quarta-feira, 9 de junho de 2010

Maracanazzo às avessas



No dia 16 de julho de 1950, o Brasil conheceu a mãe de todas as derrotas com a Seleção Brasileira de Futebol. Ao final de 90 minutos, viu uma sucessão de clichês cair sobre as costas de um país. "A bola pune", "ninguém ganha jogo de véspera", "futebol se ganha em campo" e outros derivados passaram pela final da Copa do Mundo daquele ano.

Todos os brasileiros (apaixonados por futebol ou não) conhecem esta história escrita há 60 anos. A Seleção Brasileira chegou à partida decisiva da Copa do Mundo e bastava um empate contra a seleção do Uruguai para sagrar-se o campeão de 1950.

Friaça abriu o placar para o Brasil, Schiaffino empatou a partida para os uruguaios e, aos 34 minutos do segundo tempo, Gigghia invadiu a área brasileira, passou por Bigode e chutou no fundo da rede de Barbosa. Décadas mais tarde, o autor do gol da vitória do Uruguai por 2 a 1 diria que só três coisas calaram o Maracanã: a voz de Frank Sinatra, a oração do Papa João Paulo II e o gol dele. Em meio a um silêncio de 200 mil pessoas, a seleção uruguaia ganhava sua segunda (e até o momento mais recente) Copa do Mundo.



60 anos e muitas partidas depois da tragédia do estádio, o jornalista Teixeira Heizer volta a passar pela primeira e única Copa do Mundo que o Brasil sediou. No entanto, em Maracanazzo - Tragédias e epopeias de um estádio com alma (Editora Mauad X, 264 páginas), o Maracanã não se resume a ser pano de fundo da mais triste derrota do Brasil numa Copa do Mundo.

O Maracanã é o personagem biografado por Teixeira Heizer. Desde o início da obra, feita a toque de caixa na zona norte do Rio de Janeiro, passando pela inauguração do estádio e por toda a campanha da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950. E, após todo seu relato, Teixeira é generoso e abre páginas de seu livro para que outros jornalistas contem suas histórias com o Estádio Mário Filho. Em Maracanazzo, nomes como Luiz Mendes, Maurício Azêdo, Sérgio Cabral e Ferreira Gullar (além da participação do poeta uruguaio Eduardo Galeano). trazem excelentes textos tanto em qualidade quanto pelo tom confessional das páginas que seguem.

Mas, sem dúvida, o maior mérito de Maracanazzo - Tragédias e epopeias de um estádio com alma é ser um livro às avessas do que propõe sua trajetória. Em geral, as pessoas leem obras literárias e ficam ansiosas por saber o desfecho. No livro de Teixeira Heizer, todos sabem o final da história da Copa do Mundo de 1950. Só que o mais interessante é saber todas as coisas que levaram ao Maracanazzo. Até mesmo para, 60 anos depois, o Brasil não repetir os passos em falso que aconteceram na IV Copa do Mundo de Futebol.

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Nas #CURIOSICOPAS, o Twitter de O tempo e o placar... (@otempoeoplacar) apresentou curiosidades da Copa do Mundo de 1950 aos seus seguidores. Seguem algumas delas:

*Com os países europeus devastados pela Segunda Guerra, somente um país aceitou sediar a Copa do Mundo em 1950: o Brasil.

*A Copa de 1950 foi a primeira a ter fase de grupos. Na fase inicial, eram 4 grupos com 4 seleções em cada um.

*Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife foram as cidades-sede da Copa do Mundo de 1950.

*O ex-presidente da Federação Francesa de Futebol Jules Rimet foi homenageado a partir de 1950 com o nome da taça da Copa do Mundo.

*Em 1950, finalmente os ingleses aceitaram disputar uma Copa do Mundo. O torneio era subestimado pelos criadores do futebol.

*A Inglaterra protagonizou a primeira zebra da história das Copas. Em 1950, a seleção perdeu por 1x0 para os EUA em Belo Horizonte.

*Os EUA em 1950 tinham vários jogadores naturalizados. Bélgica, Haiti, Portugal e Itália eram alguns dos locais onde eles nasceram.

*Mesmo devastada pela Segunda Guerra Mundial, a Itália foi representada na Copa de 1950. Mas a seleção foi eliminada na primeira fase.

*A primeira partida oficial no Maracanã foi a estreia do Brasil na Copa de 1950. A Seleção venceu o México por 4x0.

*A Seleção Brasileira marcou 22 gols na Copa de 1950. É o recorde de gols do Brasil em uma Copa do Mundo.

*A Seleção Brasileira de 1950 tinha oito jogadores do Vasco da Gama, clube que na época era chamado de Expresso da Vitória.

*A tática de colocar todos os jogadores em funções defensivas é obra do suíço Karl Raphman. Sua seleção empatou em 2x2 com o Brasil.

*Ademir de Menezes, o Queixada, foi o segundo artilheiro brasileiro em Copas. Em 1950, foram nove gols marcados.

*Brasil (1950) e Suécia (1958) foram as únicas seleções que perderam decisões de Copa do Mundo quando eram o país-sede.

*O Uruguai foi campeão das duas primeiras edições que participou. Em 1934 e em 1938 os uruguaios se recusaram a ir à Europa.

*A festa era preparada para o Brasil em 1950, a ponto de Jules Rimet quase não conseguir entregar a taça ao uruguaio Obdulio Varella.

*Acusado de falhar no gol do Uruguai que fez o Brasil perder a Copa de 1950, Barbosa faleceu em 2000, esquecido e na miséria.

2 comentários:

PC Filho disse...

A II Guerra já havia acabado 5 anos antes. O que realmente arrasou as chances da Itália na Copa foi o acidente aéreo de 1949, que vitimou a equipe do Torino, campeã italiana e base da Azzurra.

Uma outra curiosidade dessa Copa é que a Seleção do México utilizou a camisa do Cruzeiro de Porto Alegre no jogo contra a Suíça, porque seu uniforme se confundiria com o do adversário. :)

Vinícius Faustini disse...

PC,

muito obrigado pela contribuição. Suas informações foram importantíssimas aqui no blogue. O acidente eu lembrava, mas a questão da camisa do Cruzeiro de Porto Alegre eu desconhecia.

Apareça sempre.

Abraços,

Vinícius Faustini