quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bolas de neve



O passado condena. Mesmo com o Brasil tendo seu campeonato nacional há quase uma década sem alterações mirabolantes, mesmo com o torneio não sendo paralisado a torto e a direito por liminares ou tendo seus resultados alterados no tapetão, dos escombros da Confederação Brasileira de Futebol ainda vem uma pendenga judicial.

No ano de 1987, a CBF não pôde organizar o Campeonato Brasileiro. O Clube dos 13, formado pelos 13 clubes de maior expressão do país, decidiu organizar a competição nacional. Denominada Copa União, ela reunia 16 clubes em cada módulo, que era correspondente a uma "divisão", no "futebolês" dos dias de hoje.

Ocorreu a competição, e a final, disputada entre Flamengo e Internacional, teve vitória rubro-negra. Entretanto, a CBF em meados de 1987 determinou que houvesse um quadrangular entre os dois primeiros do Módulo Verde e o campeão e o vice do Módulo Amarelo - Sport Recife e Guarani. Flamenguistas e colorados se recusaram a disputar esta fase, que ocorreria em janeiro de 1988, e a Confederação Brasileira de Futebol decidiu que a final do Campeonato Brasileiro seria entre Sport e Guarani. Os pernambucanos foram os vencedores.

O Flamengo ganhou mais um título brasileiro em 1992, e pleiteou que a "Taça das Bolinhas" fosse para sua sala de troféus. Ela ia para o clube que ganhasse por cinco vezes o Campeonato Brasileiro. Por não reconhecê-lo como campeão brasileiro no ano de 1987, a CBF se recusou a entregar a taça em definitivo.

No ano de 2007, o São Paulo ganhou seu quinto título brasileiro, e passou a pleitear a "Taça das Bolinhas". Por três anos ficou o impasse. Mas hoje foi batido o martelo: a CBF não reconhece o Flamengo como pentacampeão em 1992, e o troféu histórico vai para o Morumbi.

Provavelmente, este não é o capítulo final da história envolvendo CBF, Flamengo e São Paulo. Trata-se só de mais uma das muitas bolas de neve deste espetáculo de horrores que já ultrapassou duas décadas no futebol nacional.

O caso da Copa União mostra uma sucessão de erros, que tiveram início nas tortuosas boas intenções do Clube dos 13. De fato, a politicagem da CBF nos anos anteriores da competição tornou o Campeonato Brasileiro insuportavelmente longo e deficitário - a ponto de chegar a 94 clubes no ano de 1979. A redução de clubes era urgente, mas não da maneira como foi.

Os 13 clubes se incluíram na divisão principal e acabaram colocando como critério para a escolha dos outros três clubes a maior popularidade em seus respectivos estados. Assim, Santa Cruz, Coritiba e Goiás também fizeram parte do Módulo Verde.

A Copa União começou errado, pois simplesmente tirou de destaque alguns times que ficaram entre os 10 primeiros lugares no Campeonato Brasileiro de 1986. O Criciúma, nono, o América (do Rio de Janeiro), em quarto, e - pasmem! - o Guarani, que foi vice-campeão brasileiro de 1986. Eles foram relegados ao Módulo Amarelo, ao segundo escalão do futebol nacional.

É bem verdade que a politicagem do Clube dos 13 não justifica a artimanha da CBF em querer se meter numa competição depois de ter lavado as mãos para a organização do Campeonato Brasileiro de 1987. Também era mais justo que os times do Módulo Amarelo tivessem mais dificuldades no final do campeonato, do mesmo jeito que Flamengo e Internacional tiveram no Módulo Verde.

Mas daí a apagar o ano anterior para benefícios próprios, soou muito estranho para o Clube dos 13. Afinal, se o critério fosse colocar os 16 melhores clubes do ano de 1986, grandes como Internacional, Santos e Botafogo ficariam de fora por suas colocações ao final do campeonato daquele ano. E clubes de menor expressão, caso de América, Criciúma, Internacional de Limeira e Joinville, fariam parte da elite do futebol brasileiro.

Curiosamente, desde que foi relegado aos baixos escalões do futebol nacional, o América viveu uma queda livre em seu desempenho no campo, e no ano passado chegou a disputar a Segunda Divisão do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Talvez o time carioca tenha sido o mais derrotado nesta rixa entre Clube dos 13 e CBF.

Em relação ao título, não seria mais fácil que o Flamengo e o Internacional honrassem o favoritismo que os levou à final do Módulo Verde e respondessem no campo à questão que eles consideravam absurda? Em vez disto, os rubro-negros preferiram ficar com o rótulo do único time que é campeão brasileiro mesmo tendo feito um W.O. na final - e com o apoio da Rede Globo, principal acionista da Copa União.

O episódio desencadeado pela Copa União nada mais é do que um duelo entre uma confederação com ares imperiais e uma oligarquia deastrosa. Para o bem do futebol brasileiro, talvez fosse melhor que riscassem da história o ano de 1987. Para que não venham novas bolas de neve em torno da famigerada "Taça das Bolinhas".

Um comentário:

Diego Bachini Lima disse...

Eu entendi porque isso só aconteceu agora. A eleição do clube dos 13. Mas Ricardo Teixeira já tinha dito no penta do SP que a taça ia pra eles.

Foi uma lambança, mas não consigo pensar em outro resultado. O meu Fluminense votou a favor do Sport na época, e mesmo se não votasse minha posição seria a mesma.

É para ser 'esquecida' mas agora espero o fim do mengo-hexa, que desrespeita o Sport Recife.