A constante troca de técnicos no Campeonato Brasileiro alterna geralmente entre dois argumentos - maus resultados ou treinadores que receberam boas propostas (em especial, financeiras) e vão embora. Mas, nesta semana, o Flamengo fugiu um pouco à regra na hora de escolher seu comandante.
O substituto de Silas (que foi mandado embora após uma campanha tão fraca quanto a de Rogério Lourenço no comando da equipe) não vem apenas com o intuito de ficar na história como o salvador da pátria em chuteiras rubro-negra. Além da redenção do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo busca se redimir também dos seus últimos insucessos nos clubes que treinou.
Depois dos fracassos nos comandos de Palmeiras e de Santos em 2009, neste ano Luxemburgo chegou ao Atlético Mineiro como o homem que montaria uma equipe vitoriosa, digna de grandes títulos em 2010. No entanto, a conquista do Campeonato Mineiro foi seguida por uma campanha tenebrosa no Campeonato Brasileiro. O timaço de outrora passou a amargar uma constante zona de rebaixamento, e, na opinião da diretoria, a alternativa que estava mais ao alcance dela era a demissão de Vanderlei.
Veterano na carreira de treinador, Vanderlei Luxemburgo habituou-se a conviver com a pressão da profissão mais instável do futebol. Talvez por isto, no momento de sua saída, tenha declarado que precisava reciclar seus conceitos sobre o assunto. Uma atitude muito nobre, e uma autocrítica surpreendente, por vir de um técnico tão estigmatizado como arrogante.
A oportunidade de voltar a dirigir o Flamengo (seu clube de coração, onde atuou como jogador e como técnico por curtos períodos de tempo) até pode servir como forma de retornar às suas raízes no futebol. Mas seria, de fato, uma forma de ele se reciclar como profissional?
Um período de reciclagem demanda um pouco mais de planejamento, e se torna possível quando o clube tem brechas para fazer uma boa parceria com um treinador. Luxemburgo pega um Flamengo que briga para não cair no Campeonato Brasileiro, órfão da equipe campeã nacional de 2009, sem a participação de Zico para dirigir seu futebol e sem possibilidade de fazer novas contratações. Num contexto que exige resultados imediatos, e que tornam cada rodada uma nova decisão.
Enquanto Vanderlei Luxemburgo tenta sua redenção querendo voltar a ser o grande treinador capaz de transformar suas equipes em vencedoras, o Flamengo quer se redimir de um jeito paradoxal, típico de grandes clubes. A curto prazo, com resultaods que possam salvá-lo definitivamente do risco de cair para a Segunda Divisão de 2011. E, ao mesmo tempo, buscando uma reforma estrutural, que torne possível a existência de um esquadrão apto a disputar títulos na temporada seguinte.
Luxemburgo terá o desafio de comprovar que nem a ansiedade por resultados consegue derrubar suas qualidades como treinador. O Flamengo precisará finalmente mostrar dentro de campo que seu desempenho é digno de orgulho para torcedores. Realmente, uma mistura explosiva, na qual a torcida rubro-negra espera que traga boas consequências para os lados da Gávea.
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