"Não é justo que grandes jogadores, como o Pelé, não tenham um Brasileiro". A frase do presidente do Santos, Luís Álvaro Ribeiro, foi uma das premissas surgidas no debate para considerar as conquistas da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (ou Taça de Prata) títulos nacionais. A primeira competição durou entre 1959 e 1968, envolvendo campeões estaduais de todo o país. Originalmente, a segunda envolvia apenas clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas, entre 1967 e 1970, começou a agregar equipes de outros estados. Ambos os torneios têm o mérito de serem precursores do Campeonato Brasileiro, que veio a ser disputado a partir de 1971.
Após a solicitação dos campeões destes torneios, a Confederação Brasileira de Futebol está inclinada a considerar estes títulos como campeonatos brasileiros. De acordo com Marcelo Guimarães, presidente do Bahia (campeão da Taça Brasil de 1959), "é apenas uma questão de legitimidade". Esta frase comprova uma tendência lamentável do povo brasileiro, até mesmo em relação ao seu futebol. O fato da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa já terem sido extintos do calendário nacional fez com que as competições fossem relegadas a momentos de glórias que criam teias de aranha na sala de troféus dos respectivos vencedores.
O desprestígio a estes torneios acabou gerando o desejo de reconhecimento dos campeões, e a CBF decidiu usar a equivalência da Taça Brasil e do Torneio Gomes Pedrosa ao atual Campeonato Brasileiro. Só que, em vez de ter um efeito retroativo, a iniciativa da Confederação Brasileira de Futebol pasteurizou a história do futebol nacional. Assemelhar o Brasileirão às demais taças é tirar a relevância que as competições precursoras tiveram para a história da nacionalização da competição.
O Brasil não precisaria de uma unificação se concebesse que, antes do Internacional da década de 1970 e do Flamengo dos anos 80, houve um Santos de Pelé e um Cruzeiro de Tostão com qualidade e visibilidade nacional. E não seria necessário equivaler títulos para a torcida do Bahia confirmar que, antes da conquista do Campeonato Brasileiro de 1988, o clube teve reconhecimento do país afora com o título da Taça Brasil de 1959.
A atitude abre espaço para outras duas polêmicas. A primeira é a eterna rixa da CBF com o Flamengo, sobre o título da Copa União de 1987. Se a entidade agora tornou válidas conquistas que antes renegava, por que a vitória rubro-negra é deixada de lado? A outra questão é sobre a equivalência contraditória. As duas últimas edições da Taça Brasil foram no mesmo ano em que as primeiras competições nacionais do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Na primeira, o Palmeiras foi campeão. Se há apenas um campeão brasileiro por ano, o time palmeirense pode ser considerado bicampeão no mesmo ano (pois venceu a Taça Brasil e o Robertão de 1967)?
Na tentativa de não perder o apoio de Bahia, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense, a Confederação Brasileira de Futebol promete criar uma confusão sem precedentes para a história do futebol nacional. E pior do que torcidas que esquecem ou desmerecem momentos históricos, é ver uma CBF que decide adequar o passado ao seu presente, como se fosse um favor de sua entidade igualar os campeões do Brasileirão pós-1971 aos campeões de outras décadas.
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Taça Brasil1959 - Bahia
1960 - Palmeiras
1961 a 1965 - Santos
1966 - Cruzeiro
1967 - Palmeiras
1968 - Botafogo
Torneio Roberto Gomes Pedrosa1967 - Palmeiras
1968 - Santos
1969 - Palmeiras
1970 - Fluminense
Um comentário:
O certo seria analisar campeonato por campeonato e decidir qual dele tem relevância para ser qualificado como Brasileiro. Não é difícil, basta estudar como foi feito cada um deles, os times participantes e tudo que cerca um campeonato comum.
Pena, que como sempre, isso tudo envolve política.
Abraço Vinícius
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