seleção do Peru não oferecia resistência diante da Seleção Brasileira. Por três vezes, o Brasil chegou perto de marcar o terceiro - numa cobrança de falta de Elano para fora, aos 28, num cruzamento de Daniel Alves que não encontrou Luís Fabiano aos 30 e, aos 31, quando Miranda arrematou de cabeça uma cobrança de escanteio, mas a bola foi para fora.

Cinco minutos depois, Kaká teve sua primeira chance a gol. O camisa 10 arriscou um voleio depois de cruzamento de Daniel Alves, mas a bola passou por cima do travessão. Com 2 a 0 no placar, a torcida gaúcha começou a pedir o nome de Alexandre Pato aos 40 minutos. A Seleção Brasileira ainda teve algumas chances, mas a zaga peruana conseguiu evitar que o estrago fosse maior ao fim da primeira etapa.

Mesmo com os apelos da torcida, Dunga não colocou o jovem atacante em campo no intervalo. Nos primeiros minutos, o Brasil apresentou um ritmo mais cadenciado, em especial porque o adversário (mesmo aparecendo mais na área brasileira do que na etapa anterior) não oferecia nenhum perigo. As constantes firulas dos jogadores do meio-de-campo começaram a irritar a torcida. Somente aos 10 minutos veio a primeira chance: aproveitando cruzamento de Kléber (o lateral-esquerda foi escalado pouco antes do horário da partida, pois Marcelo sentiu uma contusão), Robinho entrou na área, com uma pedalada se livrou de um zagueiro peruano, mas concluiu para fora. Quatro minutos depois, Elano encontrou Luís Fabiano na área, mas a cabeçada do atacante foi salva pela mão de Butrón.

Aos 17, o Peru fez sua primeira alteração: saiu García para a entrada do volante Sanchez. Uma forma do técnico José del Solar evitar que uma goleada pudesse se desenhar em Porto Alegre. Mas de nada adiantou. Depois de um lance confuso com Kaká, Felipe Melo arrancou pela esquerda e encontrou a defesa do Peru esburacada. O volante entrou na área e tocou na saída de Butrón, fazendo 3 a 0 para a Seleção Brasileira, aos 19.

Dois minutos depois, veio o primeiro perigo para o gol brasileiro. Após uma falha de Gilberto Silva, Fano aproveitou que Júlio César estava adiantado e tentou o gol. O goleiro brasileiro triscou os dedos na bola, e conseguiu espalmá-la para, em seguida, a bola carimbar o travessão.

Aos 24 minutos, ambas as seleções tiveram alterações. No Peru, Solano deu lugar a Fernández. E Dunga, enfim, atendeu à solicitação dos gaúchos presentes no Beira-Rio. Alexandre Pato voltou a pisar no gramado do Internacional (clube no qual despontou para o futebol), no lugar de Robinho. Aos 29, Pato recebeu uma bola de Kaká, seu companheiro de Milan e, da linha de fundo, tentou cruzar para a pequena área, mas a bola parou nas mãos de Butrón.

A 14 minutos do fim, o técnico Dunga decidiu agradar a outra grande torcida do futebol gaúcho. Depois de agradar os colorados com a entrada de Pato, o treinador agradou os gremistas ao colocar em campo o ex-jogador do Grêmio Ronaldinho Gaúcho, que substituiu Elano. Com 34 minutos, o Peru fez nova alteração: o atacante Alva entrou no lugar de Rodríguez, para recompor um esquema ofensivo da equipe peruana.

Na reta final da partida, o Brasil voltou a recorrer a muitos toques de bola sem a menor objetividade - o que tornou a deixar a torcida do Rio Grande do Sul impaciente, em especial porque estavam sedentos por rever Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato. Aos 38, Gaúcho cobrou falta com perigo na esqueda, mas Butrón conseguiu espalmar para escanteio.

Dois minutos depois, Pato foi lançado e o goleiro peruano, ao tentar encaixar a bola, acabou saindo da área. Tiro livre direto para o Brasil e cartão amarelo para Butrón. Novamente na cobrança, Ronaldinho Gaúcho chutou, mas o camisa 1 peruano fez a defesa. Com o resultado consolidado, a Seleção Brasileira passou a tocar a bola, satisfeita com o placar de 3 a 0.

Com a inesperada goleada que a Argentina sofreu para a Bolívia em La Paz (6 a 1), o Brasil subiu para o segundo lugar do grupo, com 21 pontos. Depois de uma partida sofrível no domingo, a Seleção Brasileira voltou a marcar em um estádio brasileiro - onde não fazia gol desde 2007 em partidas pelas Eliminatórias da Copa do Mundo (tinham sido três empates em 0 a 0, com Argentina, Bolívia e Colômbia) e, num dia primeiro de abril, conseguiu fazer uma redenção de verdade no caminho para a Copa de 2010.

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BRASIL 3x0 PERU

Local: Estádio Beira-Rio (em Porto Alegre).

Árbitro: Sérgio Pezzotta

Gols: Luís Fabiano aos 17 e aos 26 minutos do primeiro tempo. Felipe Melo aos 19 minutos do segundo tempo.

Cartões amarelos: Solano e Butrón (Peru).


BRASIL - Júlio César, Daniel Alves, Lúcio, Luisão (Miranda) e Kléber; Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano (Ronaldinho Gaúcho) e Kaká; Robinho (Alexandre Pato) e Luís Fabiano. Técnico: Dunga.

PERU - Butrón, Prado, Zambrano, Rodriguez e Vilchez; Solano (Fernández), La Rosa, Miguel Torres e Luiz Ramírez (Alva); Pedro Garcia (Sanchez) e Fano. Técnico: José del Solar.

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BOLA PRO MATO

Este que vos escreve acredita que a derrota acachapante da Argentina para a Bolívia, por 6 a 1, tornou o primeiro de abril de 2009 um dia fantástico. Nestas horas, o patriotismo fala sempre mais alto.

2 comentários:

Marcos Fontelles de Lima disse...

Vinicius,

ouvi muitas criticas ao Gilberto Silva, e ontem verifiquei os motivos de tantas criticas... O cara só dá passe pro lado!! mas acho que taticamente ele é imporantíssimo, desde que o Dunga não escale outro volante (Felipe Melo).

A polemica criada em torno do Ronaldo Gaucho, sobre sua escalação no escrete canarinho, junto com o Kaká (em fase de recuperação) é clara, o time não pode carregar dois nas costas...

Na verdade, eu acho que Seleção não deveria carregar ninguém nas costas...

Ah! ouvi uma explicação lógica sobre a altitude em relação aos jogadores antigos, que "não" sentiam os efeitos maléficos de jogar nas alturas... É que antigamente, os jogadores corriam cerca de 3km por jogo, e hoje em dia tem atleta que chega a correr quase 20km por jogo...

Vinicius, eu dormi no segunto tempo... Logo tive que recorrer ao seu blog para saber como foi o jogo. Não gostei muito do primeiro tempo não!!

Ah! Quero ver Bolívia X Brasil em La Paz... Espero que Dunga pelo menos jogue na DEFENSIVA!!! aí sim, pode escalar Julio Cesar e mais 10 cabeças de área!!

"Há braços"

Marcos!

Vinícius Faustini disse...

Marcos,

entendo suas razões para ter sonolência. Foi o 3 a 0 mais "1 a 0" que eu já vi, embora a Seleção tenha melhorado sensivelmente com a entrada do Kaká - que, mesmo em fase de recuperação, atua melhor que o Ronaldinho Gaúcho no momento. Ao menos, com o jogo de ontem veio um alento e uma chance do Brasil retomar o caminho das vitórias nas Eliminatórias da Copa do Mundo.

Em relação à altitude, compreendo o efeito maléfico que ela traz. Mas, que tal dar um jeito dos jogadores se reunirem algum tempo antes (pelo menos uma semana) pra terem uma adaptação ao clime de lá?

Gilberto Silva já teve seu momento na Seleção Brasileira, era hora de deixá-lo um pouco de lado, senão o Brasil pode correr alguns riscos. Ah, fico feliz com a honra, e espero que eu tenha sido fiel ao que foi a partida entre Brasil e Peru.

Abraços,

Vinícius Faustini