terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O mundo do futebol não se resume a América do Sul e Europa



Há 50 anos, o calendário do futebol se acostumou a ter sua maior competição de nível internacional no fim do ano. O confronto entre o maior vencedor da América do Sul e o grande campeão da Europa ganhou tanta dimensão que o duelo de continentes passou a ser chamado de Mundial Interclubes. Este formato durou de 1960, quando o Real Madrid venceu o uruguaio Peñarol, até 2004, ano em que o Porto superou nos pênaltis o Once Caldas, da Colômbia. A única diferença foi na maneira como passou a surgir o "campeão do mundo" depois da edição de 1980: em vez de cada time fazer um jogo como mandante (e, em algumas vezes, ser necessário de uma terceira partida como desempate), ganhava a taça quem vencia um jogo realizado no Japão - disputado ou em Tóquio ou em Yokohama.

Após um embrião questionado no ano 2000, no qual pela primeira e única vez dois times do mesmo país disputaram uma decisão (com o triunfo do Corínthians, representante do Brasil por ser o campeão brasileiro de 1999, sobre o Vasco, campeão da Libertadores de 1998, na disputa de pênaltis do Maracanã), a partir de 2005 o torneio finalmente fez jus ao título de Mundial de Clubes. Além do vencedor sul-americano e do campeão europeu, a competição agregou campeões da África, da Ásia, da Concacaf (Américas Central e do Norte, além do Caribe), da Oceania e uma vaga para o país-sede, que nas últimas duas edições deixou de ser o Japão para dar lugar aos Emirados Árabes. Só que, mesmo com a reunião dos teoricamente "melhores do mundo", a disputa Mundial de Clubes continuava a se resumir ao embate entre o melhor da América do Sul e o grande clube da Europa no ano.

Talvez por isto, a imprensa mundial tenha começado a apontar o favoritismo destes centros de futebol. E a história jornalística se repetiu em 2010. Desde as primeiras coberturas sobre a competição, o mundo resumiu o embate do ano ao confronto entre os homônimos - o brasileiro Internacional e a italiana Internazionale de Milão.

Até o dia 14 de dezembro de 2010. Nem mesmo a boa atuação na vitória por 1 a 0 do Mazembe sobre o mexicano Pachuca nas quartas-de-final fez com que as pessoas ficassem menos eufóricas com a possibilidade do Internacional voltar a decidir um Mundial de Clubes - quatro anos depois de sua primeira conquista. À equipe da República do Congo sobraram praticamente linhas com palavras de méritos, que diziam que "os africanos conseguiram o grande feito de chegar à semifinal do Mundial". Todas acompanhadas pelo "mas", que descrevia a superioridade de um Inter com um elenco estelar, de nomes como Kléber, Tinga, D'Alessandro, Alecsandro, Rafael Sóbis, e que se dava ao luxo de ter um reserva de qualidade como o promissor Giuliano - que foi o artilheiro da equipe na Taça Libertadores da América deste ano.

Só que aí vieram os primeiros 90 minutos do Internacional em Abu Dhabi. Kléber se omitiu na partida. De Tinga se viu só o resquício de toda a garra que seu futebol apresentava. O argentino D'Alessandro se resumiu a figurar em cobranças de bola parada. O ataque com Alecsandro e Rafael Sóbis pouco foi acionado. Nem o talismã Giuliano pôde ajudar nos poucos minutos que teve em campo.

De tudo isto, restou uma derrota por 2 a 0. Com a atuação segura do goleiro Kidiaba, com a organização tática de uma equipe com nomes que enrolam a língua dos brasileiros e que entortaram os representantes do país do futebol no Mundial de Clubes. E, principalmente, com o oportunismo de Kabangu e Kaluytuika, que aproveitaram deslizes da zaga Bolívar e Índio (aliada à insegurança constante do goleiro Renan) para comprovarem a grande certeza que esta competição tentava achar desde 2005.

A certeza de que o mundo do futebol não se resume ao embate entre América do Sul e Europa. Para ser campeão do mundo, um time não pode se deixar levar pela própria tensão, em especial se ela vem porque o adversário de suposta qualidade inferior não demonstrava que seria abatido facilmente. O Internacional perde a chance título. Mas o futebol mundial agora reconhece, de uma vez por todas, a importância no continente africano em seu cenário.

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