quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Deu zebra na apuração



O carnaval já havia passado mas a imprensa esportiva prosseguia com a ideia de fantasiar o Flamengo como o favorito na semifinal diante do Botafogo. Argumentos eram muitos: o rubro-negro manteve uma base campeã brasileira do ano anterior e ainda contratou Vagner Love para fazer dupla de ataque com Adriano. Do lado de General Severiano, vinha um time que quase acabou 2009 na Série B e que no início de 2010 assistiu a uma troca de treinadores, além de uma goleada por 6 a 0 sofrida para o Vasco.

Os times pareciam seguir o que suas fantasias mandavam. O Flamengo buscava o ataque nos pés de Vinícius Pacheco, a promessa que se destacara no início do ano e já vestia a fantasia de titular. Do samba dele com a bola vinha a tentativa de evolução rumo ao gol de Jefferson, onde a responsabilidade caía nos pés de Vágner Love e do aniversariante Adriano.

Após um leve improviso nos primeiros minutos, o Botafogo voltou a desempenhar o papel de "zebra". Joel Santana armou o time de maneira defensiva, e apostava em contra-ataques para que a bola chegasse aos pés de Herrera e à cabeça de Loco Abreu - afinal, os pés não são a especialidade do atacante.

O ritmo era previsível, mas a impressão era de que os jogadores rubro-negros jogavam com a certeza debaixo do braço. As chances se perdiam na frente de Jefferson, mas a qualquer hora o "favoritismo" e o "peso da camisa" dariam a vaga para a final da Taça Guanabara. A classificação parecia encaminhada a partir dos 25 minutos, quando uma jogada de Kleberson passou por Vágner Love e deixou Vinícius Pacheco na cara do gol para abrir o placar.

A desvantagem fez com que o Botafogo se arriscasse um pouco mais. Numa das tentativas, a bola encontrou a cabeça de Loco Abreu. O uruguaio fez valer sua indumentária de "boneco de Olinda" (sua altura é de 1,93m) e passou para Herrera chutar. No rebote de Bruno, Marcelo Cordeiro deu ao time da Estrela Solitária a fantasia de gigante. Que os botafoguenses merecem ostentar, apesar dos desmandos que acontecem há anos no clube.

Ainda na primeira etapa, o árbitro Luiz Antônio Silva dos Santos quase desafinou o desfile, quando oscilou entre o louco e o bobo da corte depois de um lance envolvendo o jogador Fahel. O camisa 8 do Botafogo entrou numa dividida com Juan e o árbitro deu falta e puxou cartão. Como era o segundo amarelo dele na partida, viria uma expulsão. Mas o "Índio" voltou atrás e puxou o amarelo para Antônio Carlos (que se acusou como autor da falta que nem existiu).

O segundo tempo apresentou as duas equipes novamente trajadas como as torcidas e a imprensa diziam. O Flamengo com seu manto imperial e muitas chances (duas claras com Vágner Love, que supria a pouca participação de seu parceiro Adriano) diante do gol alvinegro. O Botafogo seguia como ferrenho defensor e em alguns momentos se arriscava em ataques.

O rubro-negro parecia na corda bamba para matar o jogo e honrar seu favoritismo (ainda mais com a entrada de Petkovic a 20 minutos do fim) e os botafoguenses surgiam como acomodados, à espera do apito final e das penalidades máximas. Até que o pierrô alvinegro Caio, elevado a "arma da segunda etapa" de Joel Santana, inverteu os papéis do clássico. Aos 37 minutos, o atacante disputou uma bola na área e, no maior estilo do personagem carnavalesco, fez a bola entrar chorando à esquerda de Bruno.

A certeza de que em clássico não dá para travestir uma ou outra equipe de favorita se confirmou depois dos 90 minutos do Maracanã. Foi muita badalação sobre o Império do Amor, mas o time fantasiado de zebra ganhou na apuração da semifinal da Taça Guanabara. No dia seguinte ao desfile das campeãs das escolas de samba do Rio de Janeiro, Botafogo e Vasco decidirão quem vai sambar melhor na final da Taça Guanabara.

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