quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Os imponderáveis



INDEPENDIENTE, DA ARGENTINA, CAMPEÃO DA COPA SUL-AMERICANA DE 2010

Análise de quarta - Independiente (ARG) 3 x 1 Goiás (nos pênaltis, Independiente 5 a 3)

O Goiás ter conseguido chegar à decisão da Copa Sul-Americana era um feito imponderável para seu futebol - tanto por sua falta de tradição em competições internacionais quanto por sua ascensão acontecer numa temporada em que o clube terminou rebaixado para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro. Só que os feitos imponderáveis nem sempre são favoráveis a equipes que surpreendem numa competição. Na noite de 8 de dezembro, os acasos futebolísticos favoreceram os argentinos do Independiente a se sagrarem campeões da Sul-Americana.

Não foi nenhuma surpresa o Independiente se lançar ao ataque desde os primeiros minutos, em especial por jogadas pelas laterais, que tentavam encontrar a dupla Parra e Rodríguez livre na área. No entanto, o trio de zaga formado por Rafael Tolói, Ernando e Marcão conseguia defender com eficiência a equipe goiana. Foram necessários 19 minutos e uma jogada de bola parada para que o time argentino ficasse em vantagem diante do Goiás. Fredes lançou para a área e, livre, Matheu chutou forte. Após defesa de Harlei, Velásquez, sem marcação, colocou a bola no fundo da rede. Independiente 1 a 0.

Apoiados por cerca de 40 mil torcedores, os argentinos passaram a apoiar com mais intensidade, à espera de mais um gol que igualasse o saldo da final (no primeiro jogo, os goianos venceram por 2 a 0 no Serra Dourada). Só que a iniciativa de jogadas ofensivas foi surpreendida por um erro no meio-de-campo. Wellington Saci conseguiu roubar a bola do adversário e, com fôlego, subiu pela esquerda. No cruzamento para a área, Rafael Moura desviou de cabeça para empatar. 1 a 1, aos 22 minutos.

O Goiás contava com seu ímpeto para superar o adversário na final. Só não contava com mais um fato imponderável capaz de atrapalhar sua partida decisiva em Avellaneda. Quatro minutos depois do gol sofrido, Ernando foi rechaçar uma tentativa de cruzamento. A bola bateu no calcanhar de Parra e partiu em destino ao fundo da rede de Harlei. Independiente 2 a 1.

Mas o acaso ainda seguia como forte adversário do Esmeraldino. Num cruzamento da direita, Marcão dividiu a jogada com Parra. Caído, o atacante conseguiu chutar, e o lance foi concluído com Harlei buscando a bola no fundo de sua rede. 3 a 1 Independiente, aos 34 minutos. Placar que, ao final do primeiro tempo, encaminhava a decisão para uma prorrogação de 30 minutos.

Na volta do intervalo, as equipes continuaram a atuar da forma apresentada no primeiro tempo. Forte pressão do Independiente (com poucas oportunidades claras para marcar) e o Goiás se defendendo intensamente. O que tornou o jogo diferente foi o equilíbrio que o time goiano conseguiu dar à partida.

Além de evitar que os jogadores adversários tivessem muitas oportunidades - as duas chances foram com Parra, uma com boa defesa de Harlei e outra quando o atacante errou num cruzamento e quase surpreendeu o goleiro - o Esmeraldino dominou o jogo, graças ao seu preparo físico superior. Nem com as duas alterações que o técnico Antonio Mohamed fez (Gómez e Gracian em lugares de Martinez e Rodriguez) "El Rojo" encontrou forças para segurar o empenho adversário.

O Goiás teve várias oportunidades, e numa delas chegou a marcar, mas o gol foi anulado por impedimento de Otacílio Neto, mas desperdiçou todas elas. Em duas chances com Rafael Moura, o time foi derrotado pelo imponderável. Num lance, o atacante dois zagueiros, mas foi travado pelo goleiro Navarro na hora do chute. Em outro, diante do arqueiro adversário, a opção de dominar a bola antes de arriscar fez com que seu chute fosse para fora. Aos 46 minutos, Oscar Ruiz encerrou o tempo regulamentar, e o mistério do título da Sul-Americana duraria ao menos mais 30 minutos de prorrogação.

Prorrogação na qual o Goiás foi soberano, em empenho e em velocidade. Com a entrada de Éverton Santos no lugar de Carlos Alberto e, principalmente, pela partida sensacional que Felipe (substituto de Otacílio Neto) vinha fazendo desde os 30 minutos do segundo tempo, o time goiano parecia cada vez mais próximo do gol.

Só que os grandes momentos do Goiás pararam no imponderável do futebol. A um minuto, um cruzamento de Rafael Moura passou por toda a área e parou na cabeça de Rafael Tolói. O zagueiro, sozinho, desviou de cabeça, e a bola bateu na trave. Três minutos depois, uma cobrança de escanteio chegou até Marcão, que cabeceou. Navarro defendeu e, na volta, Marcão colocou a bola no fundo da rede. Mais um gol anulado por impedimento.

Os últimos minutos mostraram um contraste atípico em jogos decisivos de futebol. O visitante Goiás passava os minutos se impondo, arriscando jogadas e tentando o gol, alheio aos 40 mil torcedores de Avellaneda. Era o mandante Independiente que se portava como time que atua fora de casa, ansioso a ponto de não conseguir trocar passes e associando a decisão por pênaltis a um momento de alívio. O indício era de que o melhor preparo físico e a pressão psicológica do adversário favorecessem o alviverde goiano na decisão por pênaltis da Copa Sul-Americana.

Vieram as cobranças. Velázquez abriu o placar para o Independiente. Rafael Tolói empatou. Parra fez o segundo do time argentino. Éverton Santos marcou o segundo dos goianos. Gracián fez 3 a 2 para a equipe de Avellaneda.

E na disputa de penalidades máximas, novamente o imponderável surgiu de maneira decisiva. O atacante Felipe, que passou da esperança de gols do Goiás no Campeonato Brasileiro de 2010 a um jogador relegado ao banco de reservas, entrara bem na decisão da Copa Sul-Americana e, agora, nos pênaltis, poderia ser ainda mais importante para a história do alviverde goiano. Poderia. Se sua cobrança rasteira não parasse na trave.

Matheu fez o quarto gol do Independiente. Rafael Moura ainda diminuiu a diferença argentina, mas a cobrança do lateral Tuzzio deu o título a "El Rojo" - que se vestira de azul neste jogo de Avellaneda, para sua sorte então mudar, a ponto de ser o primeiro clube campeão da Copa Sul-Americana credenciado para disputar a Taça Libertadores da América do ano seguinte. O grande vencedor do principal campeonato da América do Sul tentará em 2011 seu oitavo título - além da busca por resgatar a tradição perdida nas últimas décadas (sua conquista mais recente na Libertadores foi em 1984).

Passada a campanha surpreendente na Copa Sul-Americana, o Goiás agora volta à amarga realidade de um time que passará 2011 disputando a Série B do Campeonato Brasileiro. Restam o ímpeto e a certeza de que a equipe batalhou até o fim para superar até mesmo a adversidade de todo ano de 2010. Mas fica a lição de que nem sempre o imponderável triunfa no futebol. E, com o título do Independiente, a sexta vaga brasileira na Taça Libertadores da América de 2011 fica para o Grêmio, quarto colocado no Campeonato Brasileiro deste ano, que fez uma campanha digna de reconhecimento dentro do campo. Mais digna do que o penúltimo lugar do Esmeraldino no Brasileirão.

*****

INDEPENDIENTE (ARG) 3 x 1 GOIÁS (nos pênaltis, Independiente 5 a 3)

Estádio: Libertadores de America (Avellaneda, Argentina)

Árbitro: Oscar Ruiz (COL) / Auxiliares: Abraham González (COL) e Humberto Clavijo (COL).

Gols: Velázquez, aos 19, Rafael Moura, aos 21 e Parra, aos 24 e aos 34 minutos do primeiro tempo.

Disputa de pênaltis: Velázquez, Parra, Gracián, Matheu e Tuzzio marcaram para o Independiente. Rafael Tolói, Éverton Santos e Rafael Moura marcaram para o Goiás. Felipe, do Goiás, desperdiçou sua cobrança.

Cartões amarelos: Tuzzio, Matheu, Velázquez, Navarro (Independiente), Otacílio Neto, Rafael Moura e Rafael Tolói (Goiás).

INDEPENDIENTE - Navarro, Tuzzio, Matheu, Velázquez e Mareque; Cabrera, Battion, Fredes (Maxi Velázquez) e Martinez (Gomez); Rodriguez (Gracián) e Parra. Técnico: Antonio Mohamed.

GOIÁS - Harlei, Rafael Tolói, Ernando e Marcão; Douglas (Éverton Santos), Amaral, Carlos Alberto, Marcelo Costa e Wellington Saci; Otacílio Neto (Felipe) e Rafael Moura. Técnico: Artur Neto.

*****

Com este texto, O tempo e o placar... chega às suas 500 postagens. Marca emocionante para quem começou o sonho de mostrar seu ponto de vista esportivo no ano passado. Muito obrigado a todos vocês!

Nenhum comentário: