terça-feira, 21 de setembro de 2010

Além da paixão de arquibancada



A periodicidade do jornal muitas vezes deixa passar despercebidas algumas matérias relevantes em qualquer assunto abordado nas páginas dos diários de notícias. Para evitar que algumas delas caíssem no esquecimento do povo brasileiro, a Editora Record iniciou em 2005 uma coleção que visa resgatar reportagens marcantes do jornalismo nacional. Depois dos livros 10 reportagens que abalaram a Ditadura (de 2005) e 50 anos de crimes (de 2007), neste ano a coleção Jornalismo Investigativo abre espaço para o futebol brasileiro.

Organizado por Fernando Molica, 11 gols de placa (376 págs., R$ 39,90) apresenta um time de reportagens que passa por todas as áreas dos bastidores do futebol brasileiro. Todos os esquemas que envolvem o futebol são revelados nas palavras dos jornalistas João Máximo, Michel Laurence, Marcos Penido, Fernando Rodrigues, Sérgio Rangel, Juca Kfouri, Marceu Vieira, André Rizek, Diogo Oliver Mello, Mário Magalhães, Marco Senna e Leonardo Mendes Júnior. A cada começo de reportagem, o leitor tem acesso a um novo ponto de vista do esporte bretão, mas todos eles têm o mesmo objetivo: desvendar a engrenagem da qual tantos querem obter lucros.

Os destinos traçados na carreira do jogador de futebol, do caminho entre a fome e a fama, da convivência com a miséria do desemprego e a bombástica frase "Jogador de futebol é um escravo", dita por Pelé. Caminhos que às vezes surgem com linhas tortas, na prática chamada de "gato" - quando se adultera a certidão de nascimento de um jogador para ter benefícios nas peneiras. O percurso financeiro da Confederação Brasileira de Futebol entra em evidência em algumas páginas do livro, que mostram detalhes das contas da entidade.

Mas em 11 gols de placa também há espaço para guardar na memória reportagens localizadas sobre fatos que permearam o futebol brasileiro. Casos como a "carteirada" que o presidente Ricardo Teixeira deu à Alfândega, no retorno da Seleção Brasileira depois da conquista da Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994. O limite de bagagem dos jogadores e dos dirigentes havia excedido e, segundo a lei, ela precisava ficar retida no aeroporto. Só que foi liberada milagrosamente, após o presidente da CBF ameaçar não passear com os jogadores campeões do mundo no carro do Corpo de Bombeiros pela cidade.

Um episódio considerado inocente diante de outros casos marcantes do futebol brasileiro e mostrados neste livro. Um deles era o da "Regra 18" no futebol carioca. De acordo com a regra criada pelo presidente da FERJ, Eduardo Vianna, o Caixa D'Água, resultados do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro durante muitas edições foram manipulados por árbitros da federação, de acordo com os interesses e com a conivência de dirigentes. Caso semelhante com o que aconteceu em nível nacional no ano de 2005: a Máfia do Apito.

O Campeonato Brasileiro de 2005 teve 11 de seus resultados adulterados por um acordo financeiro entre um grupo de investidores e o árbitro Edilson Pereira de Carvalho. O juiz paulista recebia uma quantia para garantir os resultados que os investidores tinham colocado em sites de apostas. A negociata foi descoberta, e, além da prisão de todos os envolvidos, os 11 jogos foram remarcados. Os detalhes do momento em que a expressão "juiz ladrão" ganhou conotação literal também está no livro.

Talvez algumas das questões abordadas nas reportagens de 11 gols de placa façam com que o futebol perca a sua graça para todos os que gostam de vê-lo bem jogado nos gramados. Mas, sem dúvida, estes grandes momentos do jornalismo investigativo comprovam que o faro de denúncia não se deixa levar nem pela sedutora paixão de abandonar a caneta, e se juntar aos demais torcedores na arquibancada.

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