quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Extremos guerreiros



Análise de jogo: Goiás 2 x 0 Independiente (ARG) (22h, Serra Dourada)

O Goiás pisou no gramado do Serra Dourada em busca de muito mais do que ultrapassar novos limites da superação internacional ,depois de um grande insucesso no Campeonato Brasileiro de 2010. Os jogadores precisavam dar uma boa resposta aos mais de 35 mil torcedores que ocuparam as arquibancadas com uma festa que teve direito ao "maior mosaico para um clube no Centro-Oeste brasileiro". Também ansiavam por responder à crítica esportiva, que além de passar a semana questionando a postura que tomaria o time goiano contra o tradicional Independiente, ainda se esforçava para entender como uma equipe tão fraca chegara à final da Copa Sul-Americana.

As respostas vieram com bastante clareza no primeiro tempo. Aos sedentos por tática, o técnico Artur Neto apresentou um 3-5-2, considerado defensivo, em especial porque o Goiás traz um trio de zaga acima da média, com Rafael Tolói, Ernando e Marcão. Mas que levou o time à frente pela maneira como o jogo se desenhou. O time argentino se fechou na defesa, amparado também pelo 3-5-2, mas disposto a gastar o tempo para deixar a torcida goiana impaciente.

Só que os torcedores esmeraldinos tiveram como resposta mais motivos para comemorar. Um zagueiro tentou rechaçar uma tentativa adversária, mas a bola explodiu no pé de Carlos Alberto. Na sobra, Rafael Moura, com oportunismo, chutou sem chance para Navarro. Goiás 1 a 0, aos 14 minutos.

Em vantagem no placar e com o adversário ainda atônito, o Goiás continuou sua pressão, capitaneada pelo meia Marcelo Costa e pela dupla Otacílio Neto e Rafael Moura, mas em alguns momentos perdeu oportunidades pela ansiedade de seus jogadores. Num destes erros, Cabrera chutou e fez com que Harlei espalmasse a bola para escanteio.

Lance isolado, em meio a um grande duelo entre o ataque do Goiás e a defesa do Independiente. O embate teve mais um momento com supremacia alviverde aos 21 minutos. Após jogada iniciada por Marcelo Costa, Douglas desceu pelo lado direito. Ao tentar um drible, o adversário conseguiu cortar, mas, no rebote, Otacílio Neto estava livre para colocar a bola novamente no fundo da rede de Navarro. 2 a 0 Goiás

Dois gols que fizeram jus a tanto apoio vindo das arquibancadas. Embora nos últimos minutos sua equipe tenha jogado na base do chutão, o Goiás teve superioridade diante de um violento e praticamente inofensivo Independiente.

O técnico Antonio Mohamed alterou a postura defensiva da equipe argentina no intervalo. O volante Godoy saiu, para a entrada do meia Pato Rodríguez. Os goianos mantiveram o ritmo do primeiro tempo nos minutos iniciais da segunda etapa.

Mas, devido aos espaços deixados para a dupla de ataque Parra e Silvera, os esmeraldinos passaram a priorizar o desejo de evitar sofrer gols. Parecia que o Goiás desconhecia o regulamento da Sul-Americana - na decisão, o critério de "gol marcado fora de casa" não existe, o saldo de gols é o único diferencial. Basta o adversário conseguir uma vitória pela mesma diferença para forçar a prorrogação (e, no caso do empate persistir, o campeão será definido após uma disputa de pênaltis).

Nem mesmo a expulsão de Silvera - após cotovelada desleal em Rafael Tolói - fez com que o alviverde goiano tivesse sede para marcar o terceiro gol. Enquanto o Independiente chegava apenas em lances de bola parada, os guerreiros alviverdes partiam para o outro extremo de suas características. Do ataque constante, sobraram cautela e muita cadência na troca de passes.

Apesar do coro da torcida começar os gritos de "mais um", o resultado parecia satisfatório também para Artur Neto. O técnico mexeu no time apenas aos 34 minutos, para trocar um atacante por outro - o cansado Otacílio Neto por Éverton Santos. Felipe, atacante que teve seu nome gritado pelos torcedores, só entrou a três minutos do fim - em lugar do meia Marcelo Costa. Àquela altura, seus companheiros estavam cansados e o Independiente resumia sua ação a não sofrer uma goleada - seu treinador também mudou o time apenas nos minutos finais, colocando Matheu e Maxi Velásquez nos lugares de Cabrera e Fredes, respectivamente).

Os fogos do Serra Dourada mostraram a explosão de um Goiás que chegou aos seus extremos em 90 minutos. O time de guerreiros apresentou uma postura ofensiva aliada a uma imensa cautela, conseguiu que sua tática defensiva ganhasse também um bom poder de ataque, e mostrou uma superioridade digna de uma vitória maiúscula, e não refletida no placar.

Apesar de estar com um futebol bem aquém de sua tradição (são sete títulos da Taça Libertadores da América, o maior vencedor da história da competição), "El Rojo" volta para a Argentina com a sensação de que seus guerreiros não tiveram um desempenho tão ruim com sua postura defensiva. Em Avellaneda, a tendência é de que o Independiente queira comandar as ofensivas da guerra. E o Goiás tem uma semana para saber qual faceta deve levar a Buenos Aires para a finalíssima da Copa Sul-Americana.

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GOIÁS 2 x 0 INDEPENDIENTE (ARG)

Estádio: Serra Dourada (Goiânia / GO)

Público: 35.500 pagantes. / Renda: R$ 912.940,00.

Árbitro: Carlos Torres (PAR). / Auxiliares: Nicolás Yegros (PAR) e Rodney Aquino (PAR).

Gols: Rafael Moura, aos 14, e Otacílio Neto, aos 21 minutos do primeiro tempo.

Cartões amarelos: Otacílio Neto, Carlos Alberto (Goiás), Velasquez e Galeano (Independiente).

Expulsão: Silvera (Independiente).

GOIÁS - Harlei, Rafael Tolói, Ernando e Marcão; Douglas, Carlos Alberto, Amaral, Marcelo Costa (Felipe) e Wellington Saci; Otacílio Neto (Éverton Santos) e Rafael Moura. Técnico: Artur Neto.

INDEPENDIENTE - Navarro, Velasquez, Tuzzio e Galeano; Cabrera (Matheu), Battion, Fredes (Maxi Velasquez), Godoy (Pato Rodríguez) e Mareque; Parra e Silvera. Técnico: Antonio Mohamed.

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