quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Chamou a responsabilidade



Após o empate do Flamengo com o Goiás (graças a um gol salvador de Deivid aos 45 minutos do segundo tempo), Silas ousou nadar contra a corrente da atual cartilha do futebol. Numa época em que os treinadores tendem a poupar seus jogadores ou a assumirem sua parcela de culpa quando não vêm resultados positivos, o técnico rubro-negro declarou que "não faz gol contra e nem chuta a gol".

A frase tem lógica, soa como um desabafo de quem está dizendo que não pode fazer nada além de mexer na equipe. Entretanto, Silas deu a impressão de que está pedindo para ficar isento dos erros que estão acontecendo com o Flamengo dentro de campo.

É bem verdade que estão fora do seu alcance alguns problemas do atual time rubro-negro - as limitações do elenco em algumas posições e a visível falta de preparação física. No entanto, o técnico tem sua parcela de culpa em alguns erros cruciais do Flamengo nos jogos do Campeonato Brasileiro.

O gol contra não entra em questão, pois trata-se de um momento infeliz que pode acontecer com qualquer zagueiro, independentemente de sua qualidade. Mas, há algumas partidas, Jean vem decepcionando em suas atuações na zaga rubro-negra. O time que levava pouquíssimos gols nas primeiras rodadas transformou-se numa das defesas que mais sofreram gols na competição. Com um agravante: muitos deles acontecem antes dos 10 minutos, por distrações dos defensores. Não há um trabalho maior de concentração para os atletas flamenguistas?

Os gols voltaram a acontecer - inclusive entre os atacantes. Mas boa parte deles ainda acontece nos últimos minutos, quando a equipe está em desvantagem no placar e já abandonou a organização para se entregar ao desejo incessante de colocar a bola na rede. E quando a raça não for suficiente? Será que o amor e a paixão cantados pela torcida permanecerão do lado da equipe, a ponto de isentar Silas de eventuais percalços dentro do gramado?

Sim, os dirigentes e a torcida não podem usar o treinador como muleta para descontar os problemas de uma equipe. Sob este aspecto, Silas está certo. Mas, além de selecionar os jogadores mais talentosos e armar um esquema tático vitorioso, o treinador precisa amparar seus atletas em momentos de crise. Falar em "gol contra" no dia em que um zagueiro passou por tal infelicidade e tirou dois pontos da equipe é no mínimo inconveniente.

A única consequência foi ter seu nome (que já era visto com ressalvas) definitivamente em xeque aos olhos da torcida do Flamengo. Na tentativa de se isentar de culpa, Silas acabou se tornando ainda mais responsável pelo mau desempenho que o rubro-negro apresenta sob o seu comando.

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