quinta-feira, 23 de setembro de 2010

À margem do desequilíbrio



Análise de jogo - Vasco 2 x 2 Botafogo
(21h, Engenhão)

Num clássico tradicionalíssimo do futebol, é o imprevisível que fala mais alto para que uma das equipes se sobressaia. Entretanto, Vasco e Botafogo passaram os 90 minutos do duelo no Engenhão fugindo deste desequilíbrio. Tudo pareceu calculado milimetricamente para que os dois não corressem muitos riscos durante a partida. Com tantas situações previsíveis, restou um empate, que não adianta muita coisa para vascaínos e botafoguenses na trajetória do Campeonato Brasileiro.

Do lado do Botafogo, Joel Santana manteve a tática de montar um esquema defensivo e à espera do adversário no primeiro tempo, para que na reta final viessem mudanças capazes de deixar o time mais ofensivo e veloz, nos pés de jogadores descansados. Entretanto, a equipe alvinegra passou os primeiros minutos completamente envolvida pelo Vasco. O time parecia desarrumado em campo, e dava muitas brechas principalmente no lado esquerdo. Por este setor, os vascaínos chegavam com facilidade, graças à velocidade de Ramón e de Éder Luís na armação de jogadas. Numa delas, a bola sobrou para Rafael Coelho que, diante de Jefferson, perdeu uma oportunidade clara logo no início.

Os botafoguenses pareciam negligentes nos passes e, num erro de Antônio Carlos na saída de bola, Zé Roberto conseguiu recuperar e tocar para Fellipe Bastos. O meia lançou Ramón, que cortou para o meio e jogou na área. A bola desviou na zaga e entrou à direita do goleiro Jefferson. Vasco 1 a 0, aos 13 minutos.

O clássico prometia sofrer uma alteração drástica quatro minutos depois, quando o zagueiro Antônio Carlos saiu machucado. Mas, em vez do praxe de trocar um zagueiro por outro, Joel Santana decidiu fazer uma alteração imprevisível. Claro, com uma boa dose de previsibilidade. Como sempre, o primeiro jogador do banco de reservas a entrar em campo foi o atacante Caio. Só que a entrada do "talismã" não mudou as coisas no ataque alvinegro. Em vez da equipe se recompor num 4-4-2, o técnico preferiu alternar entre Leandro Guerreiro, Fahel e Alessandro no papel de terceiro zagueiro - Caio de vez em quando desempenhava o papel de ala. E pelo lado direito do adversário, o Vasco encontrou outras oportunidades que passaram próximas do gol de Jefferson.

Quando o Botafogo começava a se ajeitar na frente - e, finalmente, Maicosuel e Caio se aproximavam de Loco Abreu - aos 32 minutos o time sofreu outra baixa. Maicosuel sentiu um problema no joelho, e teve de ser substituído pelo atacante Herrera. Minutos depois, a saída vascaína novamente foi pela direita alvinegra. Caio perdeu bola no meio-de-campo e Nílton lançou Éder Luís. O camisa 7 correu para o meio, passou por dois zagueiros e chutou da entrada da área. 2 a 0 Vasco, aos 35. E, como é comum em todo jogo do time, na saída do intervalo a torcida botafoguense gritou: "Joel, tira o Fahel".

Mas quem voltou com mudança no intervalo foi o Vasco. Paulo César Gusmão mais uma vez tirou de campo Rafael Coelho (que novamente foi decisivo para atrapalhar os vascaínos a conseguirem uma vitória mais elástica no primeiro tempo), para colocar em campo Carlos Alberto. Entra e sai técnico, e sempre os comandantes do time de São Januário caem no mesmo erro: Carlos Alberto tem características ofensivas, mas não é um artilheiro nato e não sabe jogar fixo na área. Nem é atacante.

O time ficou exposto e ainda viu os mesmos erros acontecerem durante a segunda etapa. O primeiro deles foi com Fernando Prass. Novamente, o goleiro falhou em sua saída de gol. Com um soco errado, a bola sobrou para Herrera. O atacante argentino deu uma cabeçada que encobriu o camisa 1 vascaíno e jogou a bola no fundo da rede, diminuindo para 2 a 1 aos 10 minutos.

As falhas previsíveis pareciam ter mudado para o Vasco, e o Botafogo partia em busca do empate - em especial depois que Edno entrou no lugar de Renato Cajá. Só que ainda havia um jogador disposto a repetir seu erro. Depois de duas faltas desleais de ataque, Herrera recebeu dois cartões amarelos, e saiu de campo expulso aos 18 minutos. A equipe de Joel Santana sentiu o baque e novamente o Vasco tomou conta do jogo, conseguindo várias oportunidades, que continuaram mesmo depois que Zé Roberto saiu para a entrada de Felipe. No entanto, o estigma continuou a fazer parte da rotina vascaína. Belas trocas de passe, várias chances claras e... Nenhuma na rede. A melhor oportunidade foi desperdiçada por Carlos Alberto, que diante de Jefferson chutou mal.

E o Vasco foi desequilibrando seu futebol. Num primeiro momento, na infeliz alteração de Paulo César Gusmão, que na hora de substituir o cansado Éder Luís, preferiu colocar em campo Nunes, centroavante fixo e totalmente fora de forma. A seis minutos do fim, Ramón sentiu uma contusão no joelho e teve de sair do gramado, deixando a equipe com os mesmos 10 jogadores que o Botafogo.

Os vascaínos optaram por apenas jogar de maneira defensiva. E mais uma vez caíram num erro que impediria sua vitória. Num cruzamento, o zagueiro Titi desviou a bola com o braço para evitar que ela chegasse a Loco Abreu. O árbitro marcou pênalti, corretamente. Loco Abreu cobrou no cantinho e, aos 47 minutos do segundo tempo, sacramentou o empate. O décimo-segundo empate em 23 jogos do Vasco na competição.

Passada a euforia do pós-Copa, na qual conseguiu sair da zona de rebaixamento e por pouco não brigou pelas primeiras colocações, o Vasco agora vai se dando conta das limitações que tornam o empate um resultado cada vez mais previsível na campanha vascaína. A esperança de qualidade não é satisfeita somente com Carlos Alberto. Faltam em São Januário pelo menos um zagueiro menos instável que Titi para fazer companhia a Dedé, e um atacante que saiba fazer gols. Além de um elenco mais convincente.

Para o Botafogo, o empate foi amenizado pela derrota do Internacional para o Atlético Paranaense, por 1 a 0 na Arena da Baixada. Graças ao tropeço colorado, o time de General Severiano está na quarta colocação, com 39 pontos. No entanto, depois que Joel Santana conseguiu abandonar alguns estigmas que acompanharam sua carreira - ser um treinador retranqueiro, com padrão de jogo bom apenas para vencer campeonatos estaduais - agora é a hora de ele abandonar esta ânsia por ser ofensivo sem medir os riscos. Aos poucos, o desequilíbrio, que foi eficaz nas rodadas anteriores, vem tornando o alvinegro bastante previsível dentro do gramado.


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VASCO 2 x 2 BOTAFOGO

Estádio: Engenhão (Rio de Janeiro / RJ)

Árbitro: Felipe Gomes da Silva (RJ) / Auxiliares: Dibert Pedrosa Moises (Fifa-RJ) e Luiz Muniz de Oliveira (RJ)

Renda/público: R$ 347.545,00 / 14.248 pagantes

Cartões amarelos: Zé Roberto, Ramón, Fellipe Bastos, Nunes (Vasco), Danny Morais, Alessandro e Loco Abreu (Botafogo)

Expulsão: Herrera

GOLS: Ramón aos 13 e Éder Luis aos 35 minutos do primeiro tempo. Herrera, aos 10, e Loco Abreu (de pênalti) aos 46 minutos do segundo tempo.

VASCO: Fernando Prass, Fagner, Dedé, Titi e Ramón; Rafael Carioca, Nilton, Felipe Bastos e Zé Roberto (Felipe, 20'/2ºT); Rafael Coelho (Carlos Alberto, intervalo) e Éder Luis (Nunes, 34'/2ºT). Técnico: Paulo César Gusmão.

BOTAFOGO: Jefferson, Danny Morais, Antônio Carlos (Caio, 17'/1ºT) e Fábio Ferreira; Alessandro, Leandro Guerreiro, Fahel e Renato Cajá (Edno, 16'/2ºT), Maicosuel (Herrera, 32'/1ºT) e Somália; Loco Abreu. Técnico: Joel Santana.

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