sábado, 14 de março de 2009

Apito em questão



Desde os primórdios do futebol, a arbitragem é a parte mais questionável em todos os jogos. Afinal, um lance apitado erroneamente pode levar por água abaixo meses de treinamento e dar vantagem a uma equipe que, em campo, não merece a vitória. Este panorama não é diferente nos campos brasileiros - em especial nos últimos tempos, quando erros de arbitragem vêm sendo constantes nas partidas realizadas por aqui.

Os deslizes dos juízes ficam mais graves ainda em função da modernização das televisões - que há algum tempo usam o videoteipe não só para repetir os gols e os lances bonitos, como também para tirar a dúvida de algum impedimento polêmico ou de um pênalti discutível. Mas discutível mesmo fica a qualidade da arbitragem no Brasil.

Nem mesmo nomes em evidência no atual panorama do futebol brasileiro escapam da língua ferina dos comentários de torcedores e de ex-juízes que vão para a televisão para, durante os jogos, analisar a atuação do árbitro. Paulo César de Oliveira, Héber Roberto Lopes e Carlos Eugênio Simon (este último, já apitou partidas em Copa do Mundo) já tiveram seus erros reconhecidos pelo videoteipe.

Por sinal, com Simon aconteceu uma situação inusitada no Campeonato Brasileiro do ano passado. No último minuto da partida entre Cruzeiro e Flamengo, realizada no Mineirão, Diego Tardelli teria sido derrubado dentro da área pelo zagueiro Léo Fortunato. O árbitro não sinalizou a penalidade, e, como o rubro-negro perdeu a partida por 3 a 2, deu início a uma revolta contra o juiz e contra a arbitragem brasileira (que estaria em decadência, de acordo com a diretoria). Dias depois, a mesma televisão que sacramentara o pênalti mostrou a jogada por outro ângulo, e veio a surpresa: de fato, o pênalti não aconteceu.

Com a possibilidade de erro e de terem suas falhas reconhecidas em tempo real, os árbitros brasileiros agora vêm adotando técnicas drásticas para não aparecerem mais do que os artistas do espetáculo. Alguns deixam o jogo correr, permitindo a violência de ambos os lados, que possibilitam os absurdos números de faltas. Outros tentam se impor desde o início, aplicando advertências a torto e a direito. E o pior é que em ambos os lados é demonstrada a insegurança do juiz, que, como apontou Fernando Calazans em sua coluna do jornal O Globo, se revela um "soprador de apito".

É o caso de Rodrigo Nunes de Sá. No clássico entre Botafogo e Vasco realizado quinta-feira no Maracanã, foram distribuídos 16 cartões (oito para cada equipe), sendo três deles com a cor vermelha (dois para jogadores botafoguenses e um para um atleta cruzmaltino). Uma contagem exagerada, visto que boa parte dos cartões veio de reclamações feitas a partir de erros do próprio Nunes de Sá - que tendia a paralisar o jogo em divididas na intermediária.

Independente do fato se o pênalti que gerou o terceiro gol vascaíno aconteceu fora ou dentro da área (este que vos escreve viu e reviu o lance e em todos achou que a falta aconteceu em cima da linha da grande área - portanto, foi pênalti), é uma pena ver a arbitragem como a de anteontem em evidência por sua conduta duvidosa diante do jogo. No campo em que os artistas do espetáculo são os jogadores, os juízes devem ser coadjuvantes, com sua participação reduzida a permitir a boa atuação de ambos os lados.

Seu momento diante dos holofotes tem de ficar restrito ao centro do campo, no qual ergue o braço para apontar o fim da partida. Senão, o "sopro de apito" terá comprometido a arte das quatro linhas, e deixará visível o despreparo da arbitragem brasileira.

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