sábado, 4 de setembro de 2010

Fortaleza vascaína



Análise de jogo: Ceará 0 x 2 Vasco (18h30, Castelão)

O Estádio Castelão foi durante todo o primeiro turno o reduto de segurança para o Ceará conquistar pontos no Campeonato Brasileiro. Dos nove jogos que realizou lá, o Vovô ganhou 19 dos 27 pontos disputados. Entretanto, em sua última partida neste turno, o time cearense sofreu a primeira derrota diante de sua torcida. De fortaleza, ficou apenas a do Vasco, com uma defesa intransponível, e dois ataques letais para a derrubada do castelo adversário.

Os guerreiros do Ceará começaram a partida de maneira surpreendente, tanto em sua escalação quanto por seu comportamento dentro de campo. O técnico Mário Sérgio passara a semana anunciando que escalaria sua equipe num 4-4-2, preservando o promissor zagueiro Pablo (por receio de "queimar" uma boa promessa do clube). No entanto, ele foi relacionado, e o time iniciou no esquema 3-5-2, visando dar liberdade para os laterais Oziel e Ernandes.

Dentro das quatro linhas, o outro fator surpreendente aos olhos da torcida foi a postura do Vozão. Um dos piores ataques do Brasileirão, o time se destacou no turno por ter simultaneamente a melhor defesa da competição e o pior ataque. No entanto, assim que Salvio Spinola deu início à partida, os cearenses foram para o ataque, apostando na qualidade do meia Camilo e na correria da dupla de ataque Magno Alves e Kempes. O panorama era promissor quando, aos três minutos, uma boa jogada na esquerda terminou em conclusão de Magno Alves que tocou por fora da rede.

Mas, enquanto a inconstância da parte ofensiva parecia se ajeitar com a nova dupla de frente, a defesa se enfraquecia. E o Vasco, no qual Paulo César Gusmão solidificara o setor defensivo e apostava na velocidade de seu ataque, foi fatal. Desmarcado, Carlos Alberto teve espaço para aproveitar uma bola roubada no meio-de-campo e deu um passe eficiente para que Éder Luís, que, livre na esquerda, correu até a área do Ceará. O camisa 7 driblou Fabrício e lançou Zé Roberto na direita. O jogador desviou para o fundo da rede, diante de um Michel Alves batido. 1 a 0 Vasco, aos sete minutos.

Com a vantagem, o Vasco ficou ainda mais chamando o adversário para seu campo, na tentativa de encontrar novos contra-ataques. Mas, com a marcação do Ceará fortalecida tardiamente, os vascaínos passaram o resto da primeira etapa rechaçando as oportunidades adversárias, graças, principalmente, aos pés do zagueiro Dedé. Além do gol, o outro momento do Vasco diante de Michel Alves foi a dois minutos do fim da primeira etapa - quando Zé Roberto arriscou de fora da área e a bola passou rente a trave. De resto, o que se viu foi uma constante pressão do Vovô, e a equipe vascaína completamente encolhida no campo.

A equipe cearense conseguia aumentar seu volume de jogo, mas o poder ofensivo continuava limitadíssimo, como nas rodadas anteriores. Foram muitos chutes sem direção e, em meio a eles, a única chance clara veio aos 20 minutos. Camilo, sozinho na área, chutou, e Fernando Prass defendeu com os pés. O mau desempenho dos laterais tornara ainda mais difícil um bom resultado para o Ceará na primeira etapa.

Para o segundo tempo, Mário Sérgio fez uma alteração que afetou também o esquema de seu time. O zagueiro Pablo saiu, para a entrada do meia Geraldo, fato que fez a equipe passar a atuar no 4-4-2 e deixar de ter suas jogadas no meio-de-campo restritas a Camilo. A substituição num primeiro momento deu mais mobilidade ao meio-de-campo, e fez aparecerem jogadas pelos lados. Mas o Vasco adiantou sua marcação, e foi bem-sucedido em seus desarmes. Nem mesmo a contusão de Carlos Alberto, que teve de ser substituído por Fumagalli, enfraqueceu o time vascaíno. As oportunidades continuaram vindo, como em chutes de Éder Luís e Zé Roberto, que obrigaram Michel Alves a fazer boas defesas.

Paulo César Gusmão teve de fazer nova substituição na parte ofensiva da equipe - Zé Roberto, com cãimbras, deu lugar a Jonathan. Logo em seguida, Mário Sérgio tentou aproveitar as baixas vascaínas (que deixariam a saída de bola com qualidade inferior) e quis mais uma opção para o ataque. O lateral Oziel foi trocado pelo atacante Vandinho. Só que a mudança tornou ainda mais complicadas as coisas para o Ceará. Se o time persistia em afunilar as jogadas no meio-de-campo, a ausência de um lateral tornava o caminho árduo para o trio de ataque. As únicas esperanças continuariam a vir dos pés de Geraldo, que, sem receber marcação eficaz, armava boas jogadas de perigo. Caso da melhor chance do Vozão, aos 27 minutos. O meia tabelou com Magno Alves, que chutou para nova grande defesa de Fernando Prass.

Quando Éder Luís saiu do gramado também com cãimbras, a entrada do volante Felipe Bastos era vista apenas como remédio. Ele foi encarregado de dar maior reforço à fortaleza vascaína, não desgrudando de Geraldo. Entretanto, ele se tornou responsável por consolidar a vitória do Vasco. No rebote de sua cobrança de falta (que acertou a barreira), Felipe chutou rasteiro da intermediária, e a bola parou no fundo da rede de Michel Alves. 2 a 0 Vasco, aos 37 minutos.

Nos minutos finais da partida, os torcedores do Ceará que ficaram nas arquibancadas do Castelão voltaram suas artilharias para ofensas a Mário Sérgio, pois o treinador segue o mesmo caminho do seu antecessor, Estevam Soares, e não consegue fortalecer a equipe novamente. Desde o retorno após a parada da Copa do Mundo (quando estava na vice-liderança da competição e não tinha sido derrotado em nenhum dos sete jogos), o Vovô vem perdendo suas forças jogo a jogo, e suas limitações se sobressaem diante dos adversários. Nem mesmo a força de seu estádio parece capaz de garantir resultados ao menos razoáveis para o time alvinegro.

A dor fica ainda mais forte porque seu ex-comandante do início do campeonato, Paulo César Gusmão, hoje é o técnico do algoz de sua primeira derrota como mandante no Brasileirão de 2010. E os 90 minutos do Castelão comprovaram que o Vasco, apesar de suas limitações (uma delas foi parcialmente corrigida hoje, com o retorno de Nunes, um centroavante de ofício, coisa que a equipe não teve nas rodadas mais recentes), já sabe se portar como uma fortaleza diante de seus adversários.

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CEARÁ 0 x 2 VASCO

Estádio: Castelão (Fortaleza / CE)

Árbitro: Salvio Spinola (FIFA-SP) / Auxiliares: Marcelo Carvalho Van Gasse (SP) e Vicente Romano Neto (SP)

Gols: Zé Roberto, aos sete minutos do primeiro tempo, e Felipe Bastos aos 37 minutos do segundo tempo.

Cartões amarelos: Kempes, Camilo (Ceará) e Zé Roberto (Vasco).

CEARÁ - Michel Alves; Fabrício, Diego Sacoman e Pablo (Geraldo, intervalo); Oziel (Vandinho, 20'/2ºT), Heleno, João Marcos e Camilo; Kempes e Magno Alves. Técnico: Mário Sérgio.

VASCO - Fernando Prass; Fagner, Dedé, Titi e Jumar; Rafael Carioca, Rômulo, Carlos Alberto (Fumagalli, 18', 2ºT) e Zé Roberto (Jonathan, 16'/2ºT); Éder Luís (Fellipe Bastos, 31'/2ºT) e Nunes. Técnico: Paulo César Gusmão.

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