terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Telhado de vidro



O futebol brasileiro tem em sua história muitos episódios nos quais cartolas foram os centros das atenções em suas competições - coisas que, felizmente, vêm rareando com o passar das décadas e a modernização no calendário brasileiro. Entretanto, estes fatos continuam em debate, mas não por provocações entre torcedores.

A ironia vem de cima, por parte dos cartolas, que agem como integrantes de torcida até mesmo para desmerecerem a conquista alheia. Foi o caso do presidente do Corínthians, Andrés Sanchez. Durante a cerimônia em homenagem aos Craques do Brasileirão 2010, ele parabenizou o campeão brasileiro Fluminense, mas fez uma ironia em seu discurso: "O meu clube também foi rebaixado e sei como é doloroso. Mas é muito bom voltar pela porta da frente, com honra".

Sanchez se referiu à trajetória recente do Corínthians - que em 2007 caiu para a Segunda Divisão, mas voltou à elite do futebol brasileiro ao final do ano seguinte. como campeão da Série B - e colocou como parâmetro a manobra contraditória que deu ao Fluminense o direito de estar na Primeira Divisão no início da década. Durante a segunda metade da década de 1990, o tricolor das Laranjeiras passou por vários momentos nos quais teve apoio do "tapetão" para continuar no grupo dos melhores do país.

Após ser rebaixado em 1996, o clube foi poupado, graças a uma "virada de mesa", e jogou o Campeonato Brasileiro de 1997. Entretanto, o time novamente terminou o ano rebaixado. No ano seguinte, o Fluminense disputou a Série B mas, ao final dela, sofreu um novo rebaixamento. Em 1999, o tricolor disputou a Série C e foi campeão dela. Pela ordem natural das competições, estaria credenciado a disputar a Segundona no outro ano. No entanto, com a realização da Copa João Havelange em lugar do Campeonato Brasileiro de 2000, houve nova manobra, que permitiu a ascensão de alguns clubes das divisões intermediárias ao Módulo Azul (equivalente à Série A) - dentre eles, o Fluminense, "convidado" por ser um dos fundadores do Clube dos 13, que era o organizador da Copa JH.

Sim, de fato uma atitude questionável, que se torna um dos grandes momentos do triunfo da política sobre o futebol. Só que a Copa João Havelange não teve apenas o Fluminense beneficiado - Bahia (rebaixado em 1997), América Mineiro (que caiu em 1998) e Juventude (que terminou na zona de rebaixamento em 1999) também tiveram o direito de disputar a Primeira Divisão.

E, ao final de 2000, outros clubes foram beneficiados na história das competições nacionais. No fim da primeira fase da Copa João Havelange, o Santa Cruz terminou em último lugar e, na penúltima colocação, ficou o Corínthians. Pela ordem natural, ambos cairiam para a Série B no ano seguinte. Se não fosse a ação da Confederação Brasileira de Futebol, que decidiu não só manter os 25 clubes da Copa JH, como também acabou promovendo os dois primeiros do Módulo Amarelo (a Segunda Divisão de 2000), Paraná e São Caetano, e o Botafogo de Ribeirão Preto, que caíra em 1999. Graças à atitude da CBF, o time corintiano não passou pela vergonha de ser rebaixado no ano seguinte a ter sido vencedor do Brasileirão.

As desordens do Campeonato Brasileiro devem sempre ser relembradas por clubes e pela imprensa esportiva, mas para que sejam usadas como exemplos negativos e não voltem a imperar no cenário do futebol nacional. A declaração de Andrés Sanchez não conteve nenhuma mentira, mas, além de ter sido usada como provocação, veio de um Corínthians que tem em sua história um episódio no qual foi beneficiado pelo "tapetão". E, se os historiadores pesquisarem de maneira aprofundada a história do Brasileirão, talvez não sobre nenhum clube de qualquer divisão que seja completamente idôneo diante dos regulamentos de cada uma das edições.

Nenhum comentário: