terça-feira, 3 de março de 2009

O perigo do "oba-oba"



Em meio aos cânticos de comemoração pelo título da Taça Guanabara no domingo (conquistado com a vitória por 3 a 0 sobre o Resende no Maracanã), a torcida do Botafogo reservou espaço para provocar seu ex-técnico. O coro de "vice é o Cuca" foi recebido com hostilidade pelo atual treinador do Flamengo, que aceitou a provocação alvinegra e afirmou que agora está "com gana de vencer". Por mais que tenha sido uma brincadeira (levada a sério pelo mau humor de Cuca), a piada botafoguense entra num território muito delicado do futebol: o perigo do "oba-oba".

A conquista do primeiro turno deu ao Botafogo o direito de ser um dos clubes da final do Estadual do Rio de Janeiro - portanto, como apontou o atual treinador do rubro-negro do Rio, o melhor da Taça Guanabara ainda corre o risco de ser vice-campeão. Tentando evitar que a euforia da torcida chegue às quatro linhas, Ney Franco logo repudiou a provocação a Cuca, pois, como bom treinador que é (por mais que se discorde dos esquemas táticos dos times que treina, também já ergueu a taça de campeão pelo Ipatinga e pelo Flamengo), sabe que futebol se ganha em campo.

Alguns times já pecaram pelo excesso de euforia e sofreram as consequências. Na Taça Libertadores do ano passado, o Flamengo venceu o América do México por 4 a 2 em terras mexicanas, e chegou ao Rio podendo perder por dois gols de diferença que, mesmo assim, teria sua classificação para as quartas-de-final do torneio garantida. Naquele dia, os rubro-negros fizeram uma grande cerimônia de despedida para o treinador Joel Santana (que deixava o comando do clube para dirigir a seleção da África do Sul) e esperavam uma vitória fácil sobre os mexicanos. Comandado pelo rechonchudo Cabañas, o América saiu de campo com uma vitória por 3 a 0, para espanto dos 50 mil torcedores que estavam no Maracanã.

Os flamenguistas também ficaram do outro lado da moeda nas recentes decisões contra o seu maior adversário, o Vasco da Gama. Às vésperas de cada decisão, o ex-presidente Eurico Miranda falava provocações aos adversários (como "já comprei o chope para comemorar o título), o que, certamente, era usado pelos treinadores do Flamengo para fazer com que o time ganhasse a final do campeonato.

O Vasco também ganhou um título graças à euforia do adversário. Depois de sair de campo no primeiro tempo perdendo por 3 a 0, a equipe de Romário, Euller e Juninhos Pernambucano e Paulista conseguiu virar para 4 a 3 a final contra o Palmeiras, e sagrar-se campeão da Copa Mercosul de 2000 com a vitória denominada por muitos cronistas esportivos como "a virada do milênio".

A Copa do Brasil traz uma série de jogos nos quais os "grandes" são surpreendidos e derrotados pelo seu próprio excesso de euforia. O Vasco já foi desclassificado do torneio por times como CSA, de Alagoas, XV de Novembro de Campo Bom, do Rio Grande do Sul, e Baraúnas, do Rio Grande do Norte. O Palmeiras já sofreu eliminações de ASA de Arapiraca e Ceará. O Fluminense saiu do torneio pelos pés do capixaba Linhares. O torneio, definido pela imprensa como "o caminho mais curto para chegar à Libertadores" acaba sendo mais difícil se o "oba-oba" for o adversário. A galeria de campeões ajuda a mostrar que muitas vezes os times de maior expressão ficam para trás: Criciúma, Santo André e Paulista são alguns dos vencedores do torneio.

Pelo menos em duas situações, o "oba-oba" foi desfavorável para a Seleção Brasileira em Copas do Mundo. No ano de 1982, na Espanha, o Brasil precisava somente de um empate para passar à próxima fase da competição. O adversário era a Itália, dona de um futebol burocrático, violento, que, segundo especialistas, jamais seria superior a uma seleção formada por craques como Júnior, Falcão e Zico. Mas, com três gols de Paolo Rossi (que jogou contundido), os italianos derrotaram o Brasil por 3 a 2, fazendo o "futebol-arte" voltar mais cedo para casa.

Só que a mãe de todas as derrotas e o maior exemplo de que a euforia é uma adversária perigosa no futebol vem de 1950. Naquele ano, o Brasil sediava a Copa do Mundo, e vinha de duas goleadas incontestáveis - 6 a 1 sobre a Espanha e 7 a 1 sobre a Suécia. Na partida final, diante do Uruguai, à Seleção bastava apenas um empate para vencer a Copa do Mundo pela primeira vez.

A torcida já considerava o Brasil campeão, e a imprensa fazia coro. Mas não foi este o resultado que as 205 mil pessoas presentes no Maracanã assistiram. Após abrir o placar com um gol de Friaça, a Seleção Brasileira levou o gol de empate, que estava de bom tamanho para a conquista. Mas, a poucos minutos do fim, o atacante Gigghia passou pelo lateral Bigode e chutou à esquerda do goleiro Barbosa. O gol decretou a vitória uruguaia por 2 a 1 e o silêncio no estádio em 16 de julho de 1950. (Na foto, o momento do segundo gol do Uruguai. Gigghia, com a camisa 7, comemora. Ao lado, o desespero do lateral brasileiro Bigode, vestindo a camisa 6, e o goleiro Barbosa está caído).

Diante de episódios como estes, a única afirmação previsível que a imprevisibilidade do futebol pode passar é a de que o vencedor só pode ser declarado ao final da partida. Por mais que o Botafogo tenha vencido a Taça Guanabara, ainda é cedo para declarar que determinado time ou determinado técnico é o vice-campeão do Estadual. Seria muito injusto com o trabalho atual de Ney Franco na equipe botafoguense se ela saísse de campo derrotada pelo "oba-oba" criado nas arquibancadas.

3 comentários:

Marcos Fontelles de Lima disse...

Caro Vinicius,

vc joga bola tão bem quanto comenta??

Eu acho que o Cuca foi infeliz ao dar ibope para o que disse uma torcida que nem é mais a que ele treina. Ele não tem que se motivar pela torcida do botafogo, mas pelo salário que o Flamengo (Não) paga pra ele, e pelos milhares de torcedores de futebol que o Flamengo tem espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Vc citou o nome de Zico, como craque de 1982... Eu acho o Zico o melhor jogador que eu já vi jogar (eu não era vivo na era Pelé). Hoje o Galinho faz aniversário, hoje nasceu em Quintino uma pérola do futebol carioca.

Eu trocaria os dois titulos mundiais que o Brasil ganhou pelo titulo mundial de 1982, ou até mesmo pelo titulo mundial da Holanda em 1978, pois acho um pecado essas seleções ficarem sem o caneco naqueles anos... o futebol Hoje, seria bem diferente, pois estes dois titulos, iriam contagiar gerações e com isso teríamos mais Robinhos pedalando com suas bicicletas imaginárias...

"Há braços"

Marcos

O vasco da Gama tbm foi eliminado por um time paraense... foi mal lembrar... hahahahahaha

Vinícius Faustini disse...

É sim, Marcos... Pelo Remo, na Copa do Brasil, mas eu fiquei com vergonha de incluir porque ia ter um paraense protestando que eu incluí um time do estado dele como "pequeno".

A fase que eu peguei da carreira do Zico foi quando ele já atuava no Kashima Antlers, por isto não posso dizer que é o melhor que vi jogar. O muito que vi através do velho e bom arquivo do Globo Esporte só mostra o quanto ele é fantástico. E, inclusive, fora de campo, como na solidariedade que ele declarou em relação ao contemporâneo de futebol Roberto Dinamite.

Sobre o Zico, disseram uma frase genial (acho que foi o Fernando Calazans que soltou esta pérola). "Se Zico não ganhou nenhuma Copa do Mundo, pior pra Copa". Não precisa dizer mais nada, né?

Cara... Eu te confesso uma coisa. NÃO JOGO ABSOLUTAMENTE NADA! Sempre fui ruim com a bola, e, na verdade, isso foi positivo pra mim com relação a saber sobre futebol. Os meus colegas meio que me excluíam das conversas no recreio, aí eu comecei a pesquisar sobre futebol pra mostrar que, se eles jogavam melhor que eu, eu sabia mais que eles.

Ah, e tenho aquele velho trauma de peladeiro. Eu sempre fui um dos mais altos da classe. E sempre fui péssimo com os pés. Por isso, toda vez que tinha jogo no recreio: "Vinícius, vai pro gol!".

Abraços,

Vinícius Faustini

Marcos Fontelles de Lima disse...

Opa opa!! os times paraenses são todos pequenos sim!! os menos piores estão na série C. São times mal dirigidos que não correspondem com a torcida que lotam os estádios. A VALE já tentou patrocinar um time paraense, mas voltou atras, pq a declaração é mal feita... O transporte dos jogadores as vezes é pago de forma, digamos amadoras, na base do escambo.

Dos tempos mais recentes... o grande jogador que vi jogar foi o Edmundo, quando o cara pegava na bola mesmo no meio de campo, todos levantavam, pq sabia que alguma coisa boa sairia no lance...


"Se Zico não ganhou nenhuma Copa do Mundo, pior pra Copa". :)

Vc jogava basquete ou voley?? ou algum outro esporte??

Todos os seus amigos, um dia, vão parar de jogar e vc continuará a escrever...

"há braços"