domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os afluentes do Campeonato Carioca



Considerado o estadual mais charmoso do país, o Campeonato Carioca vem recebendo algumas aberrações que, de alguma forma, acontecem graças a acordos com a Rede Globo. O primeiro deles veio na criação de um tempo técnico aos 20 minutos de cada etapa.

Sim, é válido que haja um tempo de descanso para os jogadores se recuperarem da estafa de atuar sob um sol de 40 graus (mesmo "sol das quatro horas" dos jogos das 17h no horário de verão). Entretanto, tentar disfarçar isto com recursos típicos de esportes como o vôlei ou o basquete são patéticos, e considerados ilegais aos olhos da FIFA - se algum time se sentir prejudicado por piorar na partida depois da "parada técnica", pode recorrer e anular o resultado do jogo.

Mas o dado curioso vem na ressalva a esta tentativa de inovação: o "tempo técnico" não pode acontecer em jogos transmitidos pela TV aberta. Como os horários das partidas são com o sol a pino, os times ironicamente são prejudicados pelas mesmas televisões que tanto auxiliam os clubes com suas cotas financeiras. Seria uma taxa de dez por cento das emissoras por cederem sua programação aos eventos futebolísticos?

Outra questão que salta aos olhos dos torcedores cariocas é a maneira como o regulamento é definido. Após a transmissão do empate em 2 a 2 entre Vasco e Madureira, o locutor Luís Roberto comunicou aos espectadores que, independentemente dos confrontos das semifinais, já está pré-definido que o Flamengo entrará em campo na Quarta-Feira de Cinzas. Resta aos outros dois semifinalistas o horário da tarde do Sábado de Carnaval.

Quais são as intenções em dar ares de privilégio para uma determinada equipe, em detrimento das outras que suaram a camisa para chegar à fase semifinal do Campeonato Carioca? Para uma emissora que se insinua imparcial, este tipo de atitude acaba sendo prejudicial à imagem dela e também à imagem do clube que é teoricamente ajudado.

Reclama-se muito do amadorismo do Campeonato Carioca (com razão, obviamente). Mas parece que a TV Globo quer manter a maneira amadora com a qual o futebol no Rio de Janeiro é conduzido - com direito a todas as picuinhas de fora de campo - para que o estado seja sempre desprezado em relação a outros centros de futebol. Os novos afluentes do Campeonato Carioca prometem desembocar numa sujeira bem pior do que a da Baía de Guanabara.

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Com este post, O tempo e o placar... volta às suas atualizações diárias em texto, na companhia de registros de debates do Quatro linhas. Fiquem à vontade para comentar.

Um comentário:

Marcos Fontelles de Lima disse...

Excelente texto!

fica aqui apenas minha dúvida: será que o tempo técnico nos trará mais "Serginhos"? o jogador vem com batimento acelerado, corpo quente, metabolismo lah em cima... aí vem um tempo técnico. Para tudo!!! entre uma água aqui e outra ali, um descanso, batimento em desaceleração e de repente PRIIIIIII o juiz manda os jogadores voltarem e recomeça a correria. Como diria os comentaristas: "Haja coração"

abraços,

Marcos Fontelles de Lima