segunda-feira, 14 de junho de 2010

Adversários paradoxais



Os primeiros dias de Copa do Mundo serviram como sinal de alerta para o jogo de amanhã da Seleção Brasileira. À exceção da Alemanha (que goleou por 4 a 0 a Austrália), todas as seleções consideradas favoritas passaram por problemas em suas estreias na África do Sul. A Argentina teve uma vitória apertada, enquanto França, Inglaterra e Itália empataram seus respectivos jogos. Amanhã, chega o dia do Brasil passar pelo primeiro desafio rumo ao hexa, diante da Coreia do Norte.

Além da seleção asiática, os 11 brasileiros que estarão amanhã em campo vão enfrentar outros adversários - adversários psicológicos. Nos dias de hoje, em que convencionaram a ideia de "não haver mais time bobo no futebol brasileiro", o risco de partir para o ataque desde o primeiro minuto é visto como temeridade, em especial se o nervosismo impedir que os gols venham. Ficar recuado contra um adversário teoricamente mais fraco cheira a covardia, e vai deixar a torcida ainda mais desconfiada do que quando a Seleção Brasileira foi convocada.

Diante de uma seleção que certamente virá fechada, chegar na área adversária através do toque de bola pode expor os jogadores a contusões. Mas reduzir as tentativas de ataque da Seleção Brasileira a cruzamentos para a área ou confiar exclusivamente nas cobranças de falta de Elano parece pouco na mentalidade de um time que pretende ser campeão.

Sentimentos embaralhados como estes justificam as decepcionantes estreias de seleções consideradas favoritas. Tratam-se de 90 minutos carregando uma tradição nas costas, o que faz com que jogos ditos como fáceis se tornem difíceis. A história recente do Brasil nas Copas traz exemplos - nas estreias anteriores, 2 a 1 sobre a Escócia em 1998, 2 a 1 sobre a Turquia em 2002 e 1 a 0 sobre a Croácia em 2006.

No entanto, jamais será justificável que a Seleção Brasileira entre em campo sem nenhuma vontade, ou com a acomodação de um time que acha que vai resolver a partida quando quiser. Afinal, do outro lado haverá uma equipe extremamente motivada. A frase de seu ônibus - "1966 de novo! Vitória para a Coreia do Norte" (em referência à Copa na qual a seleção conseguiu sua melhor colocação, um oitavo lugar) - traz a única clareza em meio ao mistério do país. Os norte-coreanos vão entrar em campo dispostos a fazer e refazer uma história, e surpreender um adversário de destaque seria um ótimo indício para a campanha ser bem-sucedida na África do Sul.

O paradoxo entre sangue frio e necessidade de fazer uma estreia convincente dão um sabor a mais à partida contra a Coreia do Norte. Falta à Seleção Brasileira adoçar a terça-feira do país do futebol.

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