sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sujeira varrida para cima do tapete





Infelizmente, o primeiro post de O tempo e o placar... a falar de fato sobre questões futebolísticas não vai se ater às jogadas feitas em campo pelos artistas do espetáculo. O "gramado" em destaque no futebol carioca nesta semana foi o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, e, em vez de partidas e gols, foram votos judiciais que determinaram o futuro da Taça Guanabara, primeiro turno do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro.

Tudo começou na partida entre Vasco e Americano, na primeira rodada. Uma liminar cassada pelo Brasiliense fazia com que o meia Jéferson tivesse que se reapresentar ao clube do Distrito Federal, de onde saiu graças a ordem judicial, por questões financeiras. Só que no dia do jogo, o clube cruzmaltino conseguiu outra liminar, que concedia ao novo camisa 10 sua escalação na estreia do Vasco no Estadual.

A situação parecia normalizada nas rodadas recentes. Mas a uma rodada do final da fase classificatória da Taça Guanabara, surgiu a acusação de que o jogador, em função do imbróglio dele com o Brasiliense, não tinha condições de entrar em campo, pois seu nome não havia sido inscrito a tempo no grupo que iria defender o Vasco no Carioca deste ano. Curiosamente, a denúncia partiu de um diretor do Duque de Caxias, e foi defendida com veemência por um advogado do Fluminense - a exigência era de que o clube recebesse a penalidade de seis pontos por causa da escalação do jogador irregular.

Houve um primeiro julgamento, e o Vasco sofreu uma derrota por 4 votos a 1. Os advogados do clube recorreram, ocorreu uma nova análise do recurso, e a punição foi novamente vitoriosa: 7 votos a 1. Com a perda dos pontos, o time de São Januário cedeu lugar ao Fluminense o posto de líder do grupo, e, de quebra, ainda classificou o modesto Resende em segundo lugar para as semifinais da Taça Guanabara.

Em meio a vitórias e derrotas no gramado e em decisões extracampo, a maior goleada quem sofre é a credibilidade do Campeonato Carioca. Após ter amargado na década de 1990 espetáculos deprimentes, o fim da primeira década do milênio indica um "continuísmo" da gestão do ex-presidente Eduardo Vianna, o "Caixa D'Água" (que tinha como forte aliado Eurico Miranda, e ambos mandavam e desmandavam nos bastidores do futebol do Rio).

Ironicamente, a primeira "vítima" da gestão de Rubens Lopes é o Vasco, clube presidido por Roberto Dinamite, que ganhou a condição de ídolo por suas glórias em campo mas agora vê seu prestígio atacado por interesses escusos de minarem seu poder como presidente. Isto fica evidente tanto pela presença constante do ex-ditador vascaíno Eurico Miranda nos corredores da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro quanto por algumas contradições que apareceram em torno da escalação de Jéferson.

O Americano, que até as duas últimas rodadas era líder do campeonato, não pleiteou em nenhum momento a perda de pontos do Vasco - mesmo sendo, teoricamente, o mais interessado (ainda mais porque no final perdeu a vaga). Em sua estreia no clube, Jéferson fez uma péssima partida, e em nenhum momento afetou no resultado - que, inclusive, foi negativo para o time de São Januário. Por que tirar pontos em um jogo que originalmente não afetou a ordem final da classificação (sem os seis pontos perdidos, que classificariam o Vasco em primeiro e o Fluminense em segundo do grupo)?

Em seus primeiros meses após a queda para a Série B do Campeonato Brasileiro, o Vasco buscava forças para a reestruturação, e via em campo seus primeiros bons resultados - conquistados graças ao empenho dos jogadores e ao bom trabalho do técnico Dorival Júnior. É inadmissível que um trabalho sério, que deve ser realizado com cuidado no gramado, seja prejudicado por decisões tomadas no denominado "tapetão".

(NOTA: Na mesma semana das duas derrotas consecutivas no tribunal, o Vasco passou por outros dois episódios - funcionários reivindicando salários atrasados e a iminente ordem de despejo do centro de treinamento Vasco-Barra. Mas este assunto é para um próximo post, se vocês quiserem.)

São situações como esta que maculam ainda mais a já tão frágil imagem do Campeonato Carioca. "Espetáculos" como dois times dando volta olímpica no Maracanã (o Botafogo, com a taça que venceu na partida que deu o Estadual de 1990, e o Vasco, que se achou vencedor e improvisou uma caravela de papel), paralisação de turno (em 1997, imposta por Eurico Miranda, porque o Vasco havia cedido jogadores para a Seleção Brasileira na Copa América daquele ano) e constantes W.Os (no Estadual de 1998, quando Flamengo e Botafogo não fizeram seus jogos contra o Vasco, e o clássico Fla-Flu apresentou um inédito "W.O. duplo") pareciam ser somente recordações ruins, sepultadas na década anterior.

No entanto, a ressuscitação de órgãos extracampo permitindo alterar resultados obtidos dentro das quatro linhas pode ser a senha para a Federação de Futebol Estadual do Rio de Janeiro voltar à era de amadorismo, da corrupção e do descrédito com o torneio que organiza. A vitória no futebol conquistada através de decisões judiciais nada mais é do que varrer a sujeira para cima do tapete. Ou melhor, do "tapetão".

P.S.: esta crônica não entrará em assuntos como as acusações de que a arbitragem esteja favorecendo algum time do Rio - como a acusação de que o Flamengo foi beneficiado propositalmente nas partidas contra Friburguense e Bangu ou de que o Fluminense foi ajudado em seus jogos diante de Madureira e Americano. Não há como prová-las, e os deslizes dos "sopradores de apito" (termo usado por Fernando Calazans em suas colunas no jornal O Globo) têm muito mais a ver com deficiências técnicas de arbitragem.

3 comentários:

Marcos Fontelles de Lima disse...

Vinicius,

Se o futebol fosse conhecido pelos bastidores, nem eu, vc e nem ninguém, torceria para time nenhum...

Conheço e já joguei bola com alguns (ex) jogadores, e os relatos são coisas absurdas, como exemplo: "Todo mundo sabe que fulano de tal é melhor do que o filho de não sei quem lá, mas o filho de não se quem lá, vai ser titular, pois o papai dele contribui com o clube ou tem alguma influencia..."

O que estao fazendo com o Vasco da Gama, é o que fizeram com o Paysandu pelo campeonato brasileiro da primera divisão, quando este era de primeira divisão, porém, como o Papão é um time pequeno, os outros times e torcedores pouco se importaram...

Futebol é jogado em campo. Sou a favor de retirar pontos em casos de dooping apenas!!

Pior de tudo é que essa bomba tah caindo no colo do Dinamite...

"Há braços"

Marcos Lima!

Anônimo disse...

Aprendi muito

Anônimo disse...

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