domingo, 11 de julho de 2010

POST ESPECIAL - A arte da conquista



O tempo e o placar... abre novamente espaço para uma postagem internacional. Hoje, é a vez de celebrar a Espanha, que ocupa um lugar que a Seleção Brasileira não conseguiu nesta Copa do Mundo de 2010.

Quem sabe o time de Iniesta, Xavi, David Villa não se torna exemplo para o Brasil nos próximos quatro anos?

Obrigado a todos,

Vinícius Faustini


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Análise de jogo: Holanda 0 x 1 Espanha (Soccer City, 15h30 de Brasília)

115 minutos separaram uma seleção caracterizada por sua ofensividade e por um toque de bola que prioriza a construção de jogadas do título de uma Copa do Mundo. Mas, a 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, o gol de Iniesta voltou a consagrar o "futebol-arte" no torneio de futebol mais importante do mundo. A Espanha consegue seu primeiro título na história das Copas, resgatando o talento depois de tantos vencedores que primavam pela força.

A força foi a estratégia na qual a Holanda se baseou para escrever seu primeiro capítulo vitorioso numa Copa - após a habilidade da "Laranja Mecânica" ser superada por Alemanha Ocidental e Argentina nas finais de 1974 e de 1978, respectivamente. Mesmo com o técnico Bert van Marwijk escalando três atacantes - Kuyt, Van Persie e Robben - o esquema holandês se preocupava em impedir o toque de bola espanhol a qualquer custo (mesmo que precisasse recorrer a entradas mais ríspidas).

A Espanha começou se lançando ao ataque, e perdeu três oportunidades em apenas 11 minutos. A primeira aos quatro, num cruzamento de Xavi para a área desviado de cabeça por Sergio Ramos, que Stekelenburg espalmou com dificuldade. Aos 10, novamente de Sergio Ramos veio boa chance espanhola. Ele passou por Kuyt e chutou, mas o zagueiro Heitinga impediu o gol. No minuto seguinte, David Villa levou parte da torcida de Johanesburgo a comemorar quando, depois de seu chute, a bola balançou a rede. Mas tinha balançado apenas por fora.

Só que logo os espanhóis começaram a dançar conforme a música ditada pela Holanda, e passaram a cometer também muitas faltas. O panorama do primeiro tempo apresentou mais momentos de pancadaria, com a conivência do árbitro inglês Howard Webb, que, embora parasse bastante o jogo com a marcação de faltas, muitas vezes jogadas ríspidas foram advertidas apenas verbalmente. O ápice do juiz foi punir somente com cartão amarelo o volante De Jong, por colocar as travas de sua chuteira no peito de Xabi Alonso.

A Holanda só foi chegar com perigo ao gol de Casillas num lance inusitado. Ao dar a posse de bola novamente para os espanhóis (seguindo a conduta do "Fair Play" em devolvê-la para o time adversário que estava no ataque antes de precisar parar a jogada para atender um atleta contundido), Heitinga mandou um chutaço que o camisa 1 espanhol jogou para escanteio aos 34. Dois minutos depois, uma furada de Mathijnsen dentro da área impediu o gol holandês, e Casillas fez permanecer o empate sem gols ao defender chute rasteiro de Robben aos 45.

Logo no início do segundo tempo, foi a vez da Espanha deixar de marcar por uma furada de Capdevilla diante do gol. A pressão espanhola continuou constante (em especial depois da entrada de Navas em lugar do apagado Pedro), mas, aos poucos, a Holanda começou a engatar bons contra-ataques. Aos 18 minutos, em sua primeira boa jogada, o camisa 10 Sneidjer fez lançamento rasteiro para Robben. O atacante holandês superou dois zagueiros, mas, diante de Casillas, chutou mal e permitiu que o goleiro adversário defendesse com o pé.

Entretanto, o time holandês se ressentia da melhor atuação de seu trio de ataque. Sneidjer começara a aparecer com perigo entre os zagueiros espanhóis, mas Robben preferia cavar faltas em vez de se manter de pé para buscar jogadas, e Van Persie era uma nulidade na frente. Por isto, mesmo aos trancos e barrancos, a equipe espanhola chegou mais vezes ao gol de Stekelenburg, principalmente nos pés de David Villa.

Bert van Marwijk promoveu a substituição de Kuyt por Elia para melhorar o poderio ofensivo da Holanda. Só que nem esta mudança foi capaz de fazer os holandeses saírem vencedores. Aos 38, novamente cara a cara com Casillas, Robben tentou driblá-lo e acabou desarmado pelo goleiro. O jogador ainda pediu pênalti, mas ganhou apenas um cartão amarelo por reclamação. Holanda e Espanha se preparavam psicologicamente para mais 30 minutos de luta pelo título - tanto que Vicente Del Bosque tirou Xabi Alonso para colocar Fábregas a cinco minutos do fim do tempo regulamentar.

Foi através de Fábregas que veio a primeira grande oportunidade da prorrogação. O meia espanhol recebeu bola de Iniesta e chutou, obrigando Stekelenburg a fazer uma boa defesa. O goleiro Casillas deu uma boa chance para os holandeses em seguida, quando saiu mal do gol e deixou Mathijsen livre. Mas, com o gol vazio, o zagueiro cabeceou a bola para fora. E foi só para a Holanda. Mesmo depois de entrar em campo mais um atacante - Van der Vaart no lugar de De Jong - a equipe não conseguiu mais nenhuma oportunidade clara de marcar, e o treinador ainda foi obrigado a queimar uma alteração porque o veterano Van Bronckhorst, de 36 anos, estava visivelmente cansado. Em seu lugar, entrou Braafheid. Para deixar a situação mais complicada, Heitinga levou seu segundo cartão amarelo na noite, e acabou expulso por falta em Iniesta.

Só que o gol não saía. Em especial, porque a Espanha sentia a ausência de um centroavante nato desde o início da Copa do Mundo. Afinal, o único jogador da posição, Fernando Torres, atuou na competição sem qualquer ritmo de jogo (e na final, após substituir David Villa, sentiu uma fisgada na perna quando tentou dar um pique em direção ao gol). A solução era apostar em boas jogadas de Iniesta. E a categoria dele se sobressaiu na batalha do Soccer City. Após uma boa troca de passes com Navas, Fábregas o lançou na esquerda. Livre na área, Iniesta chutou cruzado, sem defesa para Stekelenburg, aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação. A Holanda ainda tentou alguma jogada, mas os defensores espanhóis comprovaram porque sua seleção tomou apenas dois gols na competição.

Os 115 minutos de espera até o grito de gol espanhol deixaram em êxtase uma multidão de torcedores que ansiou durante 28 anos pelo surgimento de uma seleção com estilo de jogo semelhante ao Brasil de 1982 (considerado último esquadrão símbolo do "futebol-arte"). O título da Espanha é um grande passo para a confirmação de que o futebol bem jogado pode, sim, ser campeão. E a talentosa Fúria de 2010, que conseguiu superar até mesmo o tabu de um campeão de Copa nunca ter perdido seu jogo de estreia, deixa para trás o estigma de não ter poder de decisão suficiente para ganhar uma Copa do Mundo.

Um comentário:

Leonardo Valejo disse...

"O futebol-arte voltou."

Foi o seu comentário lá no meu blog. Resume tudo. Incrível.

Grande Abraço