segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Taça Rio merece



Um campeonato deficitário, com jogos inúteis e presença de público ínfima. Este foi o panorama da Taça Rio, segundo turno do Campeonato Estadual de 2010 (idêntico ao da Taça Guanabara). Quando a chegada da fase semifinal da competição - trazendo o embate entre Botafogo e Fluminense numa chave e Flamengo e Vasco na outra - parecia ser um oásis em meio ao deserto que foi a competição deste ano, eis que surgem dois momentos lamentáveis dos "clássicos" cariocas em apenas um fim de semana.



No sábado, para 16 mil presentes, o Botafogo venceu o Fluminense por 3 a 2, num jogo que prometia ser alucinante. Mas que ficou na promessa. Os botafoguenses abriram o placar na única jogada perigosa que têm - cruzamento na área para tentar encontrar Loco Abreu - e se fecharam terrivelmente. Os tricolores se tornaram senhores da partida, e conseguiram dois gols de virada, com Fred, que se redimiu depois de acertar uma cobrança de pênalti no travessão logo no início do jogo.

Mas, na segunda etapa, o Fluminense repetiu os clássicos contra Flamengo e Vasco e desistiu de jogar por 45 minutos. Da água de um esquema retranqueiro de Joel Santana, o Botafogo voltou a campo no vinho, com quatro atacantes, depois das entradas de Edno e Caio. No entanto, somente os dois substitutos pareciam estar em campo, pois Loco Abreu seguia brigando com a bola e Herrera só apareceu em duas jogadas irregulares. Na primeira, tentando desviar uma jogada com a mão. Lance para amarelo, que o árbitro Péricles Bassols não deu porque seria o segundo dele na partida - e, fatalmente, uma expulsão. E na segunda, quando, em impedimento, o atacante fez um corta-luz e enganou o goleiro Rafael no momento em que Caio chutou para marcar o terceiro e derradeiro gol alvinegro.



Na partida de domingo, o número de pessoas duplicou em relação a Botafogo e Fluminense (foram 32 mil presentes), mas ainda foi bem aquém de um Maracanã em seus áureos tempos. O futebol jogado por Flamengo e Vasco também deixou muito a desejar para a tradição de ambas as equipes. Em especial do lado vascaíno, que embora tenha um time superior ao da volta à Série A do futebol brasileiro, ainda padece de melhor armação: há uma grande lentidão para o time sair da defesa e partir para o meio-de-campo. Quando a bola chega ao meio, o trio de volantes se atrapalha, e deixa o ataque completamente isolado.

Do lado rubro-negro, houve uma surpresa tenebrosa para o clássico: três volantes e um lateral improvisado formavam o meio do Flamengo, num esquema covarde de contra-ataques. Covarde, mas eficaz, pois o time da Gávea saiu com uma vitória por 2 a 1. Poucos minutos depois de Juan enganar o árbitro, se atirando na grama quando dividiu a bola com o atacante Élton quando o camisa 9 fez o gol vascaíno (anulado), veio o primeiro gol flamenguista. Uma perda de bola no meio culminou em passe de Bruno Mezenga para Vágner Love. Beneficiado por um vício da zaga do Vasco - fazer linha de impedimento - o camisa 9 não teve trabalho diante de um Fernando Prass estático para levar a bola no fundo da rede.

Se o esquema era defensivo no início da partida, a tendência flamenguista foi se recuar ainda mais. E teve êxito em especial pelos desencontros do time do Vasco - e por uma tendência de seu único meia de criação, Philippe Coutinho, só afunilar as jogadas para o meio da área. Dodô e Élton ficavam muito distantes, escondidos entre a zaga do Flamengo.

O gol de empate vascaíno veio numa jogada de bola parada. O mesmo Thiago Martinelli que pedira impedimento no gol de Vágner Love desviou de cabeça para o fundo da rede de Bruno. Mas, curiosamente, a tendência flamenguista prosseguiu a mesma: se fechar em sua área, e contando com a colaboração do goleiro Bruno, que a toda hora caía para retardar a partida. E quando não tinha motivos para cair, retardava as cobranças de tiro de meta.

Na segunda etapa, o Flamengo tentou aparecer um pouco mais na partida. Mas quem quis roubar a cena foi o árbitro João Batista de Arruda. Primeiro, num pênalti questionável de Márcio Careca sobre Léo Moura. Sem seu cobrador de penalidades, Adriano, vetado por causa de um problema lombar, Vágner Love marcou seu segundo gol em uma bela cobrança. Foi o gol de número 14 do artilheiro do Campeonato Estadual.

No restante da partida, o panorama foi o mesmo do primeiro tempo: o Vasco tendo mais volume de jogo, mas se perdendo em vários erros da própria equipe. Erros da zaga, que permitia contra-ataques do Flamengo, erros do meio, que era hesitante em seus passes e até mesmo em erros do seu treinador, Gaúcho. A entrada de Carlos Alberto era válida para buscar ao menos um empate e levar o jogo para as cobranças de pênalti. Mas ele estava visivelmente fora de ritmo de jogo, e em alguns momentos apareceu mancando. Dodô não deveria ser substituído, e sim Élton, que se atrapalhava sozinho muitas vezes.

A saída de Philippe Coutinho para a entrada de Magno, explicada por Gaúcho como desgaste físico ("Coutinho estava afogado, já lhe faltava força" foram as palavras do técnico na coletiva de depois do jogo) não era a ideal, e Rodrigo Pimpão não é a esperança para fazer gols importantes em decisões. Andrade também errou ao trocar Michael para colocar Petkovic. Em um jogo de contra-ataques, Pet não é mais sinônimo de velocidade.

Williams quase pôs tudo a perder para o lado rubro-negro. A três minutos do fim, o volante desviou com a mão um cruzamento na área. João Batista de Arruda mandou o lance seguir.

Ao fim da partida, foi sacramentado que a final do segundo turno do Campeonato Carioca será semelhante às decisões dos últimos anos. Botafogo e Flamengo decidem a Taça Rio. Do lado botafoguense, em caso de vitória, o título vai direto para General Severiano. Se os rubro-negros vencerem, a decisão acontecerá em duas partidas.

Diante de tantas lambanças dentro de campo (com jogos de qualidade muito abaixo da esperada), de arbitragens confusas e de invencionices que não servem pra nada, como os árbitros que ficam atrás do gol e os "tempos técnicos", a Taça Rio merece os dois finalistas. Dois times retranqueiros, mais preocupados em não tomar gol do que no bom futebol, sobraram na briga pelo segundo turno e pelo Campeonato Estadual. Mas o sabor de derrota veio ainda mais amargo neste torneio de 2010.

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