terça-feira, 1 de junho de 2010

Mais do que um retrato na parede



A imagem de Zico vestindo a camisa do Flamengo sempre é associada a bons tempos do clube. Com ele, vieram anos de vitórias, de títulos e de respeito à camisa rubro-negra. Tudo isto conquistado dentro de campo.

No ano 10 do século XXI, o eterno camisa 10 volta ao clube, numa função de fora de campo. Ele será o diretor-executivo de futebol do Flamengo, e chegará num contexto bem mais difícil do que passar pelo bloqueio defensivo da área adversária. O cenário flamenguista passou pelo desmantelamento de um time que foi campeão brasileiro em 2009, por regalias a determinados jogadores, brigas de egos, maior destaque para situações extracampo e uma soberba que custou as perdas do Campeonato Estadual e da Taça Libertadores da América.

O resultado é uma equipe devastada, que viu o jogador alçado a ídolo Adriano destruir em poucos meses a volta por cima que deu no ano anterior. Ao final de cinco meses, ele saiu de cena para jogar no futebol italiano. A outra esperança de gols do rubro-negro, Vágner Love, deve sair da Gávea neste meio de ano, porque o clube russo CSKA não aceita prorrogar seu empréstimo.

As eliminações custaram um clima de fim de festa e, após a empolgação de ser o melhor do Brasil depois de 17 anos, a maquiagem caiu e se descobriu que o Flamengo tem um time extremamente limitado. A prova disto são os primeiros jogos do Campeonato Brasileiro. No campo, jogadores de qualidade duvidosa como Toró, Rômulo e Vinícius Pacheco. E, ao olhar para a reserva, Rogério Lourenço se vê obrigado a "queimar" promessas como Camacho e Diego Maurício ou recorrer a encostados como Dênis Marques e Gil. Cai nas costas do sérvio Petkovic a função de ser o jogador mais importante do Flamengo - só que, aos 37 anos, ele não tem pernas para aguentar 90 minutos, e por isto sua escalação é vista com maus olhos pelo técnico.

Zico chega num campo minado, no qual sua visão de jogo não pode ficar restrita às quatro linhas do futebol. Ele ainda corre o risco de macular sua imagem perante uma torcida que o alçou a deus. O exemplo de Roberto Dinamite na presidência do Vasco assusta qualquer ídolo do passado que queira ajudar um clube no presente.

No entanto, a situação do ídolo rubro-negro é diferente do vascaíno. Zico não chega para ser presidente do Flamengo. Ele está num cargo importante no clube, mas direcionado ao assunto que conhece, o futebol. Ao contrário do seu antigo adversário de campo, o Galinho tem experiência como treinador e como gerente de futebol, o que pode contribuir para um bom futuro à frente da diretoria executiva.

O problema que pode aparecer é a impaciência da torcida. Vendo maus desempenhos em campo, os rubro-negros vão cobrar reforços e mudanças de comando urgentes. Só que Zico precisa de um planejamento a longo prazo, e isto não garante que as palavras de Patrícia Amorim na apresentação dele ("que 2010 seja um ano 10 para o Flamengo") sejam fáceis de concretizar. É um erro dar a Zico um caráter messiânico diante de um clube sem dinheiro e que vem de sucessivas brigas políticas - assim como foi com Roberto Dinamite na presidência do Vasco.

Nesta nova empreitada à frente do Flamengo, Zico mostra que seu amor ao clube é tanto que ele arrisca a própria imagem de deus rubro-negro para ajudar a equipe em meio a uma crise em seu futebol. É admirável a vontade do Galinho em ser muito mais do que um retrato na parede. Que isto não doa para ele no cargo de diretor-executivo do clube da Gávea.

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