sexta-feira, 27 de março de 2009

90 minutos de fama



A tão criticada fórmula do calendário brasileiro, que insiste na realização de campeonatos estaduais no início do ano, às vezes traz algumas boas surpresas nos torneios entre equipes do mesmo estado. São os "azarões", beneficiados pelo fato de os grandes regionais ainda não estarem com suas equipes bem montadas, que às vezes surgem com seus 90 minutos de fama.

A situação vem acontecendo de maneira corriqueira nos campeonatos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Entretanto, em ambos os estados isto acontece por conta do atual nivelamento por baixo dos clubes neste período de temporada. A ascensão acontece de maneira a encher os olhos dos torcedores mesmo nas partidas do Campeonato Paulista.



Entre 2000 e 2008, os "pequenos" paulistas sempre tiveram representantes na fase semifinal do torneio, e chegaram à finalíssima em cinco das oito edições do Campeonato Paulista. O ápice do sucesso num campeonato veio em 2004, quando São Caetano e Paulista de Jundiaí disputaram o título - com vitória do "Azulão" de São Caetano do Sul. Entretanto, em todas as outras, as equipes pequenas foram derrotadas nas finais do Estadual de São Paulo.

Graças ao Estadual, a imprensa esportiva conheceu nomes como União Barbarense, Portuguesa Santista, Santo André, São Caetano, Botafogo de Ribeirão Preto, Noroeste, Paulista de Jundiaí, dentre outros. Alguns conseguiram alçar voos em competições internacionais - casos de Santo André e Paulista, ambos campeões da Copa do Brasil e automaticamente credenciados para a Libertadores (em 2004 e 2005, respectivamente), e de São Caetano, que mesmo tendo vice-campeonatos no Brasileiro, na edição de 2002 da Taça Libertadores da América disputou a final e (novamente) foi derrotado.

Que torcedor de São Paulo iria imaginar que, para conhecer um dos finalistas do Campeonato Paulista, teria de assistir a um confronto entre Guaratinguetá e Ponte Preta? Pois na edição de 2008, ambos desbancaram os "grandes" Santos e Corínthians dentre os quatro primeiros colocados do Paulistão.

Alguns fatores contribuem para os 90 minutos de fama dos "pequenos" paulistas. O primeiro deles é o de que seus jogadores não são muito visados por times do Brasil e do mundo. Com isto, eles podem manter suas bases e tornar a equipe mais entrosada - ao contrário dos times da elite do futebol brasileiro, sempre sujeitos às janelas abertas para o exterior. Como no início de ano é corriqueiro que as equipes troquem suas "caras" (até mesmo o São Paulo, clube de maior estrutura no país, está sujeito a isto), às vezes a falta de entrosamento é um adversário a mais em campo.

Por isto, é bom que os paulistas estreantes na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro este ano - Santo André e Barueri - tomem cuidado, pois suas equipes correm o risco de ser desmanteladas para os jogadores reforçarem outros clubes de maior expressão e de maior poder aquisitivo no país. A graça da ascensão e da queda de quatro clubes por ano tem este ingrediente a mais: qual a equipe que subiu irá se manter com este adversário difícil da elite do futebol?

Além disto, há o inchaço do Campeonato Paulista. São 20 clubes que disputam a primeira divisão do torneio - designada como Série A-1. A possibilidade de algum dos 16 clubes surpreender é bem considerável. Ainda mais que, pela superioridade dos times paulistas, alguns deles são invariavelmente credenciados para disputar no primeiro semestre a Taça Libertadores da América - casos atuais de São Paulo e Palmeiras - e escalam times mistos ou reservas em seus jogos no Estadual para, obviamente, tentarem a conquista da mais importante disputa sul-americana.

Atualmente, a Portuguesa está em quarto lugar na classificação do Campeonato Paulista, tomando a vaga do Santos (em quinto) - e ambos estão ameaçados pelo Santo André, sexto colocado. Resta à Lusinha (do bom jogador Edno, na foto em jogo do ano passado) ou ao Ramalhão de Santo André (do veterano Marcelinho Carioca, na foto disputando uma bola no duelo contra o Corínthians) tentarem eliminar a equipe santista e, assim, dar a algum "pequeno" a chance dos 90 minutos de fama no Campeonato Estadual de São Paulo.

3 comentários:

Marcos Fontelles de Lima disse...

Este é o ciclo... tme pequeno -> time grande -> exterior.

Vai chegar um dia que será normal time pequeno -> exterior

Derbson Frota disse...

Isso mostra a competitividade do futebol brasileiro, pois quando inicia um campeonato nacional, pelo menos metade das equipes têm condições de brigar pelo título, diferentemente da maioria dos campeonatos europeus, por exemplo, em que só três ou quatro disputam o caneco.

Como bom rubro-negro, quando ouço falar em "pequenos", lembro com lágrimas nos olhos a perda do título da Copa do Brasil para o Sto André, em 2004, com 90 mil pessoas no Maraca. Recentemente, amargamos o Resende...

Derbson
Tianguá CE

Marcos Fontelles de Lima disse...

Deberson,

Excelente comparação com o futebol europeu!!