quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A hora das estrelas


Análise de jogo - Flamengo 1 x 1 Corínthians (22h, Engenhão)

Se era para ser o encontro das duas maiores torcidas do país, Flamengo e Corínthians foi decepcionante. Prejudicada pela data, pelo horário (22h de uma quarta-feira) e pelos percalços que os torcedores passam para chegar ao Engenhão, a partida levou somente 10.272 espectadores. Entretanto, não houve decepção suficiente para que o duelo entre flamenguistas e corintianos apresentassem ao menos dois momentos de estrelas - uma para cada lado.

Vanderlei Luxemburgo voltava a apostar em sua própria estrela (decisiva para que o Flamengo não tenha sofrido derrotas nos quatro jogos anteriores), arriscando uma formação com três atacantes. Diogo e Diego Maurício apareciam pelas pontas, enquanto Deivid ficava entre os zagueiros do Corínthians. Só que o restante do rubro-negro não soube se adaptar ao 4-3-3, e o time ficou exposto no campo, principalmente devido aos seus constantes erros de passes.

Enquanto isto, a equipe corintiana estava bem armada taticamente, e superava o adversário graças à qualidade que seu meio-de-campo apresentou. Com Bruno César criando jogadas e Iarley atuando mais recuado, o Corínthians compensava até mesmo a deficiência de seu lado direito com o lateral Alessandro. Assim, surgiram boas oportunidades, como uma cobrança de falta de Roberto Carlos e um chute de Ralf defendido por Marcelo Lomba.

Mesmo com tanta superioridade, ainda faltava ao Corínthians algum lampejo de um de seus jogadores. Mas, aos 30 minutos, chegou o momento de brilhar a estrela do lado corintiano. Bruno César lançou para a área, e, livre diante do goleiro, surgiu Ronaldo. Sem marcação - pois a zaga optara por fazer uma linha de impedimento, sem sucesso - o camisa 9 recebeu a bola e chutou na saída de Marcelo Lomba. 1 a 0 Corínthians.

Os últimos 15 minutos finais trouxeram um contraste ainda maior. O Flamengo permanecia perdido no meio-de-campo, e a quantidade de atacantes era inútil aos olhos dos torcedores. O Corínthians continuava com seu esquema, com um pouco mais de cautela do que na meia hora inicial, e parecia soberano em campo. A vantagem parecia suficiente quando o primeiro tempo acabou.

No entanto, o time corintiano não contava que o gol de Ronaldo fosse ofuscado de maneira tão fulminante pela estrela flamenguista. No intervalo, Luxemburgo abandonou a ideia de ter um trio de ataque. O centroavante Deivid foi substituído pelo meia Marquinhos. Substituição que num primeiro momento pareceu equivocada, afinal, nem Diego Maurício nem Diogo costumam jogar dentro da área. O Flamengo ficaria sem um "matador" nato.

Mas nem todas estas adversidades foram suficientes para superar a estrela de Vanderlei Luxemburgo. Aos dois minutos, Marquinhos cobrou escanteio na esquerda. Renato Abreu, de cabeça, conseguiu desviar para o meio da área, local onde estava Diogo. 12 jogos depois de ter estreado com a camisa rubro-negra, o jogador fez seu primeiro gol, empatando a partida em 1 a 1.

Em apenas um lance, o Corínthians de Tite, que se mostrava tão bem organizado, revelou-se frágil. O time se perdeu completamente, começou a errar muitos passes e a abrir espaço para jogadas ofensivas do rubro-negro - que vinham com mais perigo nas costas de Alessandro. À exceção de uma cobrança de falta de Bruno César que parou no travessão de Marcelo Lomba, o Flamengo dominava a partida.

A estrela de Luxemburgo ainda não havia se apagado, e isto foi comprovado por outras duas ações dele no jogo. Ao ver a péssima partida que Williams fazia, o técnico optou por substituí-lo por Corrêa. Vendo que Diogo parecia desgastado, decidiu trocá-lo por Val Baiano, fazendo com que o time voltasse a ter um centroavante fixo.

Logo depois, Tite tentou conseguir o mesmo êxito. Mas as duas substituições que fez foram questionáveis. Aos 29 minutos, o Corínthians perdeu seu meia de ligação, Bruno César, e o atacante Iarley. Em seus lugares entraram, respectivamente, o volante Paulinho e o meia Danilo. A equipe ficaria com características defensivas, mas, graças a esta nova formação, acabou conseguindo forçar o Flamengo ao erro e ter uma chance com Danilo rechaçada por Wellinton.

A três minutos do final, o duelo de estrelas parecia próximo de um desempate. O atacante Ronaldo deu uma arrancada, passou por Ronaldo Angelim e, marcado por Maldonado, se preparava para tentar vencer Marcelo Lomba. Mas sua estrela já estava cadente, e a jogada terminou com um tropeço no gramado.

Talvez tenha sido melhor assim. Nem Ronaldo nem Vanderlei Luxemburgo mereciam sair com uma derrota no placar final do Engenhão. O camisa 9 corintiano conseguiu responder a novas hostilidades da torcida flamenguista com um gol bonito, enquanto o treinador rubro-negro mais uma vez foi decisivo em suas ações para evitar que a equipe saísse de campo derrotada.

Com o ponto conquistado, o Flamengo permanece em décimo-terceiro lugar, com 39 pontos, na zona de classificação da Copa Sul-Americana. Mas, com os dois pontos desperdiçados no Engenhão, o time carioca está a cinco pontos do Vitória da Bahia, primeiro da zona de rebaixamento. Segundo os matemáticos, uma equipe se livra completamente da queda para a Segunda Divisão se acumular 45 pontos. O rubro-negro está a duas vitórias desta pontuação, só que tem a seu favor a tabela da competição - ainda faltam três jogos como mandante, contra Atlético Paranaense, Guarani e Cruzeiro. Dentro do Engenhão (definido como sua "nova casa" por causa do fechamento do Maracanã), já é possível evitar correr riscos.

O Corínthians passa pelo menos uma noite na vice-liderança do Campeonato Brasileiro - está com os mesmos 54 pontos de Fluminense e Cruzeiro, mas perde para os tricolores no saldo de gols. Entretanto, nesta quinta-feira a equipe corintiana já pode voltar novamente ao terceiro lugar. Bastam um empate do Fluminense com o Grêmio, também no Engenhão, e do Grêmio Prudente com o Cruzeiro, no Prudentão, para que o ponto conquistado com o Flamengo tenha sido em vão. Os corintianos terminam a rodada com uma certeza: não basta ter um Ronaldo em campo. Sua equipe precisa parar de oscilar em campo para se tornar a estrela do Campeonato Brasileiro de 2010.

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FLAMENGO 1 x 1 CORÍNTHIANS

Estádio: Engenhão (Rio de Janeiro / RJ).

Público: 9.792 pagantes (10.272 presentes) / Renda: R$ 273.210,00.

Árbitro: Sandro Meira Ricci (DF) / Auxiliares: Autemir Hausmann (RS) e Roberto Braatz (PR).

Gols: Ronaldo, aos 30 minutos do primeiro tempo, e Diogo, aos dois minutos do segundo tempo.

Cartões amarelos: Maldonado (Flamengo) e Ralf (Corínthians).

FLAMENGO - Marcelo Lomba, Léo Moura, Ronaldo Angelim, Wellinton e Juan; Maldonado, Willians (Corrêa, 16'/2ºT) e Renato Abreu; Diogo (Val Baiano, 27'/2ºT), Diego Maurício e Deivid (Marquinhos, intervalo). Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

CORÍNTHIANS - Júlio César, Alessandro, William, Chicão e Roberto Carlos; Ralf, Jucilei, Elias (Defederico, 42'/2ºT) e Bruno César (Paulinho, 29'/2ºT); Iarley (Danilo, 29'/2ºT) e Ronaldo. Técnico: Tite.

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