sábado, 5 de junho de 2010

Pecados capitais



A soberba é o pecado capital que se refere ao orgulho excessivo e à arrogância no vício da conduta dos homens. E neste meio de ano, duas torcidas que em seus gritos cometeram este "pecado" agora pagam as consequências da pretensão vinda de fora de campo. Aclamado como Imperador, Adriano saiu do Flamengo após a frustrada tentativa de consolidar o "Império do Amor". Definido como "o poder" pela torcida do Vasco, Dodô rompeu seu contrato e saiu do clube com seu poderio de artilharia questionado.

Após o título brasileiro de 2009, o Flamengo chegou a 2010 com grandes esperanças. A base campeã foi praticamente toda mantida, e para o ataque veio o reforço de Vágner Love. A parceria com o "Artilheiro do Amor" certamente consolidaria o epíteto de Imperador que Adriano ostentava.

No entanto, aos poucos a soberba flamenguista se viu traída por lampejos de luxúria (bebidas, festas e um noivado conturbado) que afetaram o desempenho do jogador no gramado. Com um semestre frustrante, no qual mal ajudou o time que perdeu o Campeonato Estadual e foi eliminado na Taça Libertadores da América, Adriano tomou o rumo da Itália, em uma nova contradição de sua carreira. Cerca de um ano antes, o jogador saiu de lá, insatisfeito com o tratamento da imprensa esportiva, reclamando saudades da Vila Cruzeiro e do Flamengo. Agora, ele diz que quer voltar ao futebol italiano para melhorar sua imagem de lá. E a imagem dele no Brasil, tem data marcada para ser melhorada? A volta ao rubro-negro era perfeita no final de 2009. No primeiro momento de má fase no clube, o amor foi deixado de lado ou a presença no território brasileiro foi inútil diante da não-convocação para a Copa do Mundo?

Presença também foi algo que o atacante do principal adversário do time de Adriano também não teve neste semestre. Um início promissor, marcando três gols por partida (os primeiros, num clássico diante do Botafogo, na vitória por 6 a 0 no Engenhão) e a consolidação do grito "Dodô é o poder". Mas, aos poucos, o poder de Dodô foi se desfazendo, numa decadência que veio jogo a jogo e trouxe capítulos lamentáveis.

Na perda do título da Taça Guanabara para o Botafogo, o jogador foi promovido a grande culpado pela derrota. Título injusto, diante de toda uma apatia vascaína. O time não tinha sido capaz de merecer a vitória durante boa parte do jogo e, ao levar o primeiro gol, o Vasco desencadeou uma série de episódios de desestabilidade emocional, que culminaram no segundo e derradeiro gol alvinegro. Na partida seguinte, a torcida (que no ano anterior era exaltada por acolher o time até mesmo nos momentos mais difíceis) lançou gritos de protesto e definiu Dodô como "pipoqueiro".

Em vez de fazer o sangue esquentar, Dodô mostrou ausência de "poder". Não só poder de fogo para fazer gols, mas também o poder de reação diante de tanta adversidade. Em vez do sangue esquentar para calar seus detratores, o atacante foi deixando seu futebol empalidecer pela falta de vibração, pela falta de garra. O sangue frio que alguns anos atrás favorecia tornou-se adversário, e ele não esboçou nenhuma reação intempestiva nem mesmo depois de errar dois pênaltis contra o Flamengo. A torcida do Vasco acusou, e Dodô simplesmente aceitou os rótulos negativos que recebeu. Aceitou até ser reserva de jogadores de qualidade inferior, como Élton e Rafael Coelho.

Da soberba da torcida vascaína do início do ano, restou a imagem da preguiça do artilheiro em buscar jogadas, visível em seu desempenho até nos treinos de São Januário. Na rescisão do contrato, fica uma certeza. A de que a inatividade por dois anos por causa de doping contribuiu muito para seu fracasso com a camisa do Vasco. Mas Dodô não fez a menor força para recomeçar nesta árdua tarefa de reestrear aos 36 anos.

Para Dodô e Adriano sobra a ira das torcidas de Vasco e Flamengo - em especial para o primeiro, que deixou minguados bons momentos com a camisa do clube e nunca foi identificado antes com ele (Adriano é cria do clube da Gávea, e tem idade para prometer mais um retorno). As duas histórias trazem algo em comum: o grande pecado de não corresponderem com gols o apoio e a espera que vinha das arquibancadas. Por erros próprios, que nenhum deles teve forças para corrigir.

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