domingo, 5 de dezembro de 2010

Chega de humildade! - Pedindo permissão ao mestre



De Diego Bachini Lima

Amigos, a humildade acaba aqui. Desde hoje o Fluminense é o campeão do Brasil. No maior de todos os tempos, o tricolor conquistou a sua mais bela vitória. E foi também o grande dia do Estádio Olíimpico João Havelange. A massa “pó-de-arroz” teve o sentimento do triunfo. Aconteceu, então, o seguinte: — vivos e mortos subiram as rampas. Os vivos saíram de suas casas e os mortos de suas tumbas. E, diante da plateia colossal, Fluminense e Guarani fizeram uma dessas partidas imortais.

Daqui a duzentos anos a cidade dirá, mordida de nostalgia: — “Aquele jogo!”. Ah, quem não viu o jogo no Estádio Olímpico João Havelange não viveu. E o Fluminense fez uma exibição digna de sua história, sofrida e suada. Lutou com a alma indomável do campeão. Ninguém conquista o título num único dia, numa única tarde. Não. Um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de um campeonato inteiro.

Acreditem: — o Fluminense começou a ser campeão muito antes. Sim, quando saiu do caos para a liderança. “Do caos para a liderança”, repito, foi a nossa viagem maravilhosa. Lembro-me do primeiro domingo em que ficamos sozinhos na ponta. As esquinas e os botecos faziam a piada cruel: — “Líder por uma semana”. Daí para a frente, o Fluminense era sempre o líder por uma semana.

Olhem para trás. Da rodada inaugural até ontem, não houve time mais regular, mais constante, de uma batida mais harmoniosa. Mas foi engraçado: — por muito tempo, ninguém acreditou no Fluminense, ninguém. Um dia, Emerson veio das Arábias. Era o ponta-de-lança mais esperado que um Moisés. Queríamos um goleador. E nunca mais se interrompeu a ascensão para o título.

O curioso é que, há muito tempo, aqui mesmo desta coluna, fez-se o vaticínio de que o campeonato teria a sua decisão num lance de Washington. Foram autores de tal profecia, primeiro, o próprio jogador; em seguida, a minha amiga Wannessa Lima, um e outro tricolor. O que ambos não sabiam é que já estava escrito há seis mil anos que o campeão seria o Fluminense num passe de cabeça do Coração Valente. E vou citar um outro oráculo: Fred. Quando o tricolor parecia uma piada no fim do último ano: — “Este é o ano do Fluminense!”. E do seu olhar vazava luz.

Amigos, o que se viu hoje no Estádio Olímpico João Havelange foi espantoso. Primeiro, a tempestade de bandeiras, de pó-de-arroz, o mosaico tricolor.

E que formidável partida! O Fluminense acuado não conseguia jogar no primeiro tempo, mas o Goiás marcou. O Fluminense nervoso e o Corínthians empata. E foi preciso que Emerson, o goleador do Fluminense, marcasse aquele que seria o gol da vitória, da doce e santa vitória. E o Corínthians, no Planalto Central, não desempatou mais, nunca mais. Era a vitória, era o título.

Agora a pergunta: — e o personagem da semana? Podia ser Emerson, que fez uma exibição magistral e, inclusive, o gol do título. Podia ser Leandro Euzébio, que volta a ser o o melhor zagueiro do campeonato e um dos maiores jogadores brasileiros de defesa. Penso também em Dario Conca, que, a princípio nervosíssimo, teve intervenções sensacionais. Podia ser também Muricy, que, sóbrio, modesto, trouxe a equipe do caos para o título. Mas entendo que desta vez o personagem deve ser o time. Do goleiro ao ponta-esquerda. Todos, todos mostraram uma alma, uma paixão, um ímpeto inexcedíveis.

Pelo amor de Deus, não me venham dizer que, após o gol, o Guarani desanimou. O Bugre cresceu com a desvantagem no placar, lançou-se todo para a frente. Eram fanáticos dispostos a vencer ou perecer. O Guarani teve ontem um dos grandes momentos de sua história.

Mas, dizia eu no começo que a nossa humildade para aqui. Passamos toda a jornada com um passarinho em cada ombro e as duras e feias sandálias nos pés. Mas o Fluminense é o campeão. Erguendo-me das cinzas da humildade, anuncio: — “Vamos tratar do tetra”.

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