segunda-feira, 5 de julho de 2010
Síndrome do "Entre-Copas"
Costuma-se associar a estabilidade de um treinador no cargo de uma equipe ao seu bom trabalho e, em especial, por ele ter credibilidade com torcida, jogadores e diretoria. Entretanto, a exceção continua a ser o comando da Seleção Brasileira. Nenhum profissional que dirige o Brasil a partir do pós-Copa conseguiu ser campeão da edição seguinte da competição.
Dunga chegou à Seleção Brasileira em agosto de 2006, em substituição a Carlos Alberto Parreira. Foram quatro anos buscando implantar uma filosofia priorizando o comprometimento dos jogadores. Entretanto, sua política extrema sacrificou também atletas habilidosos, pelo receio de que o estrelismo deles fosse prejudicial.
Com a consolidação do "futebol de resultados", o jogo feio e defensivo difundido por Dunga se tornou eficiente aos olhos da Confederação Brasileira de Futebol, graças às conquistas da Copa América, em 2007, e da Copa das Confederações, em 2009. Mas numa competição de tiro curto e, em especial, na qual todas as seleções levam o que há de melhor no momento, o técnico preferiu apostar numa turma bem-sucedida nas outras competições, independente de eles passarem por maus momentos em seus respectivos clubes. A inocência custou a eliminação nas quartas-de-final de 2010, para a Holanda.
O treinador anterior a Dunga também ficou no comando do Brasil por quatro anos. Com a saída de Luiz Felipe Scolari após o título de 2002, a CBF designou outro nome associado a Copa do Mundo no Brasil. Comandante de 1994, Carlos Alberto Parreira voltava para, 12 anos depois, ajudar novamente a Seleção Brasileira.
Assim como Dunga, Parreira chegou à Copa credenciado pelas conquistas da Copa América de 2004, e da Copa das Confederações de 2005. E em 2006, aconteceram erros totalmente contrários aos que viriam quatro anos depois. Craques foram sim convocados, mas estavam acima do peso, e o descontrole chegou à organização da concentração da Seleção Brasileira, com invasão de torcedores e erros de segurança. Veio a eliminação nas quartas-de-final, com a derrota para a França e para a soberba do favoritismo no qual o Brasil confiou para sair vencedor na Alemanha.
Carlos Alberto Parreira esteve no lado contrário desta situação alguns anos antes. Depois de ser campeão com a Seleção Brasileira em 1994, o técnico deixou o cargo e foi substituído por Mário Jorge Lobo Zagallo (seu auxiliar na Copa dos Estados Unidos). Foram quatro anos dele no comando do Brasil, consolidados também por conquistas da Copa América e da Copa das Confederações - que foram disputadas no ano de 1997.
Entretanto, na Copa do Mundo de 1998, a Seleção Brasileira chegou à final pela primeira vez com sua campanha trazendo uma derrota (2 a 1 para a Noruega) e, diante da França, houve o fatídico episódio da convulsão com Ronaldinho. A derrota por 3 a 0 para os franceses fez com que o trabalho de quatro anos organizando a seleção culminasse em mais um insucesso - tal qual acontecera com o próprio técnico décadas antes. Após sua conquista de 1970, Zagallo continuou no comando até a Copa do Mundo de 1974, e sua nova equipe terminou com o frustrante quarto lugar, com derrotas na para a Holanda na segunda fase, e para a Polônia, na decisão do terceiro lugar.
Os cinco títulos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo trazem uma coincidência favorável a imediatismos. Os campeões de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 não fizeram projetos a longo prazo para o Brasil. Todos vieram como nomes emergenciais que, no fim das contas, acabaram formando esquadrões vitoriosos.
Entre a derrocada de 1954, sob o comando de Zezé Moreira e a conquista na Suécia em 1958 com Vicente Feola, passaram nomes como Osvaldo Brandão, Teté e Flávio Costa no banco de reservas. O problema de saúde afastou Feola por alguns anos da seleção depois de 1958, e Gentil Cardoso e Foguinho ficaram no comando do Brasil neste período. Vicente Feola ainda tentou retornar, mas a partir de 1960, a Seleção Brasileira foi dirigida por Aymoré Moreira (que foi campeão de 1962). O próprio Zagallo chegou ao comando do Brasil apenas no ano de 1970, com a demissão de João Saldanha.
Após a queda de Sebastião Lazaroni pelo insucesso na Copa de 1990, a CBF ainda foi treinada por um ano por Paulo Roberto Falcão, antes de Carlos Alberto Parreira assumir definitivamente o comando da Seleção Brasileira a partir de 1992. Luiz Felipe Scolari se tornou técnico do Brasil um ano antes da Copa de 2002. Antes dele, a lista de convocados ficou a cargo de Vanderlei Luxemburgo e de Émerson Leão. E, mesmo sem longevidade no cargo, Parreira e Felipão trouxeram as Copas de 1994 e de 2002, respectivamente.
Mais do que se preocupar em prosseguir no cargo, o futuro treinador da Seleção Brasileira não pode se restringir a homens de confiança e de um time feito a longo prazo para a Copa do Mundo. Ainda mais que o histórico de mudanças bruscas no "Entre-Copas" vem sendo bem favorável para as conquistas brasileiras.
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