quarta-feira, 2 de junho de 2010

À espera de uma alma



O uniforme era oficial. Os jogadores eram os titulares (à exceção de Thiago Silva, que entrou no lugar de Juan, poupado). A plateia de Harare compareceu em bom número. Somente o Brasil não compareceu para um jogo. No amistoso que deveria ser preparatório para a Copa do Mundo, a Seleção Brasileira atuou em ritmo de treino, mas acabou vencendo o Zimbábue por 3 a 0 - Michel Bastos, Robinho e Elano fizeram o placar brasileiro.

Os argumentos são sempre os mesmos para o ritmo desacelerado nos amistosos às vésperas de Copa do Mundo. Há o receio de algum jogador se machucar e desfalcar a equipe no torneio mais importante do futebol. Há também o desejo de conhecer a "bola da Copa", tão criticada por jogadores em virtude da sua leveza.

Pretextos que tentam maquiar um motivo alarmante para o Brasil nesta Copa do Mundo: a Seleção Brasileira não sabe jogar contra adversários que têm esquema defensivo. É indiscutível que a defesa brasileira é uma das melhores do mundo. No entanto, ficou claro logo na partida contra o Zimbábue que o meio-de-campo não sabe nada além de combater e tocar para os lados.

Caso os laterais não subam para o ataque, o Brasil vai ficar refém de uma partida amarrada, na qual jogadores com características de marcação vão se enfrentar até, no final, alguém rifar a bola para a lateral. Ou, no máximo, colocar para correr seus atacantes.

Com Kaká visivelmente sem ritmo de jogo, a seleção ficou sem criação, e parecia não fazer nenhum esforço para tornar a bola (que já é esquisita) menos complicada nos pés dos jogadores. Foram 40 minutos arrastados e uma certa pressão de Zimbábue, até virem dois gols. O primeiro, numa bola parada, um chutaço de Michel Bastos no ângulo. O segundo, num passe de Maicon para Robinho.

Na segunda etapa o Brasil esboçou um pouco mais de disposição, naturalmente por causa da entrada de reservas que queriam mostrar serviço. Alçado a reserva imediato de Kaká, Júlio Baptista tocou para Daniel Alves, que deixou Elano com o gol vazio para marcar o terceiro. Mas a promessa de 45 minutos diferentes acabou no papel. Satisfeita com o placar, a Seleção Brasileira preferiu administrar o resultado no restante da partida.

Atitude paradoxal em relação a um amistoso. Amistosos servem para dar ritmo de jogo e fazer testes para as competições mais difíceis. Por que não aproveitar e testar jogadas ensaiadas e ofensivas? O teste brasileiro era apenas saber como segurar o resultado? Há algumas Copas a Seleção Brasileira realiza jogos preparatórios contra seleções mais fracas - Honduras, Lituânia, Austrália, Andorra, Catalunha são algumas delas. Em vez de usá-los para garantir autoconfiança ao time, os jogadores se resumem a passar o tempo e evitar contusões.

Para o Brasil foi quase perfeito. O goleiro Júlio César machucou o tórax aos 25 minutos, e foi substituído por Gomes (a princípio, nada considerado grave). Aos olhos de Dunga, a vitória por 3 a 0 deve ter sido boa. Mas, a nove dias da Copa do Mundo, é triste chegar com a certeza de que a Seleção Brasileira adentrará no torneio ainda à espera de uma alma.

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