domingo, 4 de julho de 2010

Em busca de novas páginas



A Seleção Brasileira termina o domingo sem treinador. Após quatro anos de trabalho que culminaram no insucesso na Copa do Mundo de 2010, Dunga foi demitido (e, com ele, toda a comissão técnica atual). O futebol brasileiro fica à espera não só de um novo nome, mas, especialmente, de uma filosofia que seja condizente com o que é necessário para um selecionado ser campeão.

Por mais que o panorama dos gramados do mundo afora venha sendo o estilo originalmente europeu que prioriza a defesa, a Seleção Brasileira não deve renegar suas raízes de habilidade e de ataque. Até mesmo seleções campeãs que tinham estilo mais defensivo traziam jogadores habilidosos - Romário e Bebeto em 1994 e Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo em 2002.

Além do erro em só se preocupar com questão disciplinar, o período de Dunga como técnico do Brasil comprovou mais uma vez que o cargo não permite apostas. Não se deve confundir processo de renovação de uma Seleção Brasileira com a elevação de um ex-jogador a treinador da seleção que recebe mais holofotes no mundo.

Cinco nomes entraram na pauta inicial para o posto de treinador. O tempo e o placar... se atreve a traçar alguns pitacos sobre os nomes em questão. Afinal, serão quatro anos de expectativa até a Copa do Mundo de 2014.



A falta de experiência que fez diferença negativamente para Dunga poderá atrapalhar também LEONARDO. O ex-jogador de Flamengo, São Paulo e Milan apresentou serenidade e, em especial, tino para ser dirigente do clube de Milão. Entretanto, sua passagem como técnico foi bastante hesitante, e durou apenas uma temporada.

A inconveniência em iniciar treinadores logo com a Seleção Brasileira pode ser traumático, tanto para quem chega ao cargo quanto para a torcida. O erro havia acontecido com Paulo Roberto Falcão, e Ricardo Teixeira tentou do mesmo jeito com Dunga. Não há motivo para insistir com Leonardo.



No extremo oposto, surge a opção de RICARDO GOMES, atual técnico do São Paulo. Sob seu comando, o time está às vésperas da semifinal da Taça Libertadores da América - sem dúvida, um bom cartão de visitas. Entretanto, as experiências anteriores do ex-zagueiro do Fluminense e do Paris Saint-Germain no cargo de técnico são muito frustrantes.

No futebol brasileiro, sua única conquista aconteceu com o Vitória da Bahia (a Copa do Nordeste de 1999). Em compensação, o treinador coleciona fiascos por Sport, Flamengo, Fluminense, Guarani e Juventude. Mas outra experiência preocupante para a torcida vem no comando da Seleção Brasileira. Entre 2002 e 2004, Ricardo Gomes foi o técnico da Seleção Olímpica, e o sonho da medalha de ouro foi embora ainda na disputa do Pré-Olímpico, queimando jogadores como Maicon, Diego, Nilmar e Robinho.

Seu currículo traz passagens de destaque pelo PSG e pelo Bordeaux, com títulos da Copa da França e da Copa da Liga Francesa. O razoável sucesso no futebol francês e uma possível classificação são-paulina à final da Taça Libertadores da América podem credenciá-lo aos olhos da CBF.



MANO MENEZES não tem uma experiência tão ampla em times de grande expressão, mas nas suas passagens por Gremio e, atualmente, Corínthians, conseguiu o mérito de uma ascensão meteórica. Ambas equipes passaram por uma Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro e, além do retorno à Série A, realizaram campanhas importantes. Com o tricolor gaúcho, foi finalista da Taça Libertadores da América de 2007. Com o alvinegro paulista, venceu a Copa do Brasil.

No atual Brasileirão, o time corintiano encerrou a campanha antes da parada para a Copa do Mundo invicto. Entretanto, ainda falta a Mano comprovar que pode lidar com várias estrelas numa mesma equipe. O Corínthians de 2010, cercado de jogadores de destaque como Tcheco, Jorge Henrique e os consagradíssimos Roberto Carlos e Ronaldo, fez um razoável Campeonato Paulista e, no ano do centenário do clube, foi eliminado prematuramente da Taça Libertadores da América.



MURICY RAMALHO, certamente, é um dos nomes preferidos do atual futebol brasileiro. Suas passagens vitoriosas pelo Internacional e, principalmente, pelo São Paulo (onde conseguiu um tricampeonato consecutivo do Campeonato Brasileiro), o consagram como um treinador cheio de competência. O técnico assumiu o comando do Fluminense e, em poucas rodadas, deixou a equipe entre os quatro primeiros colocados do Brasileirão antes da parada da Copa do Mundo.

É incontestável sua capacidade de tirar o melhor de cada jogador da equipe que treina. Entretanto, o inconveniente de seu trabalho a longo prazo foi mostrado em 2009 no São Paulo: sua equipe tende a ficar com um esquema previsível e, com o decorrer dos campeonatos, acaba facilmente neutralizada. Além do risco de campo, vem o problema extracampo, de bater de frente com dirigente de clube - fator que tornou sua passagem pelo Palmeiras decepcionante. E numa Seleção Brasileira há muito ego de cartolagem para administrar.



LUIZ FELIPE SCOLARI é o único nome em questão que já passou por uma Copa do Mundo com a Seleção Brasileira. A bem-sucedida campanha de 2002 o eleva a um técnico idolatrado por sua capacidade em formar uma família compenetrada, em busca de títulos e, principalmente, que soube apresentar seriedade no momento certo (ao contrário da Era Dunga, campeã de Copa América e Copa das Confederações e desclassificada da Copa de 2010).

Felipão comprovou ter personalidade suficiente para escalar os jogadores e confiar neles para decidirem as partidas, independente de questionamentos por parte da crítica esportiva. Entretanto, Scolari correrá o risco de ter sua imagem vitoriosa de 2002 maculada? Fica o mistério.

Mas, sem dúvida, o mistério que não deve continuar na Seleção Brasileira é em relação ao lugar onde vão esconder os verdadeiros craques do Brasil. Independente do novo escolhido para o cargo de treinador (também foram especulados nomes de Vanderlei Luxemburgo, Adilson Batista e Paulo Autuori correndo por fora), é preciso que ele venha com desejo de escrever uma história própria em sua passagem. Alheia a erros do passado, e disposta a convocar os nomes de habilidade que surgem no país. A bolsa de apostas começa agora.

7 comentários:

Anônimo disse...

A nova escolha está movendo a opinião pública nacional. Muitos querem o Felipão, mas o mesmo já se pronunciou que não trabalha na seleção enquanto o R.Teixeira estiver no comando.

R.Gomes e M.Menezes são uma incógnita. Leonardo, segundo o Gérson, vai usar a mesma ideologia do Dunga, ou seja não mudaria nada.

Já o Muricy, têm um contrato muito bom com o Fluminense, e não sei se a CBF têm o cacife de pagar uma bagatela maior do que ele ganha no tricolor.

Daí eu indago: Por que não trazer o mestre Zagallo de volta ao lugar que ele merece? Ele pode estar sem saúde, mas garanto que será mais uma peça valiosa para a nossa seleção. E com todo respeito. Ele comandou a seleção mais fantástica de todos os tempos. A seleção de 1970.

Abraços

Nando Martins

www.radioboavista.net

Alexandre Murdoc disse...

Caro Vinicius Faustini, você não acha que deveria voltar o Brasil de 1982 para trás? Era um futebol mais alegre, dinâmico e sem violência.

Me preocupa a cada copa que a nossa seleção troca de técnico, pois a cada nova filosofia mais eu me desespero com a total falta de criatividade de alguns atletas que são convocados e como o uso da truculência e das entradas desleais são mais valorizadas hoje em dia.

Não seria a hora da direção da rever os seus conceitos e resgatar o futebol arte? Aliás, será que ele ainda existe ?

T+

Alexandre Murdoc

Anônimo disse...

Eu sou um admirador dos rapazes do programa Quatro Linhas, eles já até leram uma pergunta minha ao vio. Foi super divertido.

Concordo com o comentario do mestre Nando Quaresma. Temos que trazer o Zagallo e pararmos de valorizar técnicos sem brilho e estrela.

O que esse R.Gomes fez de tão importante no São Paulo? O que o Mano ganhou com o Corinthians, aliás, venceu a Copa do Brasil mas ali eu protesto até hoje. Foi uma vergonha aquele torneio. Mas fora isso, o que ele ganhou mais?

Querem melhor que o Zagallo para comandar a seleção brasileira? Eu não conheço ninguem.

Ricardo Theil Oliveira

Flávio Pellegrino disse...

Queremos o Nando Quaresma com o Vinicius Faustini como técnico da seleção. Se forem 'jovens' demais, tragam eles para o meu Santos. Garanto que são melhores que Dorival Júnior.

Rodrigo Gomes disse...

Fala Vinicius e Fernando. Por mim, eu ficaria com o Felipão. Não temos um técnico com mais estrela do que ele, e Fernando. Sim, concordo que o Zagalo é um grande técnico, mas não sei se ele aguentaria tanta emoção nesses quatro longos anos.

Marcel Borram disse...

Eu queria que o Brasil investisse no Josep Guardiola. Se querem um técnico jovem, diciplinador e com boas visão técnica. Esse é o cara.

Fui-me

Vinícius Faustini disse...

Fernando,

Zagallo tá há um bom tempo afastado do futebol, acredito que por problema de saúde. Infelizmente, não sei se ele teria condições físicas de passar por tudo isso de novo. Seria um bom nome sim.

Alexandre,

sem dúvida deveria voltar o Brasil de 1982 para trás. O problema é onde achar uma quantidade de volantes com qualidade, como foram Clodoaldo e Falcão, por exemplo. Hoje, só se vê meias defensivos como Josué, Gilberto Silva, Felipe Melo... Lamentavelmente, a mentalidade de cada quatro anos acabou marginalizando a habilidade em todos os setores. O grande problema é o extremismo: a Itália foi campeã de 1982 e O MUNDO INTEIRO RESOLVEU COPIÁ-LA. O novo técnico tem a função de encontrar um meio termo. É difícil, mas em quatro anos acredito que dê pra achar.

Ricardo,

obrigado pelos elogios, estamos trabalhando pro QL voltar com a corda toda. Concordo com você em relação ao Ricardo Gomes, mas acho que o Mano Menezes teve o mérito de levantar a autoestima de dois clubes de ponta no Brasil. Isto é suficiente pra treinar a Seleção Brasileira? Não! Mas é um bom começo.

Flávio,

fico lisongeado com a indicação para o amigo Fernando Quaresma e eu irmos pra Seleção Brasileira. É bom saber que minhas crônicas passam esta impressão de qualidade pros leitores. Mas nem meu nome e o dele estarão na lista do Ricardo Teixeira...rs.

Rodrigo,

o Scolari seria um bom nome sim, sem dúvida, mas, pelo visto, só dá pra sonhar com ele a partir de 2012 (quando termina o contrato com o Palmeiras). Acredito que o Ricardo Teixeira deva escolher outro nome para treinador, e ficará com ele até 2014 se tiver um bom caminho. O que pode ser traiçoeiro, afinal, as seleções de Carlos Alberto Parreira e de Dunga foram bem na Copa das Confederações e o final da Copa do Mundo, a gente já sabe.

Marcel,

interessante a sua opção. Não só pelo bom trabalho que o Guardiola tem feito no Barcelona, como também por um nome estrangeiro. O Brasil só foi treinado por um técnico de outra nacionalidade em uma partida - Filpo Nuñez. Mas ele não era o comandante da Seleção Brasileira. Filpo dirigia o Palmeiras, que representou o Brasil num amistoso contra o Uruguai. O "Brasil/Palmeiras" venceu por 3 a 0, em 1965.

Muito obrigado pelos comentários, e abraços a todos,

Vinícius Faustini