quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Qualquer semelhança...





Não é surpreendente que o Flamengo derrote o Americano e que o Botafogo dê uma goleada no Madureira. Também não surpreende que as duas equipes estejam com 100% de aproveitamento na Taça Guanabara após três confrontos contra equipes de menor tradição. A mesmice que chamou atenção na noite desta quarta-feira foi a sequência de coincidências nas situações que decidiram os dois jogos. Expulsões, lambanças das zagas e substituições eficazes favoreceram os vencedores, que tiveram partidas com qualidade abaixo do esperado.

A expulsão do atacante Felipe aos 19 minutos do primeiro tempo (após duas faltas duras e infantis) fez com que o já limitado time do Americano se postasse definitivamente na defesa. Mesmo assim, só aos 23 minutos do segundo tempo o Flamengo chegou ao seu primeiro gol, graças a um corte de Carlão para o próprio gol que gerou um bate e rebate, no qual Wanderley definitivamente balançou a rede. Três minutos depois, uma displicência da zaga do time de Campos permitiu cobrança rápida de Vander, dando passe para Renato Abreu que, num cruzamento rasteiro, deu a bola para Wanderley marcar seu segundo gol.

Wanderley, que logo após o jogador do Americano ter sido expulso entrou em campo no lugar do lateral Egídio. Uma substituição ousada, mas que contribuiu para um problema no meio-de-campo flamenguista: embora estivesse deslocado para a ala esquerda, Renato Abreu sempre tendia a jogar pelo meio, o que deixou ainda mais escassas as oportunidades de ataque do Flamengo. Com as entradas de Fierro e Marquinhos nos lugares de Fernando e Thiago Neves, respectivamente, Vanderlei Luxemburgo corrigiu outro erro. Além de estar bem marcado, o estreante bateu cabeça com Vander na criação de jogadas, o que deixou o setor não só com pouquíssima mobilidade ofensiva como também obrigou Fernando e Williams a se lançarem à frente – mas ambos não possuem grande qualidade de passe. Com Fierro, a troca de passes melhorou, e com Marquinhos a equipe ganhou em velocidade, tendo fôlego suficiente para superar o bloqueio do time de Campos, mesmo depois de quase se deixar dominar pela ansiedade no primeiro tempo e, na primeira metade da segunda etapa, apresentar um futebol apático e sem objetividade. A equipe tem de fazer valer sua maior qualidade, que é a de ter um bom número de jogadores habilidosos no meio-de-campo.

O Botafogo também tentou honrar seu favoritismo desde o início, e logo aos 15 minutos uma lambança da zaga do Madureira foi decisiva: no cruzamento de Lucas, Victor Silva chutou para o próprio gol, o goleiro Cléber defendeu parcialmente mas a bola caiu nos pés de Herrera, que chutou. Em vantagem, a equipe passou a atuar de maneira mais displicente e permitiu que o adversário chegasse com perigo. Mas ao fim do primeiro tempo, veio uma expulsão decisiva: no chute de Antônio Carlos, Douglas Assis impediu o gol com seu braço. E do pênalti, veio o segundo gol, marcado por Loco Abreu.

Após ver o time acomodado em boa parte da segunda etapa, Joel Santana trocou de lateral-direita – Lucas por Alessandro – e, em resposta à hostilidade da torcida com a substituição, o jogador marcou o terceiro gol. A poucos minutos do fim, Caio, que entrou no intervalo em lugar do zagueiro João Filipe, sacramentou a goleada. Goleada perigosa, que não pode mascarar os problemas do Botafogo. A defesa, que no ano passado fez uma boa temporada, demonstra insegurança em seus primeiros jogos no Estadual, enquanto seu poder ofensivo fica combalido pela omissão de Renato Cajá na criação de jogadas.

Botafogo e Flamengo não podem ficar à mercê da expectativa por seus novos contratados. O alvinegro espera pelo lateral Márcio Azevedo, pelo volante Arévalo e pelo meia Everton. O rubro-negro conta os dias para a estreia de Ronaldinho Gaúcho. Mas, se o Estadual é uma pré-temporada de luxo, por que não desde cedo planejar a equipe para que ela esteja 100% tanto na classificação da competição quanto em seu desempenho em campo? Afinal, não é em todo o jogo que as coincidências são tão favoráveis.

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Texto publicado originalmente no blogue do jornalista Lédio Carmona.

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