quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Goleiros decisivos
Análise de jogo - Ceará 2 x 2 Flamengo (Castelão, 22h)
Diante do equilíbrio do futebol que apresentaram no duelo do Castelão, a partida entre Ceará e Flamengo terminar empatada não seria um resultado tão surpreendente. A surpresa para o torcedor foi ver os goleiros dos dois times terem falhas decisivas, que impossibilitaram que um deles saísse vitorioso do confronto.
O primeiro a falhar foi Michel Alves. Depois de escanteio cobrado por Renato Abreu, o goleiro do Ceará tentou segurar a bola, mas ela escapou de suas mãos. Na sobra, em meio a uma confusão na área, Wellinton chutou rasteiro, para o fundo da rede. Flamengo 1 a 0, aos dois minutos.
O Ceará, que entrou em campo contando com o trunfo de ter uma equipe bem organizada, se perdeu em muitos erros de passes e na atuação apagada de seu camisa 10 - o meia Geraldo. Tanto que o alvinegro cearense (que vestiu seus jogadores com seu terceiro uniforme, em listras azuis e pretas) demorou a aproveitar as deficiências do esquema do Flamengo. Novamente, Vanderlei Luxemburgo apostara no seu ataque 3D, formado por Diogo, Diego Maurício e Deivid. Mas todos eles estavam muito avançados, e ficavam à mercê de jogadas que vinham do meio-de-campo.
Aos poucos, o Vovô foi deixando para trás o abalo pelo gol sofrido (e por outras falhas de Michel Alves que quase aumentaram a desvantagem no placar) e passou a ter organização suficiente para fazer Williams e Corrêa se desdobrarem na marcação, e para forçar os laterais Léo Moura e Juan a ficarem na defesa. Vieram boas oportunidades, uma com Washington que Marcelo Lomba defendeu, e um chute rasteiro de Magno Alves que parou na trave.
Se o empate estava difícil de vir dos pés de seus próprios jogadores, era a vez do goleiro adversário falhar na partida. Depois de um cruzamento de Boiadeiro, Marcelo Lomba saiu mal, trombou com Wellinton e permitiu que a bola sobrasse para Magno Alves. O atacante deu um chutaço, que empatou em 1 a 1 o duelo no Castelão aos 27.
O panorama não mudou tanto. Um Flamengo perdido, sem capacidade de se lançar ao ataque, enquanto o Ceará crescia no jogo, graças às boas atuações do lateral Boiadeiro, do meia Geraldo e do atacante Magno Alves. Entretanto, o Vovô não ostenta a desonra de ser o pior ataque do Campeonato Brasileiro à toa. Apesar do maior volume de jogo, poucas vezes a bola chegou com perigo para Marcelo Lomba, e o resultado não mudou até o fim da primeira etapa.
Na volta para o segundo tempo, Luxemburgo surpreendeu por sua persistência. O técnico, que na maioria das partidas que o Flamengo jogava mal no primeiro tempo fazia alterações no intervalo, não mexeu na equipe. Somente 17 minutos depois é que ele decidiu reorganizar o time. Diego Maurício deu lugar ao meia Marquinhos, que recompôs o meio-de-campo. Diogo, que não fizera a função de jogar mais recuado e tabelar com Renato Abreu, foi trocado por Val Baiano, que atuaria dentro da área, enquanto Deivid jogaria como segundo atacante, pelas pontas. Em resposta, o treinador Dimas Filgueiras também fez uma mudança no ataque - Marcelo Nicácio substituiu Washington.
Entretanto, nem mesmo as mudanças foram capazes de fazer os homens de frente de Ceará e Flamengo serem decisivos. Foi preciso novamente um zagueiro para deixar uma das equipes em vantagem. No rebote de um escanteio, Renato Abreu cruzou na direita. Entre os zagueiros do Vovô, o cearense Ronaldo Angelim (que teve destaque em sua terra natal atuando pelo arquirrival do Ceará, o Fortaleza), desviou de cabeça. A bola parou no fundo da rede de Michel Alves. 2 a 1 Flamengo, aos 22 minutos.
Estar a frente no marcador deixou o rubro-negro carioca ainda mais disposto para se lançar ao ataque. O Flamengo apresentava boa posse de bola e criava oportunidades que a zaga do Ceará rechaçava a qualquer custo. Só que Vanderlei Luxemburgo acabou traído pelo desejo maior de segurar o resultado e confiar no meio-de-campo. Na sua última substituição, o atacante Deivid saiu para a entrada do volante Fernando.
Num primeiro momento, a troca não parecia ter influído no estilo de jogo flamenguista. As chances continuaram, como num cruzamento no qual Val Baiano não chegou a tempo, e numa boa oportunidade com Fernando. Após cobrança de escanteio, o volante cabeceou, a bola passou por Michel Alves, mas Eusébio salvou em cima da linha. No entanto, com o passar dos minutos, o Flamengo foi cedendo campo ao Ceará. Até que Marcelo Lomba voltou a ceder uma chance ao adversário. Boiadeiro chutou cruzado, e o goleiro rubro-negro espalmou para o meio da área. Na sobra, Magno Alves fez seu segundo gol no jogo. 2 a 2, aos 36 minutos.
Dimas Filgueiras fez uma alteração por cansaço, tirando Geraldo para colocar Wellington Amorim, e nos minutos finais deu ar ao seu setor defensivo, trocando Heleno por Reina. Mas a defesa quase traiu o Ceará. Nos acréscimos, a zaga permitiu que Corrêa entrasse livre na área. O volante deu um drible a mais e um zagueiro evitou parcialmente o chute. Eusébio impediu que a bola saísse em escanteio, mas ao rechaçar, acertou um adversário. Na sobra, Fabrício errou o chute, e deu a Renato Abreu a oportunidade da vitória - desperdiçada pelo camisa 11 com uma bomba, à esquerda do gol de Michel Alves.
Mesmo sendo mandante do jogo, o empate se tornou um resultado satisfatório para o Ceará, pelo contexto da partida. A equipe foi não se deixou abater com o gol sofrido no início (vindo de uma falha de seu goleiro), mostrou poder de se organizar bem e encontrou no veterano Magno Alves uma boa esperança para que a bola entrasse na rede com mais frequência. Segundo os matemáticos, o time ainda não está completamente salvo do risco de cair para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro - está a um ponto dos 45 que supostamente evitam que um clube caia na degola. Mas o desempenho e a luta apresentados no Castelão revelam que seus jogadores têm força para superar adversidades.
O dissabor do Flamengo não fica restrito a ver dois pontos escaparem depois de ficar por duas vezes na frente do placar. O motivo de lamento começa no gol - com as infelicidades de Marcelo Lomba durante o jogo (embora ele tenha crédito por grandes atuações durante o Brasileirão) - passa pelas limitações de um meio-de-campo que novamente se desencontrou quando o técnico tentou uma tática mais ofensiva, e chega ao ataque. Além do insucesso no esquema 4-3-3, é preocupante ver vestindo a camisa rubro-negra um trio ofensivo - além de um outro atacante que entrou no decorrer da partida - que não consegue dar um chute sequer durante 90 minutos.
O clube chegou aos 40 pontos e, devido aos resultados dos adversários que brigam para não cair, agora está na confortável situação de estar a cinco pontos da zona de rebaixamento. Só que, depois de ver no confronto com o Ceará um atleta que foi crucial para impedir os três pontos (e fez o time alcançar seu décimo-sexto empate, sendo o terceiro consecutivo), precisa agora fazer com que seus jogadores sejam capazes de levar o time ao caminho das vitórias.
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CEARÁ 2 x 2 FLAMENGO
Estádio: Castelão (Fortaleza / CE)
Árbitro: Paulo César Oliveira (FIFA-SP) / Auxiliares: Marcos Eustáquio (FIFA-MG) e Anderson José de Morais (SP).
Gols: Wellinton, aos dois, e Magno Alves, aos 27 minutos do primeiro tempo. Ronaldo Angelim, aos 22, e Magno Alves, aos 36 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Geraldo (Ceará) e Williams (Flamengo).
CEARÁ - Michel Alves, Boiadeiro, Diego Sacoman, Fabrício e Eusébio; Michel, Heleno (Reina, 43/2ºT), João Marcos e Geraldo (Welington Amorim, 37'/2ºT); Magno Alves e Washington (Marcelo Nicácio, 18'/2ºT). Técnico: Dimas Filgueiras.
FLAMENGO - Marcelo Lomba, Léo Moura, Welinton, Ronaldo Angelim e Juan; Willians, Corrêa e Renato Abreu; Diogo (Val Baiano, 17'/2ºT), Diego Maurício (Marquinhos, 17', 2ºT) e Deivid (Fernando, 30'/2ºT). Técnico: Vanderlei Luxemburgo.
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