quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nenhuma surpresa



Não é uma das notícias pouco esperadas, e muito menos uma atitude contraditória de uma diretoria. Os cronistas esportivos vêm demonstrando estado de choque por causa da demissão de Cuca no Fluminense, uma semana depois do time ser desclassificado da Taça Rio e às vésperas da partida decisiva contra a Portuguesa nas oitavas-de-final da Copa do Brasil.

Na verdade, ambos os lados são previsíveis. Primeiro, em relação ao treinador. É bem verdade que ele não tem culpa que o tricolor das Laranjeiras tenha um desempenho tão aquém do que a diretoria esperava. Muitos jogadores (entre contratados e os que já estavam no clube desde o final de 2009) deixaram a desejar.

No entanto, todos os clubes por onde Cuca passou tiveram algo em comum: a falta de vibração. Cuca não é um treinador que motiva, não é alguém que coloca o coração no bico da chuteira. Seu esquema tático é sempre bem montado, tem todos os seus méritos. Mas falta paixão em momentos decisivos. Tanto que o único poder de decisão que o Fluminense teve foi quando estava à beira de cair para a Série B do Campeonato Brasileiro.

Também não há muito o que se esperar de uma diretoria amadora como a do tricolor. Há mais de uma década, o Fluminense se vê submisso aos interesses de seu patrocínio, a Unimed, que, em vez de só disponibilizar o dinheiro à equipe, fica dando pitacos nas contratações e nas escalações. A consequência disto são os dois times que se formam dentro das Laranjeiras, onde só há uma coisa em comum: o fracasso nas competições, e sempre caindo na conta do Fluminense.

O Campeonato Estadual do Rio de Janeiro de 2010 teve o mesmo roteiro para o tricolor: muito investimento e nenhum resultado positivo. E, como toda a torcida carioca sabe, estadual só é parâmetro quando o desempenho é negativo.

Por mais que a diretoria tenha gasto pouco - e, pela primeira vez, tenha usado bem o dinheiro, em alguns jogadores que são bons - o clube ainda padece de não ter um comando fixo. Uma hora, quem atende (e mal atende) é o Roberto Horcades, presidente do Fluminense, e na outra, quem atende é Celso Barros, da Unimed.

O imediatismo derrubou Cuca. Não que ele seja um treinador excepcional, digno de aplausos e de comoções, mas com ele se vai mais uma tentativa de planejamento a longo prazo. O Fluminense acena com a possibilidade de Muricy Ramalho, que trabalharia pela primeira vez no Rio de Janeiro.

Não se questiona o talento de Muricy, mas a última passagem dele por um clube (o Palmeiras) terminou de maneira breve, e graças a problemas internos com a diretoria. E agora, com duas diretorias no Fluminense?

Outro problema parece chegar ao tricolor no Campeonato Brasileiro de 2010. Com Muricy Ramalho, vem a expectativa de montar mais um time de estrelas com a camisa verde, vermelha e branca. E a torcida sabe como é esta história dos esquadrões que o Fluminense monta: eles acabam se desmontando depois de derrotas, e tudo começa na troca de técnicos.

Talvez o novo comandante do Fluminense venha a conseguir as vitórias para a equipe. Mas, certamente, vai ter muita coisa por resolver, dentro e fora de campo.

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