domingo, 24 de outubro de 2010

Insucesso de crítica e público



Análise de jogo - Vasco 1 x 1 Flamengo (Engenhão, 18h30).

O primeiro confronto entre Vasco e Flamengo na história do Engenhão foi cercado de tramas rocambolescas, dignas dos roteiros imprevisíveis que cercam o Clássico dos Milhões. Mas nem mesmo nas linhas tortas apresentadas por vascaínos e flamenguistas, o desfecho do confronto foi diferente do desempenho de ambas as equipes no Campeonato Brasileiro de 2010.

A trama começou com a boa iniciativa de jogadas ofensivas do Vasco. Embora Felipe fizesse partida razoável e Zé Roberto estivesse baqueado por causa de uma contusão no tornozelo durante um treino no dia anterior, a equipe vascaína não se deixou abater. Através das arrancadas do lateral-direita Fagner e do atacante Éder Luís, o time chegava com perigo à área adversária, fazendo com que os zagueiros David Braz e Welinton se desdobrassem na marcação. Entretanto, o fato de Nunes estar em campo pouco fazia diferença a este panorama do jogo. Brigando com a bola, o camisa 9 não permitia que o time vascaíno saísse de seu script na trajetória do Campeonato Brasileiro.

Do outro lado, o Flamengo se defendia como podia, mas sofria com os erros de passes em seu meio-de-campo. Muitos erros proporcionados por Kléberson, que acabava com jogadas de contra-ataque toda vez que a bola passava por seus pés. O rubro-negro demorou a encontrar um bom momento ofensivo. Mas quando conseguiu, veio de maneira extremamente incisiva. Após um lançamento de Deivid, a zaga vascaína falhou, Léo Moura conseguiu driblar Fernando Prass (que saíra atabalhoado do gol) e cruzou para a área. Kléberson cabeceou, mas o lateral-esquerda Diogo tirou em cima da linha.

E quando os erros pareciam ter ficado restritos aos primeiros minutos, o rubro-negro viu surgirem falhas em sequência nos seus setores. E em um lance só. Primeiro, erro de Maldonado, que permitiu roubada de bola de Nunes. Depois, Renato Abreu deixou que Zé Roberto corresse e conseguisse chegar à linha de fundo para cruzar na área. Quando tudo parecia salvo com uma rechaçada providencial de Welinton, no meio do caminho havia um Juan. A bola tocou no lateral-esquerda, passou por Marcelo Lomba e foi parar no travessão. E eis que, de maneira surpreendente, o zagueiro Cesinha surgiu para, com um voleio, colocar a bola no fundo da rede. 1 a 0 Vasco, aos 27 minutos.

O ímpeto vascaíno prosseguiu nos minutos seguintes da primeira etapa. Beneficiado pela dispersão de um Flamengo afoito, o Vasco tinha boas oportunidades de se lançar ao ataque, mas seus lances de velocidade se transformavam em erros causados por ansiedade. Tanto que a única oportunidade clara de ampliar a vantagem veio numa cobrança de falta de Dedé, que Marcelo Lomba defendeu com dificuldade. A última chance de empate do rubro-negro também foi conseguida após um lance de bola parada. Num cruzamento na área, Deivid cabeceou, para defesa segura de Fernando Prass.

Vanderlei Luxemburgo não quis esperar o momento mais crítico da partida para começar a querer mudar a história contada no Engenhão. Na volta para o segundo tempo, ele sacou o inoperante Kléberson e colocou para jogar Petkovic, com grandes esperanças nos passes e, em especial, nas jogadas de bola parada. Só que o Flamengo prosseguiu numa mesmice, que somente não teve graves efeitos colaterais graças ao roteiro modorrento no qual o Vasco de Paulo César Gusmão se entrega quando está em vantagem.

Os vascaínos se postaram na defesa, e permitiram que o time flamenguista tomasse conta do campo. Luxemburgo arriscou duas cartadas de uma vez logo em seguida - a manobra arriscada de trocar Juan por Marquinhos (fazendo com que o reserva e Renato Abreu, ambos originalmente meio-campistas, se revezassem na lateral-esquerda) e a saída de Deivid para colocar o atacante Diogo. Mas, do lado do Vasco é que veio a possibilidade de alteração da trama mostrada no Engenhão. Numa bola dividida entre o zagueiro vascaíno Dedé e o volante flamenguista Williams, o árbitro Gutemberg de Paula Fonseca interpretou como jogada violenta, e expulsou o jogador do Vasco.

A instabilidade emocional passou a pairar no lado do Vasco, e esta mudança de panorama acentuou o desejo de manter o resultado a qualquer custo. O próximo passo de Paulo César Gusmão foi tirar Zé Roberto para colocar o zagueiro Jadson Vieira. Éder Luís se tornou o único homem que a se apresentar para alguma jogada de contra-ataque, e a equipe ficou restrita a atuar de maneira defensiva.

Aos poucos, o Flamengo foi se acertando, e teve boa oportunidade na sua esquerda, quando Diego Maurício entrou na área e chutou para defesa de Fernando Prass. Como resposta, uma nova artimanha defensiva do Vasco - sacar Felipe, único meia capaz de jogadas ofensivas, e promover a entrada de Fellipe Bastos.

Ainda faltava a presença em cena da estrela de Vanderlei Luxemburgo. Jogador que entrara em campo poucos minutos antes, Marquinhos compensou todos os deslizes do companheiro que substituíra (o lateral Juan). Da esquerda, o meia lançou para a área, e a bola chegou a tempo de Renato Abreu desviar, de cabeça, sem chances para o goleiro Fernando Prass. 1 a 1, aos 35 minutos.

Os últimos minutos foram dignos da tensão que move um duelo entre Vasco e Flamengo. Os dois mediam forças arduamente, cada um à sua maneira. O rubro-negro penava para conseguir uma boa troca de passes, e teve a última oportunidade da partida, quando o chute de Diego Maurício parou nas mãos de Fernando Prass. A equipe vascaína aguentava a pressão de duelar com seu tradicional adversário tendo um homem a menos, e se esforçava para não tomar gols (nos últimos minutos, PC Gusmão ainda tirou o atacante Nunes e lançou o volante Renato Augusto na partida).

Os dois batalhavam, na busca incessante de fazer com que seus erros ficassem para trás e que viesse a vitória da redenção. Entretanto, por mais que o futebol seja um esporte imprevisível, a certeza de que "a bola pune" paira nos gramados.

Apesar do bom primeiro tempo e de mostrar surpreendente maturidade para uma equipe tão jovem, o Vasco se perdeu na insistência de garantir o resultado, e recebeu como castigo sair de campo pela décima-quinta vez no Campeonato Brasileiro com um empate. A cada rodada, fica o dissabor de que a equipe podia ter ido mais longe na competição, se não ficasse refém da insegurança de achar que é incapaz de conquistar elásticas vitórias.

Novamente, o Flamengo apresentou nuances de displicência na partida (em especial no primeiro tempo) e conviveu com um placar adverso durante boa parte do jogo. O empate pode ter parecido bom negócio, por ter vindo nos últimos minutos e pela postura ofensiva à qual se entregou. Mas é preocupante ver uma equipe incapaz de conseguir uma virada mesmo tendo um homem a mais desde os 20 minutos do segundo tempo. Em boa parte dos seus 14 empates no Campeonato Brasileiro, a torcida rubro-negra sussurrou um "menos mal" depois de tudo que foi apresentado no gramado.

O Engenhão foi palco de 90 minutos cercados de altos e baixos, de bons e maus momentos. Mas, depois de tanto suspense, Vasco e Flamengo tiveram um desfecho previsível, tão mediano quanto suas respectivas colocações na classificação do Brasileirão. Os vascaínos caíram para o décimo-segundo lugar, com 42 pontos, e os flamenguistas estão em décimo-terceiro, com 38 pontos. Os dois ainda vão se contentar com o meio da tabela, e com o fato de que apenas 26 mil pessoas assistiram a este último embate em 2010. Postura lamentável para tradicionalíssimas equipes do Rio de Janeiro, outrora protagonistas de grandes confrontos e que agora são coadjuvantes relegadas ao insucesso de crítica e público.

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VASCO 1 x 1 FLAMENGO

Estádio: Engenhão (Rio de Janeiro / RJ).

Público: 21.519 pagantes (26.006 presentes) / Renda: R$ 575.820,00.

Árbitro: Gutemberg de Paula Fonseca / Auxiliares: Ediney Guerreiro Mascarenhas (RJ) e Luiz A. Muniz de Oliveira (RJ).

Gols: Cesinha, aos 27 minutos do primeiro tempo. Renato Abreu, aos 35 minutos do segundo tempo.

Cartões amarelos: Felipe, Éder Luís (Vasco) e Marquinhos (Flamengo).

Expulsão: Dedé (Vasco).

VASCO: Fernando Prass, Fagner, Cesinha, Dedé e Diogo; Rafael Carioca, Rômulo e Felipe (Felipe Bastos - 28'/2ºT); Zé Roberto (Jadson Vieira 23'/2ºT), Éder Luis e Nunes(Renato Augusto 48'/2ºT). Técnico: Paulo César Gusmão

FLAMENGO: Marcelo Lomba, Léo Moura, Welinton, David e Juan (Marquinhos - 16'/2ºT); Maldonado, Willians, Kléberson (Petkovic - intervalo) e Renato Abreu; Diego Maurício e Deivid (Diogo - 16'/2ºT). Técnico: Vanderlei Luxemburgo

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