sexta-feira, 10 de abril de 2009

Goleiro na iminência da ingratidão



Muitos cronistas esportivos costumam definir a posição do goleiro como ingrata, ressaltando que perto de sua área "não nasce grama". De fato, o primeiro nome da escalação de um clube é o único que jamais aparece num meio termo (nas notas dadas às atuações do dia seguinte a um jogo não é dito que o goleiro teve "atuação discreta" ou "não comprometeu"). Os goleiros aparecem em um dos dois lados da memória do torcedor: no momento suas defesas milagrosas, que garantem vitórias e glórias do clube que defende, ou nas suas falhas clamorosas, que destroem uma tentativa de vantagem da equipe numa partida. E às vezes esta ida dos céus da salvação de um placar até o inferno dos deslizes que os fazem buscar a bola do fundo das redes pode acontecer numa fração de segundos.

O mais novo protagonista desta trajetória vem da capital paulistana. Jogador do São Paulo desde 1990 (ano no qual saiu do Sinop, do Mato Grosso, para ser júnior do tricolor paulista e, mais tarde, reserva de Zetti), Rogério Ceni é o camisa 1 são-paulino há 12 anos. Com a ajuda de suas mãos, a equipe venceu nesta década que está chegando ao fim um inédito tricampeonato consecutivo no Campeonato Brasileiro (em 2006, 2007 e 2008) e venceu a Taça Libertadores da América e o Mundial de Clubes no ano de 2005. Além das mãos, Ceni se mostrou muito bom com os pés, se tornando o "goleiro-artilheiro" através de seus gols marcados em cobranças de falta ou de pênalti. Atualmente, ele é o recordista de gols entre os jogadores que não estão na linha e se aventuram a mostrar talento com os pés.

Entretanto, este início de 2009 não tem sido muito agradável para o goleiro do São Paulo. Suas atuações vêm se destacando na imprensa pela maneira como atrapalham o destino da equipe nos jogos, em lances como saídas de gol erradas e "frangos" grosseiros.

A primeira delas veio no fim de semana passado. Na última rodada da fase classificatória do Campeonato Paulista, duas precipitações ao sair do gol proporcionaram o empate do São Caetano com o São Paulo, pelo placar de 2 a 2. Menos mal que o time estava antecipadamente classificado para a semifinal do torneio (que será disputada domingo, contra o Corínthians).

Ontem o campeonato era outro, mas a história das falhas de Rogério Ceni se repetiu. Em partida diante do uruguaio Defensor, no Morumbi, o camisa 1 são-paulino "aceitou" uma cobrança de falta de Diego de Souza, que fez o São Paulo sair perdendo por 1 a 0 no primeiro tempo. Felizmente, dois gols de Borges sacramentaram a vitória por 2 a 1 e a classificação antecipada para a próxima fase do torneio sul-americano.

Outrora motivo de orgulho para a torcida do São Paulo, nos últimos jogos Rogério Ceni não vem mais inspirando a confiança de antes. É bom que esta má fase seja passageira. Caso contrário, o goleiro carregado nos braços da torcida pelos quase 20 anos defendendo as três cores de São Paulo pode estar na iminência de sofrer a ingratidão de torcedores apaixonados, que apagam a memória de bons serviços para apedrejar o jogador que hoje compromete os bons resultados do clube.

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BOLA PRO MATO

O corajoso desabafo que Adriano deu em entrevista ao Jornal Nacional exemplifica como esta ida prematura para o exterior não faz mal somente às equipes e às torcidas. Não são todos os jogadores que estão preparados para que a fama caia no colo deles de um dia para o outro. A FIFA deveria abrir os olhos para isto, e os clubes deveriam notar que os jogadores de futebol são muito mais do que máquinas de dinheiro e de placares favoráveis.

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