sábado, 11 de setembro de 2010

Um Maracanã de desorganização



Passada a primeira rodada de três anos nos quais o futebol carioca vai ficar sem o Maracanã, o Rio de Janeiro finalmente acordou para a realidade de que passou 60 anos sem a cidade ter uma estrutura suficiente para novos gramados. Com o estádio em obras para a Copa do Mundo de 2014, o estado fica com poucas opções para abrigar partidas de suas equipes grandes - o limite mínimo tanto para jogos do Campeonato Estadual quanto para jogos do Campeonato Brasileiro é de 15 mil pessoas.




A alternativa que surgiu como a mais viável é o Engenhão. O Estádio Olímpico João Havelange tem capacidade para 45 mil pessoas, e está cedido pela Prefeitura do Rio de Janeiro ao Botafogo. Desde que passou a ser propriedade botafoguense, o time alvinegro manda também confrontos com Fluminense, Vasco e, recentemente, clássicos com o Flamengo - todos eram realizados no Maracanã.

Entretanto, os jogos de lá apresentaram muitas deficiências. Além da localização do estádio não ser das melhores, as ruas e os arredores são muito estreitos e violentos. Não há metrô perto - apenas há uma linha de trem que é próxima ao estádio - e as linhas de ônibus não alcançam todas as áreas do Rio de Janeiro. Inconveniências que afastam o bom público que é corriqueiro no Maracanã.

Antes do fechamento do Maracanã, o Engenhão estava restrito a mandar jogos do Botafogo, no Brasileiro da Série A, e do Duque de Caxias na Série B. Entretanto, como Flamengo e Fluminense não possuem estádios próprios de grande capacidade, as duas equipes também terão de mandar suas partidas lá. Um inconveniente que poderia dificultar ainda mais o estado precário no qual está seu gramado - afinal, pelo menos quatro vezes por semana aconteceriam partidas no Estádio Olímpico João Havelange.

A saída foi preterir as partidas do Duque de Caxias. Além de não estar na divisão principal do Campeonato Brasileiro, a equipe não leva grande público ao Engenhão. O número muitas vezes não passa dos 30 torcedores. Com tão pouco apelo, o time até poderia mandar seus jogos no próprio estádio - Romário de Souza Faria, o Marrentão, com capacidade para até 7 mil pessoas. Mas o Estatuto do Torcedor não permite esta pequena capacidade em jogos da Segunda Divisão.



A solução mais emergencial foi transferir as partidas do Duque de Caxias para São Januário, pois apenas seu proprietário, o Vasco, realiza jogos lá. Entretanto, a federação esqueceu que o local também é usado para o time vascaíno treinar. O gramado ficará ainda mais desgastado.

E o problema do Engenhão mudaria para a Colina de São Januário. O Fluminense não chegava a um acordo com o Botafogo, e o treinador Muricy Ramalho declarou que, por causa das dimensões do campo, jogar no estádio do Vasco seria melhor. O impasse fica ainda mais intenso porque São Januário e Engenhão, por mais que tenham seus graves problemas de localização, são os únicos locais do Rio de Janeiro disponíveis para partidas de Séries A e B no Campeonato Brasileiro.



A terceira via está a 127 quilômetros da capital fluminense. Em Volta Redonda fica o Estádio Raulino de Oliveira, com capacidade para 20 mil pessoas. O Estádio da Cidadania (outro nome como é conhecido) tem uma excelente estrutura para abrigar jogos de bom apelo público - e durante as obras para os Jogos Pan-Americanos chegou a ser palco de clássicos como o duelo entre Flamengo e Fluminense.

A questão do público não é problema para estas equipes, que têm torcida em todo o Rio de Janeiro e em todo o país. O problema é que a dupla Fla-Flu não só acaba perdendo sua identidade de time da capital, como também faz com que o desgaste seja maior, devido à viagem de cerca de três horas a cada jogo.

O Duque de Caxias foi quem mais sofreu com esta perda de identidade. Nas primeiras partidas pelo Campeonato Brasileiro da Série B, seus jogos foram marcados para o Estádio da Cidadania. Se a equipe não recebe tanto público na capital, a situação fica ainda mais difícil na Cidade do Aço.

O futebol carioca sofre por não ter alternativas mais concretas para compensar a ausência do Maracanã. O Rio de Janeiro comprova, através de seus estádios, que o amadorismo continua crônico no estado. A adaptação dos órfãos do Maracanã promete ser bem difícil.

Nenhum comentário: