quinta-feira, 8 de julho de 2010

Refletir e trabalhar, antes de gritar



Faltam ainda dois jogos para o fim da Copa do Mundo de 2010, mas hoje, na África do Sul, um evento anunciou o início da Jornada para a Copa de 2014. A edição de número 20 do torneio mais importante do futebol acontecerá no Brasil, país com maior número de conquistas na história das Copas. Ano do Brasil se redimir não só da derrota em casa que aconteceu em 1950 (diante do Uruguai, na final do Maracanã), como também de conseguir redenção diante de toda a desconfiança que cercarão os próximos quatro anos.

Em uma postagem anterior, O tempo e o placar... criticou a demora de início das obras dos estádios (e veio o recente veto ao estádio do Morumbi, previsto inicialmente para ser o palco da abertura da Copa do Mundo de 2014). Entretanto, outros problemas cercam a realização de um torneio deste porte.

O presidente Ricardo Teixeira declarou hoje na África do Sul que os três maiores problemas do Brasil são "aeroporto, aeroporto e aeroporto". Não bastasse o caos aéreo que se desenhou em alguns momentos - o maior deles em 2007 - a população estará exposta à desordem dos aeroportos pelos próximos quatro anos?

Os nós no trânsito, que estão no cotidiano das grandes cidades do país (e aconteceu no Pan-Americano de 2007, no Rio de Janeiro) podem ser corrigidos apenas pelas campanhas incessantes em usar transportes coletivos como ônibus e metrô? As filas de ônibus são constantes problemas, por seus atrasos, por suas rotas não escaparem do trânsito e, principalmente, pela constante superlotação dos coletivos. O metrô, saída considerada válida quando foi construído no Rio de Janeiro e em São Paulo, também já sofre com esta consequência de lotação em horários de saída de trabalho das pessoas.

Um plano de segurança, que provavelmente deva incluir o recrutamento de soldados do Exército, é louvável. E deixa em aberto outra questão: é preciso que se realize uma Copa do Mundo, para que as autoridades brasileiras resolvam melhorar algumas situações delicadíssimas do país? De fato, melhorias serão sempre bem vindas. Pena que elas aconteçam apenas em função da organização de um evento esportivo.

Num país que pena por mudanças estruturais, não se pode confundir as coisas. A organização da Copa do Mundo não pode ganhar uma dimensão messiânica, de que todos os problemas serão resolvidos em quatro anos. Em especial, porque o país também deve lembrar que o torneio acontece durante um mês, mas a herança dele vai se perpetuar em todas as cidades-sede da competição. E, no caso do Rio de Janeiro, ainda há de se pensar na realização das Olimpíadas de 2016.

Problemas abordados superficialmente neste espaço, mas que mostram que o Brasil tem de pensar em muito mais do que ser um bom reduto para turistas que gostam de futebol. Não serão quatro anos para decidir se o assunto é a cargo do governo federal, do governo estadual, do governo municipal, do turismo ou da Confederação Brasileira de Futebol. O trabalho deve ser feito em conjunto, e pra tornar 2014 o ano inicial de uma grande empreitada para o progresso. Sem desenvolvimentismo.

A propaganda da próxima Copa do Mundo (que seria apresentada ao mundo todo depois da decisão entre Espanha e Holanda domingo, mas a TV Globo antecipou hoje em seu programa Central da Copa) faz um excelente cartão de visitas do país. Em apenas um grito, todas as atenções se voltam para o Brasil. Mas, antes que o grito seja dado, ainda há muita coisa para ser calculada.

Um comentário:

Leonardo Valejo disse...

Vinícius, cada vez que eu penso nisso fico achando mais e mais que o Brasil não tem a menor condição de sediar uma Copa. E sinceramente não acho que nestes próximos 4 anos conseguiremos fazer metade do que a FIFA pede. A situação está muito difícil e vai ficar pior, pois após domingo, todos os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil. Não serão apenas 180 milhões reclamando.

Não é só aeroporto. Hotel, estádio,infra-estrutura da cidade... São muitas coisas a serem resolvidas, mas com o jeitinho brasileiro e o $$$$$ público talvez a Copa seja um sucesso ou não.